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Fonte: Pesquisa de campo/ março, 2012.

Um aspecto interessante que constatamos nessa escola foi que, quando precisa realizar alguma atividade ou reunião que requer a presença dos pais, a diretora e os demais funcionários passam de casa em casa, para entregar o comunicado pessoalmente às famílias dos alunos. Quando há algum problema com algum aluno em especial, também é normal os pais serem avisados pessoalmente. Consideramos que esse é o lado positivo de se ter uma escola que é parte da comunidade, em que grande parte de seus membros são também assentados e conhecem bem mais a realidade dos alunos. No entanto, muitos assentados lamentam o fato de a escola só oferecer o nível primário.Eles alegam que não se sentem satisfeitos pelo fato de os filhos terem que continuar os estudos na cidade, pois lá acabam tendo um contato maior com as drogas, a criminalidade e, por vezes, são discriminados por serem assentados da reforma agrária. Para transportar os estudantes que precisam continuar os estudos fora da comunidade, o Assentamento Zumbi dos Palmares é servido por um ônibus escolar mantido pela Prefeitura de Mari, que também transporta os assentados que precisam ir à cidade no horário em que conduzem os estudantes.

De acordo com o levantamento que realizamos durante as pesquisas de campo na comunidade36, o nível de escolaridade dos assentados do PA Zumbi dos Palmares, geralmente, é baixo (como acontece com a maioria das comunidades rurais do Brasil).Constatamos que 34 das 138 pessoas da amostra (25% do total) cursaram o

36 Durante a pesquisa, aplicamos questionários a 30 das 85 famílias do Assentamento Zumbi dos Palmares,

que resultou num total de informações a respeito de 138 pessoas. Tal amostra equivale a 35% do total das famílias assentadas e a, aproximadamente, 30% do total de pessoas residentes no PA em 2010. De acordo com levantamento do INCRA realizado em 2010, havia cerca de 464 pessoas no PA.

ensino fundamental II incompleto, seguido do nível de ensino fundamental I incompleto, que abrange 30 pessoas da amostra (22%), como mostra o gráfico 13.

Gráfico 13 – Escolaridade do total de pessoas da amostra: Assentamento Zumbi dos Palmares

Fonte: Pesquisa de campo/ março, 2012. Organização da autora.

Para uma análise mais precisa dessa questão, dividimos a escolaridade por faixa etária da amostra, que apresentamos a seguir:

Quadro 3 –Assentamento Zumbi dos Palmares: escolaridade por idade do total da amostra Escolaridade 0 – 14 15 - 19 20 - 24 25 - 29 30 - 44 45 - 59 60 - 74 75+ Nunca estudou 0 0 0 1 1 1 5 1

Sabe ler e escrever 0 0 0 0 1 6 1 0

Pré-escola 5 0 0 0 0 0 0 0

Ensino Fundamental I

incompleto 13 0 2 0 8 5 2 0

Ensino Fundamental I completo 0 5 2 1 3 3 0 0 Ensino Fundamental II

incompleto 5 10 6 5 2 5 1 0

Ensino Fundamental II completo 0 1 2 0 0 0 0 0 Ensino médio incompleto 0 7 6 2 0 0 0 0 Ensino médio completo 0 3 5 2 2 0 0 0

NSA* 8 0 0 0 0 0 0 0

*NSA = Não se aplica

Fonte: Pesquisa de campo/ março, 2012. Organização da autora. 7% 6% 4% 22% 10% 25% 2% 11% 9% 6% Nunca estudou Sabe ler e escrever Pré-escola Ensino Fundamental I incompleto Ensino Fundamental I completo Ensino Fundamental II incompleto Ensino Fundamental II completo Ensino médio incompleto Ensino médio completo NSA*

De acordo com esses dados, verificamos uma situação parecida com o nível de escolaridade no Assentamento Tiradentes: a parcela das pessoas que nunca estudaram nem tiveram algum tipo de formação escolar se concentra em uma faixa etária mais idosa (de 60 a 74 anos). Além disso, até os 24 anos de idade, todas as pessoas tiveram algum tipo de formação escolar, o que pode se explicar pelo fato de que, nas últimas duas décadas, o Brasil ampliou o acesso à educação, o que fez comque mais pessoas do meio rural pudessem ter acesso a algum nível de estudo. Da faixa etária juvenil (15 a 29 anos), com exceção de uma pessoa que nunca estudou, houve um avanço do nível de escolaridade em relação às gerações mais velhas. Os casos que foram classificados como “Não se aplica” foram de crianças que ainda não estavam em idade escolar. Apesar desse avanço, ainda é insatisfatório o nível escolar da maioria dos assentados, já que muitos se encontram com um nível abaixo do esperado para sua faixa etária, já que a maioria dos jovens entre 15 e 19 anos não terminaram a segunda fase do ensino fundamental, como podemos ver na 3ª coluna, linhas 6 e 7 do quadro 3.

No que diz respeito ao acesso à educação no Assentamento Zumbi dos Palmares, o INCRA também realizou um levantamento, em que constatou uma baixa evasão escolar dos alunos da escola da comunidade e um levantamento da escolaridade de todos os moradores desse PA no ano de 2010, como podemos ver nas tabelas 6 e 7.

Tabela 6 – Nível de escolaridade por faixa etária no Assentamento FAIXA ETÁRIA ANAL- FABETO ESCOLARIDADE ENSINO MÉDIO ENSINO SUPERIOR TOTAL EDUCAÇÃO INFANTIL ENSINO FUNDAMENTAL Até 6 32 14 46 7 a 10 25 25 50 11 a 14 23 25 48 15 a 17 20 04 24 18 a 24 61 25 86 25 a 40 02 79 14 01 96 + de 40 24 87 03 114 TOTAL 58 62 297 46 01 464

Fonte: Plano de Desenvolvimento do Assentamento Zumbi dos Palmares - INCRA, 2010.

Elencamos algumas falhas nessa classificação, que nos levaram a entender que seria necessário analisar nossa amostra que, embora não correspondesse ao total da

população assentada, caiu em menos generalizações do que o diagnóstico realizado pelo INCRA37. Essas falhas são:

a) O fato de se considerarem crianças de até seis anos de idade como analfabetas, pois muitas estão em idade escolar e se enquadram no nível de educação infantil (pré-escola), que é a “Primeira etapa da educação básica, tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/Lei nº 9.394, de 20/12/96, p.22)”. Portanto, tais indivíduos não podem ser considerados analfabetos já que ainda estão nos processos iniciais que os preparam para a alfabetização. O que deveria ser apontado, a nosso ver, é se essas crianças estão ou não tendo algum tipo de formação escolar;

b) Como o conceito de analfabetismo é muito complexo, julgamos mais interessante considerar o nível de escolaridade da população, mostrando aqueles que nunca frequentaram a escola e os que afirmam que só sabem ler e escrever;

c) A divisão etária realizada deixa um pouco a desejar, pois, de acordo com a classificação do INCRA, não temos ideia do que acontece com a população com mais de 40 anos de idade, já que o último grupo etário é “Mais de 40 anos”, o que não nos permite esboçar alguma noção da diferença de acesso à educação das gerações mais velhas.

Os equívocos provocados pela classificação de analfabetismo do INCRA refletem no nível geral de escolaridade da população do Assentamento Zumbi dos Palmares (tabela 5), que aponta um número de analfabetos que pode não corresponder à realidade, já que, nesse grupo, foram inseridas crianças que ainda não estão em fase de alfabetização. É falho considerar uma criança de dois ou três anos de idade, por exemplo, que ainda não tem capacidade (física e psicológica) de ler nem escrever como analfabeta.

37 Apesar de compreendermos que, quanto maior for o universo trabalhado, mais difícil se torna fazer uma

Tabela 7 – Nível de escolaridade no Assentamento

NÍVEL ESCOLAR QUANTIDADE %

Não informado 62 13,4

Analfabeto 58 12,5

Ensino fundamental completo 70 15,0

Ensino fundamental incompleto 227 49,0

Ensino médio completo 30 6,4

Ensino médio incompleto 16 3,4

Ensino superior completo 01 0,2

Ensino superior incompleto 0 0

Total 464 100%

Fonte: Plano de Desenvolvimento do Assentamento Zumbi dos Palmares - INCRA, 2010.

Ressalte-se, no entanto, que tal diagnóstico é válido para uma noção geral dos demais níveis de escolaridade, que mostra que, assim como aponta nossa amostra, a maioria dos assentados do PA Zumbi dos Palmares sequer concluiu o Ensino Fundamental.

2.2.2.2. Saúde e saneamento

No Assentamento Zumbi dos Palmares, há um anexo do Posto de Saúde da Família (PSF) do município de Mari, que foi conquistado, segundo relatos dos assentados, com as reivindicações dos seus moradores, apoiados pelo MST, que recorreu à Prefeitura de Mari. Esse anexo atende, principalmente, aos membros da referida comunidade, mas também pode atender a pessoas de sítios vizinhos.