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ϭϮϵ CAPÍTULO 05 - AS VIAGENS Notas introdutórias 5.1 Os trajetos 5.1.1 Os passeios 5.1.2 Os piqueniques 5.1.3 As romarias 5.1.4 As viagens de compras ************************************************************************************************* Notas introdutórias

A finalidade deste capítulo é trazer à tona as modalidades de viagem comercializadas no sistema alternativo estudado, apresentando as especificidades de cada trajeto.

5.1 Os trajetos

O sistema alternativo tem a região Nordeste como principal área de circulação dos grupos, concentrando-se nos estados situados entre a Bahia e o Ceará. As viagens de maior frequência são as que seguem para centros de comércio popular como Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e Fortaleza, devido a frequente necessidade de comerciantes e consumidores em adquirir mercadorias.

Os demais trajetos acompanham o calendário anual de eventos, considerando feriados, fins de semana, férias e estações climáticas. Os estados mais distantes de Pernambuco são visitados principalmente no mês de janeiro, como ocorre com a Bahia e Sergipe. Já outras localidades são comercializadas com maior frequência durante os feriados ou finais de semana, como é o caso dos estados da Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte.

A frequência das viagens modifica-se conforme cada fretante, podendo ocorrer mensalmente, a cada dois meses ou mesmo toda semana.

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TABELA 04 – PROGRAMAÇÃO DE DONA CELESTE EM 2008

Mês Local Viagens

Janeiro Salvador/BA Turismo

Fevereiro Parque Águas Finas/PE Piquenique

Março Praia de Tamandaré/PE Piquenique

Abril Fazenda Nova/PE Passeio

Fortaleza/CE Turismo

Maio Festa da Lavadeira/PE Passeio

Junho Sulanca de Caruaru/PE Compras

Julho Santuário de Mãe Rainha –

Garanhuns/PE

Romaria

Agosto São Joaquim do Monte/PE Romaria

Setembro Praia de São Miguel/AL Passeio

Outubro Veneza Water Park/PE Passeio

Juazeiro do Norte/CE Romaria

Novembro Praia de Mangue Seco/PE Piquenique

Dezembro Morro da Conceição/PE Romaria

Toritama/PE Compras

Algumas viagens são tradicionais em alguns momentos do ano, tornando-se opções fixas no calendário dos organizadores. É o que acontece com os trajetos de Semana Santa e São João que seguem para destinos vinculados a tal período, como ocorre com os passeios ao espetáculo da Paixão de Cristo em Brejo da Madre de Deus-PE e os que marcam os festejos juninos em Campina Grande-PB e Caruaru-PE.

As estações climáticas possuem grande influência no planejamento das programações, sendo as viagens organizadas conforme a incidência de chuva ou sol, calor ou frio, como nos explica Seu José Carlos:

Bom, existe uma tendência das pessoas ficarem mais eufóricas no verão. Assim, [faço] principalmente cidades litorâneas, cidades de praias [que] no verão ficam mais aconchegantes. Mas eu diferencio, de certa maneira, assim, no período de inverno que tem os lugares próprios e características que ficam melhor pra ir no inverno do que no verão. Tipo assim, cidades como Garanhuns, Taquaritinga, Triunfo fica um período bom de ir no inverno. São João, que é um mês de chuva e tudo, a gente vai no inverno. Então, eu vejo de certa forma, pra fazer nesse período aquelas coisas de época – como por exemplo, pegar o frio, o inverno, essas coisas. E quando chega no verão, como eu já tenho a programação toda esse ano, Natal, Maceió, Paulo Afonso. Aí eu já deixo justamente isso aí para o período depois do dia 07 de setembro, que aí já é tempo de sol aqui no Nordeste. E nesse período de chuva é característico a gente ir pra uma cidade serrana, como Ponta Negra e o que eu já falei. Como chega em um período de junho e julho, aí fica gostoso você ir pra Triunfo como nós vamos lá no festival.

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Você chega lá, dá a impressão que você está na Suíça, pela questão climática que você constata lá (Seu José Carlos, março/2008).

Os deslocamentos para ambientes naturais ou parques aquáticos são feitos na primavera e verão. No outono e inverno as viagens seguem em direção a eventos municipais que abarcam festivais, espetáculos, vaquejadas, festas religiosas ou temáticas, bem como a ida a destinos cujo principal interesse é a permanência em meios de hospedagens como hotéis-fazenda ou pousadas temáticas.

5.1.1 Os passeios

Os passeios compreendem as viagens de lazer com duração de um dia. Estes são realizados em municípios ou estados próximos, incluindo a ida a um parque aquático, a participação em festividades municipais diurnas, eventos noturnos, shows, bem como o day use (passar um dia em um hotel).

O fato de ir a um evento não significa participar dele. Muitos grupos chegam ao local e escolhem divertir-se de outras maneiras sem necessariamente interagir com o evento que está acontecendo. O destino aparece como elemento motivacional secundário, pois o princípio fundador dos passeios é a busca pelo prazer de “estar junto”, de poder compartilhar uma experiência coletiva de lazer.

Certos passeios atuam como práticas recreativas que servem para atualizar e legitimar o pertencimento ao grupo. Situação constatada ao acompanhar um dos grupos pesquisados ao espetáculo da Paixão de Cristo em Nova Jerusalém – teatro ao ar livre no agreste pernambucano – que durante a Semana Santa promove a encenação do drama de Cristo.

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O grupo que acompanhei foi até o teatro ao ar livre mas não entrou, preferindo fazer um churrasco atrás do ônibus. Quando circulei no estacionamento próximo ao espetáculo percebi que existiam outros tantos grupos fazendo o mesmo, inclusive composto por pessoas idosas que explicaram não ter a menor condição de correr entre os palcos para assistir o espetáculo. Conforme Dona Edilma, “A maioria não vem para o espetáculo, vem só a passeio”. E continua:

De cinquenta pessoas entra quinze. A maioria vai para passear mesmo. Eu saio cedinho, vou para a Feira de Caruaru, passo a manhã na feira, saio de 11 horas da feira, vou para o Polo de Caruaru, almoço lá porque o almoço é bonzinho e baratinho, de lá eu vou para Fazenda Nova. Lá se paga um real para tomar banho. Quem quer vai assistir o espetáculo, quem não quer fica por ali conversando, jogando dominó, assistindo uma coisa ou outra. É animado lá fora. Eu vou lá há quase quinze anos e nunca entrei (Dona Edilma, janeiro/2009).

Tal fato também aconteceu durante a excursão de Seu José Carlos ao município de Taquaritinga do Norte. A Vaquejada de Surubim fazia parte da programação da viagem, mas boa parte dos integrantes dirigiu-se até o local mas preferiu permanecer no entorno do evento. Apenas os mais jovens do grupo, de faixa etária entre 15 e 25 anos, decidiram entrar e assistir aos shows daquela noite.

De acordo com Nery (2003), o passeio representa um deslocamento físico-moral vivenciado pelas classes populares que marca a passagem do tempo do trabalho para o do não trabalho, tendo como característica o distanciamento do cotidiano em busca de diversão em grupo.

Foto 27: Excursionistas no espetáculo da Paixão de Cristo II

Foto 26: Excursionistas no espetáculo da