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PRÁTICAS EDUCATIVAS COM ALUNOS SURDOS

5 METODOLOGIA: ASPECTOS BALIZADORES

5.1 PRÁTICAS EDUCATIVAS COM ALUNOS SURDOS

A partir do 2º semestre de 2013, como mencionado na Introdução desta monografia, tivemos a oportunidade de conviver em situações de ensino-aprendizagem com alunos surdos ou com baixa audição dos últimos anos do Nível Fundamental e do Ensino Médio do Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho (IEPIC) – escola pública da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro.

Em relação à perspectiva da inclusão, o IEPIC quando comparado a outras escolas de Niterói, município em que está localizado, se diferencia pelo número de alunos surdos matriculados, cerca de 26 alunos nos últimos anos do Ensino Fundamental diurno, 5 alunos na educação de Jovens e Adultos (EJA) do Ensino Fundamental noturno e 8 alunos no Médioem 2014, já que se trata de uma referência na inclusão de surdos.

Nosso primeiro contato com os alunos surdos de uma das SRM11 foi como voluntário nas atividades do projeto de extensão “Educação Inclusiva e a Formação do Professor de Física”. A realização dessas atividades apontou para a necessidade de tentarmos suprir nosso déficit de conhecimento prático em assuntos relativos a um ensino de Física que contemplasse os pressupostos de uma educação inclusiva, particularmente, no que tange a inclusão de surdos. Desse modo, pleiteamos e fomos atendidos na realização, durante o ano de 2014, das Pesquisas e Práticas de Ensino (PPE) III e IV no IEPIC.

No decorrer desse ano, tivemos a oportunidade de confirmar as principais recomendações relativas à inclusão do surdo no contexto da escola regular e em aulas de Física do Ensino Médio.

A vivência com alunos surdos em aulas das classes comuns e em atividades de ensino na SRM nos demonstrou a adequação dos pressupostos da educação inclusiva expostos por Sassaki (2001, s/p.), dentre os quais, destacamos:

[...] 3. Os alunos não são problemas; eles são desafios às habilidades dos professores em encontrar respostas educativas às necessidades individuais

dos alunos. 4. O fracasso escolar não é um fracasso pessoal dos alunos e sim

um fracasso da escola em atender às necessidades desses alunos. [...] 6.Na

condição de pensadores críticos, os professores não precisam de receitas prontas e sim de habilidades para avaliar situações novas, desenvolver estratégias e encontrar respostas educativas às necessidades de cada aluno. [...] 8.O respeito pelos alunos e pelas suas contribuições e potencialidades individuais constitui uma das atitudes básicas do professor inclusivo. [...] 10. Os professores, trabalhando de forma integrada como membros de equipe com outros profissionais, atuam no papel de facilitadores da aprendizagem dos alunos. Entre esses profissionais estão: [...] instrutores da língua de sinais [...].

Temos consciência que práticas educativas inovadoras demandam um tempo que, na maioria das vezes, não é levado em consideração na carga horária de trabalho do professor. Nesse sentido, foi possível perceber que a intenção da oferta de uma educação inclusiva se fragiliza na prática. No que tange ao ensino de Física, o professor tem que se convencer de que as mudanças necessárias à efetivação de um fazer docente coerente com a perspectiva da inclusão dos alunos surdos ou com baixa audição resultará em melhoria para o processo de aprendizagem de todos os alunos.

Como ressaltado anteriormente, um ensino de Física alicerçado na oralidade e escrita do professor tem sido criticado sobremaneira, no sentido de que não contribui para o alcance dos objetivos propostos para o atual Ensino Médio. Essa forma de abordagem dos conteúdos escolares não contribui para a formação e exercício pleno da cidadania dos alunos ouvintes e surdos. Porém, em relação aos surdos, o acesso ao conhecimento e, consequentemente, à aprendizagem fica ainda mais dificultada, particularmente, devido à inexistência de planejamento de atividades decorrentes de práticas colaborativas entre professor generalista (Física), professor especialista (SRM) e intérpretes.

Outro aspecto que vale ser ressaltado refere-se aos recursos e estratégias didáticas. Observamos que mesmo em atividades planejadas, no sentido de facilitar a construção do conhecimento físico pelos alunos surdos, a comunicação professor- alunos, via intérprete, ainda é um fator que dificulta um maior envolvimento dos alunos nas situações problematizadoras de aprendizagem, na contextualização e na sistematização do conteúdo. Essa análise não se confirma para as atividades experimentais, as quais se caracterizam com os momentos de efetiva participação dos estudantes, tanto no que se refere a previsões iniciais e elaboração de hipóteses quanto na manipulação dos experimentos e reformulação de previsões e explicações iniciais.

Esse conhecimento prático aliado ao conhecimento teórico sobre educação e ensino de Física na perspectiva da inclusão de alunos surdos em classes comuns das

escolas regulares nos mobilizou para a proposição de uma sequência didática que atendesse aos anseios dos alunos surdos frequentadores da SRM do IEPIC e oportunizasse a criação de novos sinais em Libras.

No início das nossas atividades na escola como aluno de PPE, tomamos conhecimento de um material didático produzido peloINES12que nos motivou, naquela ocasião, a propor uma sequência didática sobre a “Física do Olho Humano”.

O fator tempo para elaboração da monografia nos demonstrou o quanto pretensiosos fomos, de modo que, nesta monografia, apresentaremos detalhadamente, e com resultados de aplicação junto a um grupo de pessoas surdas, apenas a primeira etapa da sequência didática, inicialmente pensada.

A metodologia que conduziu à elaboração deste trabalho monográfico pode ser descrita pelas seguintes etapas:

- Familiaridade com a educação inclusiva e o ensino de Física para surdos, via aprofundamento teórico e vivências práticas no IEPIC;

- Confronto entre dados observacionais no dia a dia da escola e os decorrentes das leituras e análise de material bibliográfico referente à educação de surdos e ao ensino de Física na perspectiva da inclusão;

- Seleção do conteúdo escolar de Física e delimitação dos pressupostos teóricos balizadores na elaboração da sequência didática;

- Elaboração da sequência didática;

- Produção de material didático adequado à implementação da sequência didática junto a um grupo de sujeitos surdos (aluna e ex-alunas do IEPIC);

- Ensino dos conteúdos de Física relativos à sequência didática para o grupo de alunas surdas;

- Coleta de dados qualitativos durante os processos de ensino e de aprendizagem, na perspectiva da pesquisa participativa, na qual o autor desta monografia assumiu os papeis de professor e de pesquisador, recorrendo à filmagem13 de todas as etapas dos processos;

- Produção de sinais relativos ao novo conteúdo estudado; - Consolidação e análise de resultados.

12 ALMEIDA, Regina Célia Nascimento; FERRARI, Maria de Fátima. Vivendo Ciências, v.1. Livro do aluno, s/d.

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