Os precursores de geopolímeros podem ser baseados em argila
desidroxilada, ou seja, metacaolina, e uma ampla gama de subprodutos
industriais e agrícolas, tais como escórias de cinzas volantes, escórias de
alumínio e aço, soluções de tratamento de metais usados (Nugteren et al.2011)
Preparo, cinzas de casca de arroz (Bernal et al.2012) e vidro esmagado (Naik
2002). Os precursores necessitam de quantidades significativas de alumínio e /
ou de silício na forma amorfa para facilitar a solubilização alcalina e a
geopolimerização.
Geralmente, os materiais ditos precursores da produção de
geopolímeros são resíduos industriais provenientes da indústria de mineração
e das usinas de termoelétricas, na qual possuem na sua composição sílica e
alumina (aluminosilicatos). De acordo com Goldoni (2014), toda matéria prima
composta de sílica e alumina pode ser viável na síntese de geopolímeros.
Dentre dos precursores mais tradicionais utilizados estão a metacaulinita (argila
calcinada altamente reativa), as cinzas volantes e escórias de alto forno
(resíduos das indústrias siderúrgicas e termoelétricas).
3.3.1 Metacaulinita
O Caulim é uma argila composta principalmente do mineral caulinita,
além de quartzo; feldspato; mica; anatásio ou rutilo (BIGNO, 2008). Quando
tratados termicamente a temperaturas específicas, concebem produtos com
características de grande importância industrial, chamados caulins calcinados
(SOUZA, 2011).
A caulinita (Al
2Si
2O
5(OH)
4) é um aluminosilicato formado por tetraedros
de silício e octaedros de alumínio unidos por pontes de oxigênio, conforme
mostra a Figura 3 (SILVA, 2009). No Brasil, é encontrada em jazidas minerais
da região Nordeste e outros estados como, Minas Gerais, Espírito Santo, São
Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, todos com exploração industrial e
comercial (SILVA, 2008).
Figura 4. HGT da caulinita
Fonte: Silva (2008).
A estrutura da caulinita é constituída por átomos que apresentam
ligações covalentes (fortes) entre si, com baixa reatividade. Desta forma, para a
caulinita se transformar em metaculinita (material amorfo e reativo) é
necessário fornecer energia na forma de calor (calcinação) nas temperaturas
entre 700 ºC e 800 ºC, resultando na perda da hidroxila (desidroxilação) e no
colapso e desarranjo da sua estrutura, sem a cristalização dos óxidos
resultantes (NASCIMENTO, 2009).
Segundo os estudos de Davidovits (1999) apud Boca Santa (2012),
temperaturas de calcinação entre 550-650°C ou maiores que 900°C, provocam
uma deficiência na perda de hidroxila, desta forma a temperatura considerada
ideal pelo autor para a calcinação da caulinita é de 750 - 800°C por 6 horas. A
transformação térmica da caulinita para metacaulinita é representa da pela
Figura 4.
Figura 5. Transformação térmica da caulinita para metacaulinita.
Fonte: Adaptada de Souza (2011).
Na produção do geopolímero segundo Li et al. (2010), as fontes dos
metacaulins utilizados podem variar de acordo com o tamanho das partículas,
pureza e cristalinidade da origem da caulinita, no entanto, essa variedade de
formas quando incorporadas na mistura não afetam significativamente o
comportamento reológico e o grau de reação álcali-ativado. Souza (2011)
ressalta que as propriedades físicas e químicas do geopolímero são
melhoradas com a metacaulinita, levando em consideração a origem, o
tamanho das partículas e as condições de
calcinação da matéria- prima. Além disso, a
metacaulinita de alta reatividade (produto
refinado e sem impurezas) melhora as propriedades mecânicas e a
durabilidade do concreto (MEDINA, 2011).
3.3.2 Cinzas Volantes
As cinza volantes são resíduos provenientes da queima do carvão
mineral, utilizado para produzir energia elétrica nas usinas termoelétricas
(BIGNO, 2008). Estas cinzas possuem na sua composição basicamente cristais
de sílica (SiO
2), alumina (Al
2O
3), óxido férrico, Fe
2O
3, outros componentes tais
como MgO, Na
2O, K
2O, SO
3MnO e TiO
2, bem como partículas de carbono não
consumidas durante a combustão (SIQUEIRA, 2011). Em geral, são partículas
mais finas do que o cimento Portland e cal, variando em diâmetro de menos de
1 µm e não mais do que 150 µm, além de possuir estrutura esférica
(HARDJITO & RANGAN, 2005).
750 - 800°C
Caulinita Al2Si2O5(OH)4
Metacaulinita Al2Si2O7
As cinzas volantes são classificadas em classe F e classe C de acordo
com a norma americana ASTM C 618. A classe F constitui todas as cinzas que
apresentam baixo teor de cálcio (menor que 10% de CaO) e são obtidos da
queima de antracito ou carvão betuminoso. Já a classe C apresenta alto teor
de cálcio (percentuais entre 10 e 30% de CaO) e são produtos da queima de
lignito ou carvão sub-betuminoso e tem propriedades pozolânicas e cimentícias
(SIQUEIRA, 2011; HARJITO & RANGAN, 2005).
Segundo Vargas et al. (2007), as cinzas volantes são aproveitadas nas
indústrias cimenteiras e concreteiras devido a sua propriedade pozolânica, no
entanto, existe um sério problema econômico e ambiental quanto ao seu
descarte, pois somente estas indústrias não conseguem suprir todo resíduo
gerado. Para reaproveitar este subproduto e ajudar no problema ambiental, o
autor afirma que as cinzas volantes podem ser utilizadas na produção de
cimentos álcali-ativados, obtidos em um ambiente fortemente alcalino e que
não necessita do clíquer na sua composição.
3.3.3 Escórias de Alto Forno
A escória de alto-forno é um resíduo decorrente da fabricação do ferro
gusa, formado pelas reações químicas do minério de ferro e dos materiais
fundentes. Além de conter aluminossilicatos, a escória ainda possui óxidos de
ferro e manganês em sua composição. Bigno (2008) salienta que a escória é
retirada na forma de um líquido, no qual é resfriado a 1350 – 1550 ºC de forma
lenta ou rápida modificando as propriedades da matéria-prima.
Quando resfriada lentamente, a escória começa a cristalizar-se
formando cristais tais como mervinita, melilita e silicato dicálcico, diopsídio (nas
escórias ácidas). Nesta condição cristalina, a escória não possui característica
de aglomerante e neste caso pode ser utilizada como agregados. Quando
resfriada rapidamente, de forma que os íons não se organizem formando
cristais, é formada uma estrutura vítrea que possui maior nível de energia
comparada às escórias cristalinas. Este fato explica termodinamicamente o
poder aglomerante da escória, uma vez que os compostos hidratados têm
menor nível de energia, sendo por isso mais estáveis que as cristalinas (JOHN,
1995).
No documento
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
(páginas 30-34)