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111.5 A OBSERVAÇÃO E ANÁLISE QUANTITATIVA

III.5.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DO ESTUDO QUANTITATIVO ENTRE A TEORIA EA PRÁTICA:

III.5.2.0 PRÉ-TESTE: INSTRUMENTO ORIENTADOR DA OBSERVAÇÃO QUANTITATIVA:

Esta sendo aceite como uma das fases mais importantes de uma investigação, não deixa por isso de ser muitas das vezes descurada e encarada como um desperdício de tempo, quando se sabe que pode ser a diferença entre um estudo válido e profícuo e um estudo estéril.

Nas palavras de Lima (1995, pp: 38), esta fase é um "ensaio do questionário

em indivíduos não pertencentes à população do inquérito; ensaio feito sem ser através de entrevista (esta permite detectar melhor os defeitos de cada pergunta e as reacções do respondente); supressão das perguntas que se revelam inúteis e integração das questões esquecidas que o ensaio demonstre serem relevantes; forma e ordem das perguntas não corrigidas, apesar de eventuais erros manifestados no pré teste".

Em termos latos, diria-se que o objectivo desta operação é examinar a variação das respostas, restruturar o instrumento que se havia elaborado. A pertinência dos itens propostos, a adequabilidade, redundância e ambiguidade do instrumento, tudo isto é agora testado.

Outro dos motivos que justificam esta componente, relacionam-se com o testar o significado dos próprios itens, neste caso das afirmações. Esta questão, embora esteja aqui de alguma forma protegida pelo estudo qualitativo realizado no momento anterior, respeitando os tópicos emersos, não deixa de ser nuclear, pois há toda uma construção, todo um desenho das afirmações que contempla uma dimensão idiossincrásica.

Este pré teste foi aplicado a uma amostra de 20 indivíduos, numa proporção de 10 mais 10 indivíduos por cada grupo etário. Como não podia deixar de ser, o grupo seriado para a aplicação do pré teste, obedecia às mesmas características do grupo onde se previa aplicar a versão final do instrumento. Optou-se por aplicar o instrumento no Centro de Formação Profissional do Cerco do Porto, no que se refere ao grupo dos 22-25 anos e ainda no projecto "Incluir para qualificar",53. Os princípios, as condições subjacentes à escolha da

Aqui assinala-se a turma, visto que a versão final também incidirá neste projecto, para depois aquando a aplicação do instrumento final não se repetir o instrumento nesta turma, relativamente ao grupo dos 12-15 anos

amostra final, foram exactamente os mesmos que assistiram à concretização desta tarefa.

Neste seguimento, a dificuldade da tarefa foi também aqui avaliada para possível ajustamento. A própria atractividade e motivação do instrumento em causa, foi testada. Aspectos como o tempo de preenchimento e reacção dos interlocutores foi tomada em atenção, o grau de compreensão das respostas, o vocabulário utilizado, possíveis equívocos foram postos à prova.

Para além de uma dimensão objectiva, que é observada pelos resultados expressos no instrumento, houve toda uma dimensão de observação - apelide- se de participante - e que permitiu induzir algumas alterações. Permitiu desde logo perceber que a primeira versão "pecava" por um excesso de itens, bem como a dificuldade em os inquiridos inteirarem-se de algumas das afirmações que foram sendo assinaladas. Este procedimento foi possível visto que a aplicação do pré teste beneficiou da presença do responsável pela investigação e ainda porque foi aplicado em contexto institucional, preenchido em simultâneo por todos os inquiridos, assegurando-se a confidencialidade dos dados recolhidos.

Após o preenchimento do instrumento, foi realizado uma pequena discussão incidindo sobre as principais dificuldades que o instrumento oferecia e o que na opinião dos interlocutores deveria ser modificado. Agora restava a análise dos dados recolhidos e o encetar as necessárias alterações.

Assim decidiu-se eliminar um item, sempre que este apresentava um número de respostas "não concordo nem discordo", igual ou superior a 40%54, entendendo-se com este procedimento diminuir o numero de "flutuantes" (Foddy, 1997). Sempre que era diagnosticado um numero abundante de "ausência de respostas", ou quando através da discussão no final com os grupos se percebia a inadequação de um item, estes também eram suprimidos. Curiosamente ou não, alguns daqueles já haviam sido identificados como contemplando mais do que uma ideia na mesma frase, dificultando a sua interpretação.

Este valor resulta da consideração de Foddy (1997), que nos diz que normalmente 20% a 30% dos inquiridos dão uma resposta não substantiva se esta for uma das possibilidades do instrumento.

De um total de 98 itens, reduziu-se para 58.

O item "não concordo nem discordo", assume aqui o papel de "filtro" testando a

relevância que o assunto proposto tem para os inquiridos, sublinhando que é perfeitamente razoável não responderem" (Foddy, 1997; pp:114). As questões

"filtro" comportam uma fundamental importância, visto que na ausência destas o inquirido acaba por ceder à tentação de responder substantivamente, mas imbuído de ambiguidade. Assume-se que quem responde nesta possibilidade, hesita, está ambivalente, não tem opinião formada, tem posição neutra (idem). O autor Smith (ibidem) aponta como grupo de risco para um alto nível de respostas "filtro", os indivíduos de baixo nível de escolaridade e fraco empenhamento político. A esta altura o investigador deveria estar assustado....simplesmente, as características que assistiram à escolha do tipo de amostra, permitem contrariar a possível falta de informação do investigado. Ainda relacionado com esta questão, foi alterada a posição da questão "filtro", de posição central e intermédia para posição última e periférica. Este procedimento foi sustentado por variada literatura (Holdaway 1971, Bishop 1987, in William, 1997), que indica esta, como uma das soluções para a diminuição de um tão exagerado número de respostas "filtro". Por um lado porque o simples posicionamento ao "centro" impele para uma resposta aqui concentrada, resolvendo desde logo alguma indefinição ou conflito cognitivo, por outro, porque há primeira dificuldade a tentação é se assumir uma posição neutral.

Mas estas indicações para posterior alteração, não se limitaram a questões de "circunstância", antes fizeram perceber a necessidade de alteração de questões de fundo no teste. Desde logo, foi retirado o pedido de indicação da morada pois, um número significativo nada respondeu, outros indicaram a freguesia mas nada respondiam acerca da rua e só um deles indicou o nome do Bairro Social onde vivia, quando se sabia à partida que a amostra dos 12-15 anos era na sua esmagadora maioria habitante de Bairros Sociais da Cidade do Porto55. Esta situação é por certo reflexo do quão estigmatizante é o se sentir pertencente a um contexto desqualificante. A corroborar esta hipótese está o facto de uma grande percentagem de "testes", terem a indicação de

Isto porque é um dos objectivos do projecto, abranger jovens de bairros sociais de Campanhã.

bairro social como local de habitação mas depois nada ser assinalado na área de residência ou ser colocado uma rua que pouco indica. Além disto, tem-se o facto de na discussão final com o grupo dos mais novos, ter ressaltado muito claramente o estigma associado ao se viver num bairro social, com os miúdos a acusarem-se mutuamente de viverem em bairros e de terem omitido tal informação. Os autores, Quivy e Campenhoudt (1992), apontam como um dos virtuosismos do pré teste, esta possibilidade de identificar-se questões às quais as pessoas demonstram grandes resistências a responder.

Da observação e da discussão, resultou ainda a evidência de que o numero de itens, e consequentemente o tempo de preenchimento do teste, era claramente exagerado. Por outro lado, houve a necessidade de se polarizar as questões. Percebeu-se que as questões sobre cocaína acabavam por introduzir ruído, até porque o conhecimento da substância pelos mais novos era muito diminuta. Logo, a decisão de se retirarem as afirmações respeitantes à cocaína não provocou angústia de maior, sabendo-se inclusivamente da associação entre esta substância e os novos padrões de consumo e também da associação desta substância aos velhos padrões de consumo.

O segundo critério, também sugerido pelo orientador do presente estudo, consistiu na necessidade de se eliminar ou se substituir itens que comportavam linguagem técnico-ciêntifica.

Como continuava a haver necessidade do instrumento diminuir, eliminou-se itens que se atropelavam tautologicamente.

Por fim, itens que corriam o perigo de redundar em "truismos", podendo provocar pouca variação das respostas, foram também eles eliminados.

Na tentativa de se tornar o instrumento mais atraente e por oposição menos enfadonho, retiraram-se as várias subdivisões do teste, optando-se por um formato compacto e uno.

Outra das conclusões que resultou da discussão final, isto relativamente ao grupo dos 12-15 anos, foi a necessidade da aplicação do teste ser assistida por técnicos ou pelo investigador, como forma de um maior controle e eventual esclarecimento de algumas questões. O mesmo problema não se colocou junto do grupo dos 22-25 anos, o que se compreende pela própria faixa etária em questão.

Tal como nos indica Ghiglione e Matalon (1997), o pré teste não se resume única e exclusivamente à aplicação do instrumento a uma população com as mesmas características mas, também a toda uma série de operações onde se inclui uma análise exaustiva, atenta e rigorosa ao instrumento acabado de criar pelo próprio investigador e até ao feedback acerca do mesmo, por alguém exterior à investigação desenrolada, e neste caso este papel foi desempenhado pelo orientador.

Conclusão:

Esta é uma fase crucial do estudo que funciona como o ensaio, visando a construção de instrumentos de observação final.

Serviu para testar os itens propostos em particular e para testar todo o instrumento em geral.

Este pré-teste consubstanciou-se na aplicação de 10 instrumentos a cada um dos grupos, num total de 20, a cada um dos grupos em questão neste estudo. A condição fundamental destes dois grupos reunidos, era a de obedecerem às "características - base" do grupo alvo final.

A "questão-filtro" (não concordo nem discordo) foi alvo de particular atenção, pela sua capacidade informadora.

Esta fase constitui-se como um momento fundamental para o incremento de teor cientifico, rigoroso neste estudo.

" Os problemas que se põem a propósito dos testes, designadamente os

problemas de fidelidade e de validade, põem-se igualmente para as escalas. Estas últimas, de resto, constituem uma técnica que, embora dotada de especificidade, se pode considerar como uma variante da técnica mais geral dos testes"

III.5.3. O INSTRUMENTO PARA OBSERVAÇÃO E RECOLHA DA INFORMAÇÃO