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3. O ENCONTRO COM A REALIDADE: ANALISANDO OS DADOS

3.1 ANÁLISE DOCUMENTAL

3.1.1 Análise documental do PPI

3.1.1.1 PPI: um olhar inicial

Toda instituição se alicerça em pilares que se concretizam em forma de documentos, objetivando conduzir ações e discursos dentro da organização. Na escola, esse pilar é o Projeto Político Pedagógico ou também denominado Projeto Pedagógico Institucional. Esse documento, para além do caráter burocrático, tem o caráter discursivo e identitário de onde emergem valores, concepções, anseios e projeções da escola. Desse modo, fez-se relevante investigar o discurso presente no PPI do IFBA que embasa a instituição, observando como nesse o ensino de línguas é entendido.

É inicialmente imprescindível mencionar o contexto em que o PPI foi construído, que conforme relatado anteriormente, na seção 1.4 Traçando caminhos: o

currículo e o ensino de línguas no IFBA, se deu a partir de uma série de discussões e

encaminhamentos sobre a necessidade de conceber um documento orientador da instituição. Para tanto, foi necessária a participação de toda a comunidade escolar, dentre os quais representantes docentes, discentes e administrativos nas plenárias ao longo do ano.

A gênese do PPI do IFBA revela de certo modo, um pensamento que transgride a visão tradicional e unilateral de, muitas vezes, contemplar somente as vozes docentes quando se trata de questões escolares, pois ao dar espaço para que as vozes dos estudantes e dos responsáveis pela gestão do IFBA sejam ouvidas, entende-se que a escola constitui-se em um corpo pleno, não limitado à sala de aula, visto que os

diferentes âmbitos sociais, culturais, políticos, burocráticos entrecruzam e definem esse corpo pleno.

Veiga (2001) alude à importância do Projeto Pedagógico de uma instituição quanto ao seu real papel dentro de uma sociedade e atentando para o seu processo de construção:

O PPP exige profunda reflexão sobre as finalidades da escola, assim como a explicitação de seu papel social. Também deve ter definido seus caminhos, formas operacionais e ações a serem empreendidas por todos os envolvidos com o processo educativo. Seu processo de construção aglutinará crenças, convicções, conhecimento da comunidade escolar, do contexto social e cientifico, constituindo-se um compromisso político e pedagógico coletivo. Ele precisa ser concebido com base nas diferenças existentes entre seus atores, sejam eles professores, equipe técnico-administrativo, pais, alunos e representantes da comunidade local. É, portanto fruto de reflexão e investigação. (VEIGA, 2001, p. 9)

Esses indivíduos caracterizam grupos, em que cada um vive a instituição de acordo com a sua função, nesse sentido, cada grupo tem as suas próprias aspirações e percepções que em determinados momentos podem coincidir ou divergir. Isso se trata de uma rica fonte para a construção democrática de um projeto de escola, por meio do qual podem ser desvendadas supremacias e conflitos entre as diferentes comunidades, (docente, discente e administrativa) que formam o IFBA.

Embora esse feito possa ser considerado um importante avanço social, não se pode esquecer que outros grupos devem ser contemplados como os pais e a comunidade do entorno.

O PPI, como o próprio nome já indica, está dentro da esfera política, onde se encontram leis e diretrizes educacionais, como a LDB, os PCN, o que significa que ele está associado a relações de poder, e por isso, tem caráter regulador, ao instituir normatizações e evidenciar escolhas e determinações. Contudo, Barbosa (2012) afirma que esses projetos ao serem estabelecidos são ressignificados em sua elaboração e concretização nas escolas a partir das especificidades ambientes, mais do que isso, a partir das particularidades contextuais dos grupos que fazem parte da escola, da comunidade regional, do momento histórico do país, da cidade, dos discursos gerados e promulgados dentro de sala e nos corredores.

Assim sendo, fala-se de teoria e prática, baseado nessa dialética, o PPI não se finda como documento inerte e finito, mas quiçá, um primeiro movimento latente, o início de um processo que se (re)constrói a medida que ele é percebido, vivido ou sublevado, em um espaço de reflexão ou acomodação.

É imperativo situar que as escolas de hoje estão inseridas num contexto de sociedade pós-moderna, caracterizada por uma dinâmica veloz, diversificada e em constante conflito, sendo também essas as características de seus sujeitos, por isso é preciso uma gestão educacional que levante essas questões, caso contrário a sociedade andará em uma direção e a sociedade pós-moderna, com suas exigências, em outra.

Assim sendo, Amorim (2012, p. 126) considera uma nova gestão da escola que:

[...] somente tem sentido quando atua no processo de melhoria contínua das atividades da educação escolar. Contribui para corrigir as dificuldades do cotidiano pedagógico, apontando a ineficiência das aulas e das relações humanas, discutindo as necessidades básicas e a solução de cada problema, demonstrando novos caminhos, criando novas possibilidades para que a comunidade escolar tenha sucesso em sua educabilidade e em seu processo de formação cidadã.

Essa nova gestão orientada a uma prática democrática e participativa negocia valores e ações em conjunto, se apropria de exemplos (inter)nacionais, traça metas e projeta alcances futuros. Desse modo, tal gestão desenha a identidade gestacional da institucional, transformando esse processo mais humano.

Ainda sobre isso, Amorim (2012, p. 127) considera que a gestão colegiada necessita constantemente de:

- fortalecer as políticas públicas e o planejamento das atividades, de modo a garantir democraticamente a construção e o desenvolvimento do Projeto Pedagógico da Escola, mantendo a sua flexibilidade; - prever o impacto institucional das ações e o fortalecimento dos resultados, primando pela sua divulgação e consolidação;

- ampliar o processo de tomada de decisões, programando e fortalecendo as atividades de ensino, de administração e de financiamento da escola;

- acompanhar, avaliar e reorientar constantemente as equipes de trabalho para garantir o cumprimento das metas estabelecidas.

Nesse sentido, a gestão escolar não diz respeito somente à estruturação e administração de uma organização, mas ela está atrelada a idiossincrasia do que se

denomina “escola”, seus sujeitos, seus papéis históricos, socioculturais e regionais que devem ser alcançados, seus logros e também “fracassos”, suas aspirações e até mesmo o seu espírito.

A gestão escolar orientada a isso busca muito mais que instituir padrões e regras com a finalidade de conseguir números e rentabilidade, ela se envolve com o processo educacional: na elaboração do seu Projeto de instituição, discurso registrado em forma de Projeto Político Institucional, na demarcação de objetivos sociais inerentes à instituição escolar, bem como na ampliação das atividades escolares.

A gestão colegiada contemporânea deve estar estritamente relacionada ao trabalho docente e as atividades docentes. Não é à toa que uma das sinalizações feitas por Amorim (2012) é justamente a da quebra do paradigma individual de gestão administrativa, o que significa primar por uma gestão participativa que se inicia dentro da própria sala de aula, quando os indivíduos estão desenvolvendo atividades em coletividade. Em outras palavras, a gestão colegiada começa dentro do próprio território da sala.

Para Amorim (2012), o novo modelo de gestão escolar deve firmar as ações democráticas de planejamento, “diálogo, trabalho em equipe, acompanhamento permanente e avaliação dos processos desenvolvidos na escola.” (AMORIM, 2012, p. 127). O autor resume esse modelo inovador de gestão no esquema abaixo:

Figura 5: Gestão colegiada

Fonte: AMORIM A. Modelo de gestão. Políticas Públicas em Educação, Tecnologia e gestão do