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A abordagem CTS tem sido um dos caminhos apontados por pesquisadores, como Diaz, Alonso e Mas (2003), Aikenhead (1994) e Santos (2011), para a construção de uma educação voltada para a formação cidadã. Ela está presente na literatura científica, mas sua implementação em sala de aula, no Brasil, está em grande parte no campo da intenção. Na literatura, encontramos iniciativas de propostas didáticas em artigos, dissertações e teses defendidas em universidades de várias partes do país com o intuito de contribuir com a prática de sala de aula, mas, sobre intervenção alinhada com os princípios defendidos pela abordagem CTS, destacamos o trabalho de Santos e Mortimer (2002), que trata dos pressupostos CTS e de sua aplicação na educação.

Fundamentados no conhecimento dos pressupostos teóricos da abordagem CTS, pesquisadores propõem atividades pedagógicas que possam ser desenvolvidas pelos professores como parte do projeto político pedagógico da escola. Esses pressupostos são tratados de forma ampla por Santos e Mortimer (2002), com base em autores como Bybee (1987) e Hofstein, Aikenhead e Riquarts (1988), discutindo princípios orientadores como resultado da leitura de uma série de pesquisas sobre a temática.

Na realidade das escolas, nas quais impera uma abordagem tradicional em detrimento de mudanças necessárias, há propostas de revisão sobre a forma como os currículos e as aulas podem ser organizados de modo a favorecer práticas direcionadas para uma formação integrada, visto que uma proposta curricular baseada em CTS busca integrar educação científica, tecnológica e social, com os conteúdos científicos e tecnológicos estudados de maneira a discutir seus aspectos históricos, éticos, políticos e socioeconômicos.

A educação CTS no Ensino Médio tem como principal objetivo o desenvolvimento da alfabetização científica e tecnológica dos cidadãos, de forma que o aluno deve ser auxiliado na construção de conhecimentos, habilidades e valores que contribuam na tomada de decisão responsável sobre questões de ciência e de tecnologia na sociedade, e possa atuar na solução dessas questões (SANTOS; MORTIMER, 2002). Esse objetivo coaduna-se com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), quando ela propõe uma organização curricular que apresente como fundamento pedagógico o foco no desenvolvimento de competências e o compromisso com a educação integral.

Na BNCC, estão definidas aprendizagens propostas como essenciais para desenvolver, nos estudantes, dez competências gerais que podem consolidar seus direitos de aprendizagem e de desenvolvimento. Destaca-se competência definida como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BRASIL, 2018, p. 8). A educação básica busca a formação e o desenvolvimento humano global do aluno, procurando ampliar seu potencial em diferentes dimensões como ética, intelectual e afetiva, se comprometendo com a educação integral na qual os processos educativos precisam promover “aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea” (BRASIL, 2018, p. 14).

Para que essa forma de fazer educação possa se tornar realidade, todas as disciplinas precisam concorrer para o desenvolvimento dessas competências ao longo da educação básica, sendo importante apoiar o professor nessa transição, de preferência, investindo em sua formação, para que ele seja preparado para, dentre outras atividades, avaliar quais aspectos de sua disciplina podem contribuir para o desenvolvimento dessas competências e incluí-las com clareza em suas aulas. As

competências gerais apresentadas na BNCC são: conhecimento; pensamento científico, crítico e criativo; repertório cultural; cultura digital; comunicação; trabalho e projeto de vida; argumentação; autoconhecimento e autocuidado; empatia e cooperação; e responsabilidade e cidadania. (MOVIMENTO PELA BASE, 2018).

Santos e Mortimer (2002) ponderam que uma proposta pedagógica que se coadune com os princípios da abordagem CTS tem por objetivo a aquisição de conhecimentos, utilização de habilidades e desenvolvimento de valores. Em relação aos conhecimentos e habilidades a serem desenvolvidos nos alunos, estão:

autoestima; comunicação escrita e oral; pensamento lógico e racional para solucionar problemas; tomada de decisão; aprendizado colaborativo/cooperativo; responsabilidade social; exercício da cidadania; flexibilidade cognitiva; e interesse em atuar em questões sociais. (SANTOS; MORTIMER, 2002, p. 4).

Dentre os valores que precisam ser fomentados nos alunos, por meio da aplicação de atividades embasadas na abordagem CTS, destacam-se: solidariedade; fraternidade; consciência do compromisso social; reciprocidade; respeito ao próximo; e generosidade. A harmonização entre os objetivos visados pela formação CTS e os objetivos de aprendizagem definidos pela BNCC para a formação na educação básica, ou seja, a elaboração de atividades pedagógicas alicerçadas na abordagem CTS está de acordo com os objetivos de uma formação necessária para o cidadão conviver com as inovações tecnológicas.

Para a implementação eficiente do enfoque CTS, na educação básica, precisam ser verificados alguns fatores, entre eles, se os materiais de ensino estão adequados. Um dos materiais mais utilizados nas escolas brasileiras são os livros didáticos, distribuídos nas escolas, em geral pelas Secretarias Estaduais de Educação, após indicação dos professores, que escolhem entre os ofertados pelas editoras, que, por sua vez, se submeteram às exigências de edital do Governo Federal.

A melhor estruturação para materiais CTS, de acordo com as pesquisas realizadas por Santos e Mortimer (2002, p. 12), constitui-se de:

1 - Introdução de um problema social;

2 - Análise da tecnologia relacionada ao tema social;

3 - Estudo do conteúdo científico definido em função do tema social e da tecnologia introduzida;

4 - Estudo da tecnologia correlata em função do conteúdo apresentado; e 5 - Discussão da questão social original.

Outro fator a ser considerado refere-se às estratégias de ensino mais apropriadas para CTS, do tipo “palestras; demonstrações, sessões de discussão; solução de problemas; jogos de simulação e desempenho de papeis; fóruns e debates; projetos individuais e em grupo; redação de cartas a autoridades; pesquisa de campo; e ação comunitária” (SANTOS; MORTIMER, 2002, p. 12). Dessa forma, apresentam um panorama geral de como implementar o enfoque CTS nas aulas de Ciências.

A seguir, apresentamos o percurso e características metodológicas da pesquisa.

4 METODOLOGIA DA PESQUISA

De acordo com Japiassú e Marcondes (2006, p. 187), metodologia trata-se da “investigação sobre os métodos empregados nas diferentes ciências, seus fundamentos e validade, e sua relação com as teorias científicas”. Trata-se, portanto, de compreender os caminhos traçados para a elaboração de conhecimento científico e como esse trajeto alcança tal conhecimento. Enquanto para Gerhardt e Silveira (2009, p. 12), a metodologia “é o estudo da organização e dos caminhos percorridos na realização de uma pesquisa ou para se fazer ciência”.

Considerando que há vários caminhos para atingir o objetivo desejado, cabe ao pesquisador escolher a trajetória mais satisfatória com os métodos e os instrumentos que serão mais adequados para alcançá-lo. Nesse sentido, descrevemos, na sequência, a metodologia escolhida para a realização desta pesquisa, considerando a caracterização dos aspectos metodológicos, o percurso metodológico e os sujeitos da pesquisa.

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