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2 CONSTRUÇÃO DE UM VIR A SER: UM ETNOESTADO DA ARTE E O CAMINHO DA PESQUISA

2.2 AS ESTAÇÕES DA PESQUISA

2.2.1 Primeira estação – Interação como encontro de posições e o lugar da pluriversidade

De acordo com Neves e Domingues (2007) no que concerne a pesquisa a sua questão advém desde a dúvida, até a formulação do seu problema e os elementos fundamentais que a constituem: curiosidade, iniciativa, disposição e raciocínio lógico. Contudo, naquela pluriversidade, o raciocínio lógico seria insuficiente, de modo que outros raciocínios participavam, remontando desde os tempos de minha infância e adolescência, tanto na minha própria trajetória de formação, bem como na minha experiência no estágio de magistério, além da minha vida como servidora pública da Universidade, atuando em unidade acadêmica ou não, à medida que eu interagia com os atores das Comunidades Tradicionais – (CT).

Neste sentido, minha estação inicial enquanto me percebendo nesta interação nas e com as CT para fins deste trabalho é na perspectiva da etnopesquisa-formação, uma dimensão da pesquisa-ação implicada, segundo Macedo (2012). A perpesctiva assumida pelo autor é que “a formação é experiencial, começa e acaba na experiência do sujeito e que, portanto, só pode ser alcançada em termos compreensivos a partir do ponto de vista e das atualizações de quem se forma e seus etnométodos.” (MACEDO, 2012, p. 93), estas experiências são inter e intramediadas onde tanto o conhecimento quantos as atividades envolvidas se desenvolvem a partir das implicações e do contexto sociocultural e político do sujeito.

Isto significa que, enquanto na (com)vivência com os atores do cenário onde se desenrola este estudo, encontro-me com uma atitude de ser, eu mesma, primeiro, um sujeito em formação em sentido amplo. Os atores deste cenário são concebidos, todos eles, como partícipes na pesquisa na qualidade de a(u)tores, segundo (Burham), em suas práticas e visões

de mundo. Todos nós neste processo de ciência-ação corroborando para uma reflexividade denominada metaformação conforme Macedo, (2012).

Esta primeira estação se configura como um encontro de posições neste processo de interação, concebendo uma relação de formação mútua e natural entre esta autora e os outros partícipes a(u)tores membro das comunidades. Perceber-me em formação era, também, desejar compreender mais o mundo a minha volta, ao qual, estando inevitavelmente inserida, sou parte e faço parte. Em conjunto com isso, se constitui o objetivo de compreender as compreensões, segundo Macedo, dos universitários de Santiago do Iguape (STI) e São Francisco do Paraguaçu (SFP) acerca de suas experiências de formação e de produção do conhecimento implicaria refletir em meu próprio processo de formação, afinal, de acordo com Freire, em Brandão (2005):

Aprendemos uns com os outros, envolvendo todas essas dimensões de nosso ser, viver, sentir e aprender, em nossas „trocas do saber‟. E aprendendo por meio do diálogo e da partilha de saberes, não aprendemos apenas „coisas‟, „conteúdos‟ ou „conhecimentos‟. Aprendemos a sentir, a sensibilizar e a convivializar (viver com o outro), buscando novos sentidos de vida e novos significados para as nossas ações. Todo o saber que de fato vale alguma coisa é o conhecimento que de alguma maneira me transforma em um ser melhor (BRANDÃO, 2005, p.60).

Este encontro de posições certamente deve compreender, ao menos, alguns pontos iniciais de partidas e, estar como mestranda em um Programa cuja área de concentração: Estudos Interdisciplinares sobre Universidade (EISU), aliado ao contexto social brasileiro cujas Reformas nas Políticas Educacionais, tocam-me como parte do corpo Técnicno- Administrativo do IHAC, é um deles. O IHAC é uma Unidade/órgão dentro da UFBA que surge a partir do REUNI - um Programa da referida Reforma – onde o EISU é sediado e iniciou sua primeira turma no semestre 2011.2.

Do mesmo modo, este encontro de posições se constituiu de itinerância, na qual eu por um lado interagia com colegas do Programa, participando também de suas qualificações e/ou defesas, por outro, participava dos seminários promovidos pelo próprio IHAC e pelas Pró-Reitorias de graduação e pós, e também dos encontros e colóquios promovidos pelos Programas de Pesquisa. Sendo que uma apresentação sumária dos estudos do(a)s colegas com os quais mais compartilhamos momentos na trajetória do curso, ou cuja abordagem mais me aproximei seria: Evasão (ANDRADE, J., 2014); Política de permanência (BARROS, E., 2012, 2014; MACIEL, D., 2014; e ATCHE, A., 2014); Reuni (FERREIRA, I., 2014; e

MARANHÃO, J. 2014); Universidade e Escolas Públicas (BASSUMA, R., 2014) e Extensão Universitária (ALMEIDA, D., 2015; e SOUZA,G., 2014); e Cursos e Estudantes (TELES, M., 2014; e BAPTISTA, C., 2015).

A interação com os colegas compreendeu conversas concernentes a: nossos próprios objetos de pesquisa, percurso no Programa, a dinâmica dos grupos e da orientação em conexão com o trabalho desenvolvido, metodologias, escritas e publicações. Tal interação foi importante tanto no aprendizado de algumas técnicas acadêmicas, quanto no fomento de minha visão para que a questão estudada - formação e produção do conhecimento - fosse ampliada.

Se esta itinerância é natural e obrigatória para todos os estudantes, para este estudo ela se configura fundante e constituinte do seu próprio objeto e forma de pesquisa e, para mim, uma aula sem sala. Quanto à itinerância mencionada nos eventos acadêmicos, destaco três que tocam diretamente a perspectiva e abordagem deste estudo, os quais me proporcionaram prospectos conforme discriminados no quadro abaixo:

Quadro 1 – Itinerância nos eventos acadêmicos

1 - Dimensão da questão estudada e as discussões existentes:

SEMEX - Seminário de Extensão Universitária - (2013)

Pontos de anotação Autor da fala

- variadas noções de território. Barbosa, Jorge Luiz

- diálogo entre comunidades acadêmicas e não acadêmicas. Fróes Burham, Teresinha

- na produção do conhecimento há lugar para o pesquisador e para o filósofo, pois os problemas da sociedade demandam expertises tanto da filosofia, quanto da ciência e é preciso os dois, ambos produzem conhecimento.

El – Hani, Charbel Nino

II (IN) FORMACCE - Encontro Internacional de Estudos, Pesquisas e Intervenções em

Currículo e Formação: 10 anos Formacce (2012)

- a associação dos antropólogos adverte que trabalhos de mestrados não podem ser chamados de pesquisa etnográfica.

- tomar cuidado com o termo política, pois existem vários tipos.

Macedo, Roberto Sidnei

- a multirreferencialidade. Borba, Sérgio

2 - Orientações no que tange a cosmovisão a partir de frases

V CISP – Colóquio Internacional Saberes e Práticas e I Encontro Internacional de Filosofia Africana

“Ou você está na roda ou está fora da roda.” - (No que diz respeito a pertencimento, ele fazia ressalvas acerca de identidade como entre lugar.)

Mudimbe, V.Y.

Professor da

Univerisade de Duke (Congo)

“Eu não falo sozinho [...] sou eu e meu espírito e do meu povo.” -

(Quanto ao chocalho que ele sacudia antes de iniciar sua fala como membro da mesa. O chocalho pegaria o som dos espíritos presentes na sala e isso faria com que ele pudesse falar na entonação certa, de acordo com o público.)

Lymbo – Comunidade Indígena – Tha –Fene, em Lauro de Freitas.

“Eu não sou brasileiro, eu sou quilombola.” – (Enquanto não pudesse desfrutar dos direitos de cidadão da sociedade brasileira, não poderia se sentir brasileiro.)

Ananias – Comunidade Quilombola do Kaonge - representava bacia do Iguape - à mesa

“Sabedoria não se explica.” – (Crítica a concepção de cientistas e de pesquisadores que pretendem, ao pesquisar comunidades tradicionais, tentar explicar sua ancestralidade ou sua sabedoria.)

Professora Petronilha Silva

Fonte: Diário de Anotações da autora e Cartazes dos Eventos.

Os folders dos eventos acima encontram-se em anexo, porém, de forma sumária, faço uma breve apresentação dos momentos que me propiciaram as experiências referidas no quadro:

a) II (IN) FORMACCE - Encontro Internacional de Estudos, Pesquisas e Intervenções em Currículo e Formação: 10 anos Formacce 2012 - (ANEXO II):

- mesa de abertura – A pesquisa etnográfica nos campos do currículo e da formação: configurações e desafios contemporâneos.

b) SEMEX - Seminário de Extensão Universitária nas palestras 2013 - (ANEXO III): - A extensão universitária no mundo vida: indissociabilidade do conhecimento e relevância social;

- Metodologias participativas: integrando pesquisa, ensino e extensão; e,

- mesa-redonda: Programa Vizinhanças: desafios e possibilidades nas relações UFBA /Comunidades do seu entorno.

c) V CISP – Colóquio Internacional Saberes e Práticas e I Encontro Internacional de Filosofia Africana 2013 - (ANEXOS IV):

- participção na comissão de organização;

- apresentação de uma comunicação sob o tema: Diálogo entre comunidades e a indissocialidade entre sujeito, linguagem, conhecimento e território no GT: Comunidades Epistêmicas, Tradicionais e de Práticas: Diálogos Indígenas e Quilombolas - o qual extrai do ensaio: Por uma afiliação pluriversitária: sujeito e conhecimento na contemporaneidade – atividade de conclusão de disciplina HACB71 (2012.1);

- Presença em todas as mesas do evento das quais destaco: Mesas 1 e 2, 4 e 5, 7 e 8, além das últimas conferências.

Esta itinerância em verso e re-verso, e também côncava e convexa, no encontro de meus posicionamentos para a construção do estudo me propiciou experiências tais como: estudante, pesquisadora, membro comunidades não hegemônicas, mestranda, dentre outras. Contudo, eu enquanto estando no mestrado, a minha compreensão de mim mesma nesta interação, toca na direção de etnopesquisadora na perspectiva de etnoformação. Esta vivência deu origem a reflexões anotadas no diário como o campo interno – de dentro para fora, e o campo externo – de fora para dentro, dos quais parto majoritariamente para escrever esta primeira parte do estudo.

2.2.2 Segunda estação – Interação como integração de posições e a origem da