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(1910-1911)

Foi sob esse conturbado panorama que em maio de 1910 Chrostowski decidiu viajar ao Paraná, onde se instalou como colono imigrante. Após longa viagem marítima, ele fez sua primeira escala no Rio de Janeiro, de onde menciona (Chrostowski, 1911) a hospedaria de imigrantes da ilha das Flores (São Gonçalo, Rio de Janeiro), sugerindo que ele tivesse parado por alguns dias na capital fluminense.

Do Rio de Janeiro seguiu para Santos e depois diretamente por mar até Paranaguá. Embora fosse de se esperar, ele não foi a São Paulo a partir de Santos; afirmo

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isso porque, no seu livro ―Parana‖ (Chrostowski, 1922), quando descreve o trajeto da segunda viagem, menciona a Serra de Cubatão entre Santos e São Paulo como uma novidade (vide adiante). Além disso compara o momento em que estava (1913) com aquele vivenciado anteriormente, quando subiu a Serra do Mar paranaense por trem, usando a ferrovia Paranaguá-Curitiba, inaugurada em 1885.

“Las dziewiczy” (“Floresta primitiva”), em foto provavelmente colhida em Paranaguá (fonte: Chrostowski, 1922).

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Dessa forma, sabe-se que, a partir de Paranaguá, ele tomou o trem e chegou a Curitiba, mas nada detalha sobre essa ocasião.

“Z okolic Kurytyby” [Nos arredores de Curitiba], aspecto do entorno da capital paranaense em 1910 (Fonte: Włodek, 1910b)

“Tartak polski pod Kurytyba” [Serraria polonesa em Curitiba] e suas instalações mostrando a vegetação circundante (Fonte: Włodek, 1910b)

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Nos arredores da capital aproveitou para uma breve visita à colônia de imigrantes ―Affonso Penna‖ (vide Chrostowski, 1911). Amostrado com mais atenção na sua segunda expedição (vide adiante), esse lugar é atualmente um bairro da cidade de São José dos Pinhais, com grandes concentrações de descendentes de poloneses e próximo ao Aeroporto Internacional Afonso Pena. Foi uma das primeiras colônias criadas pelo governo estadual para estabelecer um núcleo de colonização polonesa, nos arredores de Curitiba, na então chamada fazenda ―Aguas

Bellas‖ (Leão, 1924-1928). Na primeira década do Século

XX, era considerada uma ―colonia modello ainda em

organisação...[com] população, [de] 250 habitantes de diversas procedências‖ (Plaisant, 1908).

“W Paranie, z drzewem do tartaku” [No Paraná, árvore indo para a serraria]. (Fonte: Fonte: Włodek, 1910b)

Situada a poucos quilômetros a sudeste de Curitiba, trata-se de uma região típica dos formadores do rio Iguaçu,

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nas proximidades da vertente oeste da Serra do Mar. Na paisagem predomina a mata de araucária e as várzeas do rio Iguaçu, compreendendo campos de inundação e matas ciliares, com algumas representações de campos naturais. Hoje em dia, toda essa área encontra-se fortemente alterada por influência direta da expansão urbana da Região Metropolitana de Curitiba.

“Droga do Kurytyby” [“Caminho para Curitiba”]12 (Fonte: Chrostowski, 1922).

Da capital paranaense, tomou provavelmente o trem e seguiu pela linha Curitiba-Ponta Grossa, que contava com um entroncamento a sul da estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande. Dali seguiu até a estação Paulo de Frontin, seguindo para a colônia ―Vera Guarany‖ 13 , antes

12 Conta a tradição oral paranaense que embaixo desse mesmo pinheiro, teria o imperador

Pedro II descansado em 21 de maio de 1880, quando rumava para Curitiba, proveniente de Paranaguá.

13 A denominação do núcleo colonial foi originalmente ―Candido de Abreu‖, mas alterada

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pertencente ao município de ―São Matheus‖ (atualmente São Mateus do Sul), depois (1912) ao de ―São Pedro de

Mallet‖ (hoje Mallet) e, hoje (desde 1952), ao de Paulo

Frontin.

Cenas e paisagens de Vera Guarani nos anos 10 do Século XX (Fonte: LLOYD, 1913:958)

Paraná, sr. Manoel F. Ferreira Correia (Jornal ―A Republica‖ ano 25, n° 80, de 8 de abril de 1910).

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“Kolonia Vera Guarany. „Budki‟ W Miasteczku” [Colônia Vera Guarani. Ranchos no vilarejo] (Fonte: Chrostowski, 1911).

“Kolonia Vera Guarany. Zagroda kolonisty” [Colônia Vera Guarani. Colonos agricultores] (Fonte: Chrostowski, 1911)14.

14 A mesma foto foi republicada em Chrostowski (1922) com a legenda ―Zagroda

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Tratava-se de uma colônia agrícola administrada por Sebastião Saporski que, no início da década de 10, contava com uma população pouco maior do que 4.200 pessoas, dentre imigrantes poloneses, ucranianos e alemães. É importante lembrar que sob essa denominação haviam duas sedes15; uma delas, localizada na vila de Paulo Frontin16, localizava-se ―à margem do arroio do Cerne, afluente do

Rio Sant‘Anna‖ e, a outra, situava-se ―à margem direita do rio Iguassú, na secção navegável‖ (Leão, 1924-1928). A

localidade citada por Chrostowski (1912a) e que lhe serviu de morada é a segunda17:

―A la fin du mois de Mai 1910 je m‘establis au bord du grand fleuve Iguassu dans l‘état Paraná (Brésil méridional) parmi ses affluents Santa Anna et Rio Claro, où j‘ai fondé une petite ferme. Cette localité nommée Vera Guarany présente à cause de son altitude (presque 800 mètres au dessus du niveau de la mer) um climat très doux: 16º C. de température moyenne. Elle est presque entièrement remplie de fôrets, où dominent les Pinheiros (Araucaria brasiliensis), les Imbuyas (Bignonia paranensis) et ct. Les bords du Iguassu sont aussi richement boisés; la plupart des arbres appartiennent au genre Salix‖18 (Chrostowski, 1912:490).

15 Em 1912, Vera Guarani somava uma área de quase 18.000 hectares subdividida em

8055 lotes, abrigando 4.219 habitantes de 838 famílias (Leão, 1924-1928).

16 Onde havia a estação ferroviária Paulo de Frontin.

17 Sobre as colônias polonesas no rio Iguaçu e seus limites vide adiante sob ―Chapéo de

Sol‖.

18 ―No final de maio 1910 eu me estabeleci às margens do grande rio Iguaçu no Paraná (sul

do Brasil) entre os seus afluentes Santa Anna e Rio Claro, onde fundei uma pequena chácara. Esta localidade chamada Vera Guarany apresenta-se, devido à sua altitude (cerca de 800 metros acima do nível do mar), sob clima ameno: 16 ºC de temperatura média. É quase totalmente preenchida com florestas, dominadas por pinheiros (Araucaria brasiliensis [= Araucaria angustifolia]), imbuias (Bignonia paranensis [= Ocotea porosa])

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“Kolonia Vera Guarany. Kosciól polski” (“Colônia Vera Guarani. Igreja polaca”) e “Kolonia Vera-Guarany Cerkiew rusińska” (“Colônia Vera Guarani [igreja] ortodoxa russa”) em 1910 e as mesmas edificações em outubro de 2015 (Fonte: acima, Chrostowski, 1911; abaixo, fotos de F. C. Straube).

Ponte sobre o rio Santana, na estrada de acesso ao povoado de Vera Guarani (Foto: F. C. Straube em outubro de 2015).

etc. As margens do Iguaçu são ricamente arborizadas; a maioria das árvores pertence ao gênero Salix [= Salix humboldtiana]‖.

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―Kolonia Vera Guarany. Kolonisci przy budowie drogi” (“Colônia Vera Guarani.

Colonos nas obras da estrada”) (Fonte: Chrostowski, 1911).

E, também segundo Chrostowski (1911a: traduzido por Straube et al., 2007):

―Essa colônia tem duas vilas; uma delas situa-se a uma milha da estação de Paulo Frontin e é a sede administrativa da colônia. Uma igreja católica romana e uma ortodoxa foram instaladas ali. Existe também uma escola pública brasileira dirigida por um polonês e diversas construções do governo. Logo após terem chegado, os colonos precisaram ficar um certo tempo nessa vila, cada família morando em acampamentos, enquanto aguardavam os lotes de assentamento (20 a 25 hectares). A outra vila, às margens do Rio Iguaçu e situada a 3 milhas da vila

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anterior por uma estrada bem pavimentada, encontra-se atualmente em construção. O comércio local desenvolveu-se rapidamente, já que o transporte por via fluvial é mais barato do que o rodoviário. Moradias, ruas, igrejas católicas e ortodoxas, escola e posto de correio estão ainda sendo planejados‖.

De acordo com as palavras de Wachowicz (1994): ―no lote de terreno recebido do governo brasileiro construiu

um rancho de tábuas lascadas de pinheiro, fez um cercado, plantou roça e construiu um apiário. Aos domingos e nas horas possíveis, fazia penetrações no sertão do médio [rio] Iguaçu e trazia espécimes da fauna paranaense. Dos pássaros e outros animais, retirava a película e os empalhava. Especial atenção dedicava à sua especialidade: a ornitologia‖.

“Domek autora z jego poprzedniego pobytu” [“Casa do autor em sua estada anterior”]: a humilde casa às margens do rio Iguaçu que, em 1910, serviu de morada a Chrostowski na colônia de Vera Guarani (Fonte: Chrostowski, 1922).

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“Siedziba autora w Paranie nad Rz. Iguassu” [Residência do autor no Paraná, no rio Iguaçu], mesmo detalhe da mesma casa (Fonte: Chrostowski, 1912b:153).

Algo que jamais foi mencionado na literatura é o interesse de Chrostowski pela documentação fotográfica dos locais por onde passou, retratando não apenas paisagens mas também o elemento humano, notavelmente o colono polonês. Várias das imagens colhidas por ele aparecem em um artigo que escreveu sobre a colonização polonesa no Paraná (Chrostowski, 1911a,b,c; traduzido por Straube et

al., 2007), bem como na obra ―Parana‖ (Chrostowski,

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“Kolonisci polscy z Królestwa” (“Colonos poloneses locais”) (Fonte: Chrostowski,

1911).

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Esse referido estudo, subdivido em três partes, foi publicado no mesmo volume do periódico ―Ziemia‖. Trata do panorama encontrado pelos imigrantes poloneses quando se estabeleceram no Paraná, particularmente na década de 10. A descrição do ambiente biológico, humano e social é detalhada, para o que o autor adiciona fotografias em preto- e-branco, mostrando paisagens naturais, habitações, atividades desenvolvidas pelos colonos e cenas do cotidiano.

Desde sua chegada a Vera Guarani, Chrostowski explorou ativa e minuciosamente os arredores da colônia, colhendo exemplares de aves, cuja representatividade era gradativamente ampliada. Ao mesmo tempo, deslocou-se para localidades contíguas, como ―Chapeo de Sol‖ e ―Rio

Paciência‖. Para isso eventualmente se hospedava em casas

de imigrantes polacos ou mesmo em barracas de uma lona.

“Popas w puszczy” [Barraca no sertão], o acampamento durante as incursões pelos arredores de Vera Guarani, com a companhia de uma mula (Fonte: Chrostowski, 1912b:153).

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A sede da fazenda Chapéu de Sol localizava-se nas proximidades da foz do rio Santana, que deságua na margem direita do rio Iguaçu, portanto na divisa entre os estados do Paraná e Santa Catarina. Uma melhor noção mais compreensiva dos topônimos indicados encontra-se em Chrostowski (1911; traduzido por Straube et al., 2007): ―A

colônia Vera Guarani situa-se às margens do rio Iguaçu, entre seus afluentes: rio Claro (que serve-se de limite entre a velha colônia Rio Claro e Vera Guarani) e Santa Ana (que separa a colônia Vera Guarani da propriedade privada chamada Chapéu de Sol). Há também uma área de litígio, situada na margem oposta do rio Iguaçu e que recentemente foi incorporada ao estado de Santa Catarina‖. Essa propriedade pertencia a Fabrício Vieira das

Neves, coronel da Guarda Nacional e um dos latifundiários no terreno contestado, especificamente no médio vale do Iguaçu19 (Campigoto & Sochodolak, 2008).

Por sua vez, o local denominado Rio Paciência, refere-se à foz desse no rio Iguaçu (atualmente no estado de Santa Catarina), exatamente defronte à sede de Vera Guarani que, alguns anos depois, tornou-se um dos focos de resistência durante o Contestado. (Carvalho, 1914; SANTA CATARINA, 1987)20.

Essas visitas não foram pontuais e sim resultado de constantes idas e vindas, provavelmente realizadas em

19 É de sua autoria uma série de crimes cometidos em toda a região, incluindo homicídios,

assassinatos a sangue frio, decapitações, sequestros, grilagem de terras, distribuição de dinheiro falso e diversas outras atrocidades cometidas contra os colonos locais (geralmente seguidores do revolucionário João Maria), movidos por seus capangas, que formavam um grupo de quase 200 homens, denominados ―fabricianos‖. Comerciante de erva-mate e invasor de terras para venda a empresas estrangeiras, coube a ele posição de destaque na deflagração da revolta do Contestado (Rodrigues, 2008). Vide Chrostowski (1922:154).

20 Bem da verdade, segundo fontes governamentais, o interflúvio dos rios Paciência e

Timbó havia se tornado um acolhedouro de foragidos da justiça e perseguidos políticos desde a Revolução Federalista (Anibelli, 2009). Outros topônimos relacionados com a revolução do Contestado (que iniciou dois anos depois) e visitados na primeira viagem foram Chapéu de Sol e Poço Preto, conforme o excelente estudo de Queiroz (1966).

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períodos de folga do trabalho agrícola. Aparentemente o naturalista visitou várias localidades adjacentes à sua morada, procurando por ambientes distintos e, desta forma, enriquecendo sua coleção com aves diferentes daquelas de que dispunha em Vera Guarani. Isso fica muito claro se avaliado o material por ele colecionado e mesmo suas anotações, nas quais revela ser obrigado a certos deslocamentos de maior extensão apenas para localizar uma ou outra espécie desejada. Chrostowski, pode-se afirmar, tinha pleno discernimento dos exemplares que gradativamente iam figurando em sua coleção, sendo pouco comuns os casos de repetição de exemplares da mesma espécie: seu interesse era amostrar ao máximo a diversidade. Nos arredores da colônia encontrou não somente densas e inexploradas florestas primárias com pinheiros e imbuias, conforme indicado pela presença de várias espécies de aves (Saltator maxillosus, Campephilus robustus,

Chiroxiphia caudata, Turdus albicollis, Xenops rutilans, Chamaeza campanisona, Heliobletus contaminatus e Batara cinerea) por ele coletadas mas também campos naturais e

áreas degradadas do tipo capoeiras, pomares e jardins (como atestam os espécimes de Colaptes campestris, Zonotrichia

capensis, Gnorimopsar chopi, Sicalis flaveola e Xolmis cinereus); o panorama completava-se com alguns hábitats

aquáticos como brejos, banhados e matas ciliares (presença de Phalacrocorax brasilianus, Mesembrinibis cayennensis e

Vanellus cayanus). Em resumo, o aspecto da natureza em

Vera Guarani era o ideal, uma vez que apresentava um mosaico diverso de hábitats ainda primevos e também modificados pelos homem e, com isso, também era propícia uma rica representação de avifauna.

No livro ―Parana‖ (Chrostowski, 1922) 21

, há inúmeras outras menções à avifauna dessa localidade, sendo

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várias particularmente interessantes. Uma delas alude ao contato com o acauã (Herpetotheres chachinnans), o qual aparentemente resumiu-se à visualização, haja vista que não consta dentre as espécies colecionadas (Chrostowski, 1922:172-173):

Ciemne głębiny leśne rozbrzmiewały złowieszczemi głosami: pełnemi jęków potępieńczych okrzykami puhacza, krótkiem, urywanem porykiwaniem pumy i grzmiącem, przeciągłem wyciem wilka guara. Od czasu do czasu rozlegało się na tem tle tęskne i melancholijne – ‗oo hau, hauu‘ – oo hau hauuu – głos drapieżnika leśnego Herpetotheres

cachinnans.

Nas profundezas escuras da floresta ressoavam sons dos mais profundos: gemidos lamentosos dos pios de corujas, gritos curtos e repetitivos de pumas e uivos de lobos guará. De repente soou junto a esse fundo lúgubre e melancólico um – ‗oo hau, hauu – oo hau hauuu‘ – era a voz do predador da floresta: Herpetotheres cachinnans.

Ten ostatni jest ptakiem nocnym, aczkolwiek pojawia się niekiedy i we dnie; ujrzawszy człowieka, kiwa swą dużą głową i wydaje powitalne okrzyki: ‗ha-ha‘. Jest to stworzenie użyteczne – jak bowiem stwierdzono na zasadzie badań zawartości żołądka, - tępi żmije i skolopendry, co również świadczy o nocnym trybie jego życia, gdyż skolopendry ukazują się tylko nocą, we dnie zaś siedzą ukryte pod korą drzew. O ptaku tym istnieje legenda, że głos jego zwiastuje śmierć. Atoli w puszczy, gdy w ciszy nocnej odbywają się łowy drapieżników, śmierć jest zjawiskiem zbyt częstem i powszechnem, by można było przepowiadać poszczególne jej

Trata-se de um pássaro noturno, embora às vezes apareça durante o dia; quando vêem o homem, acompanham-no com sua cabeça grande e lançam os gritos de ‗ha-ha‘. A vida noturna parece ser uma adaptação muito útil pois, como se sabe com base em estudos sobre o conteúdo de estômagos, alimenta-se de serpentes lentas e centopéias, o que também atesta a condição noctívaga de sua vida, já que centopéias aparecem apenas à noite, mantendo-se escondidas sob a casca das árvores durante o dia. Sobre esse pássaro existe uma lenda de que sua voz anuncia morte. Realmente, no sertão quando o silêncio da noite é

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wypadki – grasuje tam zawsze. dominado pela caça dos predadores, a morte é um fenômeno muito frequente e generalizado, sendo possível prever que tais eventos estarão sempre ao redor.

Sobre as matas ciliares do rio Iguaçu, defronte à sua casa também menciona (Chrostowski, 1922:174-175):

Teraz również rozbrzmiewały nad Iguassu chóry głosów, lecz inne i inaczej brzmiące. Prym trzymał donośny, melodyjny i dżwięczny głos kuropatwy-kusaka (Rhyhchotus rufescens), których mnóstwo przebywa na rozległych błoniach po drugiej stronie rzeki. Stadko czarnych ibisów (Harpiprion cayennensis)

przeleciało z jednego drzewa na drugie i obsiadło zwieszające się nad wodą konary. Wspaniale rozlegał się nad wodami przeciągły ich głos, zda się pełen tłumionego łkania. Z glębi lasów wtórowal im przepiękny głos gołąbka pomba legitima (Columba plumbea). Stado kormoranów (Carbo vigua) rozpoczęło już ranny polów ryb.

Agora também ecoou uma verdadeira explosão de vozes, porém distintas e com diferentes sonoridades. Ouvia-se com intensidade o melodioso e ressonante canto da perdiz (Rhynchotus rufescens), que reside nas vastas pradarias do outro lado do rio. Um bando de íbis pretos (Harpiprion cayennensis) voou de uma árvore para outra e pousou sobre os galhos acima da água. Muito bem se ouvia, pela lâmina d‘água, sua voz prolongada, parecendo-se com soluços contidos. Das profundezas da floresta ressoou o canto bonito da pomba legítima (Columba plumbea). Um bando de corvos marinhos (Carbo vigua) começou a sua pescaria.

Narrativa curiosa se volta, agora, para o pica-pau-do- campo (Colaptes campestris) e um dos riscos, não

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necessariamente selvagem, encontrado pelos naturalistas de campo (Chrostowski, 1922:177-178):

Wśród ‗kampów‘ (suche przestrzenie stepowe), któreśmy przechodzili, napotkaliśmy w znacznej ilości ciekawy gatunek dzięcioła stepowego (Soroplex

campestris), zabarwionego żółto z

czarnemi paskami i plamkami. Karmiąc się larwami chrząszczy, przebywających na otwartych miejscach, ptaki te prowadzą żywot zupełnie niepodobny do innych dzięciołów. Gdy gromada żeruje, dłubiąc swemi silnemi dziobami ziemię, pozostawiony na straży osobnik baczy pilnie z wierzchołka pobliskiego drzewa, czy nic nie grozi towarzyszom. Gdy ujrzy, że zbliża się coś podejrzanego, niezwłocznie daje sygnałl nie tyle przyjemnym, ile donośnym głosem. Całe stado zrywa się wówczas i siada na drzewie, by rzecz należycie osądzić. Jeśli zdarzy się, że przez niebaczność strażnika myśliwy podejdize zbyt blisko i strzał jego ugodzi w jednego z członków towarzystwa, pozostali przenoszą się na dalsze drzewo i urządzają strzelcowi kocią muzykę, wymyślając, co się zmieści wrzaskliwemi głosami.

Entre os ‗campos‘ (espaços com estepes secas) pelos quais passamos, encontramos uma grande quantidade de espécies campestres interessantes, como o pica-pau (Soroplex campestris), de cor amarela, com listras e pontos negros. Alimentando-se de larvas de besouros, mantêem-se nos lugares abertos e levam uma vida muito diferente daquela dos outros pica-paus. Quando o bando se alimenta, pegando as presas com o bico para baixo, um indivíduo sentinela protege o grupo, examinando cuidadosamente a partir do topo de uma árvore nas proximidades, para que nada ameace seus companheiros. Quando ele vê chegando algo suspeito, imediatamente dá um agradável sinal assobiado fazendo com que os demais se organizem na mesma árvore, atentos ao intruso, canto esse que se enquadra como voz de alerta.

Ponieważ w zbiorach swych nie posiadałem tego gatunku, zastrzeliłem przeto jednego dzięcioła. Jakby w odpowiedzi na huk strzału coś zakotłowało się w dali, ziemia zadudniła pod nogami

Já que eu não o tinha em minhas coleções, arrisquei um tiro nesse pica-pau. Porém, como que em resposta ao estampido que se espalhou à distância, o solo tremeu sob nossos pés, quando

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biegnących zwierząt, które w szalonym pędzie zbliżały się do nas. Towarzysz mój, wiedząc co się święci, pośpiesznie wyszukiwał gałęzi, by móc w krytycznym momencie wdrapać się na drzewo. Tętent coraz bliższy, słychać sapanie i stłumiony ryk – wreszcie ukazują się rogi i wytrzeszczone jakby w osłupieniu oczy. To stado zdziczałego bydła stepowego. Właściciele kabokle, nie korzystający z mleka, całą opiekę nad swym inwentarzem organiczają do chwytania pojedyńczych sztuk na lasso w celu uprowadzenia na rzeż. Odbywa się wtedy formalne połowanie. Cała gromada konnych kaboklów ugania się po stepie, starając się odłączyć i otoczyć upatrzoną sztukę, poczem następuje krótka już lecz prowadzona z przedziwną zręcznościa walka: rzucone z konia lasso chwyta zwierzę i w mgnieniu oka obala na ziemię. Nic zatem dziwnego, że bydło, taką otaczane opieką, nie lubi widoku człowieka i pieszy wędrowiec przy spotkaniu ze stadem może być narażony na grubą nieprzyjemność. W okolicach Guarapuavawy, gdzie rozległe stepy wcale drzew nie posiadają, przygoda taka jest bardziej niebezpieczna, niż spotkanie z jaguarem lub pumą. Setka rozjuszonych zwierząt rozdepcze wędrowca w mgnieniu oka, ani bowiem ukryć się, ani uciec nie można, a i broń w takich razach nie na wiele się przyda. My znależliśmy

animais, em correria louca se aproximaram de nós. Meu companheiro, sabendo que era crítico aquilo que estava por vir, apressadamente procurou os ramos de uma árvore para subir. Aquilo chegava cada vez mais perto e era possível ouvir bufados e um rugido abafado quando, enfim, observa-se o que pareciam chifres e olhos arregalados, como se estivessem em transe. Era um rebanho de gado campeiro selvagem. Seus proprietários caboclos não utilizam o leite, apenas organizam caçadas para laçar e capturar as reses, para depois abatê-las, em regime de

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