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Após o conflito entre Irã e Iraque, Saddam Hussein precisava reavivar a economia iraquiana. Os lucros do petróleo, em quase sua totalidade, eram destinados para o pagamento de dívidas da guerra. Foi então que começou a pressionar o Kuwait e a Arábia Saudita para amortizar as dívidas iraquianas, responsabilizando, ao mesmo tempo, o Estado do Kuwait pela queda do valor do petróleo devido à sua superprodução e de conduzir uma política petrolífera que estava em descompasso com os acordos da OPEP8 (Organização dos Países

7 Resolução 598: além do cessar fogo imediato, esta resolução determina que sejam canceladas todas as ações militares e sejam retiradas todas as forças das fronteiras. Determina ainda que os prisioneiros de guerra sejam libertados e repatriados sem demora após a cessação das hostilidades ativas, o que foi acatado por ambos os países. https://peacemaker.un.org/iraqiran-resolution598

8 OPEP: A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) é um órgão intergovernamental, tendo como principal propósito a centralização das políticas relacionadas à venda

Exportadores de Petróleo), o que vinha prejudicando drasticamente a receita iraquiana. (MILLER, 2003).

Somado a isso, Saddam Hussein, com o desejo de ampliar as saídas para o Golfo Pérsico, apoderando-se do litoral kwaitiano, argumentou ainda que o país vizinho era uma antiga província iraquiana, não medindo esforços para reaver o território, vale lembrar, com poços de petróleo. Outros países árabes tentaram mediar o conflito, porém o ditador iraquiano invadiu o Kuwait em 02 de agosto de 1990.

Acerca da Primeira Guerra do Golfo faz-se necessário aludir (para fins de entendimento) ao tema específico de cada resolução tomada pelo Conselho de Segurança, o qual inicia, a partir desse momento, todo o processo de várias ações em relação ao Iraque.

a) Resolução 660 – adotada em 2 de agosto de 1990 quando da invasão do Iraque ao país vizinho, o Kuwait, o que acabou por exigir do Conselho de Segurança da ONU a evasão dos soldados iraquianos do território kuwaitiano. O descumprimento dessa imposição, em fase subsequente, acarretou no embargo comercial e financeiro contra aquele país, evoluindo para bloqueio militar. (BRASIL, 2002).

b) Resolução 678 – a fim de recompor a paz e a ordem na região, foi concedido pelo Conselho de Segurança, em 29 de novembro de 1990, que os Estados colaboradores do governo kuwaitiano poderiam recorrer à força, caso as tropas iraquianas se mantivessem em seu território. (BRASIL, 2002).

Imediatamente, Forças da Coalizão internacional, sob a liderança dos EUA e ratificada pela Organização das Nações Unidas (ONU), não reconhecendo a anexação do Kuwait pelo Iraque e sendo autorizado pelo Conselho de Segurança, partiu para o uso da força militar em defesa do país invadido.

Observando que, apesar de todos os esforços das Nações Unidas. O Iraque recusa-se a cumprir a sua obrigação de implementar resolução 660 (1990) e as resoluções pertinentes subsequentes, em flagrante desrespeito ao Conselho de Segurança [...] (CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS, 1990).

Pode-se dizer que essa foi uma guerra diferente das outras pela maneira como ocorreu. Apenas seis meses anteriores ao início das hostilidades, todos os países envolvidos no conflito mantinham relações cordiais, comungando dos mesmos valores ideológicos (em oposição ao Fundamentalismo islâmico) de acordos comerciais seguros, os quais abrangiam a comercialização de armas e tecnologia nuclear. Porém, a empatia chegou ao fim. O aliado, que era comum a todos, transformou-se em inimigo, fazendo com que milhares de soldados da coalizão fossem enviados para lutar e derrotar as forças armadas do Iraque - forças essas que, há pouco tempo, os próprios políticos dos países da coalizão haviam ajudado a sustentar. (FINLAN, 2005).

Como ressaltam Freedman e Karsh (1994, p.214.) “O petróleo foi obviamente um fator extremamente relevante na crise. Se não fosse o petróleo, o Kuwait não teria sido invadido, nem os americanos se moveriam com tanta determinação”. Assim comenta Figueiredo (2012), com essa anexação, o Iraque passaria a representar 20% das reservas mundiais de petróleo, o que não seria permitido pelos EUA, que, aliados a 134 países, colocam o Iraque a pão e água pelo período de dez anos através das sanções prescritas pelo Conselho de Segurança da ONU.

Além disso, havia outro motivo para o empenho norte-americano em auxiliar o Kuwait. Em 21 de setembro, o presidente George Bush recebeu material de inteligência demonstrando o quanto o Iraque estava destruindo o Kuwait. Então, decide, junto com seus conselheiros e o Emir do Kuwait - que foi quem descreveu os assassinatos, a emigração forçada, as torturas e as mortes - que intercederiam nesse conflito. (FREEDMAN & KARSH, 1994)

A Operação Tempestade no Deserto, que teve o custo de US$ 45 bilhões aos países aliados, saiu vencedora do conflito, quando foi anunciado o cessar-fogo em 27 de fevereiro de 1991, embora muitos membros do governo americano esperassem que essa ofensiva perdurasse até a derrubada do líder iraquiano do poder. Isso não aconteceu, mas houve severas sanções econômicas impostas pela ONU ao Iraque por danos causados ao país vizinho.

As sanções econômicas ao Iraque, no entanto, foram continuadas pela ONU apesar de seu pesado fardo sobre a economia iraquiana e população. As sanções criadas em 1990 proibiram os estados-membros da ONU de importação de mercadorias e venda de produtos ao Iraque. [...] (MILLER, 2003, p.25).

Após o término da invasão malsucedida pelos iraquianos, no mesmo ano, vistorias foram realizadas pelos inspetores de armas da ONU no país iraquiano, condição prescrita pela comunidade internacional para pôr fim às sanções econômicas. A Comissão Especial das Nações Unidas (UNSCOM) foi, então, criada pela Resolução 687 do Conselho de Segurança da ONU para supervisionar essa operação.

Resolução 687 – foi decidido pelo Conselho de Segurança, em 03 de abril de 1991, que o Iraque deveria eliminar as supostas armas de destruição em massa e limitar em 150 quilômetros o alcance de seus mísseis balísticos. Para fins de monitoramento, foi criada uma comissão Especial das Nações Unidas, a UNSOM (substituída em 1999 pela Comissão de Controle, Verificação e Inspeção das Nações Unidas, UNMOVIC). (BRASIL, 2002).

Ou seja, era parte do acordo de cessar-fogo permanente o cumprimento de todos esses requisitos, caso contrário, seriam mantidas as sanções econômicas até que Bagdá cumprisse completamente a resolução 687, o que não aconteceu, pois a capital do Iraque continuou a enganar, obstruir e ameaçar inspetores internacionais até o final de 1998, quando os inspetores (tanto da UNSCOM como da AIEA) decidiram deixar o país, considerando o trabalho incompleto.

A investigação ficou comprometida não apenas pelos impedimentos do governo iraquiano como também pelos principais países do Conselho de Segurança, que começaram a diminuir o apoio às inspeções: os confrontos prolongados entre inspetores de armas e autoridades do país e os custos econômicos pela renúncia às exportações e importações, somados aos acordos de energia que havia com aquele país, dificultaram a disposição da China, França, Rússia e alguns outros países em manter sanções e o regime de inspeções contra o Iraque.

O fato é que ainda havia resquícios de armas e tecnologia proibidas pela ONU naquele país, daí a constante interferência do Iraque nas várias inspeções, acusando, inclusive, os EUA de espionagem. E foi quando o governo norte- americano, à época, Bill Clinton, autorizou um bombardeio aéreo, durante quatro dias, contra quatro bases militares no sul do Iraque. Por coincidência, essa autorização ocorreu na véspera da data marcada para a votação (que foi adiada) do

impeachment de Clinton pela Câmara dos Representantes (deputados) (HISTORY, 2009).

A ação militar, que ficou conhecida como Operação Raposa do Deserto, tinha como intuito fragilizar ainda mais o país iraquiano, que saiu enfraquecido militar e economicamente, porém, fortaleceu-se moralmente, já que se posicionou na condição de vítima frente à comunidade internacional.

4 O 11 DE SETEMBRO E SUAS CONSEQUÊNCIAS BÉLICAS

Neste capítulo será feita uma abordagem sobre os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, que, de maneira direta e/ou indireta, estão relacionados a uma sucessão de acontecimentos e ações executadas pelos EUA, os quais culminam no ataque ao Afeganistão e, sequencialmente, na segunda guerra do Iraque, conflito principal, tema desta pesquisa.

Figura 3 - A torre sul do World Trade Center entra em colapso

Fonte: (NILSSON, 2001)

O trágico acontecimento ocorrido em 11 de setembro de 2001 ficou marcado como o maior ataque terrorista da história, quando dois aviões atingiram o World Trade Center, em Nova York, um terceiro, o Pentágono, e um quarto, a Pensilvânia. Esse conjunto de ações foi reivindicado pelo grupo terrorista Al-Qaeda, comandado pelo saudita Osama Bin Laden como resposta, não a um episódio isolado, mas a uma série de justificativas das atuações e interferências políticas dos EUA no Oriente Médio, especialmente nos países economicamente vulneráveis.

O poderio incontestado dos Estados Unidos depois da Guerra Fria tornou arraigado o sentimento de invulnerabilidade do país à violência que cresce e se desenvolve em outras regiões. Tanto maior foi, nesse contexto, o impacto do 11 de setembro sobre a psique americana, ao representar, na

"descoberta" da vulnerabilidade, um choque nunca antes experimentado e a sensação de que o país nunca mais seria o mesmo. A rapidez e a dimensão da resposta aos ataques, considerados desde o início como "atos de guerra", dão a dimensão exata da comoção por eles provocada. (BARBOSA, p.76).

Sem dúvida, os atentados de 11 de setembro à maior potência mundial registram um novo tipo de demonstração de força, que transcende o poder econômico; é a força fundamentada na religião, que aterroriza quem desconhece seus preceitos. Um novo cenário histórico foi criado, e o perigo iminente pousa no território americano. O saldo de quase 3.000 americanos mortos, transformaram George W. Bush em presidente de guerra, a ponto de seu pai, George Bush, 41º presidente, declarar que seu filho "enfrentou o maior desafio de qualquer presidente desde Abraham Lincoln". (FREIDEL, SIDEY, 2006).

Em estado de alerta, o presidente George W. Bush, mostra, então, ao país, o que ficou popularizado como Doutrina Bush, a Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Este documento expõe as táticas político-militares que passariam a ser implementadas com um único propósito: a defesa nacional diante de qualquer ameaça ao povo norte-americano. Consolida-se aí o unilateralismo como condutor da nova política externa americana, que não absorve e/ou não reconhece os tratados da comunidade internacional.

[...] os EUA, que elevaram o terrorismo à mais alta prioridade em sua política externa, vão influenciar, no futuro previsível, os esforços internacionais em prol da coordenação em matéria de segurança, na medida em que vão continuar pressionando os demais estados e as Nações Unidas a atuar decisivamente contra os grupos terroristas e os estados que os abrigam. (BARBOSA, p.82)

Conforme esclarece Costa e Silva (2004), esses terríveis ataques terroristas acabaram por enfatizar, de forma ampla, as tendências já conhecidas da política externa americana, numa mistura de fundamentalismo religioso, patriotismo, economia e política de segurança nacional. Retomou-se o estilo belicoso da Guerra Fria, apenas substituindo o comunismo da URSS pelo terrorismo islâmico. Essa predisposição para ações preventivas expõe a despreocupação dos EUA com os fóruns internacionais e suas regras de Direito Internacional.

Como destacam Kaplan e Kristol (2003, p.9): “A estratégia de segurança nacional visa a minimizar a distância entre ideais e interesses, entre moralidade e

poder. Reúne em um só lugar todas as principais vertentes de um internacionalismo distintamente americano.” Instaurou-se, então, a guerra contra o terrorismo, e o Afeganistão, que estava visivelmente envolvido com o grupo Al-Qaeda seria o alvo a ser atingido. Depois, num segundo momento, viria o Iraque, pois, segundo o presidente estadunidense, precisavam desmantelar o arsenal de armas químicas que estavam sendo fabricadas no país para serem fornecidas aos grupos terroristas, inimigos dos EUA.

Essa data foi a responsável por definir o mandato de um presidente, que ficou conhecido como um "Presidente em tempo de guerra", trazendo para si a incumbência de impedir, sob qualquer circunstância, um outro atentado dessa magnitude. Essa responsabilidade, aliás, foi mantida até o encerramento do seu segundo mandato, sete anos mais tarde, cujos desdobramentos se mantêm até hoje.

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