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Pressões por necessidade de adequações à NR-12 referentes à proteção de máquinas, evidências de investimentos e valores

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5) Promoção de aprendizagem organizacional:

4.1.2 Pressões no trabalho

4.1.2.2 Pressões por necessidade de adequações à NR-12 referentes à proteção de máquinas, evidências de investimentos e valores

numéricos investidos na área de segurança

A NR-12, ou Norma Regulamentadora número 12, é uma das normas estabelecidas no Brasil pelo Ministério do Trabalho regulamentando a segurança no trabalho em máquinas e equipamentos. O caráter regulamentador e fiscalizador da NR-12, no Brasil, vem fazendo com que dirigentes de empresas se preocupem em reservar recursos para investimentos nessa área. Da parte do governo, tal regulamentação tem sido uma estratégia para pressionar as empresas a aprimorarem os cuidados com a segurança das pessoas em seus contextos de trabalho. Para compreender esse item e suas implicações com o problema de pesquisa, e considerando-a como uma das pressões sofridas pela organização em estudo, convém conhecer o significado da NR-12 e o que pretende normatizar. Destaca-se que a preocupação em se adequar a essa norma foi um dos primeiros artefatos visíveis identificados quando se iniciou esta investigação.

A NR12 foi publicada pela primeira vez na Portaria GM n.º 3.214, de 8 de junho de 1978- 06/07/78 e, de lá para cá, foi atualizada outras seis vezes: na Portaria SSST n.º 12, de 6 de junho de 1983- 14/06/83, na Portaria SSST n.º 13, de 24 de outubro de 1994 - 26/10/94, na Portaria SSST n.º 25, de 28 de janeiro de 1996 - 05/12/96, na Portaria SSST n.º 04, de 28 de janeiro de 1997 - 04/03/97, na Portaria SIT n.º 197, de 17 de dezembro de 2010 - 24/12/10 e na Portaria SIT n.º 293, de 8 de dezembro de 2011-9/12/11 (BRASIL, 2013). Os princípios gerais que a norteiam são apresentadas no Anexo A.

Na WSA são relatadas, nesse subfator, as adequações à NR-12. Elas constituem, de alguma maneira, uma das pressões no trabalho, pois estão sujeitas a exigências do Ministério do Trabalho. Os valores numéricos investidos pela organização nessas proteções, nos últimos anos, oferecem algumas evidências de investimentos realizados em segurança. Como artefatos visíveis, na perspectiva de Schein (2004; 2009), esses investimentos foram facilmente identificados logo nas primeiras inserções na organização pesquisada. As informações coletadas demonstraram “[...] investimentos em segurança e proteção de máquinas, na ordem de três milhões de reais por ano, há pelo menos sete anos, desde 2005”, como afirma um dos diretores (D2E). Segundo 174

ele, os investimentos em segurança são colocados no orçamento dos grandes investimentos da empresa (D2E e G1E), ou seja, os recursos já estão destinados para isso: “[...] tem que justificar, solicitar e implementar. É a regra para qualquer investimento” (G1E).

Informações coletadas durante a observação participante em vários setores da fábrica também referenciaram o alto percentual de investimentos em proteção de máquinas. Alguns indicavam em nove milhões de reais previstos para 2012 (D1E, D2E, DCMAR12). Outros indicavam doze milhões de reais investidos em proteção de máquinas no período entre 2009 e 2012, e mais um milhão e cem mil reais investidos na compra de EPIS (DCMAI12). Outros depoimentos ainda revelaram investimentos na ordem de quatro a seis milhões de reais por ano (DCAGO12).

Convém destacar que esses depoimentos foram colhidos em diferentes períodos do ano e se assemelham. Depoimentos como “se precisou trocar de equipamento, se trocou. Se precisou trocar a empresa prestadora de serviços de locação, se trocou. Se precisou trocar as máquinas para se ter mais cuidado com a ergonomia, se trocou. Se mudou contratos e se aumentou a exigência de manutenção preventiva para o fornecedor de serviço” (CDP1E) revelaram preocupação em se adequar às exigências para maior segurança.

Os investimentos maciços em segurança também foram consequência do aumento da consciência dos riscos promovido pela engenharia de segurança e pela ampliação do conhecimento sobre os recursos e possibilidades de atuação da área de segurança. A empresa também assumiu compromisso como o Ministério do Trabalho para a transformação de máquinas ou a eliminação de algumas que, embora ainda em bom funcionamento “ [...]aqui elas não entram mais” (D2E).

Obviamente que essas adequações geram problemas de ordem produtiva, pois, muitas vezes, reduzem a eficiência das máquinas. Todavia, segundo relatos, esses problemas são resolvidos por meio de planejamento: “Dá problemas, mas a gente [produção] tem que se programar; é planejamento e cronograma com antecedência” (CDP2E, CDP7E). De acordo com Frazier et al. (2013), a consistência de uma cultura de segurança também pode ser verificada pela relação entre os objetivos operacionais e os objetivos de segurança. Se os objetivos operacionais e os objetivos de segurança forem percebidos pelos funcionários como mutuamente excludentes, os comportamentos inseguros e violações a procedimentos de segurança podem estar sendo reforçados e incentivados (FRAZIER et al., 2013). Conforme referiu um dos coordenadores de produção, na WSA, as dificuldades que surgem na 175

relação produção e proteção de máquinas são minimizadas “porque a gente se planeja, sabe o que tem que fazer durante o mês” (CDP2E). Além disso, a superação de possíveis problemas também acontece por meio do incentivo a melhorias nos processos produtivos, como se pode observar no relato: “Muitas vezes, ao instalar um sistema de segurança, se perde em produtividade, pois vai produzir menos peças, mas então se buscam melhorias nos processos que possam compensar essas perdas” (CDP2E, CDP7E).Segundo Pidgeon & O‟Leary(2000), ao procurarem alternativas para a resolução das diferenças de interesses entre produção e de segurança, observa-se um indicativo importante de inteligência organizacional baseada no incentivo a processos de aprendizagem.

Um exemplo foi obtido acompanhando a implantação da proteção de algumas máquinas (torno) pela técnica de segurança, por ocasião da observação participante, que exigia ajustes. O operador da máquina dava sugestões importantes de como fazer a limpeza de forma segura. Daquele jeito que foi feito eles não conseguiam enxergar dentro da máquina, comprometendo a segurança do operador na hora da limpeza (DCABR12).

Com relação à reação dos funcionários quanto à proteção das máquinas, alguns depoimentos revelaram favorabilidade porque eles reconhecem como beneficios para si próprios. “A resposta que a coordenação recebe é a satisfação dos funcionários, porque eles não vão ter mais riscos”(CDP2E). Por outro lado, uma série de depoimentos revelou a insatisfação de outros funcionários porque as proteções tornam as máquinas mais lentas: “[...]e agora tem mais proteção nas máquinas, que diminuíram a produção. As proteções colocadas diminuem em até 20% da produção [...]. Não produz a mesma quantidade”(O1E). De fato, como referem McDonald et al. (2000), se cada procedimento de segurança fosse seguido ao pé da letra, a produção seria muito atrasada, mas evidências mais graves revelaram ainda que alguns funcionários chegam a burlar as proteções de máquinas para que possam atingir suas metas de produção o mais rápido possível. Essa questão será discutida mais adiante.

Apesar desses depoimentos e evidências, todos os esforços conduzidos para a adequação às exigências da NR12 renderam para a empresa, no último semestre de 2012, um “esforço digno de nota”, que é uma observação de destaque apontada pelos auditores da OSHAS e ISO 14000, como é possível verificar no depoimento: “[...] tem que ser algo que a gente faça muito diferente das outras empresas. Nessa edição foi na parte de proteção de máquinas [...] que o auditor achou o nosso trabalho diferente. Não só o investimento, não só a parte financeira, 176

mas todo trabalho de análise e de implementação, melhor do que ele está vendo no mercado. Então por isso que esse feedback é tão valioso” (A3E). Isso revela seriedade dos responsáveis na condução dos processos de proteção de máquinas, que parecem ir além das exigências do cumprimento da lei.

Além da necessidade de adequação à NR12, outra forma de pressão no trabalho, que ocasionou uma maior preocupação e compromisso da gestão com segurança e que motivou a valorização da segurança na empresa, foi um acidente que ocasionou a morte de uma funcionária terceirizada,em 2009, ao cair em uma máquina quando fazia a limpeza. A partir disso, houve mudanças na estrutura interna, nas exigências de documentação e na realização de obras internas para cuidar da segurança (D2E, G1E, G2E, TS1E, O3E).

Além disso, esses fatos parecem ter conduzido a aprendizagens importantes por parte dos gestores, como a possibilidade de que os investimentos em prevenção de acidentes também podem se tornar um fator de competitividade. Esses argumentos econômicos ficam explícitos no relato que exemplifica uma troca de máquinas que, a princípio não teria necessidade de ser trocada, mas por adequação à NR12, a empresa pode fazer disso um ganho de lucratividade e um fator de competitividade: “Segurança também dá dinheiro. Vamos trocar máquinas esse ano que não precisariam ser trocadas. Não tem aumento de demanda de produção, não tem problemas de qualidade, não tem risco ao cliente, mas tem risco de segurança. O investimento em adequação dela à NR 12 está na ordem de 50% dela. Melhor trocar. Vou gastar em uma máquina que não precisaria gastar, mas não vou ter aquela despesa de NR12, porque não tenho condições de incorporar essa despesa no valor da máquina. Vou trabalhar dois e não três turnos. Deixo de fazer uma despesa, adquiro uma máquina que posso depreciar em cinco ou dez anos. Vou colocar um custo fixo de X por cento ao mês, só que ela vai produzir mais. Vou ter custo maior de depreciação, mas consigo tirar mais peças por hora, e isso diminui meu custo. É mais dinheiro na conta. Equação legal, não?” (G1E). O argumento de que os investimentos em segurança podem representar um fator de competitividade foi apresentado em Simpósio da SAE (Society Automotive Engenieers), realizado na cidade em 2011, cujo tema principal era segurança no trabalho.

Outras evidências de investimentos foram verificadas na qualidade das instalações e equipamentos no centro de saúde do Grupo System (DCAGO12) e as poucas não conformidades identificadas pelos auditores da OSHAS e ISO 14000 durante o período de realização da 177

pesquisa (DCAGO12). Além desses indicadores, verificou-se que os investimentos e ações em segurança também contribuíram para o pagamento do PPR (Plano de Participação nos Resultados) em vários períodos, ao atingirem o indicador de zero acidente (DCAGO12).

Além de se adequar às exigências do Ministério do Trabalho, entende-se que essas informações revelem com mais concretude os esforços para ampliar a consciência para a segurança no trabalho na WSA. Essas ações, por um lado, podem significar muito em direção ao fortalecimento de uma cultura de segurança, na medida em que contribuem para o aumento da consciência das pessoas para cuidarem melhor de si e dos outros, mas podem também, por outro lado, representarem muito pouco se forem consideradas apenas iniciativas para o cumprimento de exigências externas. Uma das formas de identificação da medida em que elas estão acontecendo em nível de pressupostos e não apenas em nível manifesto se localiza na relação entre objetivos operacionais e objetivos de segurança (FRAZIER et al., 2013). Esse item é comentado a seguir.

4.1.2.3 Pressão no trabalho: evidências da relação produção x