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RESULTADOS: ATIVIDADE DE ENSINO COM SURDOS E CRIAÇÃO DE SINAIS PROVISÓRIOS 1,

5 METODOLOGIA: ASPECTOS BALIZADORES

5.2 SEQUÊNCIA DIDÁTICA: A FÍSICA DO OLHO HUMANO

6 RESULTADOS: ATIVIDADE DE ENSINO COM SURDOS E CRIAÇÃO DE SINAIS PROVISÓRIOS 1,

A realização da atividade com os voluntários surdos ocorreu no Instituto de Física da UFF, em um dos ambientes do Grupo de Pesquisa em Ensino de Física, tendo uma duração de aproximadamente 2h. Uma hora e meia foi utilizada para os processos de ensino e de aprendizagem da 1ª Parte da Sequência Didática e os trinta minutos restantes para discussões, sedimentação dos conteúdos e criação de sinais.

O grupo que se predispôs a participar da atividade foi formado por 3 jovens surdas: uma aluna do 1º ano do Curso Normal do IEPIC, uma aluna do Curso de Pedagogia Bilíngue do INES e uma aluna do primeiro ano do Ensino Médio do Centro de Estudos de Jovens e Adultos (CEJA). Vale ressaltar que as duas jovens que atualmente estudam em outras Instituições educacionais são ex-alunas do IEPIC.

Além do autor, no papel de professor-pesquisador, o desenvolvimento da atividade contou com a colaboração de uma intérprete, que atualmente atua profissionalmente no IEPIC, por meio da Associação dos Profissionais Tradutores/Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais do Rio de Janeiro (APILRJ) e com a supervisão de uma professora generalista da área de Física (docente do Ensino Superior e orientadora desta monografia).

Durante a atividade ficou evidente a satisfação das voluntárias em relação ao material didático proposto e utilizado na atividade de ensino. Na percepção delas, as legendas em Libras embutidas nos slides que veiculavam os textos e imagens voltados à problematização e sistematização do conteúdo facilitaram o entendimento, pois oportunizavam uma autonomia na compreensão do que estava sendo veiculado. Segundo uma das participantes, “[...] no IEPIC existe aulas com imagens, mas que muitas vezes o aluno surdo vê a imagem e copia o conteúdo ao lado da imagem, porém nada entende, já com a legenda em Libras, gera um contexto, uma ligação direta”.

As voluntárias também avaliaram que os recursos utilizados nos experimentos facilitaram a visualização e compreensão do fenômeno.

16 As participantes surdas e a intérprete assinaram termo de autorização de uso de suas imagens para fins didáticos, de pesquisa e divulgação de conhecimento científico.

Na opinião delas, os recursos utilizados (projeção de slides, contendo textos em Português, imagens e legendas em Libras e os kits experimentais) são bons, tanto para o surdo quando para os ouvintes. Uma aluna chegou a destacar que o vídeo com legenda em Libras e em Português ajuda até o ouvinte a conhecer mais a Libras.

Ao iniciarmos a atividade, propusemos a observação de imagens da natureza, seguida da primeira pergunta problematizadora, que guiaria toda a evolução do conhecimento. Essa pergunta possuía o intuito de descortinar o conhecimento prévio delas sobre o que nos permite ver as maravilhas da natureza.

Ao serem questionadas, duas alunas de imediato disseram que era o olho que permitia que víssemos as maravilhas da natureza e, apenas uma, disse que conseguia “ver ou sentir, através da claridade do Sol”.

Quando questionamos as alunas se existia a possibilidade de ver no escuro, todas foram taxativas, afirmando que existia a necessidade de uma claridade. À noite, essa claridade seria da Lua. Assim foi possível perceber que em decorrência de suas experiências vivenciais, elas sabiam que para ver, há a necessidade de luz também. Contudo, nessa necessidade estava implícita a concepção de banho de luz que como explicam Gircoreano e Pacca (2001, p. 31), “é a ideia associada à luz ocupando todo o espaço, iluminando os objetos e permitindo que sejam vistos pelo olho. Não há uma ligação entre olho do observador e luz, que chega nele”.

Após a utilização do kit Experimental – Caixa Escura (Figura 7), elas tiveram a comprovação de que não dá para ver no escuro, e, também, perceberam que se existir algum objeto na frente do que queremos ver, mesmo com o ambiente iluminado não o veremos.

Figura 7: Exploração do kit experimental – Caixa Escura por uma das participantes.

Uma aluna ainda teve a compreensão sozinha de que não conseguiria ver os objetos que a luz não “tocasse”. Nessa etapa da atividade, notamos que já havia ocorrido uma evolução conceitual, de maneira que para ver não bastava olho e luz (claridade), havia a necessidade de ligação entre eles.

Em um segundo momento, voltado à compreensão da diferença entre fonte de luz e objeto iluminado, detectamos, como esperado, que todas as participantes consideravam a Lua como uma fonte de luz, pois no escuro ela ilumina a noite. Para uma melhor elucidação desse conteúdo, utilizamos alguns objetos do cotidiano, como isqueiros, vela, lanterna e celular. Levando-as a compreender a diferença entre objetos iluminados e fonte de luz. Nesse processo, as participantes demonstraram a compreensão da diferença entre fonte de luz e objetos iluminados. (como mencionado anteriormente evitamos a terminologia fonte de luz primária e secundária). Essa avaliação da compreensão pode ser constatada pelas colocações das participantes: “Quando estou num restaurante tem uma luz de centro (fonte de luz) que permite que vejamos os objetos em cima da mesa através da luz que bate neles, assim os enxergamos”; “Quando há emissão de luz em objetos, ela toca e clareia os mesmos”; “Placas de sinalização de trânsito que durante o dia são apagadas, mas a noite quando bate luz ela brilha”. Assim, elas aceitaram naturalmente que a Lua não emite luz, ela apenas reflete a luz vinda do Sol.

Em um terceiro momento, com o propósito de levá-las à compreensão do fenômeno de reflexão da luz, bem como diferenciar a reflexão regular da difusa, utilizamos os kits experimentais “Reflexão da Luz 1 e 2” (Figuras 8a e 8b).

Na utilização do kit experimental Reflexão da Luz 1, quando questionadas se as duas superfícies eram iguais, ela nos responderam : “No espelho a luz “bate” e vai

Figura 8a: Exploração do Kit Experimental Reflexão da Luz 1 pelas participantes.

Figura 8b: Exploração do Kit Experimental Reflexão da Luz 1 pelas participantes.

para um ponto fixo” e no papel alumínio amassado “a luz reflete para várias posições, para a caixa toda.” Elas ainda fizeram uma analogia da reflexão difusa com um vidro caindo no chão que se espalharia em milhares de pedacinhos.

Por fim, ao propormos uma volta à questão problematizadora inicial com base nos novos conhecimentos, as participantes aceitaram facilmente o modelo cientifico para a visão.

Durante a aprendizagem dos novos conhecimentos foi notório que a percepção visual do fenômeno de reflexão da luz (chegada e saída da luz de uma superfície) gerou um contexto espacial (Figura 5 e 6, p.58) para o entendimento das participantes surdas. Devido a isso, no decorrer da atividade o sinal para reflexão da luz surgiu naturalmente na explicação de uma das participantes sobre diferença entre fonte de luz e objeto iluminado. Quando ela começou a explicar, reproduziu com as mãos o movimento que a luz percorreria ao sair de uma fonte e “colidir” com um objeto.

Posteriormente, durante uma roda de conversa entre todos os envolvidos

(professor-pesquisador; intérprete, professora generalista e surdas) o sinal criado naturalmente para reflexão da luz foi ratificado por todos. A sequência de fotos da Figura 9 ilustra esse sinal.

A distinção visual entre os fenômenos de reflexão da luz regular e difusa, por meio da trajetória da luz no espaço, facilitou o processo de criação dos sinais que os identificassem em Libras. Nas Figuras 10 e 11 são mostradas sequências de fotos que ilustram, respectivamente, os sinais para reflexão regular e reflexão difusa.

Por fim, em relação às competências e habilidades propostas nessa primeira parte da sequência didática (saber expor ideias ou concepções frente a uma situação problematizadora; utilizar dados observacionais para reformular ou manter suas concepções iniciais; reconhecer a presença de fenômenos físicos em situações cotidianas e compreender o fenômeno de reflexão da luz, associando-o a diversas situações cotidianas, dentre as quais, a visão), avaliamos que foram plenamente desenvolvidas pelas voluntárias.

Figura 10: Sinal criado para o fenômeno de reflexão regular da luz.

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