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Considerando a natureza da atividade desempenhada pelas autarquias, o ordenamento jurídico as atribui algumas prerrogativas de direito público. Segundo José dos Santos Carvalho Filho, as prerrogativas mais importantes são as seguintes47:

a) imunidade tributária recíproca: o art 150, §2º, da CF (c/c48 art. 150, VI, “a”), veda a instituição de impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços das autarquias, desde que vinculadas a suas

finalidades essenciais ou às que delas decorram. O entendimento

literal é que a imunidade protege somente o patrimônio, a renda e os serviços vinculados às finalidades essenciais das autarquias, ou decorrentes dessas finalidades. No entanto, o STF possui um entendimento mais amplo, estendendo a aplicação da imunidade tributária à renda decorrente de atividades estranhas às finalidades da autarquia, desde que esses recursos sejam integralmente aplicados nas finalidades essenciais da entidade49.

47 Carvalho Filho, 2014, pp. 491, 492. 48

Assim, se uma autarquia federal alugar um imóvel pertencente ao seu patrimônio e empregar a renda decorrente da locação em suas finalidades essenciais, o município em que está sediado o imóvel não poderá cobrar- lhe o IPTU.

b) impenhorabilidade de seus bens e de suas rendas: os seus bens não podem ser penhorados como instrumento coercitivo para garantia do credor. Os débitos decorrentes de decisões judiciais transitadas em julgado devem ser quitados por meio do sistema de precatórios (CF, art. 100). As regras de exigibilidade seguem as linhas próprias da legislação processual50.

c) imprescritibilidade de seus bens: os bens das autarquias são considerados bens públicos e, portanto, não podem ser adquiridos por terceiros por meio de usucapião;

d) prescrição quinquenal: as dívidas e os direitos em favor de terceiros contra as autarquias prescrevem em cinco anos (Decreto 20.910/1932, art. 1º51, c/c Decreto-Lei 4.597/1942, art. 2º52). Dessa forma, se alguém tem um crédito contra uma autarquia, deverá promover a cobrança nesse prazo, sob pena de prescrever o direito de ação;

e) créditos sujeitos à execução fiscal: possibilidade de inscrever os seus créditos em dívida ativa e realizar a respectiva cobrança por meio de execução fiscal, na forma da Lei 6.830/1980;

f) principais situações processuais específicas:

 prazo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer nos processos em que for parte – prerrogativas especiais da fazenda pública – (CPC, art. 188; Lei 9.469/1997, art.10);

 estão sujeitas ao duplo grau de jurisdição obrigatório, de forma que a sentença proferida contra tais entidades, ou a que julgar, no

Imunidade tributária do patrimônio das instituições de assistência social (CF, art. 150, VI, c): sua aplicabilidade

de modo a preexcluir a incidência do IPTU sobre imóvel de propriedade da entidade imune, ainda quando alugado a terceiro, sempre que a renda dos aluguéis seja aplicada em suas finalidades institucionais (RE

237.718, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, DJ 6.9.2001 grifos nossos).

50 Há exceções ao sistema de precatórios, conforme prevê o art. 100, §3º, da CF.

51 Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação

contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem.

52 Art. 2º O Decreto nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932, que regula a prescrição qüinqüenal, abrange as dívidas

passivas das autarquias, ou entidades e órgãos paraestatais, criados por lei e mantidos mediante impostos, taxas ou quaisquer contribuições, exigidas em virtude de lei federal, estadual ou municipal, bem como a todo e qualquer direito e ação contra os mesmos.

todo ou em parte, embargos opostos à execução de sua dívida ativa, só adquirem eficácia jurídica se confirmada por tribunal (CPC, art. 475, I e II).

O duplo grau de jurisdição obrigatório significa que o juiz, ao prolatar a sentença, deverá determinar a remessa dos autos ao tribunal, ainda que não tenha ocorrido recurso voluntário (apelação). Caso o juiz não o faça, deverá o presidente do tribunal deverá avocar os autos (CPC, art. 475, §1º).

O Código de Processo Civil apresenta duas exceções ao duplo grau de jurisdição obrigatório: (a) quando a condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dívida ativa do mesmo valor (CPC, art. 475, §2º); (b) quando a sentença estiver fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal

Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente

(CPC, art. 475, §3º).

Por fim, podemos apresentar outros privilégios processuais para as autarquias:

 isenção de custas judiciais, com exceção da obrigação de reembolsar as despesas judiciais feitas pela parte vencedora (Lei 9.289/1996, art. 4º, I e parágrafo único);

 dispensa de apresentação do instrumento de mandato, pelos procuradores de seu quadro de pessoal, para a prática de atos processuais em juízo (Lei 9.469/1997, art. 9º);

Súmula nº 644/STF: Ao titular do cargo de procurador de autarquia não se exige

a apresentação de instrumento de mandato para representá-la em juízo .

25. (FCC - JT/TRT-1/2011) Determinada autarquia foi condenada em processo

judicial movido por empresa contratada para execução de obra. Em face do não pagamento espontâneo no curso da execução do processo, esta autarquia

a) poderá ter seus bens e rendimentos penhorados.

b) poderá ter sua receita penhorada, porém não os bens imóveis afetados ao serviço público.

c) poderá ter sua receita penhorada, apenas em montante que não afete a prestação do serviço público a cargo da entidade.

d) não poderá ter seu patrimônio penhorado, exceto os rendimentos auferidos com atividade financeira.

e) não poderá ter suas receitas e patrimônio penhorados, sujeitando-se ao regime de execução próprio da Fazenda Pública.

Comentário: as autarquias são pessoas jurídicas de direito público e, por esse motivo, agem como se fossem a própria Administração Pública central e, portanto, gozam das mesmas prerrogativas e restrições. Sendo assim, seus bens e rendas não podem ser penhorados como instrumento coercitivo para garantia do credor. Os débitos decorrentes de decisões judiciais transitadas em julgado devem ser quitados por meio do sistema de precatórios (CF, art. 100).

Assim, a única alternativa que comporta essa descrição é a letra E – não poderá ter suas receitas e patrimônio penhorados, sujeitando-se ao regime de execução próprio da Fazenda Pública.

Gabarito: alternativa E.