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3. Relação entre comportamento assertivo e o que é designado como “habilidades sociais” – origens, limites e

3.2. Possíveis contribuições do atual estágio do conhecimento existente a respeito da noção de comportamento

“habilidades sociais”

Del Prette e Del Prette (2012) examinam que o conhecimento a respeito das “habilidades sociais” envolve três conceitos básicos: desempenho social, habilidades sociais e competência social. Os autores, em entrevista, definem desempenho social como “todo e qualquer comportamento que ocorre na interação entre pessoas”, habilidades sociais como “classes de comportamentos sociais que apresentam alta probabilidade de produzir os resultados característicos da competência social” e competência social como “qualidade ou funcionalidade do desempenho apresentado pelo indivíduo na interação social, avaliado com base em um conjunto de critérios” (Maniolo & Ferreira, 2011). O termo “habilidades sociais”, segundo os autores, é um constructo descritivo indicador de um conjunto de classes de comportamentos. Essa compreensão difere da conclusão de Bolsoni-Silva e Carrara (2010) do termo como uma adjetivação de comportamentos sociais, que estaria mais próximo ao conceito de “competência social” das definições de Del Prette e Del Prette (2012).

Em um exame a respeito dos diferentes graus de desenvolvimento de classes de comportamentos e de aprimoramento da ocorrência de comportamentos de uma classe, Botomé e Kubo (2003) e Botomé (2006) apresentam uma compreensão do conceito de “habilidade”. O exame apresentado pelos autores poderá auxiliar a delimitar melhor a relação entre “habilidades sociais” e o fenômeno nomeado por comportamento assertivo. Esse exame também pode ser útil para compreender o que pode representar a adjetivação de comportamentos sociais pelo termo “socialmente habilidosos”. No exame apresentado por Botomé e Kubo (2003) e Botomé (2006), o conceito de “habilidade” faz referência a um grau de aprimoramento de uma classe de comportamentos. No caso das classes de comportamentos que são, tradicionalmente, denominadas por habilidades sociais, o grau de aprimoramento, provavelmente, será referente à classe de comportamentos sociais.

Botomé e Kubo (2003) e Botomé (2006) examinam que um comportamento pode ser apresentado com diferentes graus de aprimoramento. Os graus de aprimoramento de ocorrência de uma classe de comportamentos podem variar entre os graus de conhecimento, aptidão, competência, habilidade até o grau de perícia (Botomé & Kubo, 2003; Botome, 2006). À medida que o comportamento é desenvolvido e aprimorado, a pessoa passa a atuar de maneira cada vez mais precisa, com maior grau de perfeição, conforto e previsão dos resultados (Botomé & Kubo, 2003; Botome, 2006). A compreensão dos termos “habilidade” e “competência” propostas pelos autores viabiliza a compreensão do termo “habilidades sociais” e “competência social” como indicação de um grau de perfeição de comportamentos sociais em que há relativo grau de precisão, perfeição,

conforto e previsão dos resultados. O conceito de habilidade e de competência proposto por Botomé e Kubo (2003) e Botomé (2006) delimita a compreensão do termo “habilidades sociais” e “competência social” como indicação de graus de perfeição de comportamentos sociais e não como classes específicas de comportamentos, no caso da definição de “habilidades sociais” formuladas por Del Prette e Del Prette (2012).

Bolsoni-Silva e Carrara (2010) argumentam que o termo “habilidades sociais” pode ser compreendido como uma adjetivação de repertórios que produzem benefícios para as pessoas afetadas pelo comportamento e são incompatíveis com comportamentos que produzem prejuízos para essas pessoas. Esse exame é coerente com a avaliação proposta por Botomé e Kubo (2003) e Botomé (2006) a respeito do termo “habilidade”, pois indica um grau de perfeição e previsão dos resultados de comportamentos sociais – os comportamentos sociais deveriam produzir benefícios e o mínimo de prejuízos para as pessoas afetadas pelo comportamento. Bolsoni-Silva e Carrara (2010), porém, restringem essa “adjetivação” de comportamentos a classes específicas de comportamentos sociais, que seriam aquelas que precisariam ser mais bem descritas funcionalmente. Dessa compreensão decorre que o comportamento assertivo seria uma classe específica de comportamento social que pode ser apresentada com diferentes graus de aprimoramento, sendo, ao menos uma das classes de comportamentos indicadas por Bolsoni-Silva e Carrara (2010) que necessita de caracterização coerente ao conhecimento da Análise Experimental do Comportamento.

Para definir melhor o fenômeno comportamento assertivo, sendo uma classe específica de comportamento social, é necessário considerar o conceito de comportamento social. Comportamento social é definido como comportamento de duas ou mais pessoas em relação entre si ou em conjunto em relação a um ambiente comum (Skinner, 1953/2003). Skinner (1953/2003) enfatiza que o comportamento social obedece às mesmas leis dos demais tipos de comportamento. O que difere entre eles são as variáveis (a “origem” dos componentes, por exemplo) que os compõem. No comportamento social, os estímulos (ou parte deles) com os quais uma pessoa se relaciona são controlados ou produzidos por outras pessoas (Skinner, 1953/2003). A presença de uma pessoa altera o ambiente em que outra se comporta e controla diferencialmente o seu repertório. Skinner (1953/2003) examina que a presença de outras pessoas constituem ambientes sociais que sinalizam a possibilidade de produção de consequencias que não seriam produzidos na ausência do outro indivíduo. A caracterização de um comportamento social envolve a definição do comportamento do indivíduo que está em foco de exame e dos demais indivíduos que estão em relação a ele (Skinner, 1953/2003).

A definição de comportamento assertivo, a partir do conceito de comportamento social, portanto, deve envolver a caracterização do comportamento do indivíduo que está em foco de análise e dos demais indivíduos que são “ambiente” para aquele organismo que se comportará diante da situação, seja como componente da situação antecedente ou consequente. A necessidade de considerar tais variáveis já foi indicada por diversos autores que estudam o fenômeno comportamento assertivo (por exemplo, Alberti & Emmons, 2008; Guilhardi, 2012b; Marchezini- Cunha & Tourinho, 2010). E de forma coerente ao exame de (Bolsoni-silva & Carrara, 2010; Guilhardi, 2012b; Marchezini-Cunha, 2004) a classe de comportamentos necessita promover determinados tipos de consequências para a pessoa que se comporta e para demais pessoas que participam da situação em exame.

A literatura consultada a respeito do fenômeno Comportamento Assertivo indica diversos aspectos importantes dessa classe de comportamentos. A necessidade de descrever e caracterizar as classes de componentes e relações entre as classes de componentes da classe Comportamento Assertivo, de acordo com o atual estágio desenvolvimento do conhecimento existente, foram recentemente indicadas por Bolsoni-silva e Carrara (2010), Guilhardi (2012b) e Marchezini-Cunha e Tourinho (2010). O exame do fenômeno comportamental denominado como “comportamento assertivo” pode ser avaliado como incompleto quando examinado a partir da definição de comportamento (relação entre classes de estímulos antecedentes, classes de respostas e classes de estímulos conseqüentes). A literatura consultada a respeito do fenômeno Comportamento Assertivo, especialmente a literatura considerada como clássica, também apresenta algumas incoerências aos princípios do behaviorismo radical em relação à caracterização, principalmente, das classes de componentes da situação antecedente e classes de respostas (Guilhardi, 2012b). O conhecimento existente a respeito do comportamento assertivo, porém, explicita propriedades ou variáveis e valores destas variáveis e possíveis relações entre variáveis (ou seus valores) que constituem as classes de componentes da situação consequente (Caballo, 1996; Marchezini-Cunha & Tourinho, 2010). A realização do procedimento de análise funcional da classe de comportamentos “comportamento assertivo” que especifique os componentes das três intâncias do comportamento (e suas propriedades), de forma mais completa e coerente aos conceitos básicos da Análise Experimental do Comportamento e princípios do behaviorismo radical, provavelmente possibilitará caracterizar as relações entre esses componentes (e, possivelmente, definir) com mais clareza a classe de comportamentos que pode receber a qualificação de assertiva.

4. O conhecimento produzido a respeito da classe comportamento assertivo como recurso