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5 APROXIMAÇÕES TEÓRICAS ENTRE A ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA, O

6.1 Pressupostos ontológicos e epistemológicos

Durante muito tempo a pesquisa social em organizações foi conduzida mediante referências ontológicas e epistemológicas baseadas em posições antagônicas, onde objetividade-subjetividade e determinismo-voluntarismo eram tidos como pressupostos não conciliáveis na condução de investigações sociais. Entretanto, visões dicotômicas podem inibir o diálogo e a reflexão sobre diferentes perspectivas, pois, se referem a escolhas que, em certo sentido, delimitam a forma de ver a avaliar fenômenos sociais, consequentemente, implicam em preferências metodológicas que condicionam o potencial de explicação da realidade social (ROSSONI; GUARIDO FILHO; CORAIOLA, 2013).

Assim, estudos recentes têm indicado a emergência de perspectivas de ordem multi e transparadigmática que visam a conciliação entre agência e estrutura e a superação dos dualismos impostos às investigações (ROSSONI; GUARIDO FILHO; CORAIOLA, 2013; CRUBELLATE, 2007; MARIETTO e MACCARI, 2015).

Sobre a ontologia Grix (2002) explica que ela representa sua visão de mundo quanto ao quê e quem constitui a realidade. De acordo com Marietto e Maccari (2015) o pressuposto ontológico pode ser descrito como a preocupação do que se acredita constituir ou ser a realidade social, ou seja, as alegações sobre o que existe, com o que se parece, quais as unidades o compõem e como elas interagem. Assim, a ontologia busca responder a seguinte questão: qual a natureza da realidade social e política a ser investigada?

Assim, do ponto de vista ontológico, esta pesquisa não se classifica nem como objetivista nem como subjetivista, mas situa-se na dimensão intersubjetiva, buscando a

investigação conceitual da natureza da ação humana, bem como das instituições sociais e da inter-relação entre ação e instituições (GIDDENS, 1991).

De acordo com Rossoni e Guarido Filho (2009) os estudos iniciais da teoria institucional foram marcados por orientações de cunho funcionalista e estruturalista onde admitia-se o condicionamento pleno por parte das estruturas sobre os indivíduos, contudo, o neo institucionalismo oportunizou a possibilidade de análises sob uma perspectiva interpretativista, que resgata o papel dos atores no processo de produção e reprodução das instituições e de sua capacidade de mudança, aliada aos aspectos cognitivos.

De modo semelhante, alinhado às ideias de Giddens (2003), não se atribui neste estudo prioridade à agência individual, mas à reciprocidade entre os atores sociais que interagem para construir e reconstruir os sistemas sociais onde estão inseridos, através de práticas que acessam os quadros de referências (estruturas) disponíveis e resultantes da atividade social. Isto porque, a teoria da estruturação busca pôr fim ao dualismo e conciliar os aspectos interpretativistas de um lado e funcionalistas e estruturalistas de outro, já que o foco não recai nem na experiência do ator individual (agência) nem em qualquer forma de totalidade social (estrutura) sozinha, mas nas práticas sociais ordenadas no espaço e no tempo.

Neste sentido, Machado-da-Silva, Fonseca e Crubellate (2005) acrescentam que o conceito de intersubjetividade mostra-se adequado como um pressuposto para análises que envolvem abordagens recursivas do processo de institucionalização, pois atua como uma ponte para os conceitos de subjetivo e objetivo e refere-se ao compartilhamento de significados atribuídos por atores individuais em cada situação social específica, assegurando uma objetividade localizada e delimitada no tempo e no espaço.

Quanto à epistemologia, refere-se à teoria do conhecimento que atenta para a forma como se assume que o que existe pode ser conhecido, ou seja, objetiva alcançar conhecimento especialmente com relação aos métodos, validação e meios possíveis de se atingir o conhecimento da realidade, independente do entendimento que se tenha dela. Assim, ela procura responder a seguinte questão: o que e como nós podemos aprender sobre isto? Por quais faculdades atingimos o conhecimento? (MARIETTO e MACCARI, 2015).

Segundo Graça e Lavarda (2017), estudos que utilizam o olhar sociológico da estratégia como prática abrem-se para uma pluralidade de interpretações referentes ao

contexto organizacional, entretanto, eles têm utilizado predominantemente do paradigma interpretativista e social construtivista para sua compreensão, visando ao envolvimento tanto da objetividade do mundo material como da intersubjetividade dos sujeitos, de suas práticas e das instituições sociais que são continuamente construídas. Para Rossoni, Guarido Filho e Coraiola (2013), apoiados no entendimento de Bryant (1992), a proposta giddensiana apresenta implicações filosóficas pouco resolvidas, entretanto, direciona-se principalmente para o conjunto de pressuposições feitas à priori pelo pesquisador com relação à dinâmica dos fenômenos sociais. Para eles, uma das críticas apresentadas à abordagem é justamente o fato de Giddens evitar a exploração de questões epistemológicas em seus trabalhos, o que pode dificultar a investigação da recursividade entre ações e instituições.

Contudo, eles entendem que ao mesmo tempo em que a falta de epistemologia própria dificulta a adoção da perspectiva, ela oferece aos pesquisadores abertura e flexibilidade na escolha dos parâmetros de suporte na busca do conhecimento. Apesar dessa flexibilidade, é necessário salientar que em termos de orientação das pesquisas e escolhas epistemológicas, estas precisam contemplar os aspectos intersubjetivos, não cedendo à incoerência de aceitar qualquer forma totalmente objetiva ou puramente subjetiva (ROSSONI; GUARIDO FILHO; CORAIOLA, 2013).

Portanto, nesta pesquisa, assume-se como pressuposto epistemológico o construcionismo social. De acordo com Bryman (2008) esta orientação presume que os fenômenos sociais e seus significados são realizados e negociados constantemente pelos atores sociais, pressupondo dinamismo e revisão constante.

Os autores Berger e Luckman (2004) também contribuem neste sentido argumentando que a realidade é desenvolvida com base em interações sociais, onde pressupostos e sentidos subjetivos são objetivados em espaços de interação, e ao passo em que são socializados, demais pessoas os interiorizam. Eles salientam que quando um conhecimento se torna amplamente socializado e é repassado para outras gerações, ocorre o fenômeno da institucionalização. Outra importante contribuição de seus estudos é a compreensão da intersubjetividade, pois, depreende-se que os atores não são capazes de produzir algum sentido sem interação e comunicação, apontando que a construção social é algo realizado sempre a partir de uma dimensão material existente.

De acordo com Borges et al. (2016), quando Berger e Luckman discutem o conhecimento como algo socialmente construído eles concebem que a sociedade é

constituída simultaneamente por realidades objetivas e subjetivas, sendo que a sua construção surge como fruto dos processos de externalização, objetivação e internalização. Para Golsorkhi et al. (2010) a realidade objetiva é resultante da construção social e aparece como dado ao indivíduo, já a realidade subjetiva refere-se ao significado contínuo nas interações cotidianas.

Portanto, neste trabalho, admite-se que os atores sociais interagem, referenciam-se em estruturas, intermediam seus comportamentos por meio da cognição, interpretação e materialidade, influenciam-se mútua e recursivamente e que estes elementos municiam a ação estratégica em determinados contextos.

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