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Não devia a Câmara olhar a essas pequenas difficuldades, porque, daqui a 5 annos, edificados os novos predios, não poderá fazer esses melhoramentos com menos de dois ou tres mil contos. (...). Não é impraticável, basta encarregar os engenheiros de fazerem os trabalhos necessarios, e tudo será resolvido.

Mario do Amaral, Anais da Câmara Municipal de São Paulo, 1 set. 1911. É de lamentar que tenha sido adoptada a largura de 30 metros, apenas, para o alargamento projectado. Não só a importancia futura da rua recommendaria um acrescimo sobre a dimensão fixada, como a circumstancia de que a construcção de um viaducto até a Praça Antonio Prado é inevitável. A actual Camara não pensa d’essa forma. O futuro dirá quem viu melhor.

Victor da Silva Freire. Informação de 9 de julho de 1912. Para a Câmara Municipal de São Paulo. [grifo do autor]

Os trechos de Mario do Amaral, vereador em exercício desde 1908, e de Victor Freire, diretor das obras municipais, guardam um argumento em comum, embora tratem de diversos dispositivos legais criados a partir da proposta de melhoramentos do arquiteto Joseph-Antoine Bouvard para a parte central da cidade de São Paulo. Embora partissem de formações distintas, uma vez que Mario do Amaral era formado pela Faculdade de Direito de São Paulo e Victor Freire era engenheiro pela École de Ponts et Chaussées, está presente em ambos os trechos a avaliação de uma expansão e crescimento inevitáveis da cidade e, da crença nos saberes técnicos e no profissional engenheiro como promotores de soluções mais acertadas sobre esse crescimento previsto.155 Para Mario do Amaral, as dificuldades apresentadas pelos declives no terreno da rua Libero Badaró não eram suficientes para restringir o seu alargamento como indicava o projeto da Diretoria de Obras elaborado a partir do estudo da proposta de Bouvard. De acordo com os argumentos desse vereador apresentados no debate pela definição da Lei n. 1.457, promulgada em 9 de setembro de 1911, a previsão de um aumento no fluxo de pessoas nessa parte da cidade em poucos anos resultaria na necessidade de novo alargamento.

Cerca de um ano depois, semelhante argumento de previsão do crescimento da cidade pode ser observado no discurso de Victor Freire sobre o prolongamento projetado para a rua São João e a formação de um viaduto ligando a Praça Antônio Prado, na parte alta dessa via, com o Largo do Paissandu, na sua parte baixa. A discussão parte dos debates que criaram a Lei n. 1.596 de 27 de setembro de 1912, sobre o alargamento da rua São João desde a Praça Antônio

155ANTIGOS alunos: banco de dados. In: Associação dos antigos alunos da Faculdade de Direito da USP.

Disponível em: http://www.arcadas.org.br/antigos_alunos.php.; Sobre a formação de Victor Freire, consultar anexo Apontamentos sobre trajetórias e instituições de ensino.

Prado até a rua Lopes de Oliveira. Ambos argumentos versavam sobre a circulação dessas vias a partir da previsão do aumento dos fluxos urbanos como algo incontestável. Contudo, pelo desapontamento identificado nestes trechos de uma disputa entre posições distintas nesses debates, pode-se levantar um questionamento desse princípio como um saber de definições precisas e consensuais entre os diversos interlocutores.

A atuação de Victor Freire nesses debates foi identificada por Cláudio Arasawa como uma busca de impor “uma aura de universalidade” sobre as posições defendidas pela Diretoria de Obras para os melhoramentos na parte central da cidade no início do século XX.156 O

exercício de uma autoridade técnica pelos engenheiros municipais norteada pela detenção de saberes especializados para Arasawa demandavam nesse período uma inevitável “mediação dos engenheiros” nas negociações sobre a construção da cidade. Desse modo, os saberes voltados às questões urbanas são compreendidos pelo autor menos a partir de suas possíveis divergências entre os interlocutores nos debates pelos melhoramentos para a cidade, mas como uma nova arma exclusiva aos engenheiros municipais no convencimento ou coação dos representantes dos poderes legislativo e executivo.

Já para Roseli D’Elboux uma centralidade em negociar interesses de particulares nesses debates – a exemplo do maior proprietário de terrenos e edifícios nesta parte da cidade, o Conde de Prates –, irá afastar dessas disputas a diversidade de orientações técnicas sobre essas obras.157 Para a autora, a presença nessas negociações de variados interesses são indicativos de uma menor importância de debates de cunho teórico. Desse modo, nessas deliberações teriam sido privilegiadas as “concepções de cidade do Diretor de Obras” em convergência de interesses com os da recém-criada City of San Paulo Improvements, empresa responsável pelo lançamento de diversos loteamentos residenciais no período e de quem Bouvard era vice-diretor. Ao contrário de Arasawa, são identificados um maior dinamismo nesses debates, algo que, no entanto, para a autora não indicava uma efetividade dos saberes que se anunciavam como técnicos, pois negociantes de terras e empresas de loteamentos com interesses por vezes diversos aos dos especialistas teriam uma atuação decisiva nessas negociações.

Para Cândido Malta, as divergências entre propostas “concorrentes, somada[s] ao peso dos interesses comerciais e imobiliários (...) comprometia[m] a continuidade das intervenções e a coerência dos resultados”. Interpretação que o autor vincula à noção sobre o período inicial do regime republicano no país como promotor de ações de modernização, porém “sem

156 ARASAWA, Cláudio Hiro. Engenharia e poder: construtores da nova ordem em São Paulo (1890-1910). São

Paulo: Alameda, 2008. p.163.

mudança” em aspectos tidos por estruturais na sociedade, a exemplo do fundamento da igualdade presente nas democracias modernas. Noção bastante difundida que irá afirmar a impossibilidade do estabelecimento de instituições e de políticas liberais no Brasil pela herança recente do regime escravocrata, percebido por sua vez, como limitador da formação de uma população apta aos ideais republicanos sobre o papel do estado na promoção da igualdade, liberdade e dos diretos sobre a propriedade privada.158 De modo distinto do que propomos para

o exame dos debates de propostas de intervenção na cidade, uma avaliação prévia sobre essas negociações a partir do que seriam as características da política brasileira norteia o trabalho do autor.

Nessas análises sobre os debates e negociações de dispositivos legais para intervenções na área central da cidade nos anos iniciais da década de 1910 são identificados um afastamento entre ideias e realizações pelo exercício da autoridade técnica, ou pela permanência de interesses particulares, ou ainda pelas consequências políticas negativas sobre a construção da cidade. Se aproximam a esse apartamento entre ideias e práticas as abordagens em que os saberes voltados às questões urbanas são examinados a partir de consensos anteriormente assumidos e menos às possíveis divergências de princípios pretensamente científicos. Tratam- se de diferentes abordagens que podem ser aproximadas pela forma em que analisam essas negociações a partir de um apartamento prévio de uma dimensão considerada técnica – pela atuação de representantes das áreas de ensino ou repartições municipais, voltada ao resguardo do interesse público – e outra de agentes do setor imobiliário, atuantes por interesses individuais. Desse modo, embora denotem em diferentes medidas a presença de conflitos e

158 De modo frequente na historiografia o trabalho de Candido Malta desponta sobre a interpretação de um

descompasso entre os saberes científicos e as iniciativas de melhoramentos na cidade de São Paulo, incorrendo em avaliações sobre um atraso da cidade em alcançar patamares de uma sociedade vinculada a padrões de progresso e modernidade pelo comprometimento dessas iniciativas com interesses de grandes proprietários. Apesar de não explicitada tal interpretação pode ser vinculada à “teoria da dependência”, difundida nos estudos sobre a circulação das ideias no Brasil e na América Latina a partir das reflexões de Roberto Schwarz no artigo “As ideias fora de lugar”. Já contestada de modo contundente por parte da historiografia por identificar nas inconsistências afirmadas sobre o que seriam as características do Brasil posições prévias sobre a noção de uma democracia moderna, notadamente pela ausência de contradições. Entre diversos autores, Stella Bresciani aborda essa interpretação a partir das suas implicações ao estudo da circulação das ideias do urbanismo, e Maria Sylvia Franco a partir de análises sobre dinâmicas políticas e sociais no regime de escravidão no Brasil e também pelas discussões sobre a teoria transnacional. CAMPOS, Candido Malta. Os rumos da cidade: urbanismo e modernização em São Paulo. São Paulo: Ed. SENAC, 2002. p. 20-21; 188-189.; SCHWARZ, Roberto. As ideias fora do lugar. Estudos CEBRAP, n.3, jan. 1973.; reimpresso em Ao vencedor as batatas. Forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. São Paulo: Duas Cidades, 2000. p. 9-31.; BRESCIANI, Maria Stella Martins. A construção da cidade e do urbanismo: ideias tem lugar? In: BRESCIANI, Maria Stella Martins. Da cidade e do urbano: experiências, sensibilidades, projetos. Organização Josianne Cerasoli, Marcia Naxara, Rodrigo de Faria. São Paulo: Alameda, 2018. p.493-511; FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. 3a. ed. São Paulo: Kairós Livraria Editora, 1983.; FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. As ideias estão no lugar.

negociações, tais interpretações pouco nos auxiliam a compreender as dinâmicas dos debates do urbanismo em formação.

Sob tais apontamentos nos perguntamos: Como teria sido discutido esse suposto predomínio dos saberes dos profissionais especializados na gestão das questões urbanas? Esses debates permitem perceber uma separação estrita de atuações, em que de um lado os agentes detentores dos saberes técnicos não irão se preocupar com o lucro das propriedades e de outro, os negociantes estariam alheios aos saberes especializados? As negociações e os conflitos em torno das seções da proposta de Bouvard colocadas ao debate na Câmara Municipal podem ser apreendidas como disputas entre interesses particulares de um lado e de princípios avaliados como eminentemente técnicos de outro? Nesse contexto, pode-se assumir usos consensuais desses princípios pelos profissionais especializados?

Para além de uma apreensão dessas iniciativas identificadas pelos seus desvios com os interesses de particulares e também por consequências políticas negativas na construção da cidade, outros estudos buscaram ampliar a discussão sobre essas negociações. De acordo com Josianne Cerasoli, uma "experiência plural" das mudanças ocorridas nesse período na cidade em seu “fazer-se” norteou a configuração do espaço urbano. Conferindo-lhe não um caráter homogêneo, mas ao contrário, multifacetado, pelos usos dos instrumentos oficiais da administração pública por agentes sociais diversos na busca de apreender e participar dessas mudanças.159 Tal procedimento busca um afastamento com a descrição das transformações da cidade em consequência de iniciativas fomentadas apenas por alguns poucos especialistas. Assim, as reflexões de Cerasoli nos instigam a problematizar as interpretações de um afastamento entre ideias e realizações nos debates sobre esses melhoramentos e da mesma forma nos movem a percorrer as discussões que emergiram nesses debates.

Dos dispositivos legais vinculados a proposta de Bouvard, a maior parte dos debates pela definição dos seus termos concentrou-se entre os anos 1911 e 1914, apesar de outros dispositivos em períodos posteriores levantarem novamente debates pelo reestabelecimento ou alterações dessas disposições. Parlamentares, profissionais da Diretoria de Obras, prefeitos municipais, secretários de estado e munícipes sob diferentes focos debateram questões como os direitos de proprietários nas negociações por desapropriação ou na iniciativa particular, os limites e potenciais dos saberes técnicos na transformação da cidade, a direção dos

159 CERASOLI, Josianne Francia. Modernização no plural: obras públicas, tensões sociais e cidadania em São

Paulo na passagem do século XIX para o XX. 2004. 423 p. Tese (Doutorado em História Social) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, SP. Disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000317502>. p. 15.

melhoramentos para as demandas do presente ou do futuro, as prioridades nos investimentos em diferentes partes da cidade, bem como as formas em que deveriam ser realizados tais melhoramentos.

Além destes aspectos vinculados às práticas dos melhoramentos urbanos, parte dessas discussões centrou-se em diferenças de posições acerca de princípios caracterizados como técnicos ou científicos. Salienta-se dessas discussões por vezes um entrecruzamento dos saberes dos médicos, dos engenheiros e arquitetos. A exemplo da noção de salubridade urbana, advinda de análises de um ponto de vista sanitário comum às preocupações dos médicos, e que conservava um princípio estético no qual a beleza do espaço atuava como índice de um local saudável.160 Entre outras questões foram levantadas a previsão do crescimento e das demandas urbanas, a salubridade nas casas e na cidade, a previsão da necessidade de obras de circulação rápida e facilitada entre bairros e a área central, a orientação curva, retilínea, extensa ou quebrada para ruas e avenidas sob o ponto de vista do embelezamento e da circulação, o enquadramento ou harmonização das vias, praças e parques sob o ponto de vista da estética e da perspectiva, além de disposições para as construções em sua relação com a circulação das vias e com a estética. Constituem diferenças de um debate no qual não apenas as distintas partes da cidade são colocadas em disputa, mas os próprios princípios para a sua transformação não são facilmente entendidos enquanto produtos de um consenso.

A partir desses dispositivos são debatidos o alargamento, a abertura e o prolongamento de vias, a construção de viadutos, praças e parques. Do estudo das indicações de Joseph-Antoine Bouvard pela Diretoria de Obras Municipais e pelas Comissões da Câmara Municipal, avaliados em “seções” separadas, de acordo com o termo empregado pelos vereadores, o programa proposto por esse arquiteto fundamentou a Lei n. 1.457 de 9 de setembro de 1911 para os melhoramentos na área do vale do Anhangabaú, a Lei n. 1.473 de 10 de novembro de 1911, para a formação de uma praça em frente à Igreja Santo Antônio (atua praça do Patriarca), as Leis n. 1.484 de 24 de novembro de 1911 e n. 1.560 de 4 de julho de 1912, sobre a formação da rua Conceição (atual rua Casper Libero) e prolongamento da rua D. José de Barros, a Lei n. 1.582 de 02 de setembro de 1912 para a formação do Centro Cívico apesar de não realizado, a Lei n. 1.596 de 27 de setembro de 1912 sobre o alargamento da rua São João desde a Praça

160 Sobre esse ponto Bernardo Secchi discute a partir da metáfora da cidade como um corpo humano a contribuição

dos saberes dos médicos para questões como fluidez e circulação urbana. Segundo esse autor, como os fluidos que correm no corpo em harmonia assim deve ser o funcionamento da cidade, ausente de conflitos internos e em equilíbrio a partir da ação do médico-urbanista. SECCHI, Bernardo. Primeira lição de urbanismo. Trad. Marisa Barda; Pedro M. R. Sales. São Paulo: Perspectiva, 2006. (Debates; 306). p. 38.

Antônio Prado até a rua Lopes de Oliveira e, a Lei n. 1.793 de 12 de junho de 1914 para a formação de um parque na várzea do Carmo (atual Parque Dom Pedro II).161

III.1. Aterrar, prolongar, interligar

Nas discussões pela aprovação da primeira seção do plano Bouvard, que definiu os termos da Lei n. 1.457 de 9 de setembro de 1911, como eram identificadas as transformações projetadas nas ruas Líbero Badaró, Formosa e a parte do vale do Anhangabaú entre a rua de São João e o Largo do Riachuelo, são retomadas as posições de um consenso em torno das indicações de Bouvard na disputa entre distintas propostas de melhoramentos para essa parte da cidade. Em 13 de julho de 1911 é apresentado por Victor Freire ao prefeito o projeto estudado pela Diretoria de Obras “como solução final” de um acordo “entre a prefeitura e a secretaria de agricultura depois de ouvido o arquiteto Bouvard”.162 Segundo o engenheiro municipal, de

modo a “reduzir ao mínimo as despesas municipaes”, a nova proposta incluía a destinação de dois grupos de construções formando um terraço no alinhamento da rua Líbero Badaró simétrico ao recém-inaugurado Teatro Municipal no lado oposto ao vale do Anhangabaú. Constituíam duas construções encomendadas pelo Conde de Prates ao engenheiro-agrônomo Samuel Augusto das Neves, autor de uma das propostas de melhoramentos para a área central da cidade no início do século XX. Desse modo, o parque projetado para a área do ribeirão Anhangabaú passaria a ser enquadrado por essas construções.

A partir das modificações na proposta inicial, segundo Freire a nova rua criada em direção ao Largo da Memória não mais desembocaria na encruzilhada formada pelos Largos do Ouvidor, Riachuelo e Ladeira São Francisco, mas passaria a alimentar o trânsito na rua Líbero Badaró. Para tanto, apresentava à Câmara uma planta com o desenho da reconstrução futura do Viaduto do Chá e do alargamento a 54 metros na parte da rua Líbero Badaró que receberia essa nova via, formando o entroncamento entre o Viaduto do Chá e a futura Praça a ser formada entre as ruas Líbero Badaró, Direita e São Bento (fig. 39, p. 243).

Embora não seja possível afirmar como a planta pertencente a essa lei, tanto pela ausência da assinatura de Joseph Bouvard mencionada por Victor Freire, quanto pela sua guarda em local diverso dos demais documentos pertencentes ao debate desta Lei na Câmara

161 A lei n. 1.473 foi reestabelecida pela lei n.1.661 de 10 de março de 1913 e a lei n. 1.484 foi reestabelecida pelas

de n.1.560 de 04 de julho de 1912 e n. 1.777, de 17 de abril de 1914. Outros dispositivos debateram e, por vezes, buscaram ampliar esses melhoramentos a partir da aprovação de orçamentos extraordinários, é o caso da lei n. 1.811 de 12 de setembro de 1914 relativa a empréstimos para a realização das diversas obras na área central da cidade.

Municipal, foi possível identificar as alterações mencionadas por Freire com as indicações de desapropriações a realizar segundo o projeto de Bouvard.163 Observa-se nesta planta uma rasura no carimbo do Escritório Técnico responsável pelo documento, além da assinatura do engenheiro municipal Ribeiro da Silva, em 5 de outubro de 1902. A presença da assinatura poderia remeter não a uma anterioridade destas disposições pela Diretoria de Obras, mas à autoria da planta cadastral utilizada como base para as alterações propostas por Victor Freire e, segundo este, de conhecimento de Bouvard. São indicados os deslocamentos propostos para o Viaduto do Chá e para a nova rua a desembocar na rua Líbero Badaró, posteriormente denominada de rua Pádua Salles, as desapropriações a realizar e as edificações mantidas na área do futuro parque no alinhamento da rua Líbero Badaró e nas partes circundantes ao vale do Anhangabaú entre a rua São João de um lado e o Largo do Riachuelo de outro.

Pelos destaques às desapropriações a realizar, deslocamentos e alargamentos viários dispostos na planta apresentada por Victor Freire à Câmara Municipal seria possível sugerir intenções menos provocativas da imaginação dos legisladores sobre as transformações projetadas e mais o objetivo do engenheiro municipal em demonstrar os valores a serem dispendidos com as obras. Contudo, apesar desses esforços seu estudo pela Câmara Municipal fomentou debates sobre essas disposições viárias não apenas pela ótica dos dispêndios com a circulação, mas pelo embelezamento e perspectiva do vale Anhangabaú, além da estética das futuras construções. De acordo com o parecer das comissões reunidas de Justiça, Obras e Finanças mais de um mês após o envio desses documentos para a Câmara Municipal, o dispositivo legal em debate representaria uma definição sobre diversas propostas já apresentadas para essa parte da cidade. Configuraria nos termos do parecer uma:

(...) transacção feliz entre as diversas correntes de opinião, que se têm manifestado quanto á transformação do valle do Anhangabahú. Eliminou o que tem de excessivo e de inopportuno o plano anterior da Prefeitura; resolve o problema da viabilidade alargando a rua Libero a 18 metros; aproveita e dilata o espaço livre, abrindo no coração da cidade um grande parque, factor de embellezamento e de salubridade (...).164

163 Apesar de conter uma notação na parte superior central identificando o documento com o debate da Lei N.

1.457 de 9 de setembro de 1911, optou-se pela cautela em afirmar esta planta como parte deste debate, pois além das diferenças registradas a identificação poderia ter sido realizada em momento posterior à aprovação da Lei.

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