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1.4 A Teoria do Custo de Transação

1.4.2 Pressupostos Comportamentais

Como mencionado anteriormente, a Teoria do Custo de Transação apóia-se em dois pressupostos comportamentais acerca dos atores econômicos (pessoas ou firmas) engajados em transações: (1) racionalidade limitada; e (2) oportunismo (BARNEY; HESTERLY, 2004). Esse fundamento tem sua origem no fato de que a racionalidade limitada e o oportunismo dos agentes econômicos geram custos de transação (FARINA et al., 1997) e, por isso, o propósito das organizações seria criar uma estrutura de governança que economize na racionalidade limitada enquanto simultaneamente salvaguarda as transações contra a ameaça do oportunismo (WILLIAMSON, 1988).

Diante da existência da racionalidade limitada dos agentes econômicos, torna-se impossível tratar todos os aspectos em um contrato complexo. Dessa forma, contratos incompletos7 são o máximo que se pode conseguir (WILLIAMSON, 1985). Complementando, Powell (1990) descreve a racionalidade limitada como a inabilidade dos atores econômicos em elaborar contratos que cubram todas as contingências

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Segundo Williamson (1996), contratos são incompletos quando: (1) nem todas as contingências relevantes podem ser pensadas; (2) os detalhes de algumas contingências futuras são desconhecidos; (3) não se consegue obter um entendimento comum sobre a natureza das contingências futuras; (4) não se consegue um comum e completo entendimento sobre as adaptações apropriadas para futuras contingências; (5) as partes não chegam a um acordo sobre qual evento contingente ocorreu; (6) as partes não chegam a um acordo se as atuais adaptações para enfrentar contingências correspondem àquelas especificadas em contrato; (7) mesmo quando as duas partes chegam a um acordo sobre as contingências e as adaptações feitas, outras partes (como os Tribunais, por exemplo), não estão de acordo.

possíveis. Convém destacar que o conceito de racionalidade limitada utilizado na TCT é baseado na definição de Simon (1947, apud WILLIAMSON, 1988, p. 569) cujo conceito é “um comportamento que é intencionalmente racional, mas apenas de modo limitado”.

Barney e Hesterly (2004) afirmam que contratos complexos desaparecem diante da incerteza. Dessa forma, esses autores concluem que quanto maior o grau de incerteza numa transação, mais difícil será o uso de contratos e outras estruturas de governança de mercado. Assim, conclui-se que a racionalidade limitada está diretamente relacionada com a incerteza, que se caracteriza como uma dimensão das transações (discutida no próximo item).

Dentre as três formas de comportamento autointeressado mencionadas por Williamson (1985): oportunismo, autointeresse simples e obediência; a que interessa para a Teoria dos Custos de Transação é a forma mais forte desse comportamento, que é o oportunismo. Este conceito, ainda segundo o autor, está relacionado com a busca do autointeresse com trapaça. Cabe destacar que divulgar informações de forma incompleta ou distorcida tem relação com oportunismo, assim, pode-se considerá-lo responsável pelas reais ou forjadas condições de assimetria de informações (WILLIAMSON, 1985, p. 47).

Barney e Hesterly (2004) afirmam que a ameaça deste tipo de comportamento é importante, porque num mundo sem oportunismo toda transação econômica poderia ser feita na base da promessa. Williamson (1981, p. 554) complementa ao dizer que contratos somente são viáveis graças ao oportunismo dos agentes.

Esse oportunismo destacado na Teoria não se refere ao comportamento de todos os agentes econômicos, a qualquer tempo. Williamson (1985) assume que alguns indivíduos são oportunistas parte do tempo e essa falta de confiança não é transparente ex ante, ou seja, antes da transação (da contratação). Como conseqüência, o autor defende que esforços ex ante devem ser feitos, assim como salvaguardas ex post devem ser criadas para evitar que agentes oportunistas explorem e prejudiquem pessoas bem intencionadas numa transação (WILLIAMSON, 1985).

O Quadro 2 apresenta a visão geral dos contratos quando do cruzamento da ausência e da existência dos pressupostos, na visão de Williamson (1985). Convém salientar, primeiramente, que a TCT não considera que exista o “melhor dos mundos” (ausência de ambos os pressupostos), já que aceita o oportunismo e a racionalidade limitada como comportamentos reais e aplicáveis. A ausência dos dois seria considerada uma utopia (WILLIAMSON, 1985). Admitindo-se a existência apenas do oportunismo, um contrato abrangente funcionaria para fazer face às ameaças oportunísticas dos atores econômicos. Seria abrangente porque haveria capacidade para tal, já que a racionalidade limitada não é admitida. Ao contrário, quando apenas a racionalidade limitada está presente, contratos com cláusulas gerais funcionam como proteção aos riscos da incompletude dos contratos. Sérias dificuldades contratuais deverão ser encontradas quando os dois pressupostos são admitidos (WILLIAMSON, 1985). Isso justifica a existência da Teoria do Custo de Transação, pois é necessário que as organizações criem estruturas de governança que economize na racionalidade limitada enquanto simultaneamente salvaguarda as transações contra a ameaça do oportunismo (WILLIAMSON, 1988). Assim, a TCT representa os estudos que favorecem esse conhecimento pelas firmas.

Racionalidade Limitada

Ausente Admitida

Oportunismo

Ausente “melhor dos mundos” Contratação com cláusulas gerais Admitido Contrato abrangente Sérias dificuldades contratuais Quadro 2. Racionalidade Limitada x Oportunismo

Nota. Fonte: WILLIAMSON, O.E. The Economic Institutions of Capitalism. New York: Free Press, p. 67, 1985.

Pode-se concluir, baseado nas considerações sobre os pressupostos comportamentais dos agentes econômicos descritos acima, que os riscos contratuais advêm do oportunismo do agente econômico, enquanto contratos incompletos têm origem na racionalidade limitada. Esses dois pressupostos comportamentais dão suporte à afirmação de que as organizações econômicas devem buscar uma estrutura de governança que economize com a racionalidade limitada enquanto simultaneamente se proteja nas transações contra o oportunismo (WILLIAMSON, 1988).

Os custos de transação não são uniformes, ou seja, variam de acordo com cada transação específica. Dessa forma, para uma análise desses custos e, portanto, da estrutura de governança adequada para governar uma transação específica, convém dimensionar as transações de forma a identificar a natureza dos seus custos (FARINA et al., 1997). Portanto, o conhecimento dos atributos das transações, que as diferenciam uma das outras e, consequentemente, possibilita o conhecimento dos seus custos, é fundamental para a decisão entre a forma de governança mais eficiente.