• Nenhum resultado encontrado

PP – ham ham hã:: e o projetor multimídia? eu estou vendo que ele está

ENUNCIADOR 2 Professora professora informante “dá continuidade e propõe tópicos”

10 PP – ham ham hã:: e o projetor multimídia? eu estou vendo que ele está

não é... que ele está ligado lá... é um recurso do qual você se vale sempre?

PI – é um recurso do qual eu me valho sempre que eu posso porque lá

((PI está se referindo à instituição de ensino em que trabalha)) especificamente nessa universidade... a gente tem um prazo para fazer reserva do projetor multimídia... então todo último dia útil... todo dia trin:: todo primeiro dia útil... dia primeiro... de qualquer mês... a partir das sete horas da manhã todos os professores entram no sistema pra tentar reservar...

A professora-pesquisadora pergunta à professora-informante se o projetor multimídia era um recurso material utilizado frequentemente em suas aulas. Ao responder, afirmando que existe uma dificuldade para utilizar tal material, a professora-informante utiliza-se do a gente referindo-se a ela e aos professores da universidade onde trabalha. Há também o emprego do

nós como o mesmo valor enunciativo, como no exemplo (40):

Exemplo (40)

18 PI – mas assim quem acordar mais que cedo consegue reservar

primeiro... às vezes trava... aí não sobra... projetor multimídia... mas assim... vamos dizer: que... ESse semestre... eu usei:: projetor multimídia:: sessenta por cento das minhas aulas... não foi cem por cento não porque eu dou aula em uma faculdade de ciências da saúde... então como às vezes é mais difícil pro professor de anatomia descrever uma figura... como a minha matéria é oficina de texto... então eles acham que... nós temos que dar prioridade pro pessoal que usa imagem... que traz... é::: cirurgia... não é então tem professor que dá aula de odonto... o pessoal da fórum...

Já em outros segmentos, o a gente pode referir-se aos alunos, como no exemplo seguinte:

Exemplos

(41)

167 PI – porque:: quando você tem um grupo de adulto... não é... é:::

interessante aquela questão da disciplina... não é... “por mais que a

gente... ah... aula de de oficina de texto... é bom... a gente pode

107 (42)

114 PI: [...] e::: é interessante que... na maioria das vezes... as idéias... não é?

coincidem... até pela faixa etária dos alunos... “ah resumo é quando a

gente... tem que... fazer tudo em texto curto... com as idéias

principais”... então eu... eu procuro fazer essa pesquisa... até mesmo ali... não é? momentânea...

Nesse exemplo, a professora-informante utiliza-se do discurso direto para reproduzir a voz dos alunos, que está ancorada enunciativamente em a gente, isto é, “nós, alunos, podemos conversar.... debater...”; “ah resumo é quando nós, alunos, temos que fazer um texto curto...”

Em outras sequências do texto da ACS, o a gente refere-se ao enunciador professor em geral. Vejamos:

Exemplo (43)

487 PP – e::... o quê é que você sente com relação a isso...quando planeja e

não acontece

PI – bom... eu já fiquei frustrada... não é... não fico mais não... porque isso

já aconteceu várias vezes e... então acaba que:: essa questão do planejar não ser cumprido se torna uma variável que a gente já... considera... não é... [...]

PI – você pode ter um aluno que às vezes não goste... não é? então::...

acho que é uma coisa até interessante eu ver... porque::... quando a gente faz a gente não sente não é...

Em (43), quando a professora-informante diz a gente, ela marca enunciativamente a responsabilidade desse dizer aos professores em geral e à professora-pesquisadora. Nesse caso, ela aborda condutas de todos os professores.

Ocorre, também, o uso do nós referindo-se aos professores em geral. Nesse caso, entendemos que o efeito enunciativo é de mesmo valor. Tal afirmação pode ser ilustrada no exemplo seguinte:

Exemplo (44)

323 PI – então é de propósito... eu não ajudo... quer dizer ajudo... como se

eu estivesse ((risos)) -- -- nós professores adoramos ajudar não é?

108

PI – nós somos o máximo... não?... realmente eu não... eu não:::... eu

nã::o interfiro...

agora ali até:: eu fui na carteira também... acredito eu... até pra pegar uma autorização... que faltava da aluna que chegou mais atrasada...

Já no exemplo a seguir, o a gente tem sua origem enunciativa não no papel social de professor, mas na voz do cidadão brasileiro. Vejamos:

Exemplo (45)

512 PI – eles fizeram... não sei se até por causa da nossa cultura brasileira...

a gente... brasileiro não preocupa muito com essa questão da

formaliDADE... não é?

Já em outros momentos, o nós aparece como o mesmo valor enunciativo: Vejamos:

Exemplo (46)

348 PI – vamos dizer assim... o aluno não da conta... e nó... não sei se é o

perfil do aluno brasilei::ro... não é... nós brasileiros somos muito bem humorados então eu acho que (...)

Nos exemplos analisados, todos enunciados pelas mesmas pessoas – a professora- pesquisadora e a professora-informante –, permitem que se constatem diferentes referências pessoais. Assim, procuramos ilustrar o caráter plástico e dinâmico da referenciação através do uso do eu, do você (s), do nós e do a gente.

Embora privilegiemos nesta seção uma análise qualitativa, optamos também por apresentar aqui um mapeamento quantitativo das referências pessoais, por acreditar que a análise quantitativa oferece-nos dados substancialmente relevantes para a análise qualitativa, já que nos possibilita vislumbrar as diferenças quantitativas das referências pessoais que foram evocadas. Foram, pois, necessárias inúmeras leituras do corpus para que pudéssemos mapear quantitativamente as referências pessoais e os referentes que elas evocam.

O quadro apresentado a seguir condensa uma análise quantitativa dos dêiticos presentes no texto da ACS.

109

Dêiticos

Referentes EU VOCÊ NÓS A GENTE

Papéis praxiológico e comunicativo de

professora-informante 236 50 0 5

Papéis praxiológico e comunicativo de

professora-pesquisadora 7 5 0 0

Professor genérico (BUENO, 2007) 0 9 0 0

Professores da instituição em que PI

trabalha 0 0 1 1

Professora-informante e os alunos 0 1 0 8

Papel social da professora-informante 4 0 2 6

Aluno 2 16 0 5

Povo brasileiro 0 0 1 1

Quadro 6: Dêiticos na ACS

Como sintetiza o quadro, vários são os enunciadores representadas pelos referentes eu,

você, nós e a gente.

A esse respeito, uma hipótese que pode ser considerada é a de que a ACS possibilitaria a emergência de diferentes referentes pessoais que surgiriam em função de conflitos com os diversos aspectos do trabalho docente (alunos, colegas, artefatos, objetos de ensino etc.). Por essa razão, ao enunciar de diferentes lugares, os enunciadores que constituem os sujeitos surgem em suas falas, de forma marcada ou não, para cumprir, conforme sugere o procedimento de autoconfrontação, a avaliação do próprio agir.

Além disso, a partir do quadro, podemos perceber que o uso do eu pela professora- informante na assunção de seus papéis praxiológico, comunicativo e social é bastante marcado. Tal uso ao lado da presença marcante das modalizações apreciativas nos autoriza caracterizar a ACS como um procedimento em que o agir é avaliado/interpretado sob um ângulo subjetivo. Não queremos dizer, é claro, que a subjetividade ou a objetivadade podem ser descritas somente em termos de marcas de agentividade, mas a objetividade e a subjetividade podem ser analisadas, além de outros fatores, pelo modo como o autor do texto responsabiliza enunciativamente seu dizer.

110 CAPÍTULO 5