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4. O PROCESSO DE INTERVENÇÃO

4.1 Prevenção e Promoção à Saúde

Trabalhar com a ideia da prevenção ao uso nocivo de drogas no espaço escolar é trazer à tona atitudes e escolhas humanas que refletem diretamente sobre a vida e saúde do indivíduo. Lidar com tal questão de forma integral e aberta, sem necessariamente tocar no tema drogas, desperta no público jovem a atenção e sua ressignificação, pois a partir do momento em que o professor compreende que a escola representa um local propício para um trabalho preventivo com o objetivo de contribuir para a qualidade de

vida de alunos (SLOBODA, 2004; BERTONI; ADORNI, 2010; DEVENS, 2013; SODELLI, 2010), os resultados são observados para além dos muros escolares.

Ao iniciarmos nosso plano interventivo por intermédio da Prevenção e Promoção à Saúde, dando voz aos sujeitos, houve uma gama de representação para os alunos a respeito do que é promoção, prevenção, saúde e seus desdobramentos.

Os grupos tiveram espaço para falar e explorar questões referentes aos cuidados e não cuidados que temos com nós mesmos, refletindo desde a higiene pessoal ao uso de medicamentos e automedicação. Tal processo repercute nos resultados da análise da pesquisa ao tema ser um dos mais destacados entre as falas dos sujeitos, expressando o quanto foi significativo lidar com a sexualidade, gravidez, orientação, cuidados com o corpo, mudanças de hábitos alimentares e atividade física, outras vivências corporais etc.

Exemplo disso são as falas dos alunos durante o processo avaliativo do projeto. Para a aluna Lelê a temática proporcionou “[...] as pessoas refletiram mais sobre o assunto e a pensarem antes de fazer as coisas sem se cuidar”. Além do processo reflexivo, a mesma aluna destaca que a ideia de promoção e prevenção à saúde orientou e possibilitou mudanças de hábitos.

Há vários pontos importantes do projeto, mas o que foi mais importante foi a da prevenção e promoção à saúde, porque todos sabem que é preciso comer alimentos saudáveis. Mas comer o que? Praticar o quê? E isso foi bem significativo. Não só eu comecei a fazer isso, como várias outras pessoas tanto da nossa sala como da outra sala. O projeto foi bem desenvolvido. (Lelê, 15 anos)

Para a aluna Yara a temática foi o processo mais importante do projeto, já para Vigor o que se destacou na proposta de trabalho foram as orientações.

Eu acho que a temática mais importante trabalhada foi esta da promoção e prevenção da saúde. Como eu disse eu acho que muita gente entendeu mesmo a dinâmica de você falar sobre a proteção. Proteção à saúde, no todo, mas mais sobre a proteção das doenças. (Yara, 14 anos)

Acho que o que deu certo no projeto foi sobre prevenção à saúde, porque ajudou as pessoas a reflitam mais sobre o assunto e pensarem antes de fazer as coisas sem se cuidar. (Vigor, 16 anos)

Destacamos que a forma como foram conduzidas as aulas, de modo a buscar a participação dos alunos, a expor seus pontos de vistas e se sentirem protagonistas do processo, permitiu elucidar que educação e saúde andam juntas na formação de cidadãos emancipados e empoderados socialmente. Promovendo sujeitos coletivos,

valorizando as dimensões humanas, a qualidade de vida e saúde das pessoas, para além de informar, corroboram com as reflexões de Fonseca (2008) e Freire (2005b).

Levar para o plano interventivo as propostas de trabalhos dos referidos autores foi representativo, pois a escola não é um espaço exclusivamente de aprendizagem teórica, já que nela há também um ambiente propício à inserção de ações voltadas à promoção da saúde, diálogo, vivências emocionais e sociais (FONSECA, 2008).

Ações educacionais que promovam a educação para a saúde no meio escolar são pertinentes, pois a escola facilita o processo consciente, regular e sistemático do conhecimento, possibilitando trabalhar e pensar sobre o atual quadro de vulnerabilidades sociais presentes no cotidiano dos alunos (FONSECA, 2008). E essa colocação de Fonseca (2008) foi observada nas aulas, pois os alunos, ao lidarem com a temática proposta, apresentaram casos reais, principalmente relativos às vulnerabilidades sociais, para a análise e discussão em grupo, construindo argumentos e ideias de refutação ou confirmação as contribuições científicas.

As pessoas estão se relacionando melhor, estão cuidando mais da saúde, respeitando mais o próximo e fazendo muitas coisas que o ano passado não existia entre as pessoas. Tipo a prevenção e promoção à saúde, agora todo mundo fala em transar com camisinha! Todo mundo sabe disso, mas praticamente ninguém exerce esta função. É perigoso, sim! Mas hoje em dia, depois do projeto, o pessoal está tendo mais consciência disso. E eu acho que é uma coisa boa pra turma, pra escola, como para o todo. (Lelê, 15 anos) A aula de prevenção e promoção de um lado deu certo, porque tem muita menina grávida no Ensino Médio que acredita no coito interrompido. Até hoje, mesmo depois do projeto, elas ainda continuam acreditando. Mas ajudou também! Nem todo mundo tem a mãe igual eu tenho, que conversa, senta e fala sobre isso. Elas vão pelas amigas, sobre o que as amigas falam, principalmente as que têm mais experiências que elas. Ter alguém pra conversar sobre isso na escola que seja do mesmo sexo ou do outro sexo, mas que tenha liberdade pra falar com a gente funcionou bastante. (Jú, 15 anos)

Importante destacar que procurar desenvolver a temática saúde por meio da educação, além de envolver o processo formativo e reflexivo do aluno, é recomendação dos documentos que regem a educação brasileira como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCNs) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Promover a discussão e o entendimento de questões inerentes à sociedade, principalmente situações que envolvam a realidade dos alunos, tem por objetivo empoderá-los e contribuir para uma educação não doutrinária, mas integral.

Partimos desse entendimento pois, assim como Bucher (1992), Bucher e Oliveira (1994) e Sodelli (2010),entendemos que os fatores de risco associados ao

consumo de drogas se referem a uma questão de saúde pública e de educação (e não de polícia), e é neste contexto que deve ser tratada, envolvendo todas as parcelas da sociedade ante a sua complexidade.

Outro ponto que podemos analisar como avanço do processo foi identificar que os alunos em suas falas compreenderam saúde e prevenção como um eixo norteador da pesquisa, além de entenderem que ambas podem e devem andar juntas e que medidas simples podem fazer diferença ao coletivo.

Em contrapartida, o estudo não conseguiu aprofundar nos conceitos dessa categoria. Entendemos que o conhecimento teórico é importante no processo educativo e interventivo, mas aqui se apresentou como uma fragilidade do estudo. Desta maneira, para aprimorar o trabalho, teremos de aprofundar nos conceitos sobre saúde, prevenção, qualidade de vida, entre outros, almejando, assim, novas perspectivas e ampliação de ação, conduta e reflexão.

4.2 RELACIONAMENTO, INTERAÇÃO, DIÁLOGO E DINÂMICA EM