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Fonte: Márcio Douglas B. Amaral, março de 2005.

Nota: A praça é uma parte do projeto Ver-o-Rio e está localizada às margens da Baía de Guajará, tendo como característica principal o fato de conceber o espaço público como sinônimo de livre acesso à população, que pode ser visitada todos os dias e a qualquer hora. Destaca-se na fotografia a imagem das duas crianças brincando e do vendedor de picolé autônomo junto ao carrinho da sorveteria Kibon, uma empresa de porte nacional.

Além do PRÓ-BELÉM existem projetos especiais de urbanização mais específicos e localizados, a exemplo do complexo Ver-o-Peso e do projeto Ver-o-Rio, que visam resgatar as singularidades sociais, culturais e ambientais de uma metrópole na Amazônia, como destacou o então Prefeito Edmilson Rodrigues em entrevista:

Então, recuperar, digamos, essa dimensão sócio-cultural e ambiental amazônica, numa metrópole amazônica é importante, e eu penso que Belém ela não vai ser nunca uma Miami, e ela nem deve querer perseguir esse caminho, nem deve perseguir ser uma São Paulo ou Rio, na verdade Belém, ela tem que buscar recuperar tudo aquilo que ela tem de belo do ponto de vista natural e do ponto de vista cultural, que a relação histórica do povo de Belém com as águas ficou uma relação muito positiva (Edmilson Rodrigues, ex-prefeito do município de Belém, 23/03/2005).

As revitalizações do Ver-o-Peso e do Ver-o-Rio estão inseridas numa concepção de gestão e de planejamento urbanos marcados pela presença de um governo de esquerda no poder na cidade de Belém22. Esse governo, segundo Rodrigues (2004), tinha como compromisso político reformular a relação da população com o poder público através dos

seguintes princípios: maior participação popular na gestão, democratização do Estado, inversão de prioridades e transformação da cultura política local.

Pode-se dizer que a revitalização do Ver-o-Peso teve início no ano de 1998,

momento em que a prefeitura de Belém realizou um concurso nacional para escolher um projeto de reforma para o Ver-o-Peso, saindo vencedor o Escritório do arquiteto Flávio de Oliveira Ferreira, do Rio de Janeiro23 (BELÉM, 2004).

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Desde 1996 a cidade de Belém foi governada pelo prefeito Edmilson Brito Rodrigues do Partido dos Trabalhadores. Este chegou ao poder através da “Frente Belém Popular”, uma coalizão de esquerda formada por cinco partidos, PT, PSB, PC do B, PPS E PSTU (RODRIGUES, 2004, p. 51).

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Dentre os projetos que concorreram na fase decisiva do concurso estão o do arquiteto Otávio Leonídio, do Rio de Janeiro, Jussara Valentim, do Paraná e Flávio de Oliveira Ferreira, que saiu vencedor, também do Rio

O complexo do Ver-o-Peso tem sua origem na segunda metade do século XVII, mais precisamente em 1688, momento em que os portugueses estabeleceram uma maior rigidez no controle alfandegário na Amazônia. Dessa forma, foi criado um pequeno posto de fiscalização e de tributos, denominado de a casa do “Haver-o-peso” (BELÉM, 2000).

Com aproximadamente 26,5 mil metros quadrados, o Ver-o-Peso é uma “obra aberta”. Segundo consta em Belém (1998), ela não está acabada, pois sua construção se faz ao longo de diversos tempos e espaços. Dessa forma, o que existe no Ver-o-Peso, na atualidade, é uma síntese desses diversos momentos pelos quais passou a Amazônia e o Pará. As

testemunhas de todos esses processos são as ricas e belas obras arquitetônicas existentes: o Mercado Municipal de Carne, construído por Francisco Bolonha; o Mercado de Ferro, ou de Peixe, com suas torres imponentes; o Solar da Beira, construção em estilo neoclássico, onde funcionava a antiga fiscalização municipal; a famosa feira do Ver-o-Peso onde se

encontra de tudo, com seus saberes, sabores e odores; a Praça do Pescador, onde se pode desfrutar de uma bela paisagem e de um estacionamento; a Praça do Relógio, área ocupada por feirantes; a Praça Esplanada dos Velames, agora transformada no setor de venda dos produtos industrializados da feira; o primeiro necrotério da cidade que depois foi

transformado na Flora Regional e que hoje funciona como banheiro público; a feira do Açaí, um entreposto de comercialização do açaí, onde existem também quiosques de venda de comidas e bebidas; e a Doca do Ver-o-Peso por onde chegam não apenas produtos do rio e da floresta, mas também sonhos, desejos e sociabilidades (BELÉM, 1998).

O projeto do Ver-o-Peso tem como um de seus pilares principais a revitalização não

apenas física, mas também social do espaço. Além da revitalização da paisagem, houve de Janeiro. Pela vitória, Flávio Ferreira recebeu um premio de 280 mil reais aproximadamente (KALYNKA, 2001, p. 12).

uma preocupação do poder público municipal em melhorar as condições de trabalho, através da capacitação (curso de relações pessoais, de marketing e de língua estrangeira) dos trabalhadores da feira e do mercado. O objetivo geral do projeto era, portanto, promover uma requalificação do espaço sem mudar o seu uso e levando em consideração os

problemas sociais existentes e a participação dos trabalhadores no acompanhamento de todas as etapas do empreendimento (BELÉM, 2004). Como se destaca em Belém (2004b):

A reforma do Ver-o-Peso [...] objetiva dar as pessoas que circulam e trabalham no complexo uma ambientação mais humana e moderna, dotando-o de uma estrutura que permita atender bem a todos os usuários. Além das obras físicas estruturais, o Ver-o-Peso passou por um processo de requalificação dos seus permissionários (feirantes), que participaram de oficinas sobre Educação Ambiental, Marketing, Relações Interpessoais e Legislação para Feiras e Mercados, além de através do 1º Colóquio do Ver-o-Peso terem discutido e encaminhado pela Prefeitura à edição de um Decreto que normatiza seu funcionamento e gestão, que originou o Condomínio Participativo do Ver-o-Peso (BELÉM, 2005, p. 01).

O projeto que saiu vencedor do concurso e que, posteriormente, passou por algumas alterações, em função de adequação a realidade local, previa a revitalização do Ver-o-Peso em três etapas principais: a primeira refere-se à recuperação do mercado de Ferro, do Solar

da Beira e da Praça do Pescador; a segunda constituiu-se da renovação de toda área da feira (setores de ervas, plantas medicinais, mandingas, industrializados, hortifrutigranjeiros etc.) e da praça dos estivadores; a terceira etapa diz respeito a requalificação da Feira do Açaí, da praça do Relógio e da Doca do Ver-o-Peso (BELÉM, 2004).

Uma das principais preocupações do projeto de revitalização do Ver-o-Peso era de

que a implantação do projeto pudesse acontecer de forma participativa. Para isso, houve todo um trabalho durante a elaboração do projeto de apontar claramente de que maneira se

daria a participação da sociedade nesse processo, de modo que a participação não ficasse apenas na intenção, mas que se pudesse criar mecanismos efetivos para que ela acontecesse na prática.

Para que se concretize a participação continuada de todos ao longo do processo é necessário que as informações sobre o projeto e a obra sejam realmente acessíveis ao público.

Para isto, as informações devem se formalizar de três maneiras:

Estabelecer, o mais cedo possível, um stand na área do Ver-o-Peso, com informações gráficas e escritas sobre o projeto vencedor, onde uma assistente social estará à disposição do público para responder perguntas, esclarecimentos e reclamações, ou encaminhá-las por escrito aos projetistas e administradores;

Estabelecer uma série de publicações ao longo do tempo do projeto e da obra;

Estabelecer, além do Conselho do Ver-o-Peso, [...] um Escritório de Arquitetura do Ver-o-Peso, composto por arquitetos da Prefeitura, que acompanharão o projeto, a obra e cuidarão da sua manutenção ao longo do tempo (BELÉM, 1998, p. 01).

A primeira etapa do processo de revitalização do Ver-o-Peso teve início com a recuperação do mercado de Ferro, do Solar da Beira e da Praça do Pescador. Esta foi a primeira das intervenções realizadas na área do Ver-o-Peso, sendo anterior ao concurso nacional realizado pela Prefeitura para revitalização do complexo. A Praça do Pescador

(Foto 14) foi uma iniciativa da Secretaria de Urbanismo (SEURB) e tinha dois grandes objetivos: primeiro, de servir como estacionamento para os consumidores do Ver-o-Peso; segundo, de ser um espaço de contemplação da Baía de Guajará. Para o arquiteto Edinaldo Macola Rente, da SEURB, entrevistado pelo autor em março de 2005, a Praça do Pescador

já existia no local, porém estava descaracterizada pela ação dos feirantes que a transformaram num espaço desordenado e caótico.

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