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A prática baseada na evidência significa “fazer as coisas de uma forma mais eficaz e com os mais elevados padrões possíveis, mas também assegurar que o que é feito, é feito bem – para que se obtenham mais resultados benéficos do que nocivos” (Craig & Smith, 2004, p.4).

De acordo com o Decreto-Lei n.º185/2015 de 2 de setembro, publicado no Diário da República, 1ª série, n.º 171, os serviços de sangue têm a responsabilidade de desenvolver e manter um sistema que garanta a qualidade do sangue e dos seus componentes, tendo por base as boas práticas. Assim, os serviços de sangue e de medicina transfusional têm o dever de manter uma atualização referentes aos procedimentos, manuais de referência e de formação, normas de orientação e relatórios (Ministério da Saúde, 2015).

Em todas as instituições onde seja realizada terapia transfusional, é necessário a existência de um sistema de gestão da qualidade, no qual devem ser desenvolvidas e mantidas políticas locais que garantam a utilização das melhores práticas transfusionais recomendadas (New Zealand Blood Service, 2016).

A documentação relativa à transfusão de sangue e dos seus componentes é essencial no sistema de qualidade da transfusão, promovendo instruções para os procedimentos e para a prática clínica. Os documentos devem incluir a normalização dos procedimentos e guidelines referentes às indicações clínicas para a transfusão, os quais devem ser revistos e atualizados regularmente (Optimal Blood Use, 2010). De acordo com as recomendações da União Europeia (2010), devem haver procedimentos normalizados relativamente aos procedimentos estabelecidos para os serviços de sangue, no acordo existente entre os serviços de sangue ou de medicina transfusional e a unidade hospitalar, e para o processo clínico transfusional.

Relativamente aos serviços de sangue, estes devem ter procedimentos normalizados referentes:

 À gestão do stock e inventário;

54  À receção das amostras de sangue;

 À realização dos testes de compatibilidade;

 À dispensa de componentes sanguíneos;

 À dispensa de componentes sanguíneos nas situações de urgência;

 À notificação de incidentes e eventos adversos;

 A informação essencial para os profissionais, relacionada com os componentes sanguíneos.

No que respeita ao acordo existente entre os serviços de sangue ou de medicina transfusional e a unidade hospitalar, deve haver documentação relativa:

 Ao requisito dos componentes sanguíneos ao serviço de sangue;

 Ao armazenamento e ao transporte dos componentes sanguíneos;

 À verificação da qualidade aquando da receção dos componentes sanguíneos;

 Ao rastreio dos componentes sanguíneos;

 À hemovigilância;

 À gestão de stock.

Por fim, em relação ao processo clínico transfusional, os serviços de medicina transfusional e as unidades clínicas devem ter documentação sobre:

 O rastreio de componentes sanguíneos;

 Os procedimentos de descongelação de plasma fresco congelado;

55  O consentimento informado do doente;

 A requisição de componentes sanguíneos, bem como de produtos fracionados;

 A requisição de sangue em casos de cirurgia programada;

 Os procedimentos a adotar em caso de administração de componentes sanguíneos não urgen- tes e urgentes;

 A colheita de amostras de sangue para a realização de testes de compatibilidade;

 O transporte para o serviço de medicina transfusional, das amostras de sangue colhido;

 Os requisitos de aceitação das amostras de sangue colhido;

 O transporte dos componentes sanguíneos para o local de administração;

 A seleção e a utilização dos sistemas de transfusão de componentes sanguíneos;

 Os procedimentos de preparação, administração e ritmo de infusão;

 Os procedimentos relacionados com o aquecimento durante a infusão;

 A confirmação antes do início da administração do componente sanguíneo, bem como a rea- lização de verificações à cabeceira do doente;

 A monitorização do doente ao longo de todo o processo de transfusão;

 A monitorização e a gestão de reações adversas.

(Optimal Blood Use, 2010)

De acordo com as evidências disponíveis, a DGS emitiu normas relativamente à utilização clínica dos componentes sanguíneos e à abordagem na transfusão maciça, sendo esta entidade responsável pela atualização permanente das mesmas. Assim, estão disponíveis normas referentes à utilização clínica

56 de concentrado eritrocitário no adulto, de concentrados plaquetários no adulto e de plasma no adulto, bem como à abordagem da transfusão maciça.

Para obter uma prática profissional segura e de qualidade, é necessário que os profissionais reflitam sobre os pressupostos considerados adequados uma vez que os mesmos são utilizados na prestação diária de cuidados aos doentes, pelo que, “a prática reflexiva é uma componente chave de cuidados de saúde baseados na evidência” (Craig & Smith, 2004, p.7). Desta forma, a prática deve ser revista e questionada de forma contínua e as decisões tomadas devem ser baseadas na evidência disponível (Mullally; Craig & Smith, 2004).

A prática reflexiva objetiva adequar a conduta de prestação de cuidados aos doentes e resulta em interrogações constantes sobre os procedimentos a realizar na assistência em saúde. Através da utilização do Modelo para a Mudança da Prática Baseada em Evidências, é possível ser produzida evidência, a qual permitirá obter uma prestação segura e de qualidade dos cuidados de saúde.

O Modelo para a Mudança da Prática Baseada em Evidências consiste num processo de desenvolvimento e integração de mudanças na prática, baseadas nas evidências. Este desenvolve-se ao longo de etapas e inicia-se com uma avaliação da necessidade de uma mudança na prática, culminando com a integração de um protocolo baseado em evidências (Rosswurm & Larrabee, 1999). Após ter sido identificado um problema relacionado com a prática, através do uso de sistemas de classificação e linguagem padronizados, são identificadas potenciais intervenções e selecionados os resultados. Através de uma síntese da melhor evidência disponível, na qual é efetuada uma avaliação da viabilidade, dos benefícios e dos riscos da sua aplicação na prática, é projetada e posteriormente implementada uma mudança na prática. A posterior avaliação dos seus resultados permitirá tomar uma decisão no que se refere à sua integração e manutenção na prática (Maramba, Richards, & Larrabee, 2004).

No âmbito da sua atuação, os enfermeiros têm o dever de manter uma atualização contínua dos conhecimentos e de analisar com regularidade a prestação, identificando possíveis falhas que necessitem de uma mudança de conduta (OE, 2015), pelo que a integração e a manutenção da prática baseada na evidência requer pesquisa seletiva e constante das informações científicas produzidas disponíveis. Através da produção da evidência científica ou da sua utilização e integração na prática de cuidados, é possível contribuir para a excelência do exercício profissional de enfermagem.

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3.3 – Objetivos