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Equação 13 – Efeitos dos fatores institucionais na relação entre IFRS e qualidade do ambiente

1.3 Potenciais contribuições

O estudo contribui com a literatura empírica da área de contabilidade financeira de diversas formas. Primeiro, contribui ao documentar evidências acerca dos efeitos da adoção das IFRS para uma amostra de países que decidiram convergir em direção ao padrão internacional apenas recentemente (a partir de 2006) e, dessa forma, dá continuidade aos estudos sobre a adoção das IFRS e seus efeitos, possibilitando comparações com os resultados dos estudos anteriores; não há um estudo amplo e compreensivo analisando os efeitos das IFRS no período pós adoção na UE (em 2005) e consolidando os países que adotaram as IFRS após essa primeira fase da convergência internacional dos padrões contábeis. Há apenas estudos pontuais avaliando a adoção em um ou outro país de maneira específica, especialmente na China (DeFond, Gao, Li & Xia, 2014; Zhang, Uchida & Bu, 2013; He, Wong & Young, 2012). Além disso, Ahmed, Neel e Wang (2013b) comentam que identificaram apenas um estudo analisando os efeitos da adoção obrigatória das IFRS sobre a qualidade das demonstrações financeiras em uma amostra ampla de países. Portanto, uma das contribuições deste estudo é consolidar os países que adotaram as IFRS a partir de 2006 em uma única análise e dar continuidade à discussão sobre padrões contábeis versus incentivos econômicos na determinação da qualidade das demonstrações financeiras na medida em que testa os efeitos da adoção recente das IFRS e sua interação com variáveis de incentivos e de enforcement legal.

Segundo, contribui com a literatura empírica sobre os efeitos das IFRS ao isolar os potenciais impactos das mudanças na estrutura de enforcement legal e de outros eventos regulatórios que ocorreram em paralelo à adoção das IFRS. De acordo com Brüggemann et al. (2013), a implementação das IFRS na comunidade europeia foi acompanhada por reformas na estrutura de enforcement legal e isso é um desafio para os estudos empíricos (problema de identificação), pois há eventos concorrentes à adoção das IFRS. Logo, não se pode atribuir os resultados encontrados apenas às IFRS. Os resultados do estudo de Christensen, Hail e Leuz (2013) confirmam isso ao indicarem que os efeitos da adoção das IFRS ao redor do mundo estão concentrados basicamente na UE, onde houve reformas regulatórias para garantir o compliance com as IFRS, e estão limitados a alguns poucos países que fizeram reformas significativas na estrutura de enforcement legal. Com isso, um dos diferenciais deste estudo é a inclusão de países na amostra que não fizeram reformas significativas em suas estruturas de enforcement legal em torno da adoção das IFRS, o que permite a execução de testes específicos para controlar os potenciais impactos de outros eventos regulatórios concorrentes à adoção das IFRS.

Ainda sobre esse segundo ponto, apesar de os estudos com amostra formada por países europeus terem testado o potencial moderador da variável “estrutura de enforcement legal” e terem encontrado considerável significância, esses países passaram por reformas regulatórias em seus mercados de capitais, enquanto que a maior parte dos países da amostra do presente estudo não passou por tais reformas, o que possibilita contornar de certa forma o problema econométrico de identificação apontado por Brüggemann et al. (2013) e, assim, isolar outros possíveis eventos regulatórios concorrentes às IFRS que tenham potencial de influenciar a qualidade das demonstrações financeiras e o funcionamento eficiente dos mercados de capitais, que são os principais benefícios esperados da adoção dos padrões contábeis internacionais.

Terceiro, contribui com o processo de normatização e regulação contábil na medida em que fornece resultados potencialmente úteis para os responsáveis pela emissão das IFRS e para os órgãos reguladores que acompanham a implementação das normas, possibilitando verificar se os benefícios esperados que justificaram a adoção das IFRS estão sendo alcançados. Pope e McLeay (2011) e Ahmed et al. (2013b) destacam que estudos empíricos podem fornecer um

feedback bastante útil aos órgãos normatizadores responsáveis pela emissão dos padrões

contábeis (IASB e FASB, por exemplo) e aos órgãos reguladores responsáveis pela adoção e implementação dos padrões (SEC e CVM, por exemplo) acerca das consequências contábeis, financeiras e econômicas da mudança regulatória. Mesmo no caso dos países que já adotaram as IFRS, os órgãos responsáveis pelo enforcement e compliance dos padrões contábeis podem adotar medidas no sentido de corrigir o curso dos eventos futuros tendo por base os resultados reportados em estudos sobre os efeitos das IFRS, de forma a obter o benefício máximo da adoção dos padrões internacionais.

Quarto, contribui ao analisar de forma conjunta os efeitos das IFRS sobre a qualidade das demonstrações financeiras e sobre um grupo específico de usuários das informações contábeis altamente sofisticados – os analistas, avaliando assim o impacto das IFRS sobre a qualidade do ambiente informacional. Os estudos anteriores em sua maioria se preocuparam em analisar os efeitos da adoção das IFRS de maneira mais específica, como (i) efeitos econômicos: custo de capital, liquidez, valor de mercado, relevância da informação contábil e assimetria de informação, por exemplo (Daske et al., 2008 e 2013; Landsman, Maydew & Thornock, 2012; Li, 2010); (ii) efeitos nas propriedades da informação contábil: qualidade dos accruals, gerenciamento de resultados, comparabilidade e conservadorismo, por exemplo (Ahmed et al., 2013b; Yip & Young, 2012; Barth, Landsman & Lang, 2008); e (iii) efeitos sobre os usuários

das demonstrações financeiras: propriedades das previsões dos analistas (Preiato, Brown & Tarca, 2015; Horton, Serafeim & Serafeim, 2013; Byard, Li & Yu, 2011; Tan, Wang & Welker, 2011). Este estudo investiga os efeitos da adoção obrigatória das IFRS tanto sobre a qualidade das demonstrações financeiras como sobre a performance dos analistas de mercado.

Quinto, utiliza um grupo amplo de variáveis institucionais com potencial de afetar os incentivos à divulgação de demonstrações financeiras de alta qualidade e à performance dos analistas de mercado. Os estudos anteriores de maneira geral operacionalizam a variável “infraestrutura institucional” ou “qualidade das instituições” pela classificação do sistema legal dos países (common law ou code law), a exemplo do estudo seminal de Ball et al. (2000) e vários outros. Além do sistema legal, este estudo utiliza as seguintes características institucionais como variáveis mediadoras: enforcement, desenvolvimento do mercado de capitais, indicador de diferença entre os padrões contábeis domésticos e as IFRS de Bae, Tan e Welker (2008), indicador deliberdade econômica da Heritage Foundation (2015), indicador de percepção de corrupção da Transparency International (2014) e o componente principal extraído por meio da técnica de análise fatorial dessas características institucionais listadas como um indicador geral da qualidade das instituições.