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2 DOCUMENTAÇÃO DE PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO

2.1 PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO BRASIL

O Brasil possui um valioso acervo cultural, herança de sua colonização, como a arquitetura religiosa, a arquitetura militar ao longo da costa brasileira, e em conjuntos arquitetônicos de cidades como Pelotas, Rio Grande e São Miguel das Missões no Rio Grande do Sul, São Francisco do Sul em Santa Catarina, São Luiz do Paraitinga e Paranapiacaba em São Paulo, Paraty no Rio de Janeiro, Ouro Preto, Tiradentes, Mariana e Diamantina entre outras cidades em Minas Gerais, Goiás Velho e Pirenópolis (Goiás), Laranjeiras e São Cristóvão em Sergipe, Olinda e Recife em Pernambuco, Alcântara e São Luís no Maranhão e Belém no Pará.

Na Bahia, esse diversificado acervo pode ser encontrado em áreas do litoral em conjuntos como os de Porto Seguro, Santa Cruz de Cabrália, Trancoso e Salvador; do Recôncavo Baiano nas cidades de Maragogipe, Cachoeira e São Félix; e da Chapada Diamantina, em cidades tais como Jacobina, Rio de Contas, Lençóis, Mucugê, Andaraí/Igatu e Palmeiras, dentre outras.

No Brasil, a preocupação com a proteção e conservação de monumentos históricos torna-se mais explícita a partir da década de 20, com a Semana de Arte Moderna (1922), quando começa a acontecer uma discussão mais sistematizada sobre a preservação do patrimônio cultural, mas como ação real somente em 1933, durante o governo Vargas, quando houve o tombamento da cidade de Ouro Preto (Minas Gerais) como “monumento nacional”.

Conforme Luca (2007), essa preocupação é concretizada com a criação da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) em 1936, marcando o início de um período de ações de preservação do Patrimônio. Nesse período, mais seis cidades mineiras (Diamantina, Mariana, Sabará, São João Del Rei, Serro e Tiradentes) são tombadas. Posteriormente, em 1946, a Secretaria passa a ser denominada Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN) e atualmente Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Durante os primeiros 30 anos, a SPHAN dedicou-se ao reconhecimento e tombamento de bens culturais e monumentos isolados. A partir das décadas de 60 e 70, teve início uma nova política de tombamento, com prioridade na preservação de conjuntos urbanos e não mais os monumentos isolados. Assim, é instituído, pelo Governo Federal, o Programa de

Reconstrução das Cidades Históricas – PCH14, apoiado pela UNESCO, com prioridade em algumas capitais e cidades nordestinas e, mais tarde, no final da década de 1970, incorporado ao IPHAN. Esse programa baseava-se na relevância do turismo, como fator importante para a revitalização das cidades históricas.

Nesse sentido, para atender a uma demanda de documentação mais precisa, foram executados diversos cadastramentos no país como o Inventário do Plano de Preservação do Acervo Cultural da região metropolitana de Curitiba (PR) em 1978, o Inventário de Proteção e Valorização do Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro (RJ) em 1983, o Inventário Geral do Patrimônio Ambiental e Cultural de São Paulo (SP), de Ouro Preto e Tiradentes (MG) e o do Centro Histórico de São Luís (MA), em 1987.

Na Bahia, em 1970, é iniciado o Inventário de Proteção do Acervo Cultural do Estado da Bahia (IPAC-BA), sendo publicado o primeiro volume em 1975. Os volumes subsequentes, com ampliações e modificações metodológicas saíram em 1978, 1980, 1982 e 1988 (VIEIRA; OLIVEIRA; SOUZA, 2012). Ainda, conforme esses autores, nessas publicações foram catalogados mais de mil monumentos, agrupados conforme as categorias: arquitetura religiosa assistencial ou funerária, arquitetura militar, arquitetura civil de função pública, arquitetura civil de função privada, arquitetura industrial ou agrícola, abrangendo quase todo o território baiano, ou seja, patrimônio edificado de Salvador (volume I), do Recôncavo Baiano (volumes II e III), da Serra Geral e da Chapada Diamantina (volume IV), do Litoral Sul do Estado (volume V) e das Mesorregiões Nordeste, Vale Sanfransciscano e Extremo Oeste baianos (volume VI) e Monumentos da Região Pastoril (volume VII), registrando as suas características, o estado de conservação e o uso dos imóveis.

Em 1998, é firmado um acordo de cooperação técnica entre o Ministério da Cultura e a UNESCO, sob a coordenação do IPHAN e financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para viabilizar um programa de preservação de patrimônio cultural com ênfase nos sítios e conjuntos urbanos, o programa Monumenta. Esse programa inicia-se em 2000, tendo como objetivo preservar áreas prioritárias do patrimônio histórico e artístico urbano sob proteção federal, identificando-as em dois grupos: o primeiro, formado pelos Sítios Históricos Urbanos Nacionais (SHUN) tombados

14 “[...] o programa desenvolvido entre 1973 e 1983, buscava integrar a riqueza patrimonial às políticas de

desenvolvimento econômico e regional, com ênfase no turismo. A profunda crise financeira que se abateu sobre o país na década de 1980, impediu a continuidade do programa, que só foi retomado em 1999 com a implantação do Programa Monumenta” (IPHAN, 2009).

no âmbito nacional; e o segundo, os Conjuntos Urbanos de Monumentos Nacionais (CUMN), monumentos tombados isolados, mas em número mínimo de dois e que contribuíssem para a configuração do conjunto urbano. Assim, foi elaborado um banco de dados digital, com as possíveis áreas de atuação do programa, abrangendo 94 áreas15 urbanas de 22 estados, sendo excluídos Acre, Amapá, Rondônia e Roraima. A partir desta classificação, foi estabelecido um ranking, por meio de critérios de prioridade, para definir a ordem em que os sítios e conjuntos receberiam os recursos do programa. Neste banco de dados, os estados classificados com maior número de áreas urbanas de interesse cultural foram: Bahia com 9 SHUN e 11 CUMN; Minas Gerais com 12 SHUN e 8 CUMN; e Rio de Janeiro com 8 SHUN e 5 CUMN. Quando da fusão administrativa entre a coordenação do Programa Monumenta e o IPHAN (2006), houve a seleção de imóveis privados e a inclusão de mais 892 edificações no Programa (DUARTE, 2010).

Embora tenha sido feita ampliação do Programa, das 94 cidades inicialmente cadastradas, somente 26 efetivamente participaram, “[...] escolhidas de acordo com a representatividade histórica e artística, levando em consideração a urgência das obras de recuperação [...]”16. No estado da Bahia as cidades beneficiadas foram: Cachoeira, Lençóis e Salvador (IPAC, 2014).