4 ANÁLISE DE PONTES SUSPENSAS
4.7 Pré-dimensionamento de elementos estruturais
Para serem obtidas as ações provocadas pelas sobrecargas no pré-dimensionamento, é preciso numa primeira fase proceder-se ao dimensionamento dos elementos estruturais presentes numa ponte suspensa. Este dimensionamento recai sobre os parâmetros geométricos que cada elemento estrutural irá conter, podendo mais tarde serem utilizados no pré-dimensionamento das ações provocadas pela sobrecarga. Deste modo, esta secção irá abordar os pendurais e os cabos.
Pendural
O dimensionamento dos pendurais, requer numa fase inicial, a determinação de uma estimativa preliminar da força que transita do tabuleiro para o cabo. Sendo o pendural o elemento intermédio de ligação entre estes dois elementos, a sua geometria assume grande importância. Um dimensionamento inadequado deste elemento poderá levar à rotura, retirando assim estabilidade à estrutura podendo provocar colapso.
Se esta força for provocada por uma carga distribuída, esta irá ser a que está contida no espaçamento entre pendurais . Se a carga aplicada for uma carga pontual , esta pode ser transformada numa carga uniforme, distribuída ao longo de uma distância trinta vezes superior à altura do tabuleiro (Figura 4.14).
As aproximações aqui apresentadas são muito grosseiras face aos valores que no final de projeto se esperam obter. Contudo, são as aproximações necessárias à obtenção de uma primeira geometria para o pendural.
Figura 4.14 – Distribuição de forças no tabuleiro para o pré-dimensionamento da geometria do pendural [4]. Assim, é possível perceber que a força absorvida pelo pendural, assumindo a ação de todas as cargas sobre o tabuleiro, pode ser obtida recorrendo à equação:
( ) (4.65)
onde é a força instalada no pendural devido ao conjunto de cargas contidas no tabuleiro. Esta expressão pode posteriormente ser simplificada se alguma destas cargas não estiver a ser implementada sobre a estrutura, sendo que, quando a única carga atuante é uma carga distribuída seja ela sobrecarga ou carga permanente, a equação acima reduz-se à expressão:
( ) (4.66)
Considerando uma carga unitária pontual, a equação (4.65) assume a forma:
(4.67)
Admitindo que a tensão de cedência do pendural é a tensão de cedência do aço ( ), obtém-se a área da secção transversal do pendural ( ). Esta resulta da divisão da força presente no pendural ( ) pela tensão de cedência do aço ( ) e determina-se a equação que permite obter a área da secção transversal de um pendural:
. /
(4.68) Admitindo que os pendurais têm uma secção circular, o diâmetro desta secção pode ser obtido recorrendo à expressão:
√ (4.69)
O diâmetro do pendural ( ) é então determinado, tendo em conta o conjunto de cargas atuantes presentes na estrutura. Contudo, pode também proceder-se ao dimensionamento inverso do cabo,
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escolhendo a secção do mesmo e calculando a ação ( ), obtendo a tensão de cedência, ou seja, efetua- se um pré-dimensionamento condicionado à escolha do material constituinte.
Cabo
O pré-dimensionamento da secção transversal do cabo principal é efetuado em duas fases. Uma primeira, onde se obtêm as reações provenientes de elementos estruturais devidas às cargas atuantes e sobrecargas (presentes no tabuleiro e peso próprio do mesmo, ignorando o peso próprio dos pendurais, por ser muito inferior ao dos restantes elementos) e uma segunda fase onde estas reações são usadas para se obter a área ideal do cabo de forma a resistir as ações atuantes. Há que ter em conta que de forma a evitar problemas de fadiga, a tensão máxima que é utilizada nos cabos é de 200 MPa.
Na primeira fase é necessário determinar duas forças: a força axial máxima presente no cabo ( ) e o impulso horizontal ( ) (Figura 4.15).
Figura 4.15 – Equilíbrio de forças presente no cabo no topo da torre [4].
A força é calculada considerando que, tanto as cargas permanentes devido ao peso próprio dos elementos estruturais, como as sobrecargas e devidas ao tráfego, são aplicadas ao tabuleiro.
Para a obtenção da tensão máxima presente no cabo ( ) é necessário considerar o peso próprio do cabo principal (Figura 4.16). Esta parcela denominada por está apresentada no modelo de carregamento utilizado para a determinação das parcelas e .
Figura 4.16 - Modelo de carregamento utilizado na obtenção dos esforços apresentados [4].
Nesta figura estão representados todos os esforços atuantes necessários para a obtenção do pré- dimensionamento da área do cabo. A partir das equações de equilíbrio é possível então determinar a equação que permite calcular a força horizontal presente no cabo principal:
( ) (4.70)
Segundo [4], a força máxima de um cabo principal pode ser obtida por:
√( )
(4.71)
Introduzindo a equação (4.70) na equação (4.71) e resolvendo-a, deduz-se a expressão simplificada para a obtenção da força máxima de tensão atuante no cabo:
,( ) -
√
(4.72)
A equação (4.72) considera que o perfil existente no cabo é parabólico, sendo que não consideram-se as deformações que a estrutura sofre devido à atuação de sobrecargas.
Transformando a força máxima no cabo em e o peso próprio do cabo em em
, onde representa a área do cabo e a densidade do material constituinte do cabo, obtém-se
a expressão que permite calcular a área do cabo que resista às ações atuantes: ,( ) -√
√
(4.73)
e o diâmetro correspondente a esta área, este diâmetro , é obtido pela expressão:
√ (4.74)
O diâmetro dos cabos laterais, recorre à máxima tensão no vão lateral como mostrado na Figura 4.15, calculado por:
(4.75)
onde é o ângulo que o cabo faz com uma reta tangente ao ponto onde este se situa, desta forma a área do cabo lateral é obtida através da expressão:
(4.76)
Aplicando a equação (4.75) na equação (4.76) determina-se a seguinte expressão:
(4.77)
Nesta situação pode também encontrar-se o diâmetro do cabo à qual corresponde esta área, efetuando uma expressão análoga à equação (4.74).
A área que irá ser adotada para o cabo, terá que ser a maior área obtida entre a equação (4.73) e (4.77) para que seja possível uniformizar toda a secção do cabo.
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Relembra-se que a secção que é obtida desta forma é sobredimensionada, pois é admitido que todo o carregamento (cargas permanentes + sobrecargas) são transmitidas na totalidade para o cabo. Tal facto não se comprova sendo que existe uma parte da sobrecarga que é transmitida para a viga.