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Primeiro momento do Projeto Leitura, experiência e paixão

4 LEITURA LITERÁRIA COMO EXPERIÊNCIA: PRÁTICAS DE UMA

4.2 Projeto Leitura, experiência e paixão

4.2.1 Primeiro momento do Projeto Leitura, experiência e paixão

Com intuito de promover sensibilização e aproximação dos alunos com textos literários, convidei-os durante uma aula de Português, no início do mês de março, a

participarem de uma experiência com leitura de poemas fora da escola, ao ar livre, mais precisamente na Pracinha da Prainha de Vila Velha. Esse lugar foi escolhido por se tratar de um ponto turístico do município em que a escola se situa, por estar próximo ao Convento da Penha18 e por ser um lugar bucólico, que apresenta belas paisagens com matas, animais silvestres e mar.

Para ida à referida pracinha, foi necessário reservar uma manhã e fazer alterações na rotina da escola: mexer no horário das turmas envolvidas; contar com a compreensão e apoio dos professores das demais disciplinas; prover autorização dos pais dos alunos; providenciar professores para auxiliarem, lanche e ônibus, uma vez que a escola fica distante da pracinha. Constituía-se, assim, uma rede de fazeres e saberes com todos os sujeitos inseridos direta e indiretamente no desenvolvimento do projeto: eu, como parceira dos alunos; professores da escola, diretora, coordenadores e merendeiras como meus parceiros e dos alunos. Nessa perspectiva, acredito que se instalava a parceria colaborativa com sujeitos participantes e ―praticantes‖, pois, assim como afirma Michel de Certeau (1994), esses sujeitos criavam, fazendo usos criativos o tempo todo dos dispositivos culturais.

Durante o período de preparação para a ida à pracinha emanou uma expectativa nos alunos e em mim, pois todos estavam curiosos em saber como se daria essa experiência: ler em praça pública. No dia programado, ao chegarem à pracinha, os alunos fizeram inicialmente um reconhecimento do local, podendo correr, brincar, apreciar as belas paisagens oferecidas pela generosa natureza. Depois, receberam coletâneas de poemas diversos para lerem e foram orientados por mim que aquela manhã teria mais dois momentos: um de duas horas para leitura dos textos poéticos

18 Patrimônio histórico-cultural e religioso do Brasil, localizado na cidade de Vila Velha. O Convento da Penha é

uma das mais belas e antigas construções do Brasil Colonial e testemunho de grandes acontecimentos históricos e milagrosos. Fundado em 1558, pelo frei franciscano Pedro Palácios, o santuário foi erguido sobre um rochedo a 154m de altitude. Além da tradicional Festa da Penha, realizada anualmente em abril para homenagear a Padroeira do Estado, Nossa Senhora da Penha, iniciativas como a produção de livros e de documentários e a promoção de concursos culturais fazem parte da programação. O rico acervo do santuário conta com quadros do pintor paulista Benedito Calixto e obras de arte sacra datadas dos séculos XVI a XVIII. Dentre elas, destaca-se a tela de Nossa Senhora das Alegrias, trazida da Escola Ibérica do início do século XVI pelo Frei Pedro Palácios, que é uma pintura a óleo de autor desconhecido tida como a mais antiga existente em solo americano. Desde 1943, o conjunto formado com as demais construções – Capela de São Francisco, Gruta do Frei Palácios e Ladeira das Sete Voltas -, integradas ao patrimônio natural, está inscrito nos Livros do Tombo Histórico e das

e o outro, de meia hora, para o lanche. Os alunos, então, espalharam-se pelo local e, de maneira despojada, simplesmente leram. Dos noventa e quatro que foram à pracinha, apenas dois preferiram ler sozinhos, os demais se organizaram em grupos de quatro ou cinco, como pode ser verificado nas fotografias reproduzidas abaixo. Observei que, enquanto liam, alguns alunos esboçavam sorrisos, outros faziam fisionomias de desagrado, de tristeza ou de surpresa. Observei também que trocavam textos, ideias, informações e demonstravam estar envolvidos com a leitura, de modo que não desviaram o foco para outra atividade. Assim, não ocorreu nenhum ato de indisciplina, pelo contrário, o espírito de cooperação, paz, satisfação, alegria e harmonia pairou entre todos. Isso me alegrou muito, pois estava receosa de alguns alunos, principalmente os que se declararam na entrevista em não gostarem de ler, aproveitarem a área aberta para correr, brincar, conversar.

Fotografia 3 – Alunos lendo na Pracinha da Prainha de Vila Velha-ES

Em entrevista coletiva, antes de retornarmos para a escola, os alunos disseram que ―ler fora da sala de aula é muito prazeroso‖ e ainda declararam:

Achei maneira a ideia da professora Rachel. Nunca tinha lido numa aula assim, fora da sala de aula. Gostei muito porque ela deixou a gente à vontade e não cobrou prova (Diário de campo, maio de 2008). Eu preferi ler sozinho... Na sala é muito chato... A gente tem que ficar sentado naquelas cadeiras duras, não pode levantar do lugar. Aqui eu me senti à vontade. O lugar é maneiro, muito legal. Pra mim, as aulas de leitura deveriam ser sempre como essa de hoje (Diário de campo, maio de 2008).

Não sou muito chegado a poema não... mas ler assim foi legal. (Diário de campo, maio de 2008).

Essa experiência agradável promoveu uma alteração em meus planejamentos para o segundo semestre letivo. Destinei duas aulas na semana para leitura de contos e crônicas, que foram realizadas ora na biblioteca, ora em uma área de jardinagem da escola denominada pracinha. Houve também mudança de comportamento por parte dos alunos. Segundo a bibliotecária Léa em depoimento para registro no diário de campo, houve aumento de visitação e empréstimos de livros por parte dos alunos que participaram do projeto.

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