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Prevenção, controle e erradicação do carbúnculo sintomático

3 CAPÍTULO 1: REVISÃO DE LITERATURA

3.9 Prevenção, controle e erradicação do carbúnculo sintomático

A vacinação contra os diversos patógenos do gênero Clostridium, incluindo-se C. chauvoei, tem sido mundialmente empregada como principal medida profilática. Particularmente, a vacinação contra C. chauvoei é uma das principais medidas sanitárias de manejo na pecuária bovina. No entanto, as evidências científicas da eficácia da vacinação, assim como dos antígenos empregados na formulação das vacinas, na prevenção da doença e das mortes por ela provocadas, são escassos (UZAL, 2012).

Diversas composições antigênicas foram propostas. Os primeiros estudos com relação aos imunógenos procuraram estabelecer se a formulação vacinal deveria ser baseada em bacterinas, toxóides ou bacterinas/toxóides. Talvez, pelas dificuldades de cultivo, foi inicialmente proposto que a imunidade seria conferida apenas pela bacterina que compunham então os antígenos comerciais (ROBERTS, 1946; CHANDLER; HAMILTON, 1975). Os toxóides eficientes só eram conseguidos em formulações laboratoriais, com condições de produção controladas associadas a concentração das toxinas antes da etapa de inativação (STERNE et al., 1951). A formulação vacinal também foi objeto de estudo de Coackley e Weston (1957). Esses pesquisadores imunizaram três grupos de ovelhas com os seguintes antígenos: toxóide, bacterina e bacterina/toxóide. Somente as ovelhas vacinadas com toxóide morreram após desafio. Isso reforçou a ideia inicial que os imunógenos deveriam ser baseados principalmente em bacterinas.

32 Como a bactéria tinha sido considerada um dos componentes antigênicos mais importantes, buscou-se descobrir qual seria a porção mais antigênica da célula bacteriana, a parede celular (antígenos somáticos) ou o flagelo (TAMURA et al., 1984). Com resultados controversos, predominou por muito tempo a ideia de que ambos seriam, isolada ou combinadamente, capazes de induzir uma resposta protetora. Os anticorpos gerados nesta resposta seriam importantes na opsonização do patógeno, aumentando a eficiência das vacinas e protegendo os animais frente ao desafio por C. chauvoei (TAMURA; TANAKA, 1987).

Com a descoberta da CctA (FREY et al., 2012) abriu-se novas perspectivas com relação a composição dos imunógenos contra o carbúnculo sintomático. Os pesquisadores fizeram o teste de potência recomendado pela Farmacopeia Europeia utilizando uma toxina recombinante CctA e observaram que todos os animais vacinados sobreviveram ao desafio. Assim, a nova toxina não só seria capaz de conferir imunidade protetora aos animais como a técnica de proteínas recombinantes facilitaria a produção do imunógeno.

Apesar da falta de consenso sobre a composição ideal dos imunógenos contra o carbúnculo sintomático, a vacinação contra a C chauvoei faz parte da gestão de saúde da pecuária Brasileira e mundial. Apesar de não haver comprovação científica, preconiza-se que os bovinos sejam imunizados entre 4 e 6 meses de idade, com pelo menos um reforço 30 dias após a primo- vacinação. Posteriormente, a vacinação deve ser anual. Em locais de alta prevalência o intervalo de vacinação deve ser reduzido para 9 meses (UZAL, 2012).

No Brasil, a vacinação contra clostridiose é voluntária. No entanto, estes imunógenos só são produzidos em menor escala do que a vacina contra febre aftosa, que é obrigatória e semestral na maior parte do território nacional. Por ano, mais de 200 milhões de doses de vacinas, contra doenças causadas por bactérias do gênero Clostridium, são produzidas, refletindo o impacto causado por estas enfermidades nos sistemas de criação, e a crescente necessidade de se proteger um grande número de animais frente às mesmas.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) avalia sistematicamente as bacterinas de C. chauvoei, os toxóides botulínicos tipos C e D e, desde 2009, os toxóides beta e épsilon de C. perfringens tipo B, C e D (LIMA et al., 2011). Segundo a Portaria Nº 49 do MAPA, o controle das partidas de vacinas contra C. chauvoei comercializadas no país é feito para atestar a inocuidade, a esterilidade e potência mediante teste de eficiência em cobaias. Assim, somente as partidas consideradas aprovadas no teste oficial são liberadas para comercialização, garantindo a qualidade das mesmas (BRASIL, 1997).

Apesar da intensa imunização do rebanho brasileiro, e da avaliação governamental da potência desses imunógenos contra C. chauvoei, a ocorrência do carbúnculo sintomático ainda é um entrave para a pecuária brasileira. Segundo (ASSIS-BRASIL et al., 2013), essa é a segunda doença mais frequentemente detectada em bezerros com idade entre 4-6 meses, sendo descritas algumas ocorrências em rebanhos previamente imunizados (GREGORY et al., 2006). Descartando-se a possibilidade de falha nos procedimentos de vacinação, alguns pesquisadores sugeriram uma eventual possibilidade de variações antigênicas entre as estirpes vacinais e as de campo ou um problema à eficiência das vacinas frente a desafios naturais.

Como a eficiência de todas as vacinas comerciais são avaliadas frente ao desafio de cobaias previamente vacinadas com a estirpe oficial Manguinhos-Teixeira (MT), Santos (2003) comparou a proteção observada em cobaias vacinadas com imunógenos comerciais quando parte delas

33 foram submetidas ao desafio com a amostra oficial MT e as demais com uma estirpe isolada de uma ocorrência natural. Esse pesquisador observou uma proteção de 95,46% quando o desafio foi feito com a estirpe MT. Por outro lado, quando os animais imunizados foram desafiados com uma estirpe de local, apenas 36,36% das vacinas foram capazes de proteger os animais. Discordância de proteção mediante o desafio com estirpes heterólogas também foram demonstrados por outros pesquisadores brasileiros (ARAUJO et al., 2010). No entanto, não existe um consenso na literatura nacional ou internacional a respeito desse assunto. Outros pesquisadores não encontraram diferença na imunidade conferida por diferentes estirpes de C. chauvoei. Para esses autores, as eventuais falhas vacinais teriam causas não relacionadas à estirpe utilizadas na vacina (VARGAS et al., 2012). Somando-se as controvérsias sobre composição vacinal, a eficácia da vacina contra carbúnculo sintomático em prevenir a ocorrência da doença é tida mais como uma evidência anedótica do que científica, propriamente dita. Apesar do grande consenso a respeito da importância da vacinação, existe pouca evidência científica sobre os protocolos de vacinação eficientes (UZAL, 2012).

Alguns estudos brasileiros buscaram avaliar a importância da imunidade passiva e o melhor protocolo de vacinação de bezerros. Segundo Araújo et al. (2009), a imunidade passiva pode ser detectada em bezerros por até três meses após receberem colostro de vacas vacinadas até 30 dias antes do parto. Os autores salientam ainda que há uma correlação positiva entre o título de anticorpos observado nos bezerros e o momento da vacinação da vaca. Assim, quanto mais próximo do parto as vacas recebiam a imunização, maior o título de anticorpos dos bezerros aos três meses de idade.

Com relação a imunização ativa de bezerros, Araujo et al. (2010) avaliariam a resposta sorológica de animais submetidos a três diferentes protocolos de vacinação contra carbúnculo sintomático: animais vacinados aos quatro e oito meses; vacinados aos oito meses com reforço 30 dias após a primo-vacinação e aqueles que receberam uma única dose da vacina aos oito meses de idade. Por meio de ELISA, os autores concluíram que somente o último esquema de vacinação não garantiria título de anticorpos satisfatórios para os animais vacinados quando estes tivessem 10 meses de idade. Infelizmente, não foi objeto de nenhum desses estudos avaliar a efetividade da proteção da imunidade passiva e ativa mediante desafio direto dos animais avaliados.

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4 CAPÍTULO 2: AVALIAÇÃO DE MEIOS PARA OBTENÇÃO DE

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