A política pública sobre drogas atesta que a prevenção ao uso de drogas faz-se a partir da valorização da vida e realização de atividades que possibilitem a melhoria da qualidade de vida. Uma série de fatores confirmou a importância da prevenção ao uso de drogas, alguns deles são: os dados estatísticos do IBGE, em 2012, mostram que 19,6% dos estudantes haviam fumado cigarro; 70,5% ingerido bebida alcoólica; 7,3% dos educandos já utilizaram drogas ilícitas pelo menos uma vez na vida, sendo que o maior percentual entre as capitais foi em Florianópolis, com 17,5% de uso de drogas ilícitas entre os estudantes de ensino fundamental e médio (IBGE, 2013); mudança de modelo de saúde em curso que percebe saúde de uma forma ampliada envolvendo a prevenção, promoção, tratamento e reabilitação; criação do Plano Crack é possível vencer em 2011; criação e ampliação do PSE; Carta de Otawa (1986) endossada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que aborda a escola promotora de saúde. A Carta de Otawa, que foi construída na Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde no ano de 1986, impulsionou o desenvolvimento da Escola Promotora de Saúde que implementou políticas que apoiam o bem-estar individual e coletivo, oferece múltiplas oportunidades de crescimento e desenvolvimento para crianças e adolescentes. Nela, já está prevista a intersetorialidade entre escola, saúde, família e comunidade, que possibilita oferecer treinamento em habilidades para a vida, reforçar os fatores de proteção e diminuir os fatores de risco (WHO, 1997a).
Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), a escola é o local mais adequado para o desenvolvimento de ações preventivas visto que possui acesso diário às crianças e adolescentes, acompanha-os durante, pelo menos, um período do dia e alguns anos de sua vida, além de ter contato direto com o padrão familiar dos educandos. A partir dessa compreensão têm ocorrido, pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), cursos de capacitação aos profissionais da educação sobre drogas e prevenção, como o Sistema para detecção do uso abusivo e dependência de substâncias psicoativas: encaminhamento, intervenção breve, reinserção social e acompanhamento (SUPERA). Em Santa Catarina, há a capacitação dos professores a partir da parceria entre a SENAD e a UFSC intitulada Curso de Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas; em 2014 ocorreu a 6ª edição. A fim de fortalecer a prevenção nas escolas, a Resolução nº 2, de 30 de janeiro de 2012, que define as diretrizes curriculares nacionais para ensino médio, considera que o projeto político pedagógico das
instituições que ofertam o Ensino Médio deve realizar atividades intersetoriais de promoção da saúde física e mental, prevenção ao uso de drogas, entre outros (BRASIL, 2012).
A prevenção é caracterizada de acordo com o público-alvo e são chamadas de: intervenção global ou universal: programas destinados à população geral realizados na comunidade, escolas e nas mídias; intervenção específica: ações para populações com fatores de risco ao uso de substância como filhos de dependentes químicos; intervenção indicada: voltada para as pessoas que fazem uso ou abuso de drogas. (SENAD, 2011).
Existem circunstâncias ou relações que podem vulnerabilizar as pessoas e torná-las mais propensas ao uso ou abuso de drogas, chamadas de fatores de risco, e há também circunstâncias e fatores que oportunizam o desenvolvimento saudável e a possibilidade de obter recursos diante das adversidades encontradas, são os fatores de proteção. Para a realização da prevenção ao uso de drogas é necessário identificar os fatores de risco para minimizá-los e os de proteção a fim de fortalecê- los. Alguns exemplos de fatores de risco ou de proteção são:
Quadro 5 - Fatores de proteção e risco ao uso de drogas
(continua) Relações Fatores de proteção Fatores de risco Do próprio
indivíduo
Habilidades sociais; habilidades para resolver problemas;
vínculos positivos; boa autoestima, etc.
Insegurança; insatisfação com a vida; sintomas depressivos; etc.
Familiares Pais que acompanham as atividades dos filhos; estabelecimento de regras e de condutas claras; envolvimento afetivo com os filhos; estabelecimento claro de hierarquia familiar; etc.
Pais que fazem uso abusivo de drogas; pais que sofrem de doença mental; pais excessivamente autoritários ou muito exigentes; etc.
Sociais Oportunidade de trabalho e lazer; informações adequadas sobre drogas e
Violência; desvalorização das autoridades sociais; descrença nas instituições;
(conclusão) Relações Fatores de proteção Fatores de risco
seus efeitos; clima comunitário afetivo; respeito às leis sociais
falta de recursos para prevenção e atendimento; falta de oportunidades de trabalho e lazer
Escolares Bom desempenho escolar; boa inserção no ambiente escolar; ligações fortes com a escola;
oportunidade de participação e decisão; vínculos afetivos com os professores e colegas; realização pessoal; descoberta de possibilidades (e “talentos”) pessoais; prazer em aprender; descoberta e construção de projeto de vida
Baixo desempenho escolar; falta de regras claras; baixas expectativas em relação às crianças; exclusão social; falta de vínculos com as pessoas ou com a aprendizagem
Fonte: SENAD (2011, p. 116, adaptado).
Em relação à escola destaca-se a importância de uma política escolar que busque uma aproximação com os educandos, valorizando espaços de acolhimento, aconselhamento e vínculos em detrimento de punições como suspensão e expulsão. Ressalta-se também a inclusão de prevenção a partir do desenvolvimento de habilidades de vida no currículo disciplinar dos alunos. As habilidades de vida possibilitam o desenvolvimento de habilidades sociais, como a melhora dos relacionamentos interpessoais, aumento do autocontrole, aumento dos recursos pessoais para lidar com as dificuldades, fortalecimento do vínculo entre o acadêmico e a instituição e melhora acadêmica (NIDA, 2004). Para Paiva e Rodrigues (2008), as habilidades de vida são atores de proteção, pois favorecem o bem-estar, possibilitam o aumento da comunicação assertiva e resiliência, contribuindo para a diminuição da incidência e prevalência do uso de drogas entre os adolescentes.
A OMS, em 1997, e a OPAS, em 2001, propuseram a realização de programa de prevenção ao uso de drogas baseado em habilidades de
vida. As características possíveis de serem aprimoradas focando as habilidades de vida são, segundo Paiva e Rodrigues (2008):
a) autoconhecimento: identificar e compreender seus sentimentos, vontades, emoções e identidade, além do conhecimento e aceitação dos pontos fracos e fortes;
b) empatia: capacidade de compreender as pessoas, aceitar as diferenças e não julgar as pessoas;
c) comunicação eficaz: habilidade de se expressar com clareza; d) relacionamentos interpessoais: capacidade de iniciar, manter e
terminar de forma saudável relacionamentos, contribuindo para o bem-estar social e mental;
e) tomada de decisões: capacidade de avaliar as consequências, riscos e benefícios de sua escolha, possibilitando escolher a alternativa que propicie o maior bem-estar em detrimento àquelas que colocam em risco a integridade da pessoa;
f) resolução de problemas: capacidade de lidar com situações difíceis ou tensas de forma construtiva sem prejudicar outras pessoas;
g) pensamento criativo: capacidade de buscar alternativas a partir dos recursos pessoais e experiências que possui;
h) pensamento crítico: “habilidade de refletir, analisar e examinar as situações da vida pessoal e social a partir de diferentes ângulos, perspectivas e opiniões” (p. 678). A pessoa desenvolve a capacidade de questionar e não aceitar os acontecimentos, uma vez que faz uma análise a partir das evidências, razões e suposições;
i) lidar com os sentimentos e emoções: possibilita o reconhecimento de suas próprias emoções e de como elas influenciam seu comportamento, oportunizando também a melhor forma de expressá-las;
j) lidar com o estresse: desenvolve a capacidade de reconhecer as fontes de estresse nos diferentes espaços em que circula e a identificação dos recursos para minimizá-lo.
O programa de prevenção ao uso de drogas estudado nesta pesquisa vai ao encontro do desenvolvimento de habilidades em crianças e adolescentes; dessa forma, possibilita não somente a diminuição da prevalência e incidência do uso de drogas, mas também propicia melhor qualidade de vida, pois cuida da saúde mental, social, emocional e física das crianças e adolescentes.
4 MÉTODO
4.1 PROGRAMA DE PREVENÇÃO ESCOLAR AO USO DE CRACK,