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CAPÍTULO 1 – CONSTRUÇÃO DO MARCO TEÓRICO-CONCEITUAL E DO PROBLEMA DE PESQUISA

1.3 Pressupostos epistemológicos e delineamento metodológico da tese

Propõe-se a realização de uma pesquisa plurimetodológica, com ênfase na abordagem qualitativa, que será desenvolvida a partir de 2 (dois) estudos, dos quais serão expostos os participantes, instrumentos e procedimentos de coleta e análise nos capítulos seguintes. Conforme Minayo (2012), a triangulação metodológica permite olhar o objeto sob seus diversos ângulos, a partir do contraste de resultados decorrentes, por exemplo, de duas ou mais técnicas de coleta de dados e fontes de informação.

Segundo Falcão e Régnier (2002), seja nas pesquisas com abordagens quantitativas, seja naquelas ditas qualitativas, há sempre aspectos a serem negociados em cada situação de análise. Isto é, faz-se necessário considerar cautelosamente o objeto de estudo, os referenciais teóricos que balizam a pesquisa, as categorias decorrentes da análise daquele objeto de acordo com esse referencial, os recursos e as ferramentas disponíveis para analisar as informações obtidas.

Em consonância, Minayo (2012, p. 622) afirma que:

Fazer ciência é trabalhar simultaneamente com teoria, método e técnicas, numa perspectiva em que esse tripé se condicione mutuamente: o modo de fazer depende do que o objeto demanda, e a resposta ao objeto depende das perguntas, dos instrumentos e das estratégias utilizadas na coleta dos dados.

Nesse sentido, Dilthey (2002) argumenta que o método das ciências sociais deve visar à compreensão interpretativa das experiências dos indivíduos dentro do contexto em que foram vivenciadas. Assim sendo, Minayo (2012) reconhece que os estudos qualitativos tomam o senso comum por base e são meio de expressão das vivências e experiências. Executada através de um percurso analítico e sistemático, a pesquisa qualitativa possibilita “a objetivação de um tipo de conhecimento que tem como matéria prima opiniões, crenças, valores, representações, relações e ações humanas e sociais sob a perspectiva dos atores em intersubjetividade” (MINAYO, 2012, p. 626). Trata-se de uma abordagem coerente com o uso da Teoria das

42 Representações Sociais como modelo teórico principal desta tese, pois evidencia o interesse nas teorias de senso comum construídas no intuito de compreender a realidade social.

No bojo das abordagens qualitativas, considera-se que a perspectiva metodológica hermenêutico-dialética proposta por Minayo (1994) se apresenta como pertinente para a construção desta pesquisa por possibilitar uma interpretação mais próxima da realidade, inserindo e compreendendo a fala “no campo da especificidade histórica e totalizante em que é produzida” (p. 231). As condições da vida cotidiana e suas estruturas profundas emergem como figura no tratamento dos dados na metodologia hermenêutico-dialética, sendo fundamental que o pesquisador elucide para si próprio o contexto dos documentos analisados ou dos entrevistados, tendo em vista que “o discurso expressa um saber compartilhado com outros, do ponto de vista moral, cultural e cognitivo” (MINAYO, 1994, p. 222).

Do ponto de vista histórico, a postura interpretativa dialética reconhece os fenômenos sociais sempre como resultados e efeitos da atividade criadora tanto imediata quanto institucionalizada. Portanto, toma como centro da análise a prática social, a ação

humana e a considera como resultado de condições anteriores, exteriores, mas também como práxis. Isto é, o ato humano que atravessa o meio social conserva as

determinações, mas transforma o mundo sobre as condições dadas (MINAYO, 1994, p. 232, grifos nossos).

Segundo Minayo (1994), a análise hermenêutico-dialética evidencia a compreensão das políticas de saúde como construções históricas vivenciadas através do sistema de saúde, assim como do campo das determinações fundamentais, isto é, do contexto sócio-histórico de seus distintos grupos sociais. Para tanto, faz-se necessário ponderar acerca da participação de determinado grupo enquanto ator social e sua inserção em dada conjuntura política e socioeconômica, assim como a história desse grupo, seu engajamento na produção enquanto classe e as condições de reprodução do trabalho, incluindo questões salariais, de acesso a bens e serviços, etc. (MINAYO, 1994).

Nesse sentido, o método dialético visa à captação das contradições e dinamismos compreendendo os fenômenos como inacabados e em constante movimento e projeção. No que tange ao campo da saúde, Jodelet (2006) e Minayo (1994) afirmam que as concepções de saúde/doença precisam ser entendidas como produtos e manifestações de condicionamentos sócio-históricos, inter-relacionadas com o acesso aos serviços, aos sentidos hegemônicos e às tradições culturais. Nas palavras de Minayo (1994): “saúde/doença são um fenômeno social não apenas porque elas expressam certo nível de vida ou porque correspondem a certas profissões e práticas. Mas também porque elas são manifestações da vida material, das carências, dos limites sociais e do imaginário coletivo” (p. 233).

43 Ademais, coaduna-se com a metodologia hermenêutico-dialética quando se reflete sobre a natureza do “dado”. Isto é, “não é o campo que traz o dado, na medida em que o dado não é “dado”, é “construído”. É fruto de uma relação entre as questões teoricamente elaboradas e dirigidas ao campo e num processo inconcluso de perguntas suscitadas pelo quadro empírico às referencias teóricas do investigador” (MINAYO, 1994, p. 233).

Em concordância com Bastos e Biar (2015) considera-se que “os dados não falam por si, nem descrevem uma realidade” (p. 101).O conhecimento científico é sempre produzido por um ator social, o pesquisador, que com suas lentes e condições contextuais e identitárias olham o fenômeno de certa perspectiva e constrói uma narrativa singular sobre o campo (BASTOS; BIAR, 2015). Para Lane (1985) “a pesquisa em si é uma prática social onde o pesquisador e pesquisado se apresentam enquanto subjetividades que se materializem nas relações desenvolvidas” (p. 19).

Circunscritas essas matrizes epistemológicas e teóricas, na página seguinte o Quadro 1 contém um esquema que ilustra o desenho metodológico desta tese. Retoma-se o problema de pesquisa e objetivo geral, assim como uma descrição geral de cada estudo desenvolvido para alcançá-los. Dessa maneira, introduz os capítulos subsequentes, nos quais serão trabalhados de maneira pormenorizada.

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Quadro 1 – Panorama geral dos estudos da tese