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OUTRO OBJETO

5.1.1 Práticas Escolares com foco em inclusão

A escola tem práticas pedagógicas focadas na inclusão, não só falando do sujeito autista, mas sim como um mecanismo de estimular uma cultura escolar mais inclusiva. Há variações entre os educadores, principalmente em relação ao seu papel dentro da escola (por exemplo, uma pro- fessora de classe inclusiva tende a realizar práticas diferentes dos monitores e dos professores de classe especial). Como essa escola tem uma grande particularidade – classes especiais e regulares no mesmo espaço físico – suas práticas são focadas em incluir os estudantes das classes especiais nas atividades escolares como um todo, conscientizando também os estudantes matriculados nas classes regulares sobre o que é o autismo. Grande parte dessa motivação tem a ver com a modelação de comportamento a partir da imitação, a professora da classe especial que acompanhamos obser- vou em seus anos de experiência que é muito importante que os seus estudantes tenham momentos de convivência com o restante da escola, podendo se relacionar com outras crianças e aprender com elas. Mesmo com a tradição de inclusão, ainda há professores que tem a percepção de que a classe especial é fechada para o resto da escola.

Quando falamos das práticas pedagógicas com foco no estudante autista, vemos que exis- tem diversas possibilidades pois cada educador desenvolveu seu repertório de estratégias ao longo de sua experiência. Dependendo de onde o professor está localizado (se é na classe regular ou especial) seu foco muda.

Na classe especial, o professor se preocupa principalmente com o que é necessário desen- volver para que a criança tenha autonomia. Em alguns casos isso significa sua alfabetização e in- clusão em uma classe regular para continuar sua vida escolar, e em outros casos significa ser capaz de ir ao banheiro sozinho. Como na classe especial temos sempre um professor a cada duas crianças, o atendimento pode ser muito mais individualizado, baseado no plano de desenvolvimento indivi- dual de cada criança, combinando as necessidades de conteúdo e comportamento. Com os anos de experiência, também surgiram projetos que vão muito além do conteúdo. Mônica, a professora da classe especial que nos acompanhou durante a pesquisa desenvolve há 4 anos um projeto de cozi- nha experimental com seus estudantes (sendo que em vários momentos ela faz o processo que chama de “inclusão inversa” para que os estudantes das classes regulares participem de seus pro- jetos junto com a classe especial). A ideia de trabalhar com comida veio principalmente de duas características que ela observava em grande parte de seus estudantes: a seletividade alimentar e explorar os aspectos multissensoriais (de hiper ou hipossensibilidade). Assim, ela conseguiria esti- mular o aumento dos alimentos na rotina dos estudantes e trabalhar também sua sensibilidade a diferentes texturas e cheiros.

Ainda na realidade da classe especial, pela característica de interesses restritos e do trabalho de regulação das ações que precisa ser realizado com as crianças autistas, a professora opta por uma abordagem a partir do uso de reforçadores de comportamento. Quando a criança faz algo tido como bom (finalizar a atividade, por exemplo), ela tem acesso a seu reforçador (que no caso da Camila, como veremos mais tarde, são doces, celular e livros). Enquanto a criança não cumpre o combinado, ela não tem acesso ao reforçador. Assim, estabelece-se uma relação de recompensa e reforço positivo. Apesar desse mecanismo ser eficaz grande parte do tempo, Mônica enfrenta de- safios quando há poucos reforçadores, principalmente por se preocupar em dar muitos doces para Camila durante a aula.

Quando vamos para a classe regular, muitas vezes temos três tipos de educadores presentes: o professor, o monitor e o educador social. A visão do professor dentro desse contexto é mais pró- xima de integrar o estudante autista ao resto da classe, fazendo adaptações às atividades quando

necessário. Por exemplo, a professora de Gustavo, Joana, utiliza material dourado para trabalhar com matemática. Ela diz que ele precisa de algo mais concreto e visual para trabalhar e tenta variar a forma das atividades que ele irá realizar (ao invés de conteúdo). Gustavo, assim como outros estudantes que estão na área mais leve do espectro, costumam precisar muito mais de adaptações de forma ou de tempo de atividade do que aprender um conteúdo diferenciado em sala de aula. Esse perfil apresenta muito mais dificuldades no aspecto social do que no conteúdo. Há também estudantes como Max, que mesmo incluído em uma classe regular, seu desenvolvimento cognitivo não foi igual a seus pares neurotípicos, fazendo com que ele tenha atividades bastante diferenciadas de seus colegas. Aqui é onde o papel do monitor se mostra mais relevante, pois ele irá acompanhar o estudante de maneira mais atenciosa e individualizada, fazendo com ele as atividades programa- das pelo professor e criando estratégias para ajudar esse estudante quando necessário. Em grande parte dos casos, o monitor não só é responsável pelo acompanhamento pedagógico, mas também em auxiliar o estudante quando ele não tem total autonomia para realizar suas atividades cotidianas (como ir ao banheiro ou lavar as mãos).

É comum ainda que haja o apoio de profissionais fora da escola, pois há crianças que são acompanhados por psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos e outros tipos de terapeutas. A comuni- dade escolar como um todo se mostra aberta a essa parceria, com o intuito de oferecer um melhor ensino a seus estudantes. Na prática, no entanto, quem tem maior contato com esses profissionais são os professores da classe especial, enquanto os professores da classe regular buscam maior su- porte dentro das classes especiais, principalmente por não terem nenhuma formação direcionada.