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A primeira nascente educadora

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DA PESQUISA

4.1. A primeira nascente educadora

Esta pesquisa ecopedagógica aconteceu em parceria com a EC 05 de Sobradinho e adotou a água como força para unir educadores, gestores, alunos, comunidade e o pesquisador. A água e seu movimento energético, por vezes, sofre os mais insanos ataques da ação humana como a destruição de suas nascentes e, ao mesmo tempo, possui a autoridade de ocupar um espaço social como o de uma escola e conduzir ações transformadoras da realidade na perspectiva da formação de outro ser humano.

Esta escola tem a seu favor a proximidade com o Ribeirão Sobradinho, que representa um potencial enorme para estudos a respeito de aspectos sociais, econômicos e ambientais, relativos à água, especialmente diante de uma escassez de recursos hídricos sem precedentes na história do Distrito Federal.

Quando se fala em parceira significa a disposição das partes para realizarem algo juntos, firmando vínculo em torno do mesmo propósito. As pessoas partem de um diálogo franco a respeito de determinado tema e vão expondo suas ideias. O pesquisador apresentou- se diante dos professores da EC 05 para saber qual a visão deles a respeito da Educação Ambiental, as experiências acerca dessa temática e os desdobramentos dela no desenvolvimento curricular. Vale destacar que, antes desse diálogo chegar à EC 05, o pesquisador tentou, por algumas vezes, promover esse tipo de encontro em outra unidade de ensino também de Sobradinho. Entretanto, o grupo de professores dessa escola avaliou que seria sobreposição de trabalho, pois, tempos atrás, um colega havia desenvolvido a temática e, também, o grupo julgou inviável porque acrescentaria muito trabalho ao cotidiano deles e que preferiam cada qual continuar trabalhando como sua disciplina.

Já na EC 05, a história foi diferente, houve uma escuta, acolhimento da palavra e que cada professor pôde expor seu ponto de vista, uns diferentes dos outros, mas com a mesma perspectiva de observar o potencial de uma proposta de Educação Ambiental e como seria possível construir vínculos com a melhoria do processo educativo. Os olhares e diálogos pareciam filetes d’água convergindo a um ponto comum, querendo tecer um currículo permeado por novas contribuições pedagógicas com potencial transformador, mesmo que volta e meia os filetes pareciam se desviar, mas que logo encontravam apoio em inúmeros novos filetes que os arrastavam a um denso corpo d’água. Isso era a compreensão de um grupo de professores que queria sair de um ciclo de repetições rumo a uma proposta dinâmica,

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capaz de dar vida e movimento a um currículo cansado e, por vezes, ultrapassado, mas eles queriam experimentar a ousadia e fazer mudanças. Isso representou a primeira nascente de um projeto de Educação Ambiental que se desdobraria na constituição de um grupo de educadores altamente comprometidos e engajados.

O primeiro encontro com um grupo de professores da escola (ocorrido em 12/04/2016) trouxe um pouco de apreensão, mas trouxe, sobretudo, entusiasmo diante de um diálogo tomado, inicialmente, por aspectos do currículo, mas, na sequência do encontro, as questões ambientais tiveram seu devido espaço na pauta das preocupações levantadas, sendo que muitas manifestações vindas do grupo mostraram disposição de implantação de um projeto efetivo em educação ambiental.

O pesquisador apresentou aos professores suas intenções, especialmente quanto ao envolvimento da escola com o desenvolvimento de um projeto em educação ambiental.

O segundo encontro com os professores da escola (aconteceu em 19/04/2016) representou a instalação de um coletivo disposto a aprofundar a discussão sobre a problemática ambiental que aflige a humanidade, sem desviar o olhar sobre a necessidade de um projeto da escola e a disposição de buscar no Ribeirão Sobradinho a matéria-prima para compor uma matriz pedagógica, integrando currículo e realidade viva do Ribeirão, de forma que esse cenário real se transformasse em fator de produção de conhecimento. Nesses encontros, a voz de cada sujeito ganhava sentido e significado, sem o império de hierarquia, com discussões que levam a encaminhamentos produtivos, marcadas por planejamento e cronograma de atividades para serem desenvolvidos pelo coletivo.

Nesta perspectiva, a água possibilitou múltiplas linguagens que se traduziu numa relação madura e responsável com o conjunto dos educadores, em que todos se dispuseram a explorar o potencial pedagógico do elemento água, a partir do conhecimento da bacia hidrográfica. O estudo da bacia revela o quanto cada pessoa possui algum nível de comprometimento ou responsabilidade sobre a proteção ou agravos sobre os corpos d’água. À medida que a pessoa conhece a bacia hidrográfica do seu local, acaba por conhecer e reconhecer a cultura de onde vive, o solo, a vegetação e outros seres vivos, que a sobrevivência destes passa a ter relação direta com o grau de pertencimento que cada ser humano estabelece com o ecossistema daquela localidade.

Segundo Camargo e Schiavetti (2002, p. 18), a utilização do conceito de bacia hidrográfica como unidade de gerenciamento, direcionada à conservação dos recursos naturais, deve estar agregada ao conceito desenvolvimento sustentável, na perspectiva de

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atingir três metas básica: o desenvolvimento econômico; a equidade social, econômica e ambiental; a sustentabilidade ambiental. Par a Loureiro (2004, p. 33) está última deve ser compreendida como sustentabilidade substantiva, ou seja, a negação absoluta dos modelos de desenvolvimento sustentável construídos no âmbito da economia de mercado.

Neste contexto, a escolha da bacia hidrográfica como ponto de partida para as nascentes de diálogos se torna necessário devido à inclusão física da EC 05 na sub-bacia do Ribeirão Sobradinho. Nesse enfoque, a escola deve procurar compreender a ecologia da bacia hidrográfica e, acima de tudo, planejar intervenção humana para imprimir ações voltadas para sua preservação e para formação do sujeito ecológico, um dos propósitos dessa pesquisa.

Então, o pesquisador dialogou com o grupo de professores sobre como que a água estaria presente em todos os instantes do projeto, inclusive assumindo o papel de matriz formadora, e que ela passaria a formar cada participante da pesquisa, ou seja, cada sujeito integrante desse trabalho.

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