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9 RESULTADOS E DISCUSSÃO

9.8 POSSÍVEIS FONTES LOCAIS DE MERCÚRIO

Na tentativa de apontar uma possível fonte local de mercúrio, os ventos foram divididos em quatro quadrantes, devido à posição da estação coletora de dados e do relevo local, que restringe as direções. Na área estudada os ventos do quadrante Sul durante os onze meses estudados, variaram entre 25% até 47% de dominância em relação às outras direções, tendo menor incidência durante os meses de abril a julho. Os ventos do quadrante Norte variaram entre 47% e 66% de dominância em relação às outras direções (Figura 24).

FIGURA 24 – Médias mensais da distribuição da direção dos ventos segundo sua dominância.

A velocidade variou significativamente entre as médias mensais do quadrante Sul em relação às velocidades das direções Leste, Oeste e Norte, Havendo ventos mais intensos destes últimos quadrantes (Figura 25). A média de todo o período do quadrante Sul foi de 6,6 km/h Leste 10,5 km/h, Norte de 8,0 km/h e Oeste de 9,3 km/h.

FIGURA 25 – Velocidade dos ventos em km/h, por quadrantes.

A direção dos ventos predominantes (S e N) durante cada 24 horas da região estudada aponta para uma forte influência da brisa marítima sobre o local, os ventos do quadrante Sul predominam durante o dia e do quadrante Norte durante a noite (Figura.26).

FIGURA 26 – Distribuição média anual dos ventos dominantes ao longo do dia no PEPB, RJ.

Logo a dispersão dos ventos nesta região indica pelo menos localmente, que do quadrante Norte e Sul do ponto estudado, se originam os principais contribuidores do Hg gasoso, sediando suas prováveis fontes (Figura 26). Apesar do quadrante Leste se destacar pela intensidade dos ventos este apresenta uma baixa freqüência de observações, irrelevante na análise da direção dominante. Em uma abordagem não específica podemos afirmar que a região ao Norte de Camorim com um grande parque industrial, emissor de diversos gases poluentes segundo FEEMA (2006), deve estar contribuindo efetivamente com as

Horário em que predominam ventos NO-N-NE

27%

73%

Dia Noite

Horário em que predominam ventos SO-S-SE

71% 29%

Dia Noite

concentrações de Hg encontrados neste trabalho, mesmo esta direção predominante durante a noite, quando não existe seqüestro estomático, pois estes se fecham à noite. Ao Sul da região estudada encontra-se o bairro residencial da Barra da Tijuca, com uma fonte considerável de tráfego veicular. Estudos recentes demonstram a pequena contribuição de Hg, para a atmosfera, oriundo do uso do óleo combustível ou gás natural veicular (GNV) (LARCEDA et al., 2007). Para o primeiro é feito um controle rígido por parte dos produtores retirando o Hg e outros metais pesados devido aos danos causados aos dutos e à maquinaria, enquanto o GNV representa uma parte pouco expressiva devido à baixa concentração. A orla oceânica do Bairro da Barra da Tijuca, distante apenas cerca de 4 km, também poderia estar sendo uma fonte de Hg segundo a direção, como comentado anteriormente, apesar de os dados da literatura (MASON et al., 1994) apontar para um balanço global zero entre a entrada e saída de Hg em ambientes aquáticos, alguma influência local poderia estar sendo originada do mar. Inclusive, a Baía de Sepetiba, a Sudoeste do sítio estudado, apresenta background elevado de Hg em seu sedimento, maior que em outros pontos da costa brasileira (MARINS et al., 1996). A Oeste da área de estudo se concentra um outro parque industrial, o de Santa Cruz, com uma termelétrica operando com gás natural. Apesar da direção dos ventos superficiais não apontarem predominantemente para aquela região ela pode representar alguma contribuição até mesmo local já que está dentro a menos de 40 km do ponto estudado (Figura 26). Como não há leis específicas para emissões atmosféricas de Hg, indústrias (usinas de cloro-soda e fábricas de lâmpadas de Hg) e incineradoras de lixo (rejeitos diversos) emitem livremente este metal para a atmosfera. Desconhecendo assim a precisa quantidade presente no material usado e no rejeito final, devido também à ausência da análise específica deste elemento na entrada e saída das indústrias.

As cidades da Baixada Fluminense, como Belford Roxo e São João de Meriti estiveram classificados no índice de qualidade do ar (FEEMA, 2006) como má ou inadequada em diversas vezes no ano de 2006, péssimas condições também foram conferidas ao bairro industrial e residencial de Jacarepaguá contíguo a Camorim. O relatório também revelou que por ter a segunda maior concentração de população, de veículos, de indústrias e de fontes emissoras de poluentes do país, a análise atmosférica da Região Metropolitana sempre revela altas concentrações de dióxido de enxofre (SO2), partículas totais em suspensão (PTS), partículas inaláveis, (PI), monóxido de carbono (CO), ozônio (O3), hidrocarbonetos totais (HC) e óxidos de nitrogênio (NOX), oriundos de fontes móveis e fixas. Estes níveis de poluição, tendo a produção por combustão similar ao processo que leva à emissão de Hg gasoso, estão de acordo com os níveis aqui encontrados, assim como as possíveis fontes

poluentes sugeridas.

Finalmente, os maciços da Tijuca (onde está a segunda maior floresta urbana do mundo, a leste da área de estudo) e da Pedra Branca, paralelos à orla marítima, atuam como barreira física aos ventos predominantes do mar, não permitindo a ventilação adequada das áreas situadas mais para o interior. Como Camorim é situado entre os maciços estará preferencialmente recebendo Hg oriundo da Baixada Fluminense (Norte) e da orla marítima (Sul).

FIGURA 26 - Mapa da região metropolitana do Grande Rio, Sudeste do Estado do Rio de Janeiro. Em destaque o parque Industrial composto por 7 municípios, o Parque Estadual da Pedra Branca e o Parque Nacional da Tijuca. As setas indicam as direções dominantes dos ventos sobre a (1) área de estudo (2) Estação metereológica da GeoRio e (3) FEEMA. (4) Bairro da Barra da Tijuca. Fonte: Fotosatélite NASA, 2008.

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