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A aplicação do instituto das Parcerias Público-Privadas em projetos de infraestrutura está diretamente ligada às contratações de prestação de serviços relativos a planos de investimentos que observem os anseios estatais e que deverão ter seus objetivos fixados tanto nos editais de convocação quanto nos respectivos contratos. Desta forma, tem-se

que a escolha da modelagem das PPP’s para a execução de um projeto prescinde da autossustentabilidade do empreendimento, bem como da transferência direta de recursos estatais (que deverão obedecer os critérios contratuais).

Neste sentido, cumpre ressaltar que os dispositivos da Lei nº 11.079/04 eliminaram o temor de que as demais modalidades de concessão de serviços públicos (carentes de garantia estatal) deixariam de atrair o interesse privado (bem como estabeleceu o tamanho do alcance da legislação) ao limitar a utilização das PPP's a projetos com investimento mínimo de vinte milhões de reais. Sendo assim, as PPP's cuidam de apenas duas espécies de concessões (Administrativas e Patrocinadas), ou seja, o referido diploma não incluiu os contratos de obras públicas (que mantêm-se sob a égide da Lei nº 8.666/93) e os contratos de concessão comum (que permanecem subordinados às Leis 8.987/95 e 9.047/95).

Outro ponto de extrema relevância está ligado à necessidade da análise econômico-financeira dos projetos (por meio de estudos quantitativos dos prováveis ganhos financeiros), visto que a esmagadora maioria das obras (desde as mais simples) costumam estender-se por períodos de tempo superiores aos previstos, bem como extrapolam os orçamentos. Ou seja, os projetos deverão ser lastreados por reservas de capital suficientes para a complementação dos orçamentos iniciais e, consequentemente, para cobrir todas as despesas extraordinárias. Desta forma, tem-se que os contratos deverão prever uma política de gestão compartilhada e que apresentem capacidade para superar todas as dificuldades que poderão surgir durante a execução do projeto, oportunizando uma rápida tomada de decisões.

Ademais, tem-se que a ideia de que a delegação da execução de obras públicas ao setor privado representaria, necessariamente, uma diminuição em seus valores globais já fora superada, diante dos recentes casos de obras públicas que foram entregues a concessionários e que encontram-se paralisadas ou com escabrosos casos de superfaturamento que vêm sendo massivamente denunciadas nos meios de comunicação ou identificados pelos próprios órgãos de fiscalização. Desta forma, tem-se que a escolha por um projeto de Parceria Público-Privada não implica, necessariamente, na diminuição das tarifas pagas pelos usuários.

Diante deste cenário, a Administração Pública deverá oportunizar uma real competição entre os candidatos (bem como exercer a devida fiscalização durante as fases licitatórias e de execução do projeto), com o fito de proporcionar os maiores ganhos possíveis com a escolha da modalidade e impedir a sobrevalorização dos objetos. Todavia, o establishment deverá buscar a mitigação dos riscos mercadológicos referentes à natural instabilidade das economias emergentes (diante de sua patente sujeição às intempéries das

economias desenvolvidas), do controle de custos, do marco regulatório, e das comuns crises cambiais.

Por fim, os referidos axiomas sobre economias em desenvolvidos devem ser enfrentados, (especialmente os entendimentos de que a participação do setor privado na execução de obras ou serviços públicos confere um significativo ganho de eficiência a prestação estatal costuma ser ineficiente), diante dos seguintes aspectos: I – Empresas privadas costumam gerar mais inovações do que as estatais – largamente utilizado em solo brasileiro, inclusive durante o processo legislativo de aprovação da própria Lei das PPP’s, todavia, deve-se considerar o fato de que as companhias privadas costumam fixar parcerias com grandes fabricantes e fornecedores (muitas vezes internacionais) podendo, desta forma, lhes colocar em uma posição contrária das inovações tecnológicas, diante da perspectiva de choque de seus interesses globais; II – A gestão de serviços públicos por entes privados implica em uma maior fiscalização social e da mídia, diante da dicotomia dos interesses dos concessionários – o referido axioma deve ser analisado conforme o caso, visto que em diversas experiências internacionais e, até mesmo, nacionais, restou verificado o não atendimento dos padrões mínimos contratualmente estabelecidos para a prestação dos serviços, diante da ineficiência das equipes montadas pelas concessionárias; IV – Maior propensão governamental à fiscalização da prestação do serviço – pertinente, penas, nos casos em que inexistir uma forte cultura de estabilidade e profissionalismo do funcionalismo público; IV – Busca pelo aumento da lucratividade mediante a redução de custos e aumento de eficiência – variável, de acordo com o sistema de remuneração e a natureza do próprio objeto outorgado, visto que, em alguns casos, o aumento de perdas implica no aumento da remuneração (como em casos de sistemas de saneamento e abastecimento de água que consideram apenas o volume de água disponibilizado).

Outrossim, se faz mister o ressalte dos principais itens responsáveis pelo sucesso da utilização da modelagem das PPP’s em outras nações. Vejamos: I – transparência da fase licitatória – o processo licitatório deverá ser imparcial, objetivo, claro, permeado por ferramentas de análise dos resultados e transparente, bem como apresentar relevantes ganhos para o Estado e, especialmente, para a sociedade; II – Estabilidade legal, jurisprudencial e regulatória – a estabilidade das decisões dos órgão regulatórios apresentam-se como imprescindíveis para o estabelecimento de projetos de longa duração e com o investimento de elevados valores; III – Governança corporativa – as pactuações deverão ter uma boa gestão compartilhada, com a especificação das obrigações de fazer e de não fazer, prever a

possibilidade de discussões sobre revisões econômico-financeiras e, até mesmo, técnicas, bem como permitir a participação de terceiros imparciais para a certificação de resultados ou para a ágil resolução de conflitos (como a arbitragem, por exemplo); IV – Participação dos usuários – importância da existência de instrumentos democráticos de verificação do contentamento da população; V – Capacidade técnica estatal – relevância do processo técnico de desenvolvimento dos termos e do objeto pactuados pelo Edital, visto que o sucesso da aferição dos resultados da parceria necessita da participação dos agentes públicos.