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5.2 A intervenção pedagógica

5.2.1 Registro das observações

No total, foram quinze dias de convivência com os alunos e demais membros da comunidade escolar, período em que recebemos bom acolhimento e pudemos observar as rotinas e as relações na escola, de modo que saímos nos sentindo parte da comunidade. Por ser uma escola pequena com poucos alunos, os dias corriam serenos, sem grandes incidentes. A escola era mantida limpa, os alunos recebiam merenda escolar, era proibido o uso de celulares em sala de aula, pelas normas da escola respaldada pelo apoio da Secretaria de Educação do Estado, e um dos problemas de maior destaque, enquanto estivemos na escola, era a recorrente

ausência de alguns professores o que para uma escola pequena se tornava um transtorno.

O período destinado à nossa participação na escola foi marcado por atividades do calendário escolar e feriados, o que provocou uma série de dificuldades para realização da intervenção, mas foram adequadamente contornadas, graças em parte a 17 anos de experiência profissional dos quais colhemos subsídios para lidar com vários tipos de problemas. Apesar de um momento inicial de curiosidade e desconfiança, logo nos inserimos na rotina das turmas e da escola, daí considerarmos que foi um período agradável. Para realizar as observações, seguimos um roteiro básico que elaboramos e preenchíamos a cada encontro com a turma, fosse com atividades referentes ao projeto fosse com atividades normais da disciplina.

Como o tempo que teríamos não seria suficiente para fazer avaliações individuais, optamos por realizar uma observação sistemática da turma usando valores em conformidade com os princípios da abordagem CTS: interesse, participação, cooperação, disciplina, integração e respeito. Preparamos um instrumento (Apêndice B) definindo data, turma e atividade realizada, com um quadro apresentando os critérios relatados e a avaliação para aquela data, com quatro valores qualitativos, ruim, regular, bom e muito bom, para ser marcada de acordo com a observação obtida da turma naquele dia, finalizando com um espaço para observações. Ressalte-se que cada critério só era avaliado se estivesse presente na atividade do dia.

Optamos por fazer uma observação sistemática a fim de coletar informações para conhecer os avanços nas aprendizagens dos conteúdos atitudinais, aqueles que podem ser agrupados em valores, atitudes e normas (ZABALA, 1998). Para atividades com enfoque CTS, é importante acompanhar a evolução dos valores e atitudes dos alunos no direcionamento para uma formação cidadã. A partir das avaliações, considerando as atividades que a turma realizou durante o período de nossa permanência em sala de aula – período dedicado às atividades do projeto e dos outros conteúdos da disciplina em função do atraso da programação decorrente da doença da professora titular – fizemos as análises que descrevemos a seguir.

Em sala de aula, durante os encontros com a turma, foram realizadas várias atividades tanto referentes à pesquisa quanto aos conteúdos ministrados pela professora, tais como: preenchimento do questionário prévio, aula expositiva dialogada sobre corrente elétrica, aula expositiva dialogada sobre potência elétrica,

leitura e discussão de texto sobre radioatividade, debate sobre o papel do conhecimento científico no exercício da cidadania, resolução de questões de revisão do exame nacional do Ensino Médio (Enem), correção de questões do “simuladão” da Seduc-MA, aulas com demonstrações experimentais sobre resistores e associação de resistores e os últimos encontros foram destinados à organização de um evento. Essas atividades foram realizadas ora por mim ora pela professora e algumas vezes por nós duas juntas, pois acertamos que distribuiríamos o tempo entre as tarefas do projeto e o conteúdo programado para o bimestre letivo. Como queríamos avaliar o engajamento dos alunos nas diversas atividades realizadas ao longo da intervenção, para fazermos uma comparação entre seu envolvimento antes, durante e depois dela, analisamos essas atividades por quesitos. Nos quesitos interesse e participação, a turma A teve bom desempenho em atividades de resolução de questões teóricas de múltipla escolha sobre assuntos diversos da Física, demonstrações experimentais, com materiais levados por nós para auxiliar nas aulas da professora Marta, e houve um significativo interesse, por parte da maioria dos alunos, nas atividades relacionadas à I Mostra Científica e Tecnológica do CEAG (I MOCITEC), um evento de divulgação científica, organizado em conjunto com os alunos, referente ao encerramento da nossa intervenção. As tarefas relacionadas à preparação e apresentação da MOCITEC foram elaboradas visando o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e valores indicados pela abordagem CTS. A turma B foi bem nas demonstrações experimentais e debates, apresentando um bom desempenho nas atividades da referida MOCITEC.

Ao longo das observações, percebemos que na turma A existia convivência tranquila e havia bastante respeito dos alunos entre si e com a professora, apesar de aparente pouca integração, pois durante as aulas normalmente se mantinham distantes uns dos outros, o que também não facilitava a avaliação da cooperação já que não houve outra oportunidade além da MOCITEC, momento em que a turma se superou e obteve um ótimo desempenho em todos esses quesitos. Na turma B, os alunos também tratavam a professora de forma cortês e respeitavam-se, apesar das diferenças e dos diversos confrontos que presenciamos, resultantes das divergências políticas entre eles, pois era época de eleição para presidente da República do Brasil e os alunos estavam polarizados entre os dois candidatos em disputa. Contribuíam para os posicionamentos divergentes, as aulas ministradas no horário anterior ao de Física, em que o professor provocava um debate que inflamava os ânimos e era

necessário algum tempo até os alunos se acalmarem. A turma B apresentava uma integração regular pois os alunos se dividiam por setores, sempre perto das mesmas pessoas, sem interagir muito entre si e, quanto à cooperação, sem oportunidades para avaliar. Em relação ao critério integração, a MOCITEC foi essencial para oportunizar essa experiência aos alunos, e pudemos perceber um pequeno ganho na integração, pois os alunos precisaram trabalhar em equipe, vivenciando a colaboração e tendo que interagir com outros colegas, além dos pertencentes aos seus grupos, mantendo- se o nível de respeito.

Apesar das dificuldades, nossa experiência profissional em sala de aula e olhar apurado na observação dos alunos permitiram-nos fazer uma avaliação criteriosa dos participantes da pesquisa. A observação foi muito útil na avaliação da evolução dos alunos, principalmente em relação ao uso de habilidades e ao desenvolvimento de valores, quesitos qualitativos. É no dia a dia em sala de aula, observando o desempenho e comportamento dos alunos nas realizações das atividades propostas e no tratamento de um com o outro, por exemplo, que conseguimos perceber a evolução. A observação requer maior aproximação entre professores e alunos, de forma a estreitar os laços e permitir que todos se conheçam melhor.

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