A terceira fase de estimação do BILOG resulta nos escores dos respondentes que, neste caso, trata-se do nível de integração em cada relacionamento empresa-fornecedor. Dessa forma, após feitas as devidas análises das etapas anteriores pode-se fazer considerações sobre o nível de integração dos participantes da pesquisa. O Gráfico 8 apresenta a distribuição dos respondentes por nível da escala.
Cada nível da escala representado no gráfico corresponde ao ponto médio, ou seja, um relacionamento posicionado no nível 20 teve escore entre 16 e 25, no nível 30 são considerados os escores entre 26 e 35 e assim sucessivamente.
O nível 20, o mais baixo da escala, registrou 3 relacionamentos, o correspondente a 1% da amostra. Nesse nível os relacionamentos têm apenas indicativos iniciais de confiança, onde se espera do fornecedor que a qualidade do produto entregue esteja de acordo com o prometido.
Transformação da escala
Definição dos níveis âncora Identificação dos itens âncora Posicionamento dos itens âncora na escala Avaliação da coerência no posicionamento dos itens Interpretação da escala
Gráfico 8 - Distribuição dos respondentes por nível da escala
Fonte: Elaboração própria
No nível 30, foram registrados 7 relacionamentos, equivalente a 3% dos respondentes. Nesse nível, existe um procedimento padrão para trocar produtos danificados na entrega e o relacionamento é considerado de longo prazo.
No nível 40, onde a qualidade das relações pessoais influencia na manutenção do relacionamento comercial, existe um procedimento padrão para trocar produtos danificados dentro do período de garantia, a empresa tem acesso às informações de produção do seu pedido e a comunicação entre as partes é aberta, foram registradas 44 observações ou 21%.
A maior parte dos participantes apresentou nível médio de integração, 97 dos 205 relacionamentos teve nível de integração igual a 50, o que corresponde a 47%. Neste nível, a empresa informa ao fornecedor a sua previsão de demanda, a qualidade do produto recebido é um critério para manter a preferência pelo fornecedor e são realizadas reuniões entre as partes buscando a solução de problemas em conjunto.
Uma parcela também significativa ficou no nível 60, 20%, onde são observadas atitudes como, comunicação se houver atraso no envio do pedido, compartilhamento das opiniões em relação às condições de mercado, previsões e expectativas, as partes podem opinar no processo do outro sugerindo melhorias, em casos eventuais o fornecedor é tolerante a um atraso no pagamento, esta relação proporciona algum diferencial que a empresa não teria com outro fornecedor e aumento dos preços são comunicados com antecedência.
Os 7% restantes ficaram no nível 70, onde se identifica a disponibilidade da empresa em passar informações do seu estoque para o fornecedor e situações em que o fornecedor
3 7 44 97 40 14 0 0 0 20 40 60 80 100 120 20 30 40 50 60 70 80 90 Q u a n ti d a d e d e rel a c io n a m e n to s Níveis da escala
oferece o produto a um preço menor, dada a importância deste relacionamento para ele. Nenhum dos relacionamentos observados ficou posicionado nos dois níveis superiores da escala.
A classificação dos respondentes por atividade econômica permite observar a quais setores pertencem os relacionamentos com maior ou menor nível de integração, conforme o Quadro 26. Observa-se que, da amostra utilizada, os relacionamentos mais integrados são da construção civil, comércio e indústria de transformação. No entanto, este comportamento não é uma característica geral desta parte da amostra, pois a maior parte dos relacionamentos destes setores apresentou nível de integração entre 40 e 60.
Quadro 26 - Distribuição dos setores por nível de integração
Setor Níveis da escala Total 20 30 40 50 60 70 80 90 Indústria de Transformação - - 4 4 1 1 - - 10 Gestão de Resíduos - - 1 - - - - - 1 Construção - 2 3 24 12 9 - - 50 Comércio 1 2 34 56 21 4 - - 118 Transporte - - - - 1 - - - 1 Alimentação 2 3 2 13 3 - - - 23 Informação e Comunicação - - - - 1 - - - 1
Atividades Profissionais, científicas e técnicas - - - - 1 - - - 1
Total 3 7 44 97 40 14 0 0 205
Fonte: Elaboração própria
Por outro lado, empresas de alimentação ficaram da média para baixo, o que leva a questionar se empresas deste segmento encontram mais dificuldade para se integrar com seus fornecedores. A aplicação da escala em uma amostra representativa de determinados setores de atividade econômica pode ajudar a responder este tipo questionamento, indicando se baixo o nível de integração tem relação com o segmento em que atuam.
O objetivo da escala construída nesta pesquisa é poder avaliar como uma empresa foco se relaciona com seus diversos fornecedores, mensurando a integração nos diversos elos à montante de uma cadeia de suprimentos. Uma das questões relativas à SCM é que o número de fornecedores deve ser reduzido para que se possa estar mais integrado com aqueles membros que são essenciais e obter melhores resultados para a cadeia. No entanto, nas empresas onde foi possível coletar um maior número de repostas identificou-se um grande número de fornecedores, onde a empresa não conseguia estar bem integrada com nenhum
deles, apresentando nível de integração médio em todos os relacionamentos observados. Este comportamento foi observado essencialmente nas empresas do comércio.
Em alguns casos, observou-se uma variação expressiva no nível de integração com fornecedores de uma mesma empresa, como no caso de uma de construção civil que apresentou nível de integração variando entre 50 e 70. Outra teve 13 relacionamentos variando entre os níveis 60 e 70 e um apenas no nível 40, indicando que este último corresponde a um fornecedor de apoio (aquele que não é essencial ao seu funcionamento).
Uma loja do segmento de vestuário apresentou 4 relacionamentos onde os níveis de integração eram quase os mesmos (nível 40) e 1 relacionamento com nível de integração igual a 70. Os primeiros relacionamentos citados, com baixo nível de integração, eram com empresas grandes, com marcas conhecidas no mercado nacional, enquanto aquele que teve o nível de integração mais elevado tratava-se de uma empresa de menos renome. Sendo assim, nota-se que para que a integração seja elevada nos elos de uma cadeia de suprimentos, ela deve ser interessante para ambas as partes. Empresas de maior porte podem considerar que não seja vantajoso buscar uma integração elevada com empresas de menor porte.
Comportamento diferente da maioria foi identificado em uma empresa da indústria de transformação. Trata-se de uma convertedora de veículos para o uso de gás natural veicular (GNV). A empresa tem basicamente 2 fornecedores, um principal e um de apoio. Na relação com o fornecedor principal notou-se que a oficina convertedora é quase uma extensão da empresa fabricante dos equipamentos. A marca do fabricante é atrelada à marca da oficina, funcionando como diferencial, as equipes trabalham em conjunto buscando melhorar o funcionamento do equipamento e eliminar possíveis falhas, a comunicação é aberta a fim de melhorar os processos, existe um comprometimento entre as partes, entre outras características de um elo integrado em uma cadeia de suprimentos.
5 CONCLUSÕES
Este capítulo apresenta as considerações finais desta pesquisa que teve como objetivo a construção de uma escala para a mensuração do nível de integração com os membros à montante de uma cadeia de suprimentos, buscando contribuir com a lacuna existente na literatura sobre este tema. Além disso, são discutidas as dificuldades encontradas na execução desta, bem como, sugestões para trabalhos futuros.