• Nenhum resultado encontrado

Primeira quinzena de abril de 2000: Acordo assinado, inicia-se a discórdia

O título aqui proposto é, de certa forma, incoerente, pois, anteriormente à assinatura, não houve alternativa para a sociedade ou as instituições civis manifestarem seus pontos de vista. O que houve durante o processo de formalização do Acordo foi uma grande anuência pelas partes envolvidas: a Prefeitura Municipal de Cianorte, o Instituto Ambiental do Paraná, a Apromac, a Câmara Municipal de Cianorte, o Ministério Público e a principal interessada: a CMNP. O primeiro parlamentar a aparecer na mídia denunciando o Acordo foi o rival político do então prefeito Flávio Vieira (PFL): o deputado estadual Edno Guimarães (PSL). Uma nota publicada no jornal O Estado do Paraná em 4 de abril 2000 sob o título “Atentado” informa:

O deputado Edno Guimarães (foto), do PSL, denunciou ontem da tribuna da Assembléia Legislativa um grave atentado ao meio ambiente que está sendo praticado pela Prefeitura de Cianorte, em conluio com o Instituto Ambiental do Paraná. Segundo o parlamentar, uma área de 240 mil hectares de mata virgem, localizada no perímetro urbano da cidade, estaria sendo loteada, com a derrubada de centenas de Perobas-Rosa. (O ESTADO DO PARANÁ, 2000: 8)

O termo “conluio” evidencia uma clara oposição. Na verdade, não se trata de 240 mil hectares sendo desmatados, mas 240 hectares, sem a casa do milhar. Não se sabe qual a origem e/ou intenção. Porém, pode-se pensar que tenha sido mesmo erro de expressão, pois o equívoco em colocar a unidade de milhar antes dos hectares foi erro recorrente também em release da Agência Estadual, como foi citado em capítulo anterior. Naquele tópico, foi dito que a comunidade estaria recebendo “uma área de preservação de 282,3 mil hectares doada ao Município pela Cia. Melhoramentos Norte

do Paraná, depois de quatro anos de negociações intermediadas pelo Governo do Estado”.

Uma nota do colunista Bellini, na Tribuna do Povo em 4 de abril de 2000, diz: “A coisa tá [sic] feia em Cianorte. A justiça disse „não‟ para o acordo do IAP, Prefeitura e Cia. de [sic] Melhoramentos”. Há que se frisar que até aquele momento não havia impedimento da Justiça e o desmatamento continuava ininterruptamente. O fato anunciado ocorreria, realmente apenas no dia 27 de abril.

Conforme a matéria “Lei vai disciplinar uso do ICM Ecológico”, publicada na Tribuna de Cianorte de 11 de abril do mesmo ano (p.12), a Câmara dos Vereadores receberia um projeto de lei para controlar a aplicação dos recursos originários do ICMS Ecológico oriundo do Cinturão Verde. De acordo com o prefeito Flávio Vieira, “esse foi

o compromisso que assumimos com a Companhia43. O ICM Ecológico será aplicado exclusivamente na manutenção e obras de melhoria da Reserva Florestal” (TRIBUNA DE CIANORTE, 2000: 12)

A declaração do prefeito Flávio Vieira demonstra mais uma vez como as instituições públicas se curvam diante da CMNP. A exemplo do ocorrido na construção do projeto urbanístico de Maringá, a influência do gerente da Melhoramentos é evidente e prontamente atendida. A imposição de suas vontades está no histórico da CMNP e na aceitação das mesmas, numa espécie de subserviência governamental. A passagem abaixo comprova essa tendência quando é citado o posicionamento imperativo de um representante da CMNP no período da fundação de Maringá:

Da mesma forma, a influência desse dirigente da empresa transparece na fala do ex-prefeito João Paulino Vieira Filho (1960-1964 e 1977-1982) quando afirma que, Nyeffeler “como gerente da Melhoramentos, foi o mesmo que um prefeito. Ele exigiu o cumprimento do projeto original, manteve a zona 2, a zona 5, a zona 4, a sua área industrial, quer dizer, não vendia se não fosse cumprido o que a companhia queria. (RODRIGUES, 2004: 36)

O texto jornalístico diz que o anúncio da remessa do projeto para o Legislativo foi realizado em encontro no dia anterior em reunião entre o prefeito Flávio Vieira, membros do Conselho da Comunidade e o promotor público Joelson Luís Pereira, do Meio Ambiente, que afirmou que o Acordo com a CMNP satisfez as partes envolvidas:

“Inclusive estivemos visitando as áreas a serem descapoeiradas e constatamos sua degradação. Tomamos todo o cuidado para evitar que a comunidade tivesse

43 O grifo chama a atenção para o fato de que a CMNP dita as regras do jogo tanto no findar do século

prejuízo”44 (TRIBUNA DE CIANORTE, 2000: 4). A matéria trata ainda da responsabilidade que o município terá em cumprir um plano de manejo a ser definido pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) e pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP)45.

Em vários pontos do Cinturão Verde serão colocadas cercas para evitar a depredação. Também serão contratados fiscais ambientais que farão o trabalho de patrulhamento. Para o engenheiro florestal Eleutério Langovski, assessor de Planejamento do IAP e que acompanhou todo o processo que resultou na transferência da reserva para o município, a primeira grande iniciativa de preservação já foi tomada. “A construção da pista de caminhada na Avenida Minas Gerais e no Parque Mandhuy, chama a comunidade a usufruir e ao mesmo tempo a ajudar na preservação”. Outro fator positivo, segundo ele, são as novas construções que estão surgindo ao longo do Cinturão Verde. “Elas vão acabar com o aspecto de abandono da área. O movimento de pessoas vai inibir a presença de vândalos”, acredita. (idem) Sob o título “Flávio recebe proposta para reestruturar COMMA”, a matéria aborda a reestruturação do Conselho Municipal do Meio Ambiente. De fato, trata-se de uma alteração na legislação, afinal, efetivamente o mesmo nunca fora convocado. A proposta foi entregue pelo presidente do Conselho da Comunidade. A matéria não menciona em momento algum o Cinturão Verde, mas é bem provável que toda essa movimentação teve início em decorrência do parque municipal recentemente oficializado. “Como sempre tenho feito, antes vou chamar o Deolindo (Antônio Novo, presidente do Legislativo) para discutirmos e chegarmos numa posição de consenso”, reiterou o prefeito. Ao final do mês, Deolindo Novo negaria a fala de Flávio Vieira: o vereador diria que a elaboração do Acordo do Cinturão Verde foi à revelia da Câmara.46

3.4 Segunda quinzena de abril de 2000: mobilização popular e protestos dão novo