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3.1 Experiência do docente enquanto aluno de ensino fundamental

3.1.1 As primeiras experiências escolares

“Era uma escola pequena, eram aquelas carteiras de 2 lugares, tinha lugar pra tinteiro, tinha o lugar pra colocar caneta e tinha aquele espaço pra você pôr a tinta e escrever, o que a gente não chegou a usar.” ( P1A )

“Era feia, 3 salinhas, um banheiro mal feito, fedido, tinha aquelas mesonas de madeira, tinha sopa de fubá”. ( P1A )

“Quando tinha pão, mortadela e Ki-suco era uma festa de todo mundo, aquela população pobre, era uma coisa muito diferente, mas era geralmente aquela sopa de fubá, aquela sopa de macarrão e só...” ( P1A )

“Eu só queria dizer o seguinte, apesar da escola ser uma escola acanhada e tal. Eu gostava da escola, eu gostava de estudar” ( P1A )

“Mas é tão bom esse clima de 1ª a 4ª, eu sinto o cheirinho da escola. Durante as férias eles passavam óleo no assoalho, não sei se na sua escola... (Um óleo meio queimado, não era?) aquele cheirinho de óleo queimado, eu sinto até o cheiro, eu vejo a sala, então, foi muito bom, apesar de ser pobre, com dificuldade, eu acho que tenho boas recordações dessa escola. Isso, sabe, ficou marcado.” ( P1A )

“A escola funcionava na casa da professora a mesma casa que ela morava, ela dava aula e reunia todas as crianças da comunidade. Era na beira do rio Cuiabá, zona rural, chamada Praia Grande, distrito de Várzea Grande.” ( P2A ).”

“Lá que foi a minha primeira experiência como aluno, né!” ( P2A )

“Tinha quadro negro e essa mesa, aí já ficavam (os alunos) em torno dessa mesa, e ela (a professora) ocupava o quadro-negro.” ( P2A )

“A escola era muito grande, ampla o bastante. Tinha uma quadra de esportes no centro da escola, uns corredores, assim, enormes, bastante largos...” ( P3B )

“Era escuro o corredor. As salas eram grandes, enormes, era um prédio antigo, bem antigo, as janelas enormes, (pé direito alto), bastante arejada. A escola tinha um anfiteatro enorme, também tinha uma piscina, uma piscina muito grande, tinha cantina, banheiro, muito grande, muito grande mesmo, bastante ampla. As salas eram confortáveis, as carteiras bem pequenas.” ( P3B )

“Era uma EMEI perto de casa, no bairro, atrás da linha de trem; ali...” ( P4B )

“Antes de aluna, eu tinha uma expectativa né, ficava pensando como será que é a escola, tinha a preocupação de ficar parte do dia lá... o que eu vou ficar fazendo tanto tempo na escola, né... eu tinha assim... até uma certa preocupação. Mas depois eu gostei da escola, gostava até de ir pra escola. Eu ia com prazer mesmo...” ( P4B )

As diferentes descrições relatadas nos mostram as condições e os aspectos físicos da primeira escola na lembrança dos professores.

P1A estudou em uma escola pública estadual até a 4ª série. Lembra-se da escola com carinho e ainda é capaz de “sentir” o cheirinho de óleo queimado que era passado no assoalho, durante as férias escolares. Relembra a merenda, uma verdadeira festa quando no cardápio tinha pão, mortadela e Ki-suco.

“Eu acho que tenho boas recordações dessa escola.” ( P1A )

P2A iniciou seus estudos na zona rural, numa sala de aula improvisada e multisseriada, na casa da sua professora, que reunia ali todas as crianças daquela comunidade. P2A fez em Praia Grande somente a 1ª série e depois mudou-se para a cidade. Chegando à cidade, matriculou-se novamente na 1ª série, pois a escola da zona

rural, enquanto instituição escolar, não existia e para obter documento comprobatório da realização dessa série era preciso (segundo a escola) realizá-la novamente, e assim P2A o fez.

P3B estudou em uma escola, particular, até a 8ª série. Segundo ela era uma escola grande, com salas confortáveis, arejadas e as carteiras bem pequenas.

P4B começou a freqüentar a escola, uma EMEI, pelo maternal, e continuou nela até o término do pré.

O ambiente escolar e os colegas

“- O ambiente escolar é aquela coisa... de Pré, todo... sala enfeitada, minha professora de Maternal... Eu fiz Maternal antes do Pré, eu já não tinha muita afinidade... Ela já era uma senhora, não tinha muita paciência, né. Já no Pré, a minha professora do Pré, já me marcou mais, gostei bem mais dessa professora, era bem mais paciente, era mãezona, assim... né e o ambiente era agradável... Os colegas, eram os colegas que moravam perto de casa, eram pessoas que eu já tinha um certo né, então era um ambiente totalmente agradável. No comecinho quando tive que ir pra escola foi difícil... Eu lembro que o 1º dia de aula no Maternal eu não queria ficar, tinha medo de ficar na escola, porque era uma experiência nova, chorava... pedia pra minha mãe me levar embora, não queria ficar, mas aí depois eu fui me acostumando e já se tornou um ambiente totalmente agradável.” ( P4B )

Quanto aos colegas da escola, P4B comenta que eles moravam próximos à sua casa, portanto eram pessoas já conhecidas que a ajudaram a aceitar o ambiente escolar como algo agradável, apesar de revelar que no primeiro dia de aula, no maternal, tinha

medo de ficar na escola, porque segundo ela, era uma experiência nova, chorava... mas

depois foi se acostumando.

“Primeiro que eu não fiz pré, naquela época não era obrigatório eu tinha o pré no parque infantil, mas eu não freqüentei pré. Fui pra 1ª série. Os meus colegas na maioria eram muito pobres com exceção de 2 ou 3. Quase 50% eram alunos do Educandário, lá era orfanato naquela época, e eles passavam crise de fome, inclusive eles reviravam lata de lixo e comiam sobras da merenda dos outros e inclusive às vezes roubavam lanches. Então era assim, uma população muito pobre que estudava lá. Na escola tinham 3

salas, num prédio antigo, alugado, teve uma época que funcionou até vespertino, mas mesmo assim, eu acho que quanto aos professores, eu não me esqueço, minha professora da 1ª série, nem da diretora, gostava muito, Dona A. M., depois foi supervisora de ensino, lembro da Dona A., foi a 1ª professora. Da 1ª à 4ª série eu só fiquei muito chateada com a professora da 4ª série, que até hoje eu não esqueço...” ( P1A )

“Não tive dificuldade de me adaptar. Eu gostava da escola. Mesmo com os problemas. Eu tinha um pouco de medo dos alunos do Educandário, porque eles brigavam. Não fiquei decepcionada com a Escola. Eu gostava da Escola.” ( P1A )

P1A não freqüentou o pré, iniciando os seus estudos na 1ª série.

Não teve dificuldade em adaptar-se ao ambiente escolar, porém, quanto aos colegas, afirma: “eu tinha um pouco de medo dos alunos do Educandário porque eles

brigavam.” Mas esse fato não a deixou decepcionada com a escola. “Eu gostava da escola.” Tem boas lembranças de seus professores, porém comenta: “...só fiquei muito chateada com a professora da 4ª série.”

“A minha primeira professora, quando eu entrei, entrei no pré, lá, era uma freira, a minha primeira professora e eu cheguei lá assim na escola praticamente conhecendo muita coisa, que a minha mãe me ensinava muita coisa em casa.” ( P3B )

“Eu já sabia, no pré eu já sabia ler, no pré , quando eu entrei no pré. E aí, quando eu cheguei na escola, a irmã, ela se chamava irmã G., inclusive ela já faleceu, ela me disse, mandou chamar minha mãe e ela disse que eu já estava em sala errada e que eu era muito grande, tinha um tamanho grande, alta né, e ela chamou minha mãe e disse: Oh, a P. tá em sala errada, ela já tá alfabetizada e, o tamanho dela, a estrutura dela, ela já, ela tem que passar pra 1ª série. E aí eles me passaram pra 1ª série.” ( P3B )

P3B iniciou o pré-primário permanecendo nele pouco tempo, pois segundo a sua professora, ela já estava alfabetizada e deveria freqüentar a 1ª série e não o pré. E assim foi feito, encaminharam-na para a 1ª série.

P3B lembra que não tinha muitos colegas e aponta os motivos:

“Não sei, eu sempre fui muito tímida, quieta, tinha dificuldade até de me relacionar com os colegas, principalmente, eu acredito que naquela época, que era pelo nível social. Eu acredito que o nível social influenciou um

pouco. Pode até ser hoje também, que isso aconteça, não sei, mas naquela época eu percebo que existia diferença entre as pessoas, entre as alunas, isso até a 8ª série, isso até o final, da 1ª série até o final, existia diferença entre os alunos pelo nível social, o tratamento, o tratamento de professores em relação aos colegas e também entre os colegas. Não eram todas as pessoas que tinham relacionamento com pessoas mais simples. Por que eu sou de uma família simples, humilde, e..., mas nem todo mundo era.” ( P3B ) “Que eu me lembre assim, tinham poucas crianças do mesmo nível social que eu.” ( P3B )

P3B relata que tinha dificuldade em se relacionar com os colegas e acredita que pode ter sido pela diferença de nível social e / ou timidez.

“...da minha série tinha dois colegas, eu tinha mais colegas da 2ª, da 3ª, da 4ª, porque estudava todo mundo ali, só a professora que fazia a distinção, né! Essa atividade é pra 1ª série, pra 2ª série...Em volta de uma mesa, não era carteira não. Era uma mesa grande, que a gente ficava do lado, na mesa sentado.” ( P2A )

“O que eu pensava da escola é que a gente achava bonito, sempre tinha criança junto, tinha chance de brincar com os outros colegas, e escola funcionava assim, uma reunião de ... a gente tinha recreio, você podia brincar com os outros colegas que no dia normal você não encontrava com ele, quando fazia alguma tarefa dificultava esse encontro, então a escola era um local de encontro, e por isso já facilitava.” ( P2A )

“Morava tudo um perto do outro, conhecia o pai, era amigo, parente, coisa assim.” ( P2A )

P2A comenta que os colegas todos próximos e que a escola era tida como um local de encontro, de reunião.

Castigos / punições / humilhações: lembranças ainda não esquecidas.

“...tinha castigo, tábua, tinha palmatória, tinha de ficar de castigo após a aula fazendo as atividades que não era realizada no tempo normal.” ( P2A )

Os outros professores entrevistados não relataram “castigos” dessa natureza, porém, a respeito de humilhação, discriminação, o relato de P1A explicita bem esse tipo de comportamento.

“Só fiquei muito chateada com a professora da 4ª série, que até hoje eu não esqueço, mas foi a discriminação de classe, quando eu disse que faria “admissão” para estudar no Álvaro Guião. Naquela época tinha admissão para a 5ª série. Ela ao invés de me estimular, disse que se fosse eu nem faria, porque o filho dela, que estudava em tal escola, não tinha conseguido passar, imagine se eu ia passar. Mas acho que foi mais discriminação, eu sinto isso, como discriminação de classe. Como eu era (os alunos) uma população muito pobre e eu vinha de uma família muito pobre e naquela época o Álvaro Guião era uma escola elitizada, ela (a professora) disse isso. Isso me magoou e me marca até hoje, tanto é que eu não esqueci.” ( P1A )

A professora P1A em entrevista faz referências às medalhas/ prêmios recebidos da 1ª até a 4ª séries que estão guardados até hoje e confessa: “Eu sempre fui uma ótima

aluna, pelo menos em relação aos outros, né.”

Essa fala soa como uma mistura de indignação, mágoa, revolta e, enquanto aluna estudiosa, capaz, percebe o não reconhecimento de sua professora perante todo o seu aprendizado.

A alfabetização e as dificuldades do percurso

“Fui alfabetizada com a cartilha Sodré. Depois da cartilha já começou o primeiro livro, o segundo e o terceiro que eu os tenho guardado em casa. Tinham textos, nós líamos, depois tinha vocabulário, você procurava o significado das palavras, tirava a gramática dos textos daqueles próprios livros.” ( P1A )

“A gente usava a cartilha, o ABC. Tinha um livrinho que era o ABC, era a cartilha. Hoje é tão marginalizada!”( P2A )

“É, primeiro foi a cartilha, é como se fosse uma cartilha pra formar as palavrinhas. Eu não lembro o nome da cartilha mas não era Caminho Suave (A Caminho Suave meu irmão usou na escola pública). Tinha um livro, livro

didático. A gente fazia leitura na sala, do livro, seguidas das explicações, sempre assim, e aí resolvia os exercícios.” ( P3B )

“Eu não tive nenhuma dificuldade com o aprendizado porque eu gostava de estudar, eu preferia ler do que brincar. Então eu não tinha problema com relação ao aprendizado.

Eu estudava sozinha em casa. A minha mãe só tinha até a 3ª série, mas ela fazia questão de olhar os cadernos e cobrava: se tinha prova, se tinha feito a tarefa, se o caderno tava limpo, se tava encapado. Mas eu geralmente estudava sozinha porque não tinha mesmo quem... Eu era a filha mais velha e os meus pais tinham instrução como eu ou menor na época.” ( P1A ) “Eu sempre tive dificuldade em matemática, que eu lembro, até de 1ª a 4ª série. Mas de 1ª a 4ª não chegava a ficar de recuperação de matemática. Mas eu percebia que eu tinha muita dificuldade de matemática e português. Eu chegava em casa, estudava praticamente todos os dias na minha casa. Sempre estudava sozinha. Tinha uma caderninho onde eu refazia todas as contas que a professora tinha dado no dia e de português eu refazia todos os exercícios, mas eu percebia que era a mesma coisa que eu fazia na sala eu reproduzia no caderninho. Ah, eu mudava os números, algumas vezes. Nesse caderninho eu treinava, treinava. A minha mãe falava: muda o número agora. Ela me orientava de longe. Quando eu tinha que estudar pra prova, meu pai e minha mãe me ajudavam, mas no estudo diário não, era eu que fazia sozinha.” (P3B)

Nos relatos dos professores sobre a questão da alfabetização, a cartilha foi o primeiro recurso didático citado. Foi através dela que conheceram as primeiras letras, aprenderam a ler e a escrever. Vieram após a cartilha os livros para leitura, interpretação de textos, gramática e o significado das palavras (vocabulário). Desse modo observamos que o processo de alfabetização se inicia pela cartilha tendo continuidade com os livros. Quanto a aprendizagem não há relatos de dificuldades / insucessos durante o processo de alfabetização. Tudo transcorreu tranqüilamente. Porém a professora (P3B) relata dificuldade em matemática e português durante o período compreendido da 1ª à 4ª séries e que apesar de muito estudo, não conseguiu superá-la.

A ajuda dos pais nas tarefas escolares diárias não esteve presente nos relatos dos professores, exceto P3B que contava com a colaboração dos pais na época das provas.

Para P1A, havia um fator limitante para essa ajuda – ensiná-la nas tarefas diárias – pois segundo ela, os pais não dispunham de um conhecimento adequado para disponibilizá-lo à filha, mas mesmo assim se mostrava atenciosa, interessada e cuidadosa com os estudos e as tarefas.

Outro relato muito interessante ainda sobre P1A, diz respeito ao gosto pela leitura quando comenta: “- Eu preferia ler do que brincar” - uma visão de leitura como um ato lúdico, prazeroso, instigante, dando-nos a entender que para P1A brincar era ler e ler era deliciosamente brincar.

Sobre problemas quanto ao aprendizado o professor (P2A) comenta a dificuldade em aprender: “é que a gente morava no sítio e a gente tinha outros afazeres,

não só estudava. Cuidava de animais, prendia os bezerros prá tirar leite, fazia todas as atividades rurais.” ( P2A )

A não dedicação aos estudos, segundo esse professor, era devido à sua dupla jornada, a escolar e a do trabalho. Com apenas sete anos de idade, P2A realizava atividades mais apropriadas para os adultos do que para uma criança. O único lazer de que gostava e dispunha era a pescaria, mas para isso era preciso não ir à escola. Segundo P2A “pescava no rio Cuiabá desde os sete anos, um rio fantástico. Muito

peixe. As vezes a gente ainda faltava da aula pra ir pescar porque era pobre, né. E tinha momento que tinha dificuldade de arrumar comida e ia pescar pra matar a fome, manter o dia-a-dia da família. Desde criança tinha de assumir as coisas.” ( P2A )

Além da escola e do trabalho, P2A ainda precisava dar conta do sustento da família. Situação triste, difícil, lamentável para uma criança com apenas sete anos. Esse é o retrato de várias crianças brasileiras ainda hoje.

O Ensino-Aprendizagem de 1ª a 4ª série

“A parte de Matemática, exigia-se sim que a gente decorasse a tabuada, era a memorização. Tinham as aulas expositivas, a gente estudava em casa. De 1ª a 4ª séries acho que (os professores) deram mais ênfase na parte de história do município, português e matemática. Ciências era assim, jogado. Você tinha alguma coisa sobre alimentação, cuidados de higiene, não era como agora, né.” ( P1A )

“Na 4ª série um pessoal do posto de saúde, eram orientadores (não sei como se chamava naquela época, não me recordo), deram orientações sobre as mudanças que tem no corpo, os cuidados de higiene durante a menstruação. Ensinavam pra gente isso. Conversa com os meninos de um lado e com as meninas de outro.” ( P1A )

“Outra coisa que tinha naquela época, com relação à saúde é que uma vez por ano tinha exame de fezes. Passava na escola, distribuía a latinha pra exame de fezes recolhiam, retornavam com o resultado de exames e com os remédios pra quem necessitava. Aí chamavam os pais de alunos que estavam com verminose, explicava como que se tomava o remédio, tomava os cuidados.” ( P1A )

Para o professor (P2A), Ciências não foi vista por ele quando cursou da 1ª a 4ª séries. “Não se falava em Ciências nessa época. Era outra coisa, menos Ciências. Eu só

fui ver Ciências quando fui fazer 5ª série, 6ª, mas antes, estudava o básico, o português, só.” ( P2A )

Nesse relato observamos a ausência de conteúdos de Ciências / Saúde que só foram vistos a partir da 5ª série.

A professora (P4B) comenta sobre o ensino de 1ª a 4ª série através de atividades lúdicas.

“Ela fazia joguinhos, atividades lúdicas né. Tinha os livros. Tiravam dúvidas individuais. Elas ensinavam individualmente. Elas se dirigiam até as carteiras. Tinha alunos com dificuldade, eu lembro que eles eram mais solicitados à lousa, mais solicitados a participar em leituras, quanto à exercícios da lousa.” ( P4B )

“Eu lembro que a escola era mais divertida de 1ª a 4ª série.” ( P4B )

Ciências... eu lembro que tinha um livrinho de 1ª a 4ª de Ciências e Saúde. Eu aprendia higiene pessoal: como lavar as mãos, aprendi solo e água.

Ciências já era uma matéria que eu tinha uma certa afinidade desde o começo.” ( P4B )

Apresenta-se novamente a questão da higiene pessoal como conteúdo ensinado em Ciências, acrescido do estudo do solo e da água. Observa-se assim uma coerência entre os conteúdos estudados e faz sentido com essa abordagem higiene / solo / água, oferecendo uma aprendizagem significativa ao aluno por revelar uma interação que há entre o ser humano e o ambiente.

Outro ponto importante observado foram as inclusões no processo ensino- aprendizagem realizadas pelos professores daqueles alunos que apresentavam dificuldades na aprendizagem, os quais recebiam maior atenção dos professores, não sendo colocados à margem do processo.

Nos relatos da professora P3B observamos semelhanças no ensino que foi oferecido à professora P1A. Iniciando a sua fala sobre o ensino de matemática comenta:

“A professora ensinava a tabuada. A gente decorava a tabuada, não entendia nada e depois ela passava as contas na lousa, a gente resolvia, ela explicava como fazer aquela conta e eu não lembro de ter aprendido a desenvolver o raciocínio. Era só decoreba mesmo. A gente decorava a tabuada, fazia as contas e aplicava a decoreba nas contas.” ( P3B )

Quanto ao ensino de Ciências comenta que aprendeu “com questionários, com

perguntas e respostas. Geografia, História, tudo assim, todas as disciplinas. De 1ª a 4ª, nada de experimentação. Livro e seguia o questionário. Um ensino bastante tradicional mesmo.” ( P3B )

Os mestres, na maioria das vezes, deixam boas lembranças impregnadas em nossas memórias, porém, alguns deles acabam “marcando” negativamente de modo que também não serão esquecidos, como no relato da professora P4B:

“Ela era muito rígida e eu tinha medo dela. Eu tinha medo até de me dirigir até ela. Eu lembro que ela fazia chamada oral de tabuada. E eu estudava que nem louca, chegava em frente dela eu não conseguia falar de tanto é... Acho que tinha um bloqueio na fala, né. Eu lembro de uma situação fazendo chamada oral e aí eu não conseguia falar e comecei a gaguejar e aí ela começou a me beliscar, me deu um beliscão, um “chacoalhão”, sabe. Aquilo me marcou até hoje eu não esqueço de ela ter beliscado, gritado comigo, aquilo me deixou mais bloqueada em relaçãoaà ela. Me marcou negativamente pela agressividade dela. Era muito agressiva, muito seca e isso dificultou o meu aprendizado na 3ª série. Eu tinha medo de perguntar, medo de tirar dúvida.” ( P4B )

“Beliscão” e “chacoalhão” palavras que nesse contexto traduzem não só agressão física, mas a dor na alma registrada na memória e mágoa que ainda não foram esquecidas.

Relação desumanizante, abuso de poder, autoritarismo são o retrato dessa relação professor-aluno.

Contrapondo-se a esse relato, há um outro onde as “marcas” são suaves e