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Prática pedagógica e classe especial

No documento 2007RobertaRoos (páginas 63-68)

Os professores revelam as dificuldades que enfrentam diante de alunos classificados como imaturos, lentos, desestimulados. Dessa forma, a classe especial, diante de resultados de testes psicológicos, deixa de trabalhar com conceitos científicos, reduzindo o acesso dos alunos à cultura. A criança deficiente representa a desestabilidade da prática regular e requer que o professor reflita, encarando como um desafio e não recusa. Para isso, a observação dos fatos, das possibilidades e incapacidades são importantes para que o docente estabeleça relações entre os acontecimentos vividos e agir diante das capacidades.

A produção precisa ser proposta para os alunos com clareza, fazendo articulações entre os objetivos, texto trabalhado, interesse e necessidades das crianças. Dessa forma, fica mais fácil perceber os problemas e os avanços.

Por parte dos que avaliam, os problemas das crianças são interpretados a partir do “núcleo primário” do defeito – guiando as interpretações pelo o que a criança não é, por suas lacunas – e portanto são desprezadas suas possibilidades, suas habilidades, suas experiências. (PADILHA, 1997, p.87)

Como já apontava Vygotsky (1997), quando se aborda só a dimensão do fracasso, não há compreensão completa da criança. Nesse sentido, segundo Padilha (1997), o que exige pensamento abstrato é excluído do ambiente escolar, mostrando desconhecimento da força que tem a interação, com metas que são atingidas a partir do conhecimento do problema. Mesmo nas condições atuais, extremamente restritas, é preciso construir novas relações de ensino e a partir delas criar as possibilidades de aprendizagem.

Uma condição essencial para que o aprendizado ocorra é a de que a criança aprenda fazendo, considerando o conhecimento que se transforma em experiência. É necessário compreender que o aluno com suas experiências e os programas escolares são dois extremos do mesmo processo. Gottschalk(2006) ressalta que a educação é a reconstrução

da experiência, que tem como referência a ciência dos adultos. Além de aprender fazendo, a criança deve construir o próprio conhecimento, através da ação que produz sobre o meio. Através do ensino são construídas situações de aprendizado, nas quais os alunos sejam capazes de descobrir novas relações, tendo em vista a resolução dos problemas. A educação se processa através de experiências em que os alunos percebem o sentido das coisas pelo seu uso. De acordo com essas informações estão os PCN, Parâmetros Curriculares Nacionais:

Para aprender sobre digestão, subtração ou qualquer outro objeto de conhecimento, o aluno precisa adquirir informações, vivenciar situações em que esses conceitos estejam em jogo, para poder construir generalizações parciais que, ao longo de suas experiências, possibilitarão atingir conceitualizações cada vez mais abrangentes; estas o levarão à compreensão de princípios, ou seja, conceitos de maior nível de abstração, como o princípio da igualdade na matemática, o princípio da conservação nas ciência. (Brasil/MEC, 1997, p. 51)

A linguagem, nesse sentido, adquire a função de nomear as experiências acumuladas. É o conhecimento já consolidado que permite organizar a nossa experiência em geral.

Quando se levam em consideração as diversas funções de nossas expressões lingüísticas, a construção de sentidos no contexto escolar é possibilitada, dissolvendo, assim, problemas educacionais que têm repercussão na prática de sala de aula. Além disso,

o êxito no ensino passa a depender tanto do professor enquanto responsável por apresentar o mundo para a criança, introduzindo as condições de sentido para que esta possa organizar suas experiências; como também da disposição desta para aceitar novas regras, e considerar outros pontos de vista para dar significado ao seu mundo. (GOTTSCHALK, 2006)

O trabalho dos professores é uma das partes específicas da prática educativa que ocorre com maior amplitude na sociedade. Por isso, o ensino não pode ser tratado como uma atividade restrita à sala de aula. O funcionamento da sociedade depende da educação, ou seja, da prática educativa e “cada sociedade precisa cuidar da formação dos indivíduos, auxiliar no desenvolvimento de suas capacidades físicas e espirituais, prepara-los para a participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vida social.” (LIBÂNEO, 1994, p. 17).

Além de ser uma exigência da vida em sociedade, a prática educativa é também um processo para proporcionar aos indivíduos experiências culturais, para que eles possam atuar no meio social e transformá-lo. Diante de expressões ditas por professores, como “as crianças repetem de ano porque não se esforçam; tudo na vida depende de esforço pessoal” (1994, p.20), Libâneo ressalta que:

Essas e outras opiniões mostram idéias e valores que não condizem com a realidade social. Fica parecendo que o governo se põe acima dos conflitos entre as classes sociais e das desigualdades, fazendo recair os problemas na incompetência das pessoas, e que a escolarização pode reduzir as diferenças sociais, porque dá oportunidade a todos. Problemas que são decorrentes da estrutura social são tomados como problemas individuais. (1994, p.21)

É responsabilidade da escola e do professor que os alunos compreendam a realidade social e se preparem para atuar nesse contexto. Por isso, depende da escolha docente as concepções de vida que forem trazidas aos alunos para propiciar com mais êxito o domínio do conhecimento. A formação do professor implica uma ação prática, orientada teoricamente e interligada à realidade. Sobre isso, Libâneo destaca que “a didática se baseia numa concepção de homem e sociedade e, portanto, subordina-se a propósitos sociais, políticos e pedagógicos para a educação escolar a serem estabelecidos em função da realidade social brasileira”. (1994, p.29)

Alunos e professores, juntos, constroem o processo de ensino que, orientado pelo docente, possibilita condições para que os estudantes adquiram conhecimentos, habilidades e desenvolvimento intelectual.

O apelo pela mudança educacional coloca-se aos professores ao mesmo tempo como um desafio e uma ameaça. As reformas na educação muitas vezes apresentam pouca confiança na capacidade dos docentes, principalmente de escolas públicas, de proporcionarem liderança intelectual e moral para os estudantes. Quando o papel do professor na preparação dos alunos é colocado em dúvida pelo atual debate, são ignoradas também a inteligência e experiência desse profissional. “Quando os professores de fato entram no debate é para serem objeto de reformas educacionais que os reduzem ao status de técnicos de alto nível cumprindo ditames e objetivos decididos por especialistas um tanto afastados da realidade cotidiana da vida em sala de aula”. (GIROUX, 1997, p. 157)

O fato é que o enfraquecimento dos professores, em todos os níveis da educação, tem muito a ver com a atual crise educacional. Esse enfraquecimento deveria ser uma precondição necessária para que haja organização dos docentes frente ao debate atual. Essa situação desencadeia a perda de poder entre os professores e a percepção das pessoas diante de seu papel na sociedade. Giroux salienta que, “uma das maiores ameaças aos professores existentes e futuros nas escolas públicas é o desenvolvimento crescente de ideologias instrumentalistas que enfatizam uma abordagem tecnocrática para a preparação dos professores e também para a pedagogia de sala de aula”. (1997, p.158)

Não havia questionamento de sentimentos, suposições ou definições nesta discussão. Por exemplo, a “necessidade” de recompensas e punições para “fazer crianças aprenderem” era dada como garantida; as implicações éticas e educacionais não eram abordadas. Não se via preocupação em estimular ou alimentar o desejo intrínseco da criança por aprender. As definições de bons

alunos como “alunos quietos”, atividades no caderno de exercícios como “leitura”, tempo envolvido com a tarefa como “aprendizagem”, e finalizar o

material dentro do horário como “objetivo de ensino” – todas passavam sem questionamento. Os sentimentos de pressão e possível culpa quanto a não satisfazer os cronogramas também não eram explorados. A real preocupação nesta discussão era a de que todos “compartilhassem”.(GIROUX, 1997, P.160)

O processo curricular é trabalhado através de uma perspectiva equivocada,

considerando que todos os alunos aprendem da mesma forma, com os mesmos materiais e técnicas em sala de aula. É ignorada a noção de que os estudantes pertencem a diferentes culturas, têm diferentes histórias e talentos.

O autor argumenta no sentido de que uma forma de repensar a atividade docente é encarar o professor como intelectual transformador. Só assim será possível encarar a idéia de que toda atividade humana envolve formas de pensamento diversas e de que os

professores se dedicam a proporcionar valores do intelecto e capacitar o senso crítico dos aprendizes. Portanto,

Se acreditarmos que o papel do ensino não pode ser reduzido ao simples treinamento de habilidades práticas, mas que, em vez disso, envolve a educação de uma classe de intelectuais vital pra o desenvolvimento de uma sociedade livre, então a categoria de intelectual torna-se uma maneira de unir a finalidade da educação de professores, escolarização pública e treinamento profissional aos próprios princípios necessários para o desenvolvimento de uma ordem e sociedade democráticas. (GIROUX, 1997, p.162)

Mas, para serem vistos como intelectuais transformadores, os professores precisam querer educar estudantes através de um caminho em que eles desempenhem seu papel de cidadãos ativos e críticos na sociedade. Isso significa que o processo de aprendizagem não ignore as experiências cotidianas e seus problemas na prática de sala de aula e que o professor saiba trabalhar com indivíduos e grupos na sua diversidade cultural, histórica e racial, juntamente com as particularidades, problemas e sonhos, trabalhando-se ao mesmo tempo com situações de dentro e fora da escola, criando condições que dêem aos alunos oportunidades de serem cidadãos atuantes. Mesmo parecendo uma tarefa difícil para os educadores “proceder de outra maneira é negar aos educadores a chance de assumirem o papel de intelectuais transformadores”. (GIROUX, 1997, p. 163)

Durante toda a revisão bibliográfica da presente pesquisa, procurou-se mostrar que formas diferentes de ensinar existem porque há, também, sujeitos com capacidades diferentes e com o mesmo direito de aprender. Diante dessa realidade, discutiu-se, também, que muitas alternativas pedagógicas estão sendo ignoradas, prejudicando o desempenho de alunos com dificuldades no aprendizado, e apontando o rádio, através de características individuais como uma alternativa simples à introdução de novas tecnologias no espaço escolar. O capítulo a seguir, apresentará o processo de pesquisa realizado, que consiste na utilização do rádio como um suporte de texto alternativo com estudantes que apresentam diagnóstico de deficiência mental, alunos de classe especial de uma escola Estadual de Passo Fundo. Através da observação do rendimento escolar e da análise da compreensão textual dos alunos, pretendeu-se avaliar a utilização do rádio como suporte de texto, como uma alternativa pedagógica na sala de aula.

ESPAÇO ESCOLAR

No documento 2007RobertaRoos (páginas 63-68)