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Primeira quinzena de maio de 2000 – professores doutores da UEM elaboram laudo

4 DOCUMENTOS TÉCNICOS PAUTAM OS DEBATES E A MÍDIA UM DUELO DE

4.1 Primeira quinzena de maio de 2000 – professores doutores da UEM elaboram laudo

O jornal Optei!, house organ do Partido dos Trabalhadores de Cianorte, traz em edição de abril e maio de 2000 como matéria de capa “Cinturão Verde: Quem é o vilão da história? – Assim que o acordo foi firmado com o IAP/Prefeitura, máquinas pesadas da CMNP interligadas com correntões devastaram o que encontraram pela frente”. Na capa, duas fotos se interpõem com os dizeres Natureza x Civilização, com imagem antiga do início da formação da cidade e outra de vista aérea, atual.

Muito se falou sobre o meio ambiente nos últimos acontecimentos em Cianorte. Abril de 2000, será lembrado sempre como o mês e ano em que a cidade ganhou, - oficial e legalmente – uma Área de Preservação Permanente em troca de outra, considerada degradada. A importância do assunto, extrapolou o município e chamou a atenção da mídia nacional. O envolvimento de vários segmentos da sociedade transformaram [sic] um ato que seria bem-vindo em qualquer região do planeta – a oficialização de Área de Preservação Permanente (APP) – em algo que merece ser pesquisado, sob o prisma honesto e transparente com que o Partido dos Trabalhadores sempre costuma abordar esses temas. Principalmente quando se trata do futuro de seus habitantes, que tem planos para si e para seus descendentes. (OPTEI!, 2000: 3)

Sob a retranca “De olho...”, o título informa: “Helicóptero da Globo sobrevoa Cianorte”. O jornal ainda diz que, no dia 7 de maio de 2000, um helicóptero da empresa sobrevoou a Capital do Vestuário para um suposto dossiê a ser usado no programa Globo Repórter, fato que não se configurou. Uma foto aérea com a legenda “Reserva Florestal de mata nativa do Rio Ligeiro, propriedade da CMNP” ilustra a matéria.

Nas páginas 4 e 5, o Optei! destaca a manchete de capa, repetindo a chamada no lugar do lide. Depois, no segundo parágrafo, menciona:

(...) os royalties que o município deve arrecadar, cerca de R$30 mil, repassados pelo governo estadual, são significativos para uma melhor preservação dos 330,098 hectares “herdados” da Companhia. Importante área, equivalente a quase 137 alqueires paulistas. Em troca, a Cia. Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP) recebeu autorização para lotear uma área total de 241 hectares, 148 dos quais na zona urbana da cidade. (OPTEI!, 2000: 4-5)

O texto prossegue com um misto de opinião e informação:

Sem prévio aviso, assim que o acordo foi firmado com o IAP/Prefeitura, máquinas pesadas interligadas com correntões devastaram o que encontram pela frente. Os pequenos animais silvestres que ainda restavam, na maioria „insignificantes‟ roedores, algumas „indesejáveis e repelentes‟ cascavéis, e „nenhum macaquinho‟ (segundo técnicos do IAP) foram pegos de surpresa, sem chances de sobreviver ao ataque. (idem)

A matéria contextualiza o cenário do ano 2000 com o despertar da consciência ecológica, principalmente entre os jovens e menciona como o desmatamento causou choque na sociedade. Enfatiza que a devastação está lá para quem quiser ver. As fotos aéreas feitas após os desmatamentos mostram a enorme área que a Cia. Melhoramentos pretende lotear, ao mesmo tempo em que se visualiza uma belíssima área verde com matas nativas, abrigo seguro para a vida selvagem. Como em um perfeito corte cirúrgico, certas áreas dividem o verde com o marrom das terras vermelhas do Paraná. O IAP, com anuência da única entidade não governamental ambientalista de Cianorte, a Apromac, vistoriara essas áreas dando sinal verde como sendo degradadas. Todos sabiam. Vereadores e autoridades estiveram presentes no acordo que a Cia. Melhoramentos propusera. Menos o povo. O que não se imaginava que iria acontecer era que todo o restante daquelas matas passaria por um processo de descapoeiramento. Todos viram que não foi bem assim. Gritos e protestos surgiram de todas as partes. O próprio secretário do Meio Ambiente do Paraná, Hitoshi Nakamura, quando assinou relatório apresentado como sendo real, confessou sua precipitação em aprovar sem consultar ou exigir estudos mais profundos, mandando paralisar o desmate. Ao mesmo tempo, uma entidade de moradores dos Seis Conjuntos apresentava liminar no Ministério Público de Cianorte. (OPTEI!, 2000: 4-5)

O texto explica, erroneamente, que há “dois órgãos federais” para questões relacionadas a desmatamento. O correto é que se tratam de pré-requisitos necessários baseados em estudos para que seja concedida autorização de implementações de atividades que coloquem em risco o Meio Ambiente. Por isso, os nomes EIA - Estudo de Impacto Ambiental - e RIMA - Relatório de Impacto Ambiental, para Licenciamento Ambiental. O Optei! diz também que são técnicos e biólogos os responsáveis pela elaboração dos mesmos, a fim de avaliar impactos ambientais. Prossegue falando que o jornal não é dono da verdade e que o julgamento do que foi certo e errado em relação ao episódio cabe ao leitor. Porém, lembra que logicamente há interesses políticos e

econômicos envolvidos e que é de conhecimento da comunidade a rivalidade política entre duas facções existentes na cidade.

A primeira não deixaria de pegar esse „gancho ecológico‟ para atacar seu arqui-inimigo. E o segundo defende com „unhas e dentes‟ os benefícios óbvios da criação de uma APP na cidade. Houve precipitação por parte do executivo e do legislativo, ao aprovarem uma lei de tamanha importância ambiental? - leitor decide. Outra curiosidade importante é o fato de que a instituição ambientalista de Cianorte – Apromac – que possui em seu quadro de sócios apenas a sua diretoria, ou seja o presidente em afastamento – por ser funcionário do IAP – Eleotério [sic] Langowski, e mais três diretores. A entidade começou a aparecer na cidade m 1987. Se antes dessa data não se fazia nada para a preservação do chamado „Cinturão Verde‟, de lá para cá, pouco ou quase nada também se fez para a conservação do meio ambiente na cidade. Lembram-se do escândalo das lavanderias? Só quando a imprensa começou a denunciar o longo período de despejo de produtos poluentes em córregos e mananciais, que o IAP passou a agir, exigindo que as empresas se adequassem em outras áreas, construindo lagoas de decantação. O próprio promotor de justiça, que acompanhou a proposta da Cia. Melhoramentos lamentou, em pronunciamento na Câmara dos Vereadores a falta de uma organização oficial ambientalista formada por todos os segmentos da sociedade. Um Conselho do Meio Ambiente em Cianorte. (OPTEI!, 2000: 4- 5)

O jornal finaliza a matéria mencionando que, ao ser questionado sobre planos para as áreas que a CMNP deveria lotear, o prefeito Flávio Vieira foi categórico ao afirmar que “a prefeitura comprou da Cia. Melhoramentos uma área de três alqueires nas proximidades do conjunto habitacional Ovídio Franzonni para a construção de 200 casas populares. Nada a ver com as outras áreas que a Companhia está [na ocasião da entrevista] desmatando” (idem). Ao final, o tabloide deixa questionamentos que o mesmo disse terem sido feitos pelos defensores e amigos da natureza. Nesse momento, em virtude do amplo material analisado, é possível responder os questionamentos realizados:

“A CMNP tem projetos prontos e imediatos, para as áreas desmatadas?”. O projeto é desmatar tudo e dispor dos requisitos mínimos para que as áreas sejam loteadas – como asfalto, galeria de esgoto, iluminação, rede de água e energia – e vendê-las aos interessados que tenham os recursos financeiros necessários.

“A população carente dos sem teto de Cianorte terá acesso a elas?”. A resposta é não, porque a CMNP é uma empresa estritamente comercial e não tem projeto de responsabilidade social, beneficente ou filantrópico para auxiliar a população de baixa ou sem renda da cidade.

“Existe alguma possibilidade de nova migração de pessoas provenientes de outros locais, querendo morar ou investir na cidade?”. Essa questão demanda uma pesquisa muito bem elaborada por órgãos competentes.

O jornal termina a matéria dizendo que essas e outras perguntas serão deixadas para o leitor responder com calma, sem deixar-se levar por atos políticos ou emocionais. “Quem é o grande vilão da história? Se é que houve... Você decide” (OPTEI!, 2000: 4- 5)

Por mais que o veículo tente se mostrar imparcial, fica clara sua posição contrária ao Acordo. Ao finalizar o texto dizendo que determinadas questões levantadas cabem ao leitor decidir, o veículo não cumpre sua função, que é buscar respostas e trazê-las à tona. As perguntas levantadas não dependem apenas de pontos de vista, mas necessitam de respostas dadas por especialistas de cada área. Se o veículo não se preocupa ou não tem condições de exercer essa busca por respostas, pior é a condição do leitor comum. A leitura de uma matéria informativa deve, sim, provocar indagações ao leitor. Porém, não pode se justificar que, na ânsia de evitar a parcialidade, perguntas fundamentais fiquem sem respostas.

Um artigo assinado por Salvador Peres, advogado, historiador e secretário do PT, intitulado “O Cinturão Verde de Cianorte”, traz a opinião do autor em relação a problemas com a queima de lixo acumulado no perímetro do Cinturão Verde, levantando sugestões práticas para impedir que o mesmo seja usado para a deposição e lixo.

1- Melhorar o sistema de coleta e lixo, pois o povo paga por isso; 2- coletar também o lixo, „restos de jardins, galhos e folhas de árvores‟; 3 – colocar nos lugares de despejo do lixo pela população caçambas, que depois poderiam ser retirados pela prefeitura; 4 – fazer um serviço de ajardinamento em volta de todo o cinturão verde, pois tendo gramas e plantas cuidadas, duvido que a alguém tivesse ousadia de sujá-lo. Só está acontecendo de o povo jogar lixo porque está sujo, abandonado e sendo um convite para que aquilo aconteça. (PERES, 2000: 9)

O autor cita exemplos para justificar que as pessoas se aproveitam de espaços que já têm resíduo para depositarem outros, lembrando que a manutenção dos canteiros centrais reflete tal situação: basta uma chuva com vento que deixe folhas secas de palmeiras pelo chão para que os moradores depositem ali também os restos da jardinagem. PERES (2000) também sugere que o lixo orgânico, proveniente das podas, seja triturado e transformado em adubo. Finaliza conclamando a comunidade a

dispensar mais atenção ao Cinturão Verde. “Vamos voltar ao assunto principal, O CINTURÃO VERDE, que é nosso e que não poderá ser vendido nem ficar abandonado. Vamos fazer como os „SEM-TERRA‟, vamos fazer a „OCUPAÇÃO JÁ‟, vamos tomar posse do que é nosso”. (PERES, 2000: 9)

Interpreta-se que o autor conclame a ocupação no sentido de alertar a população para que o Cinturão não seja abandonado.

4.2 Cinturão Verde de Cianorte – Esclarecimentos para o bem da verdade. Uma