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Em âmbito geral, as normas prescritivas podem ser definidas como um

Conjunto de exigências estabelecidas para um produto específico, com dimensões, formato e materiais constituintes perfeitamente definidos, com base na consagração do uso ao longo do tempo. Produtos regidos por normas prescritivas possuem características próprias que devem ser respeitadas no projeto e na construção, devendo-se adaptar os projetos às características do produto (e não o contrário) (ABNT, 2004, p. 9).

Ou ainda, em um contexto específico, como

Norma ou padrão que prescreve a segurança contra incêndio para um uso ou aplicação genéricos. A segurança contra incêndio é alcançada por meio de especificações de certas características construtivas, de limite de dimensões ou de sistemas de proteção sem referências sobre como tais exigências atendem às metas de segurança desejadas (SFPE, 2000, p. 9).

A regulamentação prescritiva descreve, portanto, como o edifício deve ser projetado, construído, protegido e mantido com relação às necessidades dos usuários relativas à saúde, à segurança e ao conforto. Essas normas prescrevem e especificam o que é exigido e como tais exigências devem ser atendidas. Na maioria dos casos, essa configuração conduz a soluções padronizadas para diferentes situações de projeto,

prescindindo de uma análise global do nível de segurança requerido e da interação entre os sistemas de segurança utilizados (MEACHAM, 1997b).

Ratificando essa colocação, Lundin (2004) explica que as exigências prescritivas são detalhadas e geralmente estão relacionadas com medidas de segurança específicas, restritas à edificação em si e ao seu uso, produzindo efeitos na configuração física do edifício e nas atividades ali desenvolvidas. Além disso, a proteção contra incêndio geralmente é tratada de forma isolada de outras áreas técnicas e os objetivos de segurança geralmente não são explícitos.

Dessa forma, as sentenças prescritivas consistem em determinações relativas à segurança contra incêndio e estabelecem definições de materiais, métodos de cálculo, distâncias e dimensões, métodos de instalação e equipamentos de segurança. Ou seja, observam-se exigências mínimas ou máximas que são genéricas por ocupação, por exemplo, espaçamento para detectores e chuveiros automáticos, resistência mínima ao fogo (tempo mínimo de resistência) de elementos estruturais e construtivos e, ainda, distâncias máximas a percorrer (MEACHAM, 1997b). Como exemplo típico, a norma brasileira NBR 9077:1993 estabelece que, sob determinadas condições, a distância máxima a percorrer deve ser de 30m. Ou, ainda, que a largura mínima das saídas deve ser de 1,10m para as ocupações em geral (ABNT, 1993).

Por outro lado, códigos baseados em desempenho são definidos como um conjunto de

“[...] normas ou padrões que definem especificamente suas metas de segurança contra incêndio e referencia os métodos aceitáveis que podem ser usados para demonstrar a concordância com suas exigências” (SFPE, 2000, p. 8). Assim, essas normas expressam exigências amplas para uma edificação ou sistema construtivo em termos de metas sociais, objetivos sociais e exigências de desempenho, sem que sejam mencionadas as soluções para alcançar tais exigências (SFPE, 2000).

As proposições dos códigos de desempenho qualificam os níveis de risco aceitáveis ou toleráveis sob o ponto de vista da sociedade. Nesse caso, as soluções não estão prescritas nas normas técnicas. É de responsabilidade técnica e ética do projetista decidir com qual nível de segurança irá trabalhar e, assim, demonstrar que sua solução atende aos objetivos requeridos. Essas soluções tanto podem incorporar métodos

prescritivos como se constituírem em soluções completamente inovadoras. Como exemplo, cita-se a norma New Zealand Building Code (DBH, 1992, p. 22), que propõe, no capítulo que trata dos meios de escape, os objetivos de “[...] (a) salvaguardar as

pessoas dos danos advindos dos incêndios enquanto buscam um lugar seguro; (b) facilitar as operações de resgate”. Quanto às exigências funcionais, os meios de escape

devem “[...] (a) fornecer às pessoas tempo adequado para que elas alcancem um lugar seguro sem que sejam surpreendidas pelos efeitos do incêndio; (b) fornecer às equipes de combate tempo adequado para realizar operações de resgate”. E com relação às

exigências de desempenho,

[...] o número de aberturas disponíveis para cada pessoa escapar para uma rota de saída ou saída externa deve ser apropriado para: (a) a distância a percorrer; (b) o número de ocupantes; (c) o risco de incêndio; (d) os sistemas de segurança contra incêndio instalados. [...] as rotas de saída, devem ser: (a) de dimensões adequadas para o número de ocupantes; (b) livres de obstruções na direção do escape; (c) de comprimento apropriado à mobilidade das pessoas que as usar [...] (DBH, 1992, p. 22).

A filosofia das normas de desempenho aproxima-se mais do aspecto qualitativo, refletindo as necessidades sociais e o nível de comprometimento com a segurança contra incêndio. Toda fundamentação teórica que serve de base para a orientação das soluções projetuais encontra-se disponível em manuais ou documentos que contenham diretrizes específicas. Dessa forma, a norma de desempenho não é um fim em si mesma, mas um instrumento, um meio para que, juntamente com os manuais de prática e toda a estrutura de ferramentas de avaliação, seja constituído o sistema baseado em desempenho. Isso reside na capacidade do sistema e, especialmente, na capacidade de a norma promover o desenvolvimento tecnológico, pois, trabalhando-se com a premissa da liberdade de projeto, a incorporação de soluções inovadoras e adequadas às exigências determinadas torna-se inevitável.

Percebe-se, portanto, que quanto mais as especificações forem orientadas para o desempenho, maior será o grau de liberdade projetual e de tomada de decisões, condição para que soluções ou produtos inovadores sejam desenvolvidos otimizando a relação benefício/custo (Figura 3.2).

Níveis de especificação Basicamente prescritiva Conteúdo prescritivo Liberdade do projetista 0 __ Conteúdo prescritivo __ 100% 100% _ Conteúdo desempenho _ 0 Basicamente desempenho

Prescritiva com alguns critérios de desempenho

Desempenho com alguns critérios prescritivos

Figura 3.2 Relação entre prescritividade e desempenho Fonte: Foliente, 2000

Reflexos dos seus fundamentos, os textos ou os discursos das normas prescritivas e de desempenho possuem características específicas e bem definidas que as distinguem. Com relação ao enfoque dado à linguagem, a definição do que deve ser/ter e pode

ser/ter nos contextos prescritivo e de desempenho denota uma certa severidade ou

liberdade restritiva. Por exemplo: a distância máxima deve ser de 30m ou as rotas de

saída devem ser de dimensões adequadas para o número de ocupantes.

O uso de termos adequado, apropriado e razoável, por outro lado, permite ao projeto

flexibilidade e fornece diretrizes gerais para a escolha do nível de segurança a ser adotado (CUSTER; MEACHAM, 1997). Exemplo:

[...] o revestimento das superfícies internas de paredes, pisos, tetos e elementos suspensos devem resistir à propagação do incêndio e limitar a produção de gases tóxicos, fumaça e calor a um nível apropriado com relação à distância a percorrer, ao número de ocupantes, ao risco de incêndio e aos sistemas ativos de proteção contra incêndio instalados na edificação (DBH, 1992, p. 24).