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Preparo do pé de moleque no Assentamento Zumbi dos Palmares

Fonte: Pesquisa de campo/ março, 2012.

No assentamento, existem dois grupos de mulheres que comercializam bolos e doces típicos da região, como os já citados. Sobre isso falaremos com mais detalhes no próximo tópico.

2.2.3. Produção, consumo e comercialização

As principais atividades econômicas desenvolvidas na comunidade estão ligadas à agricultura, cuja produção está voltada, principalmente, para a subsistência da família. Entre os principais cultivos do assentamento, encontram-se mandioca (em maior quantidade), feijão, milho, fava, batata-doce, inhame, verduras e hortaliças, caju e maracujá, considerados gêneros tradicionais da região. A mandioca é cultivada por quase todas as famílias do assentamento e é voltada tanto para o consumo interno como para a comercialização. Vejamos, a seguir, os índices de produção do assentamento relativos à safra de 2009:

Tabela 8 – Principais gêneros agrícolas produzidos no Assentamento Zumbi dos Palmares: Safra 2009

DISCRIMINAÇÃO ÁREA CULTIVADA (ha) PRODUÇÃO (kg)

Feijão 53,20 15.130

Milho 34,65 17.184

Mandioca 419,90 3.555.334

Inhame 3,39 15.095

Fonte: INCRA (PDA Zumbi dos Palmares), 2010.

Os dados da tabela 7 nos mostram que a produção de feijão, milho e inhame é pequena. Juntos, corresponderam a menos de 92 hectares em 2009. Em contrapartida, a produção de mandioca ocupa parte considerável da área destinada ao cultivo, com quase 420 hectares plantados no mesmo ano. Convém lembrar que a área dos lotes totaliza cerca de 595 hectares, em torno de 70% da área dos lotes ocupada com a mandioca no ano de 2009. Isso reflete a tradição da mandioca presente no município de Mari, que faz com que esse seja o principal gênero comercializado pelos assentados.

Essa comercialização é feita por meio de atravessadores, que vendem esse produto no município de Feira Nova (PE). O restante da produção é vendido no próprio município de Mari e, em menor quantidade, na cidade de João Pessoa.No entanto, os assentados reclamam do fato de serem dependentes dos atravessadores, que compram seus produtos muito baratos e demoram, em média, duas semanas para pagar. Mas é possível verificar a comercialização de parte de sua produção pelos próprios assentados, que vão à feira livre de Mari.Dos gêneros agrícolas destinados à comercialização, podemos destacar,também (embora em menor proporção), a macaxeira, o feijão e a batata-doce.

Dentro do assentamento também é desenvolvida a criação de animais, principalmente de pequeno e médio porte (como caprinos, ovinos e aves). No entanto, por conta da falta de investimentos essa produção também é pequena, sendo os rebanhos adquiridos com recursos próprios dos assentados.

Uma entidade que atua no assentamento, a ATES38, constatou que, aproximadamente, 80% das famílias assentadas criam, no espaço de 1 ha ao redor das casas, animais como galinha (principal criação), pato e peru, que são destinadas ao consumo das próprias famílias e à comercialização. De acordo com a mesma entidade, os rebanhos não são maiores no assentamento, devido à insuficiente infraestrutura para o desenvolvimento do seu potencial pecuário.

Dos rebanhos criados no assentamento, as aves, os porcos e os caprinos são destinados à comercialização e ao consumo interno; os bovinos são utilizados para a produção de leite de consumo das famílias; já os equinos, como meio de transporte.

Tabela 9 – Quantidade de animais criados: Assentamento Zumbi dos Palmares

DISCRIMINAÇÃO QUANTIDADE Asininos 1 Aves (outras) 521 Caprinos e ovinos 132 Coelhos 2 Equinos 18 Aves (galinha) 989 Garrote 119 Novilho 4 Porco da índia 2 Suínos 48

Fonte: INCRA (PDA Zumbi dos Palmares), 2010.

38 Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária criado em 2003, que presta

Em relação às práticas agrícolas (fomos informados pelos assentados, incluindo o assentado e antigo técnico agrícola do PA – Luciano – que, em junho de 2011, durante nossa primeira visita ao assentamento, ainda ocupava esse cargo), os assentados realizam correção do solo e adubação orgânica e utilizam o nim39 no lugar do agroquímico. Apesar de não ser maioria, ainda é possível encontrar assentados que fazem adubação química, mas sem a utilização de inseticidas, pesticidas e herbicidas químicos.

Também existem no local uma cooperativa (Cooperativa de Produção Agropecuária do Assentamento Zumbi dos Palmares – COOPAZ) e uma área localizada na agrovila onde foi construída uma mandala. Foi possível observar formas de uso coletivo de instalações agrícolas que são os açudes e a mandala. O assentamento não tem estrutura de beneficiamento da produção, mas já existe um projeto para a construção de uma casa de farinha, que só precisa da vistoria de um engenheiro para ser aprovado.

A assistência técnica oferecida no Assentamento Zumbi dos Palmares é composta pela mesma equipe que atua no Assentamento Tiradentes e, portanto, mantida pela mesma entidade, a AGEMTE. Além disso, há a comercialização de produtos artesanais, através de dois grupos de mulheres que existem no assentamento. Um grupo de mulheres é responsável pelo preparo e pela comercialização de bolo de macaxeira, que é fornecido para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)40, para a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e para pessoas de dentro e de fora do assentamento que fazem encomendas. O outro grupo de mulheres produz doce de banana e o comercializa para as pessoas em gerale para a CONAB durante três ou quatro meses por ano. Esse grupo está se organizando para conseguir um veículo que poderá ser usado para fazer a entrega dos doces tanto para a CONAB quanto para o PNAE. Também estão tentando conseguir um lugar fixo onde possam produzir o doce de banana durante todo o ano.

2.2.4. Perfil das famílias assentadas

2.2.4.1. Origem

39 Planta de origem indiana, trazida para o Brasil em 1992, utilizada como defensivo natural. 40 De acordo com a Lei nº11. 947, de 16 de junho de 2009, e da Resolução do Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação (FNDE), 30% dos recursos destinados ao PNAE devem ser destinados, obrigatoriamente, à aquisição de produtos oriundos da agricultura familiar, sem necessidade de licitação.

A maioria das famílias que compõem o Assentamento Zumbi dos Palmares são oriundas da mesma região onde ele se localiza. Quase todas (37%) são do próprio município de Mari; as demais são oriundas, em sua maioria, de municípios localizados na Mesorregião da Mata Paraibana e, embora em menor proporção, do Agreste Paraibano (os municípios de Belém e Aroeiras), como podemos ver na tabela 10:

Tabela 10 – Origem das famílias segundo o município

MUNICÍPIO DE ORIGEM NÚMERO DE FAMÍLIAS Mari 11 Sapé 6 João Pessoa 4 Belém 2 Santa Rita 1 Itabaiana 1 Aroeiras 1 Livramento 1 Mamanguape 1 Araçagi 1 Jacaraú 1

Fonte: Pesquisa de campo/ março, 2012.

Quando se trata da origem das famílias por local de domicílio, mais da metade delas origina-se de áreas urbanas (57%), como mostra o gráfico 14. No entanto, a maioria das famílias consultadas declarou que tinha algum tipo de ligação com atividades agropecuárias antes de residir no assentamento. Assim, mesmo que muitas famílias não residissem no campo antes da criação do assentamento, elas eram, de alguma forma, ligadas a atividades rurais, como referiram alguns assentados, entre eles, Luciano (ex-técnico agrícola do Assentamento Zumbi dos Palmares).

Gráfico 14 – Origem das

2.2.4.2. Tamanho das famí

O Assentamento Zum acordo com levantamento do famílias assentadas, podemo pessoas41. Analisando os dad de 138 pessoas, obtivemos um

Em relação à faixa etá uma população relativament mais maduras. Como podem uma grande quantidade de equivale a, aproximadament amostra.

41 Dividindo-se o número total de p

pessoas por família.

Zona Urbana 57%

m das famílias segundo o local de domicílio: Palmares

Fonte: Pesquisa de campo/ março, 2012.

famílias e composição por sexo e idade

ento Zumbi dos Palmares tem uma população de amento do INCRA no ano de 2010). Tendo em vist s, podemos dizer que o tamanho médio de suas

do os dados da nossa amostra de 30 famílias, que tivemos uma média de 4,6 pessoas por família. à faixa etária da população residente nesse assentam lativamente jovem. Esse número vai diminuindo n

o podemos ver no gráfico a seguir, esse assentam idade de jovens com idades entre 15 e 29 anos. E madamente, 43,5% do total das 138 pessoas ins

o total de pessoas (464) pelo número de famílias (85), obtém Zona Rural

43% Urbana

cílio: PA Zumbi dos

ulação de 464 pessoas (de o em vista que nele há 85 de suas famílias é de 5,4 ílias, que abrange um total

e assentamento, trata-se de inuindo nas faixas etárias e assentamento conta com 29 anos. Esse grupo etário ssoas inseridas em nossa

5), obtém-se uma média de 5,4 a Rural

Gráfico 15 – Número d

Fonte: Pesqu

Também podemos obs de mulheres residentes no de mulheres aumenta à medi

Gráfico 16 – PA Zumbi dos

Fonte: Pesqu 31 26 0 - 14 15 - 19 N ú m er o d e p e ss o a s Homen 49%

ero de pessoas da amostra por faixa etária: P Palmares

te: Pesquisa de campo/ março, 2012. Organização da autora

demos observar um relativo equilíbrio entre o núme ntes no assentamento (como mostra o gráfico16 ta à medida que a população envelhece.

bi dos Palmares: distribuição da população p as famílias consultadas

te: Pesquisa de campo/ março, 2012. Organização da autora 23 11 17 20 9 20 - 24 25 - 29 30 - 44 45 - 59 60 - Mulheres 51% Homens 49%

ria: PA Zumbi dos

da autora.

re o número de homens e o ráfico16), porém o número

ção por sexo segundo

da autora. 9

1 - 74 75 e mais

2.2.4.3. Tipo de atividades (ocupação) dos componentes das famílias

Das 104 pessoas da nossa amostra que se encontravam desempenhando algum tipo de atividade, 88 são ocupadas na agricultura, das quais 82 têm essa atividade como única ocupação (ver tabela 11). As outras atividades mais encontradas no assentamento, depois da agricultura, são as de comerciante/feirante (a maioria vende os gêneros que produzem na feira de Mari) e de trabalhadores da construção civil (pedreiro e servente de pedreiro), que trabalham, principalmente, na cidade de João Pessoa.

Tabela 11 – Assentamento Zumbi dos Palmares: Ocupação do total de pessoas da amostra

Tipo de ocupação Número de

pessoas

Agricultura apenas 82

Construção civil apenas 3

Construção civil e agricultura 4

Feirante/ comerciante 9

Técnico agrícola apenas 1

Técnico agrícola e agricultura 1

Auxiliar de serviços 1

Guincheiro e agricultura 1

Professor apenas 1

Aposentados que não trabalham mais

3

NSA42 31

Fonte: Pesquisa de campo/ março, 2012. Organização da autora

Um fato interessante é que, na maioria dos casos em que os assentados desempenham atividades profissionais diferentes da agricultura, eles as executam paralelamente a essa última atividade (como atividade secundária). Ou seja, as outras ocupações servem, muitas vezes, para complementar a renda familiar e permitir a continuação do trabalho agrícola. É com o dinheiro proveniente de outras atividades que os assentados, muitas vezes, investem em sua produção ou compram aquilo que não podem produzir. Observamos, durante o desenvolvimento de nossa pesquisa, que, em todas as famílias da amostra, há, pelo menos, um membro trabalhando na agricultura no lote da família. Vale salientar que os “aposentados que não trabalham mais” (Tabela 11) disseram trabalhar na agricultura quando se encontravam em idade economicamente ativa.

2.2.4.4. Renda média mensal das famílias

Das famílias consultadas, 50% percebem uma renda familiar mensal em torno de um salário mínimo, enquanto 30% (nove, das 30 famílias da amostra) vivem com menos de um salário mínimo por mês. Dez por cento das famílias declararam viver com uma renda mensal entre dois e quatro salários mínimos, e 10% declararam que sua renda mensal varia entre mais de dois a cinco salários mínimos. Esses dados nos revelam que a maioria das famílias do Assentamento Zumbi dos Palmares recebem até um salário mínimo por mês. Quase todas as famílias disseram que vivem com um salário mínimo. São as que têm, pelo menos, um idoso aposentado. As outras cinco famílias (com exceção de uma) que referiram receber dois salários mínimos ou mais têm dois ou mais

42 A abreviação NSA (Não se Aplica) foi utilizada, nesse caso, para as pessoas de até 14 anos de idade que,

apesar de executarem, muitas vezes, algumas tarefas na agricultura, fazem-no apenas na condição de aprendizes.

aposentados entre seus membros. Isso denota que os benefícios recebidos pelo INSS são os principais responsáveis pela renda das famílias assentadas.

Quanto às famílias que recebem menos de um salário mínimo, ao serem questionadas sobre como conseguiam se manter com tão pequena renda, os entrevistados responderam que elas conseguem produzir parte considerável dos alimentos que consomem, por isso podem sobreviver mesmo com uma renda monetária extremamente baixa. Além disso, a fonte de renda mais importante da maioria das famílias são outros benefícios do governo, como o Bolsa Família, por exemplo, como exposto no gráfico 17:

Gráfico 17 – Assentamento Zumbi dos Palmares: transferência de renda governamental para as famílias PA

Fonte: Diagnóstico realizado no Assentamento Zumbi dos Palmares - INCRA (2010, p.71).

Verificamos que 70% das famílias do Assentamento Zumbi dos Palmares recebem algum tipo de benefício proveniente de transferência de renda por parte do governo. O principal deles é o Bolsa Família43 que, no ano de 2010, beneficiava 55% de todas as famílias assentadas. Ao questionarmos as famílias beneficiárias desse programa governamental44 sobre a importância dele em suas vidas, todos declararam que era

43 O Programa Bolsa Família (PBF) faz parte do Plano Brasil Sem Miséria (PSM). Trata-se de um programa

de transferência direta direcionado às famílias que se encontram em situação de pobreza e extrema pobreza no Brasil. Para mais informações, consultar: http://www.mds.gov.br/bolsafamilia

44 Esse questionamento foi feito entre as famílias de nossa amostra que recebiam esse benefício.

Bolsa Família Aposentadori

a Pensão Total Total de famílias Quantidade 47 9 3 59 85 Porcentagem 55% 11% 4% 70% 100% 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

muito importante, pois “ajuda muito em casa”. Segundo algumas das famílias da nossa amostra, essa é a única renda monetária a que têm acesso.

2.3. Percepções dos impactos dos assentamentos

Em entrevistas durante nossa pesquisa de campo, os assentados ressaltaram que a vida de suas famílias melhorou significativamente após a criação dos Assentamentos Tiradentes e Zumbi dos Palmares. Mesmo com algumas limitações que ainda precisam ser superadas, as famílias garantem que, atualmente, vivem com mais dignidade do que antes de conquistarem um pedaço de terra nos referidos PAs.

Os assentados disseram que, gradativamente, diminui o preconceito que sofreram no início, quando eram vistos pelos moradores da cidade de Mari como “os sem terra”. Eles consideram que, atualmente, são mais respeitados pela sociedade. Hoje, ser “sem terra” é ter crédito na cidade, como foi registrado durante um grupo focal realizado com alguns assentados no Assentamento Tiradentes:

Antigamente (...) todo mundo chamava os sem terra de ladrão. Hoje todo mundo quer vir praqui atrás de uma terrinha e não tem. Hoje em dia quem tá brigando por terra é eles (Edmilson, morador do Assentamento Tiradentes, em 18 de abril de 2012).

Eles brigam querendo uma vaga aqui e não entram. Os comerciantes de Mari tudinho dá valor a gente. Pegue um cheque aqui, um cheque de qualquer assentado aqui e vá em Mari em qualquer mercadinho que ele troca, com trinta dias com 15 dias com 20 dias. Nós tem crédito em Mari. A gente é visto hoje em dia com outros olhos pela sociedade. Agora no começo a gente foi discriminado(Edvaldo, morador do Assentamento Tiradentes, em 18 de abril de 2012).

Com base nessas afirmações, podemos constatar que os assentamentos promoveram mais movimentação comercial no município, já que o poder de consumo dos assentados aumentou com a melhora de suas condições de vida e de trabalho. Essa melhora não é percebida somente pelos que integram essas comunidades, mas também por aqueles que convivem com elas, como podemos notar nos seguintes trechos: “Hoje em dia quem ta brigando por terra é eles (...). Eles brigam querendo uma vaga aqui e não entram”. Ou seja, a melhora é tanta que até os que antes enxergavam esses trabalhadores engajados na conquista pelo direito de sua terra de trabalho e de uma

vida digna como ladrões hoje querem fazer parte deles, pois foram capazes de ver os benefícios oriundos dessa luta.

Esse aquecimento na economia do município é favorecido não só pelo aumento do poder de compra dos assentados, mas também pela alta produtividade dos assentamentos de Mari, que acabam forçando os assentados a contratarem, temporariamente, outras pessoas para lhes ajudar a dar conta da produção, como mostra a fala de Nêgo:

(...) nesse tempo agora (...) que o pessoal tá plantando, nós tem pra mais de 300 pessoas da cidade trabalhando dentro do assentamento de segunda a sexta. Então essas pessoas vão passar em torno de quase dois, três meses trabalhando dentro do assentamento, ou até mesmo um ano todo. Então de toda forma o assentamento, ele abriu a porta pro emprego dentro do município. Então são trezentas pessoas que querendo ou não, não tem carteira assinada, mas ele trabalha o ano todo dentro do assentamento, com as famílias que convive dentro do assentamento. Até o mercado antigamente fechava as portas pra nós, hoje ele abre. Então isso foi tudo uma luta. Nós aqui... o pessoal que chamava nós de ladrão, de bandido, nós tamo mostrando a outra cara da moeda, que conseguimos, lutemos pelo um pedaço de terra pra nós produzir e conseguir mudar a forma de sociedade que nós tinha (Nêgo – Assentamento Zumbi dos Palmares, entrevista realizada em junho de 2013).

Portanto, essa fração do espaço, que hoje faz parte dos Assentamentos Tiradentes e Zumbi dos Palmares, foi conquistada com a organização dos trabalhadores, sua articulação com o MST e sua capacidade de reivindicar por justiça social, que os conduziu a se unir, mesmo vindo de lugares e de histórias diferentes, para lutar por um pedaço de chão. Essa fração do espaço que eles conquistaram, hoje, constitui um novo território formado por dois assentamentos rurais: o Assentamento Tiradentes e o Assentamento Zumbi dos Palmares. No entanto, esses assentamentos não são um território qualquer, mas um Território de Esperança e, como tal, é marcado pela luta de resistência camponesa por sua permanência na terra, pela luta constante contra a dominação do capital representado na região, principalmente pelo agronegócio canavieiro, por avanços, mas também por recuos no processo emancipatório da população que dele se apropriou.

Nesse contexto, os Assentamentos Tiradentes e Zumbi dos Palmares fazem parte de um Território de Esperança porque são construídos e reconstruídos a cada dia, com a luta dos trabalhadores rurais por autonomia, liberdade e dignidade. Isso se justifica

porque, apesar de certas contradições e conflitos próprios do processo de construção de algo novo, a esperança é alimentada na luta cotidiana dos camponeses para permanecerem como donos de sua força de trabalho:

Hoje o camarada que vivia aqui, ele não tinha uma casa pra morar na rua, ele morava de aluguel, pra trabalhar ele trabalhava no momento em que arrumava, um dia de serviço, ou dois na rua. Hoje, ele tá aqui. Ele tem uma casa. Ele tem terra para trabalhar e ele ainda traz dois ou três pessoa de fora pagando o dia de serviço pra ele trabalhar com a família. Então o camarada tem a batata, a macaxeira, o feijão, o inhame, e tem a roça o milho, o milho e a fava pra comer o ano todinho com a sua família. E dá pros amigos, alguns vizinhos que vem da rua visitar o camarada (...).Então a vida das pessoas ela mudou muito. Hoje o camarada ele tem uma cabrinha, vaca, um boi pra ajudar no trabalho, ele tem o leite pra tomar de manhã com o filho, e antigamente pra ele tomar um leite ele tinha que comprar, né? Então a vida hoje das famílias por aqui ela mudou muito... com a diferença uma nova sociedade, um novo modelo de sociedade que nós queria. Ela não tá cem por cento, do que nóis queria, mas ela tá em torno de noventa por cento da forma do que nóis quer. Então hoje nóis vai na rua em algumas favelas... nóis vê a questão da dificuldade que as famílias ela passa lá pra sobreviver (Nêgo – Assentamento Zumbi dos Palmares, entrevista realizada em junho de 2013).

Nesse processo de luta e de consolidação de um novo território marcado por mais autonomia camponesa, encontram-se pessoas de todas as fases da vida: infância, velhice e juventude. Os que se encontram nesta última são aqueles em quem se deposita a esperança de continuar a luta por uma vida melhor, o trabalho na terra ou de valorizar a história de luta e de vida dos pais agricultores:

Que você pode ser um professor e poder trabalhar na roça. É você ser um doutô e poder trabalhar na roça. É você dar o valor à sua raiz e da onde