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Potencias instrumentos para democracia e confiança

3. Democracia, Confiança e Crescimento Economico

3.1 Dados e métodos

3.1.3 Potencias instrumentos para democracia e confiança

Acemoglu et al (2001) reconhecem que para estimar o impacto das instituições sobre a performance econômica é preciso encontrar uma fonte de variação exógenas nas instituições. Em relação à democracia, considerar a possibilidade de endogeneidade é ainda mais relevante haja vista um debate na ciência política sobre a Teoria da Modernização39.

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A teoria da modernização tem sua origem nos trabalhos de Lipset (1959). Mais especificamente, seu artigo seminal, Some Social Requisites of Democracy: Economic Development and Political

Development, foi talvez o primeiro que estabeleceu o link teórico entre o nível do desenvolvimento de um

país e sua probabilidade de ser mais democrático. Lipset (1959) afirmou que ―all the various aspects of economic development – industrialization, urbanization, wealth, and education – are so closely

interrelated as to form one major factor which has the political correlate of democracy‖ (Lipset 1960, 41).

Muitos teóricos sugerem que Lipset (1959) indicou que o desenvolvimento econômico causa a democracia, mas segundo Wucherpfennig & Deutsch (2009), aquele autor apontou as condições e não necessariamente causas para a democracia. No entanto, parece claro que a modernização manifesta-se

Os autores exploram as diferenças nas taxas de mortalidade dos europeus nos assentamentos por eles colonizados para estimar os efeitos das instituições sobre a performance econômica. Os europeus adotaram diferentes políticas de colonização em diferentes colônias e com distintas instituições a elas associadas. Sob essa ótica, os colonizadores tinham maior probabilidade de implantar instituições de exploração em regiões em que eles não conseguiam se instalar em virtude de doenças que, neles, provocavam altas taxas de mortalidade (ACEMOGLU et al, 2001).

Assim, diferentes políticas de colonização construíram distintos conjuntos de instituições. A forma de colonização voltada unicamente para a extração de riqueza não introduziu a proteção ao direito de propriedade. Por outro lado, nas regiões em que os europeus se assentaram, foi possível replicar um conjunto de instituições que contribuiriam ao crescimento econômico futuro das colônias. Foi assim na Austrália, Nova Zelândia, Canadá e EUA, por exemplo. Em suma, a estratégia de colonização foi influenciada pela facilidade de se estabelecer na colônia. Nesse sentido, havia maior probabilidade de se tornar uma colônia de exploração aquela terra marcada por doenças que ameaçavam os europeus.

É com base nesses argumentos que os autores usam as taxas esperadas de mortalidade nos primeiros assentamentos europeus como instrumento para as instituições. Eles mostram que as taxas de mortalidade nos assentamentos há mais de 100 anos atrás explicam 25% da variação nas instituições atuais. Destaca-se que a maioria da causa dessas mortes foi decorrente da malária e febre amarela. Embora essas doenças fossem mortais aos europeus, o mesmo não acontecia necessariamente com os nativos, os quais desenvolveram vários tipos de imunidades.

O período de duração como colônia pode também ser um instrumento para as instituições. Segundo Galor et al (2013), às imposições institucionais coloniais designadas para aumentar a força da influência política podem ter contribuído para uma certa divisão dentro do território. Ele observa empiricamente que quanto maior a duração enquanto colônia, mais fissões sociais tendem a surgir ao longo do tempo.

através de mudanças nas condições sociais que aceleram a cultura democrática. Inglehart & Welzel (2005) afirmam que a modernização aumenta a probabilidade para a transição democrática.

Um dos instrumentos utilizados por Acemoglu et al (2014) foi uma dummy igual a 1 se o país foi democrático nos cinco anos anteriores ao período inicial da sua estimação40. Para tanto, ele observa dois indicadores de democracia, o Freedom House e o Polity IV; se o primeiro sugerir um país parcialmente democrático (o que equivale, na prática, um valor correspondente a 2) e o segundo indicador, no mesmo período, for um número positivo, então a nação é considerada democrática. La Porta et al. (1999) sugerem usar como instrumento a origem colonial dos países. A lógica é que nações colonizadas pela Inglaterra parecem ter melhores instituições hoje.

Hall & Jones (1999), quando investigaram a relação entre instituições e desenvolvimento, usam a latitude como instrumento sob o argumento de que esta é correlacionada com a influência ocidental que, por conseguinte, leva a boas instituições. Para Acemoglu et al (2004), a criação histórica das instituições são correlacionadas com a latitude porque os europeus não tinham imunidade para doenças tropicais durante o período colonial; assim, as colônias de povoamento e exploração, com suas instituições específicas, foram criadas, respectivamente, em latitudes temperadas e tropicais. Segundo Diamond (1997), as direções principais dos eixos continentais (se norte-sul ou leste-oeste) afetam o ritmo de expansão da agricultura, da pecuária, disseminação da escrita e outras invenções. As localidades distribuídas a leste e a oeste de ambas, na mesma latitude, têm exatamente a mesma duração do dia e suas variações sazonais. Elas também tendem a compartilhar doenças similares, regimes de temperatura e chuva. Assim, parece razoável que a difusão de inovações, inclusive institucionais, seja mais fácil de transcorrer latitudinalmente.

Diamond (1997) ainda advoga que o tamanho da população tem algo a ver com a formação das sociedades complexas. Deve-se ressaltar que uma sociedade numerosa, e que continua deixando a solução dos conflitos a cargo de todos os seus membros, está fadada ao fracasso. Tais sociedades conseguem existir somente se desenvolverem uma autoridade centralizada para monopolizar a força e solucionar os conflitos. As populações maiores e mais densas surgiram em regiões do globo em que havia uma

40 Embora este autor utilize um período de defasagem de cinco anos, optou-se, nos nossos cálculos pelo uso de uma defasagem maior: dez anos.

produção de alimentos suficiente para sustentar os especialistas que não trabalhavam na agricultura, tais como reis, burocratas e soldados.

Uma sociedade muito heterogênea e desigual, sob os mais variados aspectos, terá déficit de confiança e problemas de natureza institucional. Esta é opinião de Galor et al (2013) quando afirma que a polarização e a fracionalização étnica e linguística estão associadas à qualidade da governança. Ademais, uma heterogeneidade cultural aumenta a probabilidade de desconfiar dos outros e reduz a cooperação (GALOR et al, 2013). Assim, quaisquer variáveis que façam referência a origem de heterogeneidades podem servir para prever a confiança.

Neste aspecto da heterogeneidade, vale destacar o trabalho de Michalopoulos (2012) em que ele defende que variabilidades geográficas, tais como qualidade da terra e elevação, contribuem para a fracionalização etnolinguística. Este autor procura estudar as origens econômicas da diversidade cultural. Segundo ele, populações misturadas foram limitadas em regiões caracterizadas por dotações de terras heterogêneas, levando à formação de linguagens e etnias localizadas. Por outro lado, as mais variadas tecnologias seriam melhor difundidas em lugares com dotações mais homogêneas de terras. A lógica que justifica seu argumento é que diferenças na qualidade da terra entre as regiões levam à emergência de um capital humano específico.

Em relação às elevações, ou barreiras naturais, Jones (1981) sugeriu que tais barreiras criadas por montanhas e rios da Europa evitaram a formação de um único estado dominando politicamente todo o território. Isto, segundo ele, contribuiu para a fragmentação sociopolítica. Galor et al (2011), no entanto, argumenta que essas características geográficas evitaram a homogeneização cultural do continente europeu. Ademais, o isolamento geográfico tem um efeito negativo sobre a diversidade cultural. Mais uma vez, essas variáveis geográficas, ao exercerem algum impacto sobre a fragmentação social ou política deve afetar o desenvolvido das instituições.

O tempo transcorrido da Revolução Neolítica também pode servir de instrumento tanto para a confiança quanto para a democracia, pois, segundo Galor et al (2011), ela aumenta a superioridade tecnológica de regiões que foram submetidas à transição para a agricultura anteriormente. Essas regiões atraíram mais gente e tiveram uma sociedade

mais diversa. A diversidade, por sua vez, ao produzir uma sociedade mais heterogênea, influencia tanto o nível de confiança quanto a performance institucional.

Assim, todas as variáveis geográficas que, de alguma forma, contribuíram à atração de pessoas séculos atrás, podem servir de instrumentos para confiança. Isto ocorre porque quanto maior a atração, mais heterogênea e diversa será a comunidade. Maior diversidade implica, via de regra, em maiores conflitos e, portanto, menor confiança. A acessibilidade de uma região por hidrovias, por exemplo, pode influenciar ou contribuir para a diversidade cultural via comércio e emigração.

A despeito de todo esse conjunto de possibilidades, apenas os seguintes instrumentos foram utilizados para a democracia: latitude, como Hall & Jones (1999); e uma dummy igual a 1 se o país foi democrático nos dez anos anteriores ao período inicial da sua estimação, conforme Acemoglu et al (2014).

Para a confiança, bem como sua interação com a proxy da democracia, foram utilizados os seguintes instrumentos: variação na qualidade da terra, variação na elevação e distância para águas navegáveis. A descrição desses dados e suas fontes estão citadas em anexo. Segundo Galor et al (2012) e Michalopoulos (2011), algumas variáveis geográficas influenciaram a acessibilidade de uma região por imigrantes. Os locais com grande variabilidade em sua elevação dificultavam a atração de outros povos. Com isso, a suposição, comprovada pelas regressões de primeiro estágio, é que nações com grande variabilidade na sua elevação têm maiores níveis de confiança porque a emigração talvez não tenha sido tão elevada em relação às outras. A variação na qualidade da terra deve ser negativamente associada com a confiança; isto acontece porque uma região cuja qualidade da terra varia substancialmente pode ter sido alvo de disputas entre seus habitantes. A saída de terra de menos qualidade para outras de qualidade mais elevada pode ter envolvido conflitos e, assim, a confiança em tais nações deve ser menor. Por fim, a distância média de um país para a sua costa, ou para o mais próximo rio navegável, deve estar associada com o termo interativo, mas a direção deve depender exatamente da complementaridade/substitutibilidade entre confiança e democracia. A acessibilidade para um país pode afetar tanto a confiança, através da atração de novos povos de culturas heterogêneas, quanto à instalação de instituições inclusivas por outras nações.

Vale dizer que, tal como Barro (1996, 2012), os instrumentos utilizados para educação, formação bruta de capital físico e crescimento populacional são as variáveis defasadas em cinco anos. Ademais, seguiu-se a sugestão de Cook (2002) de usar como instrumento para a educação, bem como para a formação bruta de capital fixo, o perfil demográfico da idade da população. Segundo eles, há uma clara conexão entre o perfil da idade da população com a acumulação de capital físico e humano que é exógeno ao crescimento tecnológico não observado. A teoria do ciclo de vida sugere que a poupança deve ser maior quando uma grande parcela da população está nos primeiros anos de trabalho. Isto implica que a demografia afeta o investimento em capital físico. Além disso, a educação ocorre numa idade específica. Uma grande parcela da população na idade escolar (ou ainda sem idade escolar) provavelmente será seguida pelo rápido (ou lento) crescimento do nível educacional médio da população