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As violações jurídicas internacionais cometidas na Segunda Guerra do Iraque

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA RODRIGO PENTEADO NADOLNY

AS VIOLAÇÕES JURÍDICAS INTERNACIONAIS COMETIDAS NA SEGUNDA GUERRA DO IRAQUE

Florianópolis 2019

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AS VIOLAÇÕES JURÍDICAS INTERNACIONAIS COMETIDAS NA SEGUNDA GUERRA DO IRAQUE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Rafael de Miranda Santos, Dr.

Florianópolis 2019

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conheça na história, no presente ou no futuro que se possa prever, foi justa”. Thomas Morus

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dedicadas à sua confecção, mas também pelo apoio e através da experiência de pessoas que nele se envolveram, de uma forma ou de outra, no repasse de conhecimentos, ou afetivamente, tornando a complexidade e a rotina do projeto mais branda e factível.

Sendo assim, agradeço ao meu orientador, prof. Rafael de Miranda Santos, pelo tempo empenhado entre explicações, dicas, questionamentos, audições e conselhos de leituras para tornar mais viável, não apenas o conteúdo do tema proposto como a fluidez da linguagem necessária a um trabalho dessa relevância.

Agradeço aos meus pais pelo apoio incondicional, em tudo o que precisei, por tudo que me foi oferecido, tanto em relação à logística diária como a percepção que tiveram para ouvir, debater e celebrar o avanço de cada parágrafo, de cada capítulo, participando do caminho percorrido até o fechamento deste projeto.

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do uso da força nas relações internacionais, considerando-se a permanência da paz e da segurança entre os povos. É encargo da Organização das Nações Unidas intermediar os conflitos entre os Estados, buscando assentá-los de maneira pacífica e satisfatória. A presente pesquisa analisará desde a origem do primeiro conflito no Golfo Pérsico, perpassando os detalhes relevantes que resultaram no segundo conflito, com intervenção militar da coalizão estadunidense no país iraquiano até chegar às violações cometidas por ambos os beligerantes, durante e após a invasão, a qual apresentou várias fases. Assim sendo, houve uma breve contextualização histórica sobre o país invadido, pontuando as ações estratégicas do seu ditador, que reverteram em consequências político-econômicas internacionais. O 11 de setembro será incorporado ao tema por representar o fato que culminou, diretamente, na decisão do governo norte-americano pelo confronto armado, ainda que em desobediência ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e à resistência da comunidade internacional. Serão perpassadas também algumas considerações importantes para o entendimento do tema, que está exposto na ordem em que os fatos transcorreram. Para isso, foi realizada uma pesquisa teórica, amparada por bibliografia nacional e estrangeira, com reflexões pontuais, concernentes ao avanço de cada capítulo abordado.

Palavras-chave: Estados Unidos. Iraque. Violações jurídicas. Intervenção. Golfo Pérsico.

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the use of force in international relations, considering the permanence of peace and security among peoples. It is the responsibility of the

United Nations to broker conflicts between states, seeking to settle them peacefully and on a satisfactory manner. This research will analyze from the origin of the first conflict in the Persian Gulf, going through the relevant details that resulted in the second conflict, with military intervention of the US coalition in the Iraqi country until reaching the violations committed by both belligerents, during and after the invasion, the which presented several phases. Thus, there was a brief historical contextualization of the invaded country, punctuating the dictator's strategic actions, which reverted to international political and economic consequences. September 11th will be incorporated into the theme by representing the fact that culminated directly in the US government's decision to confront armed forces, albeit in disobedience to the United Nations Security Council and resistance from the international community. Some important considerations for the understanding of the theme, which is exposed in the order in which the facts occurred, will also be addressed. For this, a theoretical research was carried out, supported by national and foreign bibliography, with specific reflections, concerning the progress of each chapter approached.

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Figura 1- Apresentação de Colin Powell ao Conselho de Segurança...24

Figura 2 - Composição Étnica do Iraque...28

Figura 3 - A torre sul do World Trade Center entra em colapso...36

Figura 4 - Um B-52 joga uma grande quantidade de bombas no Afeganistão...44

Figura 5- Mapa Estratégico da Segunda Guerra do Golfo...49

Figura 6 - Queda da estátua de Saddan Hussein...50

Figura 7- Mapa da Operação Red Down...52

Figura 8- Vítimas civis na Segunda Guerra do Golfo...65

Figura 9- Sargento Charles Graner posa com o corpo de um iraquiano...68

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ACNUDH – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos BBC - Corporação Britânica de Radiodifusão

CIA – Central de Inteligência Americana

CICV – Comitê Internacional da Cruz Vermelha DIH – Direito Internacional Humanitário

EUA - Estados Unidos da América

IAEA – Agência Internacional de Energia Atômica, do inglês, International Atomic Energy Agency

IBC - Iraq Body Count

MNF – Força Multinacional, do inglês, Multi-National Force OMC - Organização Mundial do Comércio

ONG - Organização Não Governamental ONU - Organização das Nações Unidas

OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte

TNP – Tratado de não proliferação nuclear

UNSCOM – Comissão Especial das Nações Unidas, do inglês United Nations Special Comission

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1 INTRODUÇÃO...11

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E PROBLEMA...11

1.2 OBJETIVOS...15 1.2.1 Objetivo Geral...15 1.2.2 Objetivos Específicos...15 1.3 JUSTIFICATIVA...16 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...17 1.4.1 Quanto à aplicabilidade...17

1.4.2 Quanto aos objetivos...17

1.4.3 Quanto à abordagem...17

1.4.4 Quanto aos procedimentos...17

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...19

2.1 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) E A CARTA...19

2.2 O CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS...21

2.3 O RELATÓRIO COLIN POWELL E A RESOLUÇÃO 1441...22

2.4 OS RELATÓRIOS DO COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA...25

3 O IRAQUE, O DITADOR E AS GUERRAS...28

3.1 A PRIMEIRA GUERRA DO GOLFO...31

4 O 11 DE SETEMBRO E SUAS CONSEQUÊNCIAS BÉLICAS...36

4.1 A DOUTRINA BUSH...38

4.2 A GUERRA CONTRA O AFEGANISTÃO...43

4.3 OS FUNDAMENTOS DA JIHAD PARA A GUERRA...45

4.4 A SEGUNDA GUERRA DO GOLFO...46

4.5 O RELATÓRIO CHILCOT...53

5 VIOLAÇÕES DE GUERRA E A GUERRA DAS VIOLAÇÕES...56

5.1 O IRAQ BODY COUNT...63

5.2 O ESCÂNDALO DE ABU GHRAIB...65

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...70

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1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho, o propósito é analisar as violações jurídicas internacionais cometidas pelos EUA (país invasor) e pelo Iraque (país invadido) na Segunda Guerra do Golfo (2003), avaliando, no contexto, o desempenho da Organização das Nações Unidas (e do Conselho de Segurança com suas resoluções) frente aos acontecimentos, bem como, a atuação da comunidade internacional sobre a realização do conflito não autorizado. Para essa explanação, serão considerados: um panorama histórico do país iraquiano no que tange às guerras anteriores à de 2003, às resoluções do Conselho de Segurança da ONU sobre o evento bélico, à análise de documentos que vieram a público antes e após o conflito e o detalhamento das arbitrariedades que, de um lado, intitulou-se Operação Liberdade do Iraque, com pretensa justificativa de fazer florescer a democracia num Novo Oriente Médio (com moldes ocidentais), e, do outro, Guerra Santa, que tinha como alicerce uma fina camada de fundamentalismo religioso, inviolável, a Jihad.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E PROBLEMA

A região do Golfo Pérsico sempre foi uma área de conflito por abrigar uma imensa quantidade de petróleo, o que é vital para as economias modernas, tendo como consequência muita instabilidade e insegurança político-administrativa nesses países. Aponte-se, a título de registro, os oito anos de guerra entra Irã e Iraque, a guerra do Golfo (1991), a qual obteve um longo tempo de sanções impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (de 6 de agosto de 1990 a 22 de maio de 2003), até chegar à Segunda Guerra do Iraque,, tema do presente trabalho. (CORREIA, 2008).

Neste contexto, procurar-se-á analisar desde os motivos que levaram os EUA a protagonizar uma intervenção militar no país iraquiano, observando-se as reais pretensões do país invasor (e se essas foram alcançadas), o tipo de estratégias que ambos os países utilizaram durante o conflito e quais podem ser consideradas violações, que ferem as leis dos Direitos Humanos em situação de guerra.

O fato é que, após os atentados de 11 de setembro de 2001, o mundo tomou outra dimensão frente à iminência de perigo terrorista, o que fez com que os Estados

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Unidos, a maior potência mundial, tivesse um posicionamento pró-ativo, ostensivo, dominante diante de tal acontecimento em seu país. Iniciou, então, uma campanha de afirmação sobre o seu papel em relação ao mundo. As batalhas iniciaram logo após os atentados e foram tomando proporções maiores do que o esperado. Era preciso mostrar força e poder, especialmente a quem demonstrasse algum tipo de ameaça.

Após algumas batalhas diplomáticas e um considerável empenho da comunidade internacional na tentativa de impedir o iminente conflito, e sem a autorização da ONU, no dia 20 de março de 2003, o Presidente norte-americano George W. Bush e coalizão ocidental lançaram uma ofensiva militar contra o Iraque. O propósito era, além da derrubada do governo baathista1, retirar as prováveis armas de destruição em massa do país do Oriente Médio, que representava perigo à segurança e à paz mundial, desmantelando, também, a suposta ligação entre o Regime de Saddam Hussein e a organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda.

Uma análise criteriosa acerca das infrações e brutalidades exercidas nessa guerra (ainda que tenha levado apenas 21 dias para Bagdá sucumbir aos americanos), mostra-nos que as convenções internacionais relativas aos direitos humanos saíram, segundo opinião mundial, no mínimo, questionadas, evidenciando ao mundo, muito mais o poder e a hegemonia do país agressor do que a resistência da tirania oprimida.

Por outro lado, há críticos que neguem o enfraquecimento da ONU, pois esta não detém o poder para autorizar ou impedir um feito dessa grandeza. A questão foi a importância que os países e a opinião pública mundial deram à desobediência dos EUA frente a esse órgão. Se tivessem conseguido a aprovação do Conselho de Segurança, seria uma guerra juridicamente legítima, o que aí, sim, mancharia a honra do organismo maior dos Direitos Humanos, podendo ser responsabilizado pelas atrocidades cometidas no conflito e pelo número de inocentes mortos.

A intervenção estadunidense ao Iraque, além de criticada pelos aliados (como França e Alemanha), não obteve apoio desses líderes da OTAN2, que avaliaram 1 Baathista: Ideologia que funde os pensamentos do socialismo, nacionalismo e pan-arabismo (este último foi um movimento para a unificação entre as populações e nações árabes do Oriente Médio). Contrasta de outras ideologias árabes, que são inclinadas ao fundamentalismo islâmico e à teocracia. Favoráveis à intervenção do Estado na economia e no bem-estar da população. Eram inimigos do liberalismo pro-Ocidente e dos grupos religiosos Hezbollah e Al Qaeda.

2 OTAN: a Organização do Tratado do Atlântico Norte é um acordo político-militar, intergovernamental, reunindo países ocidentais e capitalistas, liderados pelos Estados Unidos. Está

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como insuficientes as provas para justificar o ataque militar, até porque, não aceitariam nenhum tipo de condição imposta pelos EUA para participar desse conflito. As coligações, era visto, ficariam restritas às ordens e determinações do país invasor, que não estava disposto a coletivizar as ações já que se considerava a única vítima.

Essa invasão foi, sem dúvida, uma violação ao Direito Internacional, uma vez que, observadas pela Organização das Nações Unidas as supostas transgressões daquele país frente ao resto do mundo, deveriam ser priorizadas a diplomacia e as inspeções dessa instituição no local, obedecendo, assim, à resolução 1441, do Conselho de Segurança, que prometia “sérias consequências” ao Iraque, caso não permitisse a averiguação de especialistas sobre a existência (ou não) de armas químicas, biológicas e nucleares.

Consta no Artigo 2, inciso 4, da Carta das Nações Unidas:

Todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1945).

No entanto, o uso da força será admitido em três situações: a) autodefesa; b) autorização do Conselho de Segurança; c) intervenção humanitária. Como o Iraque não se enquadrava, até o momento, em nenhuma das conjunturas, (daí não ter havido o consentimento do Conselho de Segurança da ONU para a intervenção), pode-se considerar ilegal e ilegítima a atitude dos Estados Unidos ao comandar a ofensiva armada no território iraquiano. Diferente, então, da primeira Guerra do Golfo (1991) em que coalizão e Conselho estavam alinhados num único objetivo, dessa vez, os adversários do país iraquiano tomaram rumo oposto ao Conselho de Segurança, que, uma vez à margem do processo na tomada de decisões, tornou nítida a percepção de um desequilíbrio entre a sua própria estrutura e as funções globais que lhes são destinadas, numa demonstração clara de suas limitações em responder aos desafios do mundo atual. (BRASIL, 2005).

Em se tratando de Direitos Humanos é preciso ter a compreensão da realidade vivida no Iraque antes da intervenção dos Estados Unidos, considerando comprometida com a resolução pacífica de disputas. Se os esforços falharem, tem o poder militar para a realização de operações de gerenciamento de crises. https://www.nato.int/nato-welcome/index.html

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que violações de toda ordem foram cometidas pelo ditador Saddam Hussein em outras situações adversas de guerra. A população era impedida de se manifestar contra o governo baathista, sob pena de tortura, castigo ou execução. E, embora essa tenha sido uma das razões para a interferência do governo norte-americano no país do Oriente Médio, as ações praticadas na Operação Liberdade Iraquiana não só desrespeitaram a soberania do povo, como foram considerados crimes de guerra, que agravaram a violência, o sofrimento e o medo naquele país.

As ordens dadas pelos líderes de ambos os países durante a guerra são consideradas crimes que violam as leis internacionais. A Convenção de Genebra 3 foi desrespeitada no tocante à tortura, à captura de inimigos, ao bombardeio de prédios com civis dentro.

Baseando-se nessa explanação, percebe-se que o fundamento dos ocupantes (EUA) era de que a democracia, assim como os direitos humanos só seriam garantidos por meio da intervenção militar, e que, uma vez detentores da vitória, tudo poderia ser modificado hasteando-se a bandeira “democrática” das próprias convicções políticas, culturais e jurídicas, num modo ocidental de ser, agir e pensar, concebendo, por conseguinte, um cenário hegemônico e unilateral. Segundo os autores Lawrence F. Kaplan e Willian Kristol (2003, p.8).

Assim, o presidente não fala em meramente conter ou desarmar o Iraque, como seus antecessores fizeram. Em vez disso, ele fala de libertar o Iraque, e criar a democracia em uma terra que, por décadas só conheceu a ditadura. Em suma, o presidente Bush fala de envolver o Iraque de acordo com os princípios americanos.

Ainda que tenha havido uma vitória rápida por parte do país ocupante, não houve vencedor de fato, sequer uma cláusula que justificasse comemoração. As ações utilizadas durante a invasão dos EUA e coalizão ao Iraque, seguidas de violações jurídicas internacionais praticadas (por ambos os países), acarretaram em efeitos dramáticos e longevos para o país derrotado.

Em se tratando de Relações Internacionais e Direito Internacional Público, essa operação militar trouxe reveses negativos para o mundo, já que, não apenas expôs um certo temor coletivo em relação à segurança e à paz nacional, mas 3 Convenção de Genebra: criada em 1949 e assinada por quase 200 países, dentre eles Estados Unidos, Grã-Bretanha e Iraque, é um conjunto de quatro convenções onde estão descritas as regras internacionais de guerra, proibindo e/ou restringindo o uso de algumas armas, argumentando sobre a importância de se separar civis de militares e a não utilização de hospitais como bases militares.

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também acabou evidenciando uma certa inoperância na administração de conflitos por parte da Organização das Nações Unidas diante do seu papel, que é de infligir, determinar, expor de maneira incisiva e contumaz as suas disposições jurídicas frente à guerra a todos os seus países-membros. Mesmo sendo difícil precisar quantas violações de direitos humanos são cometidas numa guerra, o conflito entre Iraque e a coalizão liderada pelos Estados Unidos, em 2003, transgrediu, especialmente, o direito à vida e à integridade física e psíquica dos envolvidos, especialmente os do território invadido, que se viram sem poder de reação diante da supremacia dos invasores. Considerou-se muito mais a causa do que as (visíveis) consequências dessa ação.

Diante dessa exposição, este trabalho pretende responder à seguinte questão: quais foram as violações jurídicas internacionais cometidas pelo

Iraque e pelos Estados Unidos na Segunda Guerra do Golfo?

1.2 OBJETIVOS

Após a exposição do tema e da problematização, serão explanados os objetivos gerais e específicos, evidenciando, assim, o propósito deste trabalho.

1.2.1 Objetivo Geral

Evidenciar quais foram as violações jurídicas internacionais cometidas pelo país invasor (Estados Unidos) e pelo país invadido (Iraque) na Segunda Guerra do Golfo, intitulada como Operação Liberdade Iraquiana.

1.2.2 Objetivos Específicos

A fim de esclarecer e pontuar o objetivo geral, foram elencados os seguintes objetivos específicos:

a) Debater o segundo conflito no Iraque relacionado à emergência da Doutrina Bush;

b) Analisar os motivos da intervenção norte-americana e da coalizão no Iraque, anunciados e velados;

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c) Elencar as violações cometidas pelos países em conflito (durante e após a guerra), de acordo com o que consta nos documentos internacionais que se referem aos Direitos Humanos.

1.3 JUSTIFICATIVA

Ao analisar o vocábulo “violação”, que vem do latim violare, dentre várias semânticas possíveis, significa ‘ocupar um espaço sem permissão, utilizando para isso, a força. Quando se fala em guerra, independentemente do tempo e do espaço, da causa e da duração, muitas violações podem ser cometidas por qualquer um dos mentores envolvidos na ação a fim de justificar o levante ou apenas obter a vitória.

Há vários casos em que os argumentos apregoados são de ajuda humanitária ao povo combatido, o que acaba por representar uma contradição entre teoria e prática. Iraque e Estados Unidos, antigos aliados, como na Guerra entre Irã – Iraque, e, mais tarde, inimigos na Guerra Iraque – Kuwait, compuseram uma narrativa sangrenta, com um número alarmante de perdas civis iraquianas e um enredo de desfecho controverso aos olhos da comunidade internacional.

O que se pretende justificar nesta pesquisa é que os fins não justificam os meios, ou seja, as violações cometidas pelo ditador Saddam Hussein não legitimam as violações praticadas pelos exércitos norte-americano e de coalizão. A decisão de intervir militarmente no território iraquiano em desobediência ao Conselho de Segurança da ONU veio de encontro à relevância do propósito inicial, que era de descobrir se havia, verdadeiramente, no país, um arsenal de armas químicas, que representavam perigosa ameaça à segurança internacional. A legalidade da ação, pois, já foi rompida no início da operação.

A importância deste trabalho acadêmico é de contribuir para uma análise mais apurada acerca dos acontecimentos arbitrários na Segunda Guerra do Iraque, os quais tiveram como protagonistas duas forças carregadas de intenções e propósitos próprios, desprendidos das possíveis, mas reais consequências que esmaeceram brutalmente um povo - o Iraque.

Para o momento atual, a presente pesquisa se faz relevante a título de aprofundamento ao episódio (em pleno século XXI), com protagonistas que apresentaram diligência e concepção (de guerra) arcaicas, fundidas às mais

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modernas tecnologias de conflitos armados. Preocuparam-se com as causas e não com os efeitos. Muitos estudos e debates ainda seguirão em torno desse evento, seja na área de Relações Internacionais, em meios acadêmicos que tratem de questões históricas, de Direito e à sociedade global, que tem intensificado seu interesse sobre as ações presentes das grandes nações, que podem acarretar em inferências nada louváveis no presente e no futuro.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1.4.1 Quanto à aplicabilidade

A presente pesquisa é básica, pois tem como propósito gerar conhecimento a fim de aprimorar o tema em questão.

1.4.2 Quanto aos objetivos

Quanto aos objetivos, a pesquisa é de caráter explicativo, já que serão analisadas as violações jurídicas internacionais cometidas pelos países envolvidos na Segunda Guerra do Iraque.

1.4.3 Quanto à abordagem

Como esclarece Creswell (2014, p.126): “Uma característica de toda boa pesquisa qualitativa é o relato de múltiplas perspectivas que variam ao longo de todo um espectro de perspectivas”. Portanto, nesta pesquisa, de ordem qualitativa, serão feitos o levantamento e a coleta de dados narrativos sobre as violações jurídicas internacionais cometidas pelos Estados Unidos e pelo Iraque, na segunda Guerra do Golfo. Buscará, através da incorporação de leituras e análise de documentos que tratam de questões bélicas, direitos humanos, histórico, político, econômico e social dos países envolvidos na guerra, compreender e analisar determinados comportamentos e percepções que levaram ambos os países a esse conflito, observando as particularidades de cada um.

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1.4.4 Quanto aos procedimentos

Os procedimentos adotados nesta pesquisa serão de ordem bibliográfica e documental, encontrados em artigos científicos, livros, endereços eletrônicos, dicionários específicos, além de documentos específicos sobre o tema como relatórios, artigos, atas, resoluções e leis que contribuirão para algumas análises específicas sobre o caso abordado.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica, seção eminente do trabalho, segundo Giordani (2013), é a análise propriamente dita dos resultados obtidos com a pesquisa. Constam aqui as interpretações das leituras de documentos, leis, artigos, relatórios e considerações de autores que embasaram seus argumentos de acordo com o transcorrer dos fatos e não com suas perspectivas pessoais.

Nesta pesquisa, a fundamentação teórica está baseada na Carta das Nações Unidas (1945), nas Resoluções do Conselho de Segurança (1990 a 2011), no Relatório de Colin Powell - secretário de Segurança dos Estados Unidos (2003), nos relatórios do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e em várias obras essenciais para a contextualização histórica do presente trabalho, os quais servirão de alicerce para consolidar um exame minucioso a respeito das violações cometidas na segunda guerra do Golfo (e sua extensão) por ambos os países envolvidos. Esses fundamentos, portanto, serão os responsáveis para dar credibilidade, detalhamento, competência e solidez ao texto da presente monografia.

2.1 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) E A CARTA

É atribuição da Carta da ONU a manutenção da paz e da segurança internacional. Ela é a depositária legítima para esse fim. Segundo as Nações Unidas, em seu Capítulo I, artigo 1, inciso 2, deve haver “relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos”. Assim sendo, não se admite, quer seja algum Estado, quer seja alguma Entidade Regional, que estes recorram à força sem que as suas ações passem pelo escopo do Conselho de Segurança.

A ONU, graças a sua vocação universalista e representatividade em escala planetária, é talvez a instituição que mais tem avançado – apesar dos não raros reveses – a gestão pública internacional em campos como os direitos humanos e o meio ambiente. Daí provém parte substancial da autoridade adquirida no pós-Guerra Fria, em tempo de globalização da economia e da política internacionais. (LOPES, 2007, p. 63).

Sobre a decisão do governo norte-americano de invadir o Iraque – quer tenha sido em nome da democracia e da liberdade ou por resposta aos ataques de 11 de

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setembro de 2001, mesmo apoiado por alguns países que se fizeram presentes e concordes na investida bélica, o que ficou registrado na história foi a não autorização das Nações Unidas e a desaprovação da maioria da opinião pública internacional para esse ataque. No artigo 24, inciso 1, aponta a Carta:

A fim de assegurar pronta e eficaz ação por parte das Nações Unidas, seus Membros conferem ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção da paz e da segurança internacionais e concordam em que, no cumprimento dos deveres impostos por essa responsabilidade, o Conselho de Segurança aja em nome deles. (CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS, 1945).

Tendo em mãos todos os recursos materiais e jurídicos providos de seus Estados-membros e amparada pelo Direito Internacional, a ONU é o instrumento mais legítimo para a tomada de decisões e ações internacionais, dispondo, em seu Conselho de Segurança, das melhores políticas e resoluções frente a conflitos de qualquer ordem. O Artigo 514 da Carta das Nações Unidas concederá, no entanto, o uso da força nas relações internacionais diante de um ataque armado contra um membro das Nações Unidas, em nome da legítima defesa individual ou coletiva.

Essa permissão tem caráter excepcional e provisório, pois o estado que dela se valha, deve, imediatamente, comunicá-la ao Conselho de Segurança, submetendo-se às recomendações desse Comitê, não podendo recusar-se a comandar as ações que o Conselho julgar necessárias para a manutenção da paz.

Os Estados Unidos, embora tenham levado a questão do episódio da Guerra do Iraque ao Conselho de Segurança, buscando sua autorização e legitimidade para agir, acabaram por sobrepor seus interesses nacionais acima do organismo maior, uma vez que sua vontade individual não fora concedida.

E foi após os atentados de 11 de setembro de 2001 que o Conselho de Segurança aprovou a Resolução 13685, outorgando, na visão extensiva norte-4 Artigo 51: “Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa individual ou coletiva no caso de ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para a manutenção da paz e segurança internacionais. As medidas tomadas pelos membros no exercício desse direito de legítima defesa serão comunicadas imediatamente ao Conselho de Segurança e não deverão atingir a autoridade e a responsabilidade que a presente Carta atribui ao Conselho para levar a efeito, em qualquer tempo, a ação que julgar necessária à manutenção ou ao restabelecimento da paz e da segurança internacionais”. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,1945).

5 Resolução 1368: Adotado em 12 de setembro de 2001, reafirma os propósitos da Carta das Nações Unidas no combate às ameaças à paz e segurança internacionais causadas por atos terroristas. Reconhece o direito inerente à autodefesa individual ou coletiva de acordo com a Carta. Disponível em: http://www.documentarchiv.de/in/2001/res_un-sicherheitsrat_1368.html

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americana, autorização para um revide armado aos ataques terroristas à sua nação, sob o suporte de legítima defesa, o que acabou gerando ações militares deste país contra diversos opositores, sob a mesma justificativa.

Ao ampliar o direito de legítima defesa em caráter preventivo, essa Resolução acaba por abrir uma brecha de âmbito (e consequências) internacional. Quem pode decidir que uma possível ameaça justifica a ação preventiva? Como se proteger de intervenções militares oportunistas justificadas em formato de legítima defesa? (BYERS, 2005).

O que se percebe, em análise, é que há uma grande dificuldade por parte das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança em definir, exatamente, em que situações se pode valer do uso da legítima defesa preventiva. Há casos de uso (e abuso) desse direito, especialmente vindos de Estados militarmente superiores (como os EUA), que acabam por vitimizar milhares de civis, amparados na hipótese de que poderão sofrer um ataque (mesmo não havendo evidência ou planejamento). Novos tempos, novas regras são necessárias para serem debatidas entre os Estados-membros dessa instituição, especialmente diante de novas ameaças mundiais, como o terrorismo, onde o inimigo não evidencia sua intenção.

2.2 O CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS

Apontado como o ambiente da geopolítica mundial contemporânea, o Conselho de Segurança da ONU, criado em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial, engloba uma sucessão de iniciativas impactantes nas mais diversas esferas da modernidade. Atua diretamente em deliberações soberanas e exclusivas, sobretudo em quesitos que se referem à segurança e à iminência de conflitos internacionais.

Composto por 15 membros, dentre os quais, Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido são permanentes, o Conselho de Segurança é o mais importante dos órgãos da ONU. Os membros não permanentes devem participar por dois anos, através de assembleia-geral, atendendo a um critério de repartição geográfica, como acordado em 1963. São assim distribuídos: cinco afro-asiáticos; dois da América Latina; um do leste-europeu; dois da Europa Ocidental e outros Estados.

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O Conselho de Segurança tem atribuição notória, podendo autorizar uma intervenção militar a fim de assegurar que suas resoluções sejam executadas. Para isso, recomenda que os países resolvam suas questões através do diálogo, evitando a agressão. Na inevitabilidade dessa ação por parte de algum país, é seu encargo decidir quais ações militares devem ser feitas contra os agressores.

Faz-se clara essa explanação no artigo 2º, §7 da Carta:

Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os membros a submeterem tais assuntos a uma solução”; este princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do Capítulo VII. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1945).

Porém, é no capítulo 7 que há um tratamento específico sobre o Conselho de Segurança e suas ações frente a ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de agressão. Nele, há o comprometimento da instituição em convidar as partes interessadas a aceitarem as medidas provisórias que lhe pareçam necessárias ou aconselháveis, sem envolver o emprego de forças armadas. Apenas em caso de tais medidas parecerem inadequadas, poderá, a instituição, valer-se de outras operações, por parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos membros das Nações Unidas, traçando planos para a aplicabilidade dessas forças.

Uma Comissão de Estado-Maior poderá ser estabelecida a fim de auxiliar o Conselho de Segurança no que se refere às prerrogativas militares do mesmo Conselho, para a estabilidade da paz e da segurança internacionais e regulamentação de armamentos e/ou desarmamento.

Caso medidas preventivas ou coercitivas sejam tomadas contra um Estado pelo Conselho de Segurança, e algum Estado, sendo ou não membro das Nações Unidas sentir-se prejudicado economicamente por motivo da execução de tal medida, poderá consultar o Conselho de Segurança sobre o agravo.

2.3 O RELATÓRIO COLIN POWELL E A RESOLUÇÃO 1441

Em 5 de fevereiro de 2003, Colin Powell, o então secretário de Estado (dos EUA) realizou um discurso diante do Conselho de Segurança da ONU, a fim de convencer a opinião pública mundial sobre a inevitabilidade da guerra contra o

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Iraque. Considerou, segundo Breslow (2016), uma “mancha” em seu registro. Foram várias semanas de trabalho junto à ONU para se formalizar uma resolução que soasse como um ultimato já que, a princípio, a ideia era evitar a invasão militar, tanto por parte do presidente americano, como de Powell e de todos os conselheiros próximos ao então presidente George W. Bush.

Como relata Bresllow (2016), Colin Powell afirma que Saddam Hussein não lhes deu provas convincentes de que não possuía ou de que não estava desenvolvendo armas químicas. E, foi então que o presidente George W. Bush decidiu, ainda naquele ambiente pós 11 de setembro, exigir uma ação militar pelas insistentes violações do presidente iraquiano às resoluções da ONU.

Numa primeira análise, Powell mencionou que o Conselho de Segurança aprovara, por unanimidade, a resolução 1441. Era a última chance dada ao Iraque para se comprometer com a inspeção ou enfrentaria sérias consequências. Pode-se afirmar, indubitavelmente, que esta foi a principal Resolução emitida pelo Conselho de Segurança da ONU, ocorrida em 2002, gerando muito debate acerca de sua legalidade e da intervenção do Comitê no território iraquiano. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2002)

 Resolução 1441 – foi constatada através desta resolução a não cooperação do Iraque com os inspetores das Nações Unidas e da IAEA6, bem como, a não realização das ações exigidas nos parágrafos 8 a 13 da Resolução 687, de 1991. Assim, fica determinada nesta Resolução “uma última oportunidade de cumprir com suas obrigações de desarmamento segundo as resoluções relevantes do Conselho”. (RESOLUÇÃO 1441, 2002)

Após a explanação do secretário de Estado acerca do tema prioritário do discurso, que era a convicção da posse de armas químicas e biológicas de destruição em massa no território iraquiano, Colin Powell exibiu um frasco com uma “amostra” da suposta arma química iraquiana, comprovando, assim, que não podia haver dúvida de que Saddam Hussein tinha tais armas e a capacidade de produzir mais. A ideia, conforme declarado, era a criação do próprio arsenal nuclear.

6 IAEA: é o centro mundial de cooperação no campo nuclear e busca promover o uso seguro, protegido e pacífico das tecnologias nucleares. Nas Nações Unidas, é o centro internacional de cooperação no campo nuclear, trabalhando com seus Estados-Membros e parceiros para promover o uso seguro e protegido das tecnologias nucleares. https://www.iaea.org/

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O tom do discurso de Colin Powell – que ocorreu seis semanas antes do início da guerra - era acusativo e contundente, munido de ilustrações no Power Point, o chefe da diplomacia americana argumenta que o país iraquiano havia transformado uma frota de caminhões em laboratórios móveis (com armas químicas e biológicas), a fim de esquivar-se da inspeção dos agentes da ONU. Afirmações essas, posteriormente, consideradas falsas. (HEIN, 2018).

Figura 1- Apresentação de Colin Powell ao Conselho de Segurança

Fonte: (MADE FOR MINDS, 2018)

Outro argumento em destaque nesse discurso para justificar a intervenção norte-americana no Iraque foi o fato de se haver constatado que o presidente do país, Saddam Hussein, teria ligações com grupos terroristas. Segundo Powell, havia uma relação altamente secreta entre Saddam Hussein e a organização terrorista Al-Qaeda, do ativista islâmico Osama Bin Laden, e o presidente iraquiano poderia estar conspirando para lançar ataques terroristas contra os Estados Unidos.

Colin Powell explicou que o material que apresentaria vinha de fontes variadas: algumas dos Estados Unidos, outras de outros países. Havia interceptações de conversas telefônicas e fotos tiradas por satélites. E, por último, havia provas de pessoas que colocaram suas vidas em risco para mostrar ao mundo quem realmente era Saddam Hussein e do que era realmente capaz.

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Durante a explanação, Powell afirmou que o Iraque possuía um comitê de alto nível para monitorar os inspetores enviados, que inspecionavam o desarmamento. Disse que esse comitê, liderado pelo vice-presidente iraquiano Taha Yassin Ramadan, tinha o intuito de impedir os inspetores de fazerem o trabalho para o qual foram destinados.

O objetivo do Iraque, conforme explicita Powell, era dar a falsa impressão de que o processo de inspeção estava funcionando bem e se encarregaram de assegurar que nada fosse encontrado. Documentos, discos rígidos, e fotos de satélite haviam sido removidos.

O Secretário de Estado diz que Saddam Hussein e seu regime não estavam apenas tentando ocultar armamentos, eles também tentavam esconder pessoas. O Iraque não cumpriu sua obrigação de permitir acesso imediato, irrestrito, desimpedido e privado a todas as autoridades da ONU e a outras pessoas, como foi requerido na Resolução 1441.

Colin Powell, o importante secretário de Defesa dos EUA e articulador da guerra em iminência, foi uma das figuras de destaque desse ocorrido.

2.4 OS RELATÓRIOS DO COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, corporação humanitária, imparcial e desatrelada de instituições governamentais busca, num esforço mútuo e contínuo, auxiliar pessoas que se encontram em situação de conflitos armados, amparando-as física e psicologicamente. Com sede em Genebra, é responsável por salvaguardar o Direito Internacional Humanitário.

Essa organização mantém a liberdade para atuar frente a governos e/ou autoridades, buscando priorizar o atendimento a vítimas de guerras, que é o cerne de seu propósito humanitário. Dentre as principais atribuições que desenvolve pelo mundo, estão o provimento de alimentos, água, assistência médica a civis; a visita a prisioneiros de guerra, sejam civis ou militares, a busca por pessoas desaparecidas, a união de famílias que se perderam, intercedendo para que se reencontrem, reafirmar os valores do Direito Internacional Humanitário, manifestando-se diante de violações que firam o princípio deste conjunto de leis. (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 2017).

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O CICV, que atuou de maneira intensa na Segunda Guerra do Iraque – daí estar presente na fundamentação teórica da presente pesquisa - firma-se em sete princípios fundamentais (baseados na Convenções de Genebra) para o desenvolvimento do seu trabalho humanitário no mundo inteiro, ampliando-o, em caso de necessidade, como em situações de desastres naturais ou outras emergências. (COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA, 2017). São eles:

a) Humanidade: seja em ambiente nacional ou internacional, o princípio humanitário é, em qualquer circunstância, o auxílio às pessoas em ocorrências de vulnerabilidade, minimizando o sofrimento alheio, tanto em campo de batalha como em outro ambiente hostil.

b)

Imparcialidade: não importa nacionalidade, raça, credo, ideologia política ou nível social da vítima: o desígnio é salvar vidas, elencando as prioridades, agindo de forma inclusa.

c)

Neutralidade: o Movimento se abstém de tomar partido em situações hostis ou de controvérsias; é mister preservar a confiança de todos.

d)

Independência: o Movimento realiza suas atividades humanitárias de

acordo com as leis que regem os respectivos países, entretanto, conserva sua autonomia para que as ações possam ser realizadas segundo os princípios da Organização.

e) Voluntariado: a assistência prestada é de caráter espontâneo e desprendido de obrigação.

f) Unidade: só há uma sociedade da Cruz Vermelha em cada país, portanto, acessível a todas as pessoas daquele território nacional. g) Universalidade: o movimento entende que é universal o direito e o dever

de todas as sociedades se ajudarem mutuamente.

No que diz respeito ao trabalho desenvolvido pela Cruz Vermelha em território iraquiano, assim como a ONU, essa Organização humanitária sofreu um ataque terrorista durante a Segunda Guerra do Golfo. A explosão de um carro-bomba próximo ao escritório da corporação acabou matando 12 pessoas, fazendo com que os seus trabalhos fossem interrompidos por tempo indeterminado, e, consequentemente, foi aberto um questionamento sobre a capacidade das forças de ocupação em proteger e/ou garantir a segurança das organizações humanitárias no território do conflito.

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A Convenção de Genebra proíbe veementemente esse tipo de ação contra prestadores de assistência humanitária. Embora em um conflito não se possa prever o grau de violência a que se pode chegar, ferir os acordos internacionais em conflitos armados será considerado crime de guerra.

E, envolvido nesse clima bélico, não apenas o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, mas também a Anistia Internacional e a Human Rights Watch relataram os “crimes” cometidos durante o período de ocupação norte-americana (a partir de 2003) no Iraque, especialmente os que ocorreram na prisão de Abu Ghraib. Segundo as corporações, esses abusos também ocorreram em outros espaços para além do Iraque, como Afeganistão e Baía de Guantánamo (Cuba). A Cruz Vermelha, que é responsável por visitar prisioneiros (de ambos os lados) e verificar se o país que os capturou está agindo de acordo com as regras da Convenção de Genebra, esteve em Abu Ghraib e denunciou as violações de direitos humanos, como tortura, abuso sexual, sodomia, cárcere e até assassinatos. (BARREIROS, 2019).

Os alertas sobre os maus tratos já haviam sido feitos pelo CICV, em março de 2003, e pela Amnistia Internacional, em julho de 2003. Em outubro do ano passado, o CICV efectuou uma inspecção à Prisão Abu Ghraib, nos arredores de Bagdad, e aí testemunhou abusos sobre os prisioneiros (colocados nus em celas escuras e vazias, sendo que a alguns era dada roupa interior feminina). (CORREIO DA MANHÃ, 2004)

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha alertou Washington meses antes de saírem as fotografias de abusos sobre presos iraquianos em Abu Ghraib, o que confirma a seriedade, a responsabilidade e o empenho em se fazer seguir as regras determinadas pelos órgãos internacionais dos Direitos Humanos.

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3 O IRAQUE, O DITADOR E AS GUERRAS

Neste capítulo serão descritos os conflitos bélicos com os quais o Iraque esteve envolvido antes da Guerra de 2003, juntamente com as alegações expendidas pelo ditador iraquiano para justificar essas invasões. Para isso, torna-se necessário um rápido entendimento sobre a formação étnico-religiosa do povo iraquiano a fim de que se possa concluir, em momento subsequente, as razões dos eventos conflitantes entre essas etnias, formadoras da população.

Iraque é uma palavra originária do persa “eraq”, que significa “terras baixas”. Localizado no Oriente Médio, limita-se ao norte pela Turquia, ao leste pelo Irã, ao sul pelo Golfo Pérsico, Arábia Saudita, e Kwait a oeste por Jordânia e Síria. Sua capital é Bagdá, que fica exatamente no centro do país, às margens do Rio Tigre. Aproximadamente dois terços da população do Iraque são árabes, cerca de um quarto são curdos, e o restante é formado por pequenos grupos minoritários.

Figura 2 - Composição Étnica do Iraque

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Em se tratando do povo iraquiano, a diferença básica entre sunitas e xiitas é que, embora sejam vertentes muçulmanas, seguidoras do Islamismo, apresentam divergências no que diz respeito às suas práticas religiosas. Os árabes xiitas, maior parte da população, habita o Sul do Iraque, com uma pequena minoria na capital. Já os árabes sunitas, em menor volume, estão ao norte do país; representam a elite política e são uma versão mais ortodoxa da fé. Há ainda os curdos, população não árabe de influência religiosa sunita, concentrada nas terras altas pouco habitadas do Norte do país.

Após a chegada do regime Ba’th de Saddam Hussein ao poder, o novo líder tentou estender seu controle às áreas curdas por meio de ameaças, coerção, violência e, muitas vezes, a transferência interna forçada de um grande número de curdos. Houve, então, várias rebeliões, que acarretaram na morte de dezenas de milhares de curdos – civis e combatentes – o que também ocasionou na fuga de centenas de milhares de curdos para o Irã e a Turquia (países vizinhos). Esses ataques do governo incluíram o uso de armas químicas (como em Halabjah, em 1988) contra civis curdos. (BLAKE, 2019)

O Iraque nunca teve acesso à democracia. Após a dominação otomana por quatro séculos, passou a ser colônia do Reino Unido, e quando ficou independente, em 1932, vivenciou alguns golpes de Estado, até a chegada do partido Baath ao poder, em 1968.

Foi no fim dos anos 70 que o general sunita Saddam Hussein chegou ao poder. Em pouco tempo, ganhou notoriedade, pois foi a partir de sua gestão que o Iraque passou a desfrutar de um período estável e produtivo. As receitas vindas do petróleo, que representavam 9% das reservas mundiais, foram destinadas para uma reforma econômica e o lançamento de vários programas sociais, que incluíam a pavimentação de estradas, construção de hospitais, escolas e a expansão de indústrias de mineração, além de uma ampla reforma agrária, quando distribuiu terras do Estado para os camponeses. (KEEGAN, 2005).

O “presidente combatente”, como era conhecido, foi verdadeiramente autocrático. Seus primeiros anos foram marcados pela execução de centenas de oposicionistas. Se por um lado trouxera benefícios em vários setores do país, por outro, autorizou ações praticadas por sua força de segurança contra qualquer pessoa (inclusive mulheres e crianças) que se atrevesse a criticar ou ameaçar o seu

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regime totalitário. Listem-se nessas práticas: espancamentos, execuções e diferentes formas de tortura física e psicológica. (MILLER, 2003).

Enquanto ditador, seu governo controlou a mídia, o sistema judicial e as instituições, restringindo a liberdade de expressão, utilizando os meios de comunicação para propagar o partido Baath e o culto à sua própria imagem. (MILLER, 2003). Em suma, um autocrata vaidoso e implacável, que levou o país a aventuras militares desastrosas.

O governo do ditador iraquiano valeu-se de programas militares concentrados no armazenamento de armas químicas e biológicas, no desenvolvimento de um programa de armas nucleares e na criação de um sistema de mísseis, capaz de fornecer ogivas químicas, biológicas e nucleares a uma distância de 600 a 800 milhas (950 a 1.300 km). (BLAKE, 2019)

Um ano após a sua ascensão ao poder, invadiu o Irã por questões políticas e territoriais, ganhando o apoio dos EUA (até então, aliados do Irã), os quais não reconheciam a ditadura fundamentalista religiosa instaurada no país iraniano, contrária a qualquer vínculo com o Ocidente, especialmente os EUA, o que acarretou no rompimento das relações diplomáticas entre esses dois países.

Além dos EUA, outros países (muçulmanos e ocidentais) contribuíram financeiramente para que o Iraque realizasse o seu evento de guerra, quer com dinheiro, quer com equipamentos bélicos ou com informações estratégicas. Esse conflito valeu-se de várias táticas, como o uso de trincheiras, armadilhas, ataques de baionetas em ondas humanas, ninhos de metralhadoras e, mais à frente, o emprego inescrupuloso de armas químicas por parte dos iraquianos contra curdos e iranianos.

Entre 1984 e 1988, seis equipes separadas de investigadores da ONU documentaram casos de uso de armas químicas no Iraque sobre os iranianos. Em 1988, o ministro das Relações Exteriores do Iraque, Tariq Aziz, abertamente admitiu que o gás venenoso foi consagrado na guerra oficial do Iraque. No mesmo ano, o Conselho de Segurança divulgou um relatório que culpou o Iraque por usar gás mostarda em ataques contra os iranianos. (KAPLAN; KRISTOL, 2003, p. 44)

Foram oito anos de guerra, matando, pelo menos, 1 milhão de pessoas, mutilando o dobro, e só chegou ao fim, em 20 de agosto; um conflito que começou por rixas entre regiões, disputando territórios estratégicos e acabou evoluindo para

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uma guerra sangrenta que, graças à resolução 5987 do Conselho de Segurança das Nações Unidas teve o seu cessar-fogo. Pautados em argumentos, especialmente em relação à extensão da guerra, às violações do direito internacional humanitário, às leis do conflito armado e, em particular, ao uso de armas químicas contrárias ao Protocolo de Genebra de 1925, determinou que se pusesse fim a todas as ações militares entre Irã e Iraque, o que foi acatado por ambos os países. (UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL RESOLUTIONS, 1987).

[...] 7. Reconhece a magnitude dos danos infligidos durante o conflito e a necessidade de esforços de reconstrução, com assistência internacional apropriada, uma vez terminado o conflito e, nesse sentido, solicita ao Secretário geral designar uma equipe de especialistas para estudar a questão da reconstrução e informar o Conselho [...]. (UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL RESOLUTIONS, 1987).

Os mesmos limites territoriais dos dois países (anteriores à guerra) foram mantidos. Bilhões de dólares foram gastos e não houve vencedor, já que ambas as nações beligerantes sofreram grandes e graves perdas. (KAPLAN e KRISTOL, 2003). Não se podia esperar outro resultado de uma guerra excessivamente longa, com estratégias descontinuadas e ações contrárias aos direitos humanitários, perdendo-se, desvirtuando, assim, dos dois principais propósitos (territorial e econômico) a que se propôs o Iraque à época da invasão.

3.1 A PRIMEIRA GUERRA DO GOLFO

Após o conflito entre Irã e Iraque, Saddam Hussein precisava reavivar a economia iraquiana. Os lucros do petróleo, em quase sua totalidade, eram destinados para o pagamento de dívidas da guerra. Foi então que começou a pressionar o Kuwait e a Arábia Saudita para amortizar as dívidas iraquianas, responsabilizando, ao mesmo tempo, o Estado do Kuwait pela queda do valor do petróleo devido à sua superprodução e de conduzir uma política petrolífera que estava em descompasso com os acordos da OPEP8 (Organização dos Países

7 Resolução 598: além do cessar fogo imediato, esta resolução determina que sejam canceladas todas as ações militares e sejam retiradas todas as forças das fronteiras. Determina ainda que os prisioneiros de guerra sejam libertados e repatriados sem demora após a cessação das hostilidades ativas, o que foi acatado por ambos os países. https://peacemaker.un.org/iraqiran-resolution598

8 OPEP: A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) é um órgão intergovernamental, tendo como principal propósito a centralização das políticas relacionadas à venda

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Exportadores de Petróleo), o que vinha prejudicando drasticamente a receita iraquiana. (MILLER, 2003).

Somado a isso, Saddam Hussein, com o desejo de ampliar as saídas para o Golfo Pérsico, apoderando-se do litoral kwaitiano, argumentou ainda que o país vizinho era uma antiga província iraquiana, não medindo esforços para reaver o território, vale lembrar, com poços de petróleo. Outros países árabes tentaram mediar o conflito, porém o ditador iraquiano invadiu o Kuwait em 02 de agosto de 1990.

Acerca da Primeira Guerra do Golfo faz-se necessário aludir (para fins de entendimento) ao tema específico de cada resolução tomada pelo Conselho de Segurança, o qual inicia, a partir desse momento, todo o processo de várias ações em relação ao Iraque.

a) Resolução 660 – adotada em 2 de agosto de 1990 quando da invasão do Iraque ao país vizinho, o Kuwait, o que acabou por exigir do Conselho de Segurança da ONU a evasão dos soldados iraquianos do território kuwaitiano. O descumprimento dessa imposição, em fase subsequente, acarretou no embargo comercial e financeiro contra aquele país, evoluindo para bloqueio militar. (BRASIL, 2002).

b) Resolução 678 – a fim de recompor a paz e a ordem na região, foi concedido pelo Conselho de Segurança, em 29 de novembro de 1990, que os Estados colaboradores do governo kuwaitiano poderiam recorrer à força, caso as tropas iraquianas se mantivessem em seu território. (BRASIL, 2002).

Imediatamente, Forças da Coalizão internacional, sob a liderança dos EUA e ratificada pela Organização das Nações Unidas (ONU), não reconhecendo a anexação do Kuwait pelo Iraque e sendo autorizado pelo Conselho de Segurança, partiu para o uso da força militar em defesa do país invadido.

Observando que, apesar de todos os esforços das Nações Unidas. O Iraque recusa-se a cumprir a sua obrigação de implementar resolução 660 (1990) e as resoluções pertinentes subsequentes, em flagrante desrespeito ao Conselho de Segurança [...] (CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS, 1990).

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Pode-se dizer que essa foi uma guerra diferente das outras pela maneira como ocorreu. Apenas seis meses anteriores ao início das hostilidades, todos os países envolvidos no conflito mantinham relações cordiais, comungando dos mesmos valores ideológicos (em oposição ao Fundamentalismo islâmico) de acordos comerciais seguros, os quais abrangiam a comercialização de armas e tecnologia nuclear. Porém, a empatia chegou ao fim. O aliado, que era comum a todos, transformou-se em inimigo, fazendo com que milhares de soldados da coalizão fossem enviados para lutar e derrotar as forças armadas do Iraque - forças essas que, há pouco tempo, os próprios políticos dos países da coalizão haviam ajudado a sustentar. (FINLAN, 2005).

Como ressaltam Freedman e Karsh (1994, p.214.) “O petróleo foi obviamente um fator extremamente relevante na crise. Se não fosse o petróleo, o Kuwait não teria sido invadido, nem os americanos se moveriam com tanta determinação”. Assim comenta Figueiredo (2012), com essa anexação, o Iraque passaria a representar 20% das reservas mundiais de petróleo, o que não seria permitido pelos EUA, que, aliados a 134 países, colocam o Iraque a pão e água pelo período de dez anos através das sanções prescritas pelo Conselho de Segurança da ONU.

Além disso, havia outro motivo para o empenho norte-americano em auxiliar o Kuwait. Em 21 de setembro, o presidente George Bush recebeu material de inteligência demonstrando o quanto o Iraque estava destruindo o Kuwait. Então, decide, junto com seus conselheiros e o Emir do Kuwait - que foi quem descreveu os assassinatos, a emigração forçada, as torturas e as mortes - que intercederiam nesse conflito. (FREEDMAN & KARSH, 1994)

A Operação Tempestade no Deserto, que teve o custo de US$ 45 bilhões aos países aliados, saiu vencedora do conflito, quando foi anunciado o cessar-fogo em 27 de fevereiro de 1991, embora muitos membros do governo americano esperassem que essa ofensiva perdurasse até a derrubada do líder iraquiano do poder. Isso não aconteceu, mas houve severas sanções econômicas impostas pela ONU ao Iraque por danos causados ao país vizinho.

As sanções econômicas ao Iraque, no entanto, foram continuadas pela ONU apesar de seu pesado fardo sobre a economia iraquiana e população. As sanções criadas em 1990 proibiram os estados-membros da ONU de importação de mercadorias e venda de produtos ao Iraque. [...] (MILLER, 2003, p.25).

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Após o término da invasão malsucedida pelos iraquianos, no mesmo ano, vistorias foram realizadas pelos inspetores de armas da ONU no país iraquiano, condição prescrita pela comunidade internacional para pôr fim às sanções econômicas. A Comissão Especial das Nações Unidas (UNSCOM) foi, então, criada pela Resolução 687 do Conselho de Segurança da ONU para supervisionar essa operação.

Resolução 687 – foi decidido pelo Conselho de Segurança, em 03 de abril de 1991, que o Iraque deveria eliminar as supostas armas de destruição em massa e limitar em 150 quilômetros o alcance de seus mísseis balísticos. Para fins de monitoramento, foi criada uma comissão Especial das Nações Unidas, a UNSOM (substituída em 1999 pela Comissão de Controle, Verificação e Inspeção das Nações Unidas, UNMOVIC). (BRASIL, 2002).

Ou seja, era parte do acordo de cessar-fogo permanente o cumprimento de todos esses requisitos, caso contrário, seriam mantidas as sanções econômicas até que Bagdá cumprisse completamente a resolução 687, o que não aconteceu, pois a capital do Iraque continuou a enganar, obstruir e ameaçar inspetores internacionais até o final de 1998, quando os inspetores (tanto da UNSCOM como da AIEA) decidiram deixar o país, considerando o trabalho incompleto.

A investigação ficou comprometida não apenas pelos impedimentos do governo iraquiano como também pelos principais países do Conselho de Segurança, que começaram a diminuir o apoio às inspeções: os confrontos prolongados entre inspetores de armas e autoridades do país e os custos econômicos pela renúncia às exportações e importações, somados aos acordos de energia que havia com aquele país, dificultaram a disposição da China, França, Rússia e alguns outros países em manter sanções e o regime de inspeções contra o Iraque.

O fato é que ainda havia resquícios de armas e tecnologia proibidas pela ONU naquele país, daí a constante interferência do Iraque nas várias inspeções, acusando, inclusive, os EUA de espionagem. E foi quando o governo norte-americano, à época, Bill Clinton, autorizou um bombardeio aéreo, durante quatro dias, contra quatro bases militares no sul do Iraque. Por coincidência, essa autorização ocorreu na véspera da data marcada para a votação (que foi adiada) do

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impeachment de Clinton pela Câmara dos Representantes (deputados) (HISTORY, 2009).

A ação militar, que ficou conhecida como Operação Raposa do Deserto, tinha como intuito fragilizar ainda mais o país iraquiano, que saiu enfraquecido militar e economicamente, porém, fortaleceu-se moralmente, já que se posicionou na condição de vítima frente à comunidade internacional.

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4 O 11 DE SETEMBRO E SUAS CONSEQUÊNCIAS BÉLICAS

Neste capítulo será feita uma abordagem sobre os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, que, de maneira direta e/ou indireta, estão relacionados a uma sucessão de acontecimentos e ações executadas pelos EUA, os quais culminam no ataque ao Afeganistão e, sequencialmente, na segunda guerra do Iraque, conflito principal, tema desta pesquisa.

Figura 3 - A torre sul do World Trade Center entra em colapso

Fonte: (NILSSON, 2001)

O trágico acontecimento ocorrido em 11 de setembro de 2001 ficou marcado como o maior ataque terrorista da história, quando dois aviões atingiram o World Trade Center, em Nova York, um terceiro, o Pentágono, e um quarto, a Pensilvânia. Esse conjunto de ações foi reivindicado pelo grupo terrorista Al-Qaeda, comandado pelo saudita Osama Bin Laden como resposta, não a um episódio isolado, mas a uma série de justificativas das atuações e interferências políticas dos EUA no Oriente Médio, especialmente nos países economicamente vulneráveis.

O poderio incontestado dos Estados Unidos depois da Guerra Fria tornou arraigado o sentimento de invulnerabilidade do país à violência que cresce e se desenvolve em outras regiões. Tanto maior foi, nesse contexto, o impacto do 11 de setembro sobre a psique americana, ao representar, na

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"descoberta" da vulnerabilidade, um choque nunca antes experimentado e a sensação de que o país nunca mais seria o mesmo. A rapidez e a dimensão da resposta aos ataques, considerados desde o início como "atos de guerra", dão a dimensão exata da comoção por eles provocada. (BARBOSA, p.76).

Sem dúvida, os atentados de 11 de setembro à maior potência mundial registram um novo tipo de demonstração de força, que transcende o poder econômico; é a força fundamentada na religião, que aterroriza quem desconhece seus preceitos. Um novo cenário histórico foi criado, e o perigo iminente pousa no território americano. O saldo de quase 3.000 americanos mortos, transformaram George W. Bush em presidente de guerra, a ponto de seu pai, George Bush, 41º presidente, declarar que seu filho "enfrentou o maior desafio de qualquer presidente desde Abraham Lincoln". (FREIDEL, SIDEY, 2006).

Em estado de alerta, o presidente George W. Bush, mostra, então, ao país, o que ficou popularizado como Doutrina Bush, a Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Este documento expõe as táticas político-militares que passariam a ser implementadas com um único propósito: a defesa nacional diante de qualquer ameaça ao povo norte-americano. Consolida-se aí o unilateralismo como condutor da nova política externa americana, que não absorve e/ou não reconhece os tratados da comunidade internacional.

[...] os EUA, que elevaram o terrorismo à mais alta prioridade em sua política externa, vão influenciar, no futuro previsível, os esforços internacionais em prol da coordenação em matéria de segurança, na medida em que vão continuar pressionando os demais estados e as Nações Unidas a atuar decisivamente contra os grupos terroristas e os estados que os abrigam. (BARBOSA, p.82)

Conforme esclarece Costa e Silva (2004), esses terríveis ataques terroristas acabaram por enfatizar, de forma ampla, as tendências já conhecidas da política externa americana, numa mistura de fundamentalismo religioso, patriotismo, economia e política de segurança nacional. Retomou-se o estilo belicoso da Guerra Fria, apenas substituindo o comunismo da URSS pelo terrorismo islâmico. Essa predisposição para ações preventivas expõe a despreocupação dos EUA com os fóruns internacionais e suas regras de Direito Internacional.

Como destacam Kaplan e Kristol (2003, p.9): “A estratégia de segurança nacional visa a minimizar a distância entre ideais e interesses, entre moralidade e

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poder. Reúne em um só lugar todas as principais vertentes de um internacionalismo distintamente americano.” Instaurou-se, então, a guerra contra o terrorismo, e o Afeganistão, que estava visivelmente envolvido com o grupo Al-Qaeda seria o alvo a ser atingido. Depois, num segundo momento, viria o Iraque, pois, segundo o presidente estadunidense, precisavam desmantelar o arsenal de armas químicas que estavam sendo fabricadas no país para serem fornecidas aos grupos terroristas, inimigos dos EUA.

Essa data foi a responsável por definir o mandato de um presidente, que ficou conhecido como um "Presidente em tempo de guerra", trazendo para si a incumbência de impedir, sob qualquer circunstância, um outro atentado dessa magnitude. Essa responsabilidade, aliás, foi mantida até o encerramento do seu segundo mandato, sete anos mais tarde, cujos desdobramentos se mantêm até hoje.

4.1 A DOUTRINA BUSH

Com os atentados de 11 de setembro de 2001, os EUA legitimaram para si a representação de guardiões da paz e da estabilidade mundial. A Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América, ou, Doutrina Bush, foi divulgada no dia 17 de setembro de 2002, apresentando engenhos político-militares que passariam a ser utilizados para a defesa nacional, diante de possíveis prenúncios aos quais estariam vulneráveis o território e o povo norte-americano. Como expõe RESENDE (2012, p.13): “Os Estados Unidos substituíam a postura defensiva e reativa da Guerra Fria por um comportamento unilateral, proativo e belicoso.”

Ainda que a Estratégia de Segurança Nacional dos EUA tenha aparecido somente em setembro de 2002, sua origem é de 1990, quando o então secretário de Defesa Richard Cheney introduziu a ideia de que os Estados Unidos não deveriam permitir o surgimento de outra superpotência. Vazado esse documento para a imprensa, imediatamente foi rejeitado sob risco de comprometer a opinião mundial em relação ao país americano.

A administração Bush afirmou categoricamente que a justificativa da invasão era a existência de uma coligação entre o regime de Saddam Hussein e a

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organização fundamentalista islâmica Al Qaeda, e, principalmente, a existência de armas de destruição em massa sob posse do Iraque. Aliás, países desenvolvedores de armas químicas, biológicas e nucleares, contestadores do governo norte-americano ou patrocinadores do terrorismo passaram a ser classificados como o “Eixo do Mal”. Dentre esses países estavam Irã, Iraque e Coreia do Norte.

A primeira vez em que Bush menciona essa expressão para se referir aos três países foi no Discurso sobre o Estado da União, no Capitólio dos EUA, em 29 de janeiro de 2002:

Estados como esses, e seus aliados terroristas, constituem um eixo do mal, armando-se para ameaçar a paz do mundo. Ao procurar armas de destruição em massa, esses regimes representam um perigo grave e crescente. Eles poderiam fornecer essas armas aos terroristas, dando-lhes os meios para igualar seu ódio. Eles poderiam atacar nossos aliados ou tentar chantagear os Estados Unidos. Em qualquer um desses casos, o preço da indiferença seria catastrófico. (SOCIAL SECURITY ONLINE, 2002) Instaurava-se, aí, a luta do bem contra o mal, uma luta vaga, maniqueísta e ilegítima. Esse conjunto de princípios assinados pelo então presidente George W. Bush expôs como objetivo primordial agir militarmente, de forma preventiva e não preemptiva 9, (como assim denominaram) diante de qualquer país que representasse ameaça aos interesses estadunidenses, dando, assim, um outro direcionamento às suas relações internacionais, que embarcaram rumo ao unilateralismo como nova bandeira de sua política externa, ignorando os tratados e os organismos internacionais, tanto na teoria como na prática.

A definição de preempção de Bush é confusa, a sua administração pratica uma doutrina preemptiva falha, e as metas de preempção são contraditórias. As consequências do fracasso desta política são profundas para os EUA. Não só a sua segurança está comprometida, mas o propósito moral da política externa dos EUA está abalado também. Quando buscou a superioridade moral na preempção, Bush pôs seu povo no mesmo caminho que alguns dos mais notórios agressores da história moderna. (FLYNN, 2008, p. 2)

Ou seja, ainda que a doutrina Bush apresentasse características de ordem preventiva para agir diante de qualquer provável inimigo (em especial os terroristas), o governo norte-americano preferiu denominá-la de preemptiva, ficando, assim, dentro de um limite de legalidade junto aos órgãos internacionais, o que pareceu

Referências

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