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3. ANÁLISE DOS PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO ATO DE

3.2 P RESSUPOSTOS CONDIZENTES AO EXAME DA VALIDADE DA ENUNCIAÇÃO DO ATO

3.2.5 Pressuposto formalístico

125 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 31.ed. São Paulo: Malheiros,

2013, p. 62.

Consoante já exposto no tópico em que se tratou dos requisitos atinentes a existência do ato, é preciso distinguir a forma, enquanto elemento intrínseco necessário à sua própria existência, da formalidade, neste caso, pressuposto de validade. A primeira diz respeito à necessidade do mesmo para existir, se exteriorizar; a segunda, por sua vez, refere-se aos requisitos formais que deverão ser observados, a fim de que o mesmo exista validamente. A formalização, neste sentido, seria o atributo da forma.

Dentre os elementos necessários para verificar-se a validade da forma, destaca-se a motivação. A motivação seria, nestes termos, a exteriorização do móvel, ou seja, o agente, a fim de conferir legitimidade ao seu ato, externaria as razões que o levou a expedir o ato naqueles termos.

Existe uma discussão assaz intensa na doutrina acerca da necessidade motivação. Parte defende ser a motivação pressuposto de validade do ato apenas nas hipóteses de expressa previsão legal127, outros, por sua vez, sustentam que a motivação, em se tratando de ato vinculado, mesmo diante da expressa determinação legal, poderia não implicar invalidade do ato, uma vez demonstrado que o ato fora expedido em plena consonância com os ditames legais128.

Consideramos a motivação, mesmo quando não prevista expressamente em lei, como um dever da administração, por força dos princípios democráticos e do Estado de Direito. Explicamos: como o poder do agente emana do povo, seja enquanto representante do Poder Legislativo, Executivo (administrativo) ou Judiciário, seus atos normativos devem ser sempre motivados, de modo a justificar sua expedição conforme as regras do Direito Positivo. Frisa-se, mais do que citar e relacionar os pressupostos fáticos (motivo) e normativos (causalidade), deverá o agente buscar convencer, prestar contas de sua atuação, dizendo e justificando à

127 Neste sentido, Mário Masagrão, segundo o qual a motivação não necessita, como regra de ser

explicitada, não obstante deve existir e ser provada quando necessária, no mesmo sentido, Themístocles Brandão Cavalcanti: “nada pode abrigar a Administração a motivar todos os seus atos,

sendo esta apenas condição de alguns atos administrativo”. Apud CINTRA, Antônio Carlos de Araújo.

Motivo e motivação do ato administrativo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1979, p. 121.

128 Defende este posicionamento Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, que ao tratar da necessidade

da motivação, como pressuposto de validade do ato vinculado, defende que seria melhor que o mesmo “viesse motivado, para demonstrar que obedeceu efetivamente aos ditames legais, perfeitamente regrado”, não obstante, enuncia o autor em seguida “mesmo falte a motivação, e ainda que a lei expressamente a exija, a sua ausência não invalida o ato, se provado, em juízo, que se conformou absolutamente com as prescrições legais”. Apud CINTRA, Antônio Carlos de Araújo.

sociedade os motivos e as correções da sua atitude e, mais, persuadindo a população dessa correção (motivação/convencimento).

Neste sentido, pertinentes as lições de Aliomar Baleeiro129:

Acho que o ato administrativo necessita sempre de motivação e que, em se tratando mesmo de ato de competência discricionária, isso é indispensável, para que se possa apreciar, num País como o nosso, sujeitos os atos do Executivo ao Poder Judiciário, se houve, ou não,

détournement du pouvoir.

Torna-se oportuno ressaltar, todavia, que a motivação deve ser analisada com menos ou mais rigor, a depender do ato expedido, sendo extremamente relevante, por exemplo, nas normas veiculadoras de decisão, seja no âmbito administrativo ou judicial.

A motivação da decisão vai além da justificativa legal, ela faz parte do convencimento, confere legitimidade ao ato. Desse modo, o dever de motivar é proporcional à necessidade de convencimento; quanto mais divergência envolver o caso, maior será a necessidade de motivação.

Assim, a motivação considera-se aniquilada não só pela ausência de fundamentação, mas também quando o julgador, por exemplo, não levar em consideração todos os elementos probatórios, deixando, verbi gratia, de justificar o seu afastamento ou acolhimento.

Desta forma, valemo-nos das lições de Antônio Carlos de Araújo Cintra130,

que, ao se debruçar detidamente sobre este assunto, concluiu:

Quando a lei indicar a motivação como formalidade do ato administrativo, tal formalidade se reputa essencial, e sua falta importa em nulidade do ato. Quando ao contrário, a lei não exigir, de forma expressa, a motivação entendemos que a consequência dessa omissão deverá ser apreciada, caso por caso, se ocorreu, na

129 Apud CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Motivo e motivação do ato administrativo. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 1979, p. 125.

espécie, a nulidade ou mera irregularidade do ato, ou até se, nas circunstâncias, não seria mais conveniente à falta de motivação, justificando-se, destarte, a própria omissão.

Ainda sobre a motivação, entende-se oportuno citar, mais uma vez, o aludido autor131, que nos expõe um modus operandi da motivação, servindo, assim, o roteiro proposto, como ferramenta útil para verificar a observância de tal requisito:

Em primeiro lugar, é preciso que a motivação indique as premissas de direito e de fato em que se apoia o ato motivado, com a menção das normas legais aplicadas, sua interpretação e, eventualmente, a razão da não aplicação de outras; e como referência aos fatos, inclusive a avaliação das provas examinadas pelo agente público, a seu respeito. Em segundo lugar, o agente público deve justificar as regras de inferência através das quais passou das premissas à conclusão, se houver necessidade.

Finalmente, deve-se ressaltar que a formalização, enquanto pressuposto de validade dos atos expedidos no âmbito da administração, tende a ser vista com menos rigor, ou seja, acarretando a nulidade do ato apenas se implicar em prejuízo ao administrado132.