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- Essa oficina é um trabalho físico e essencialmente prático.

- É apenas uma das abordagens teatrais

- A intenção é utilizar o ator como principal veículo de comunicação. O narrador é o dono da história, da verdade nele, intensidade e detalhes que você consegue imprimir, cores. É mais do que decorar um texto, é contar com a urgência, como se fosse uma única vez na vida. É uma coisa viva, intensa, mas com sua maneira de expressar, preservando sempre a atenção e o interesse do público.

- Lembrar que meu trabalho do ator é o seu lazer como espectador. É preciso fazer valer a pena, estimular a possibilidade de voltar ao teatro. O teatro não tem importância nenhuma nos tempos atuais. Cabe a nós, criar esse espaço para que o teatro sobreviva.

- O teatro funciona como um plano sequência de uma hora e meia. Por isso, acredito que o ator deveria fazer essa experiência de narração.

- Você não substitui um ator num solo narrativo. Você substitui o espetáculo.

- A narração é realizada com ações sonoras. Essa construção vai se dar num processo de amadurecimento.

- Essa oficina surgiu através da colaboração com Alessandra Vannucci, que me viu passando por todas as etapas. Criamos uma relação efetiva de trabalho e funcionou como um processo de reflexão, de como eu podia reinventar-me por meios de exercícios. Criei uma espécie de metodologia de minhas experiências. Como observar? Respeito, paciência, não impor a própria vontade, ter a capacidade de fruir e escolher um gesto, uma cena para o ator.

- É importante visualizar, fazer ver, bebendo das técnicas e das intenções individuais. As técnicas colaboram e trazem uma qualidade de ação.

- O olhar de fora vai dizer o que pode ficar e o que pode ser excluído. Qualquer movimento a gente faz a leitura. Pode virar um vício, uma bengala e pode desinteressar o público. É quase uma coreografia de ações físicas com pausas e limpeza, com o frescor que uma improvisação traz. Vamos beber da contação de histórias, mas vamos fazer o contrário. Eu conto a ação, mas eu faço a ação.

- Um ator vai indicar suas potencialidades de acordo com sua energia. Um vai ter mais força no físico, outro no verbal, outro será mais dinâmico. Será um processo individual sobre os nossos olhares para fazer render nosso pouco tempo de convívio.

- Somos seres humanos que temos uma vida lá fora. Por isso, temos que trazer o corpo para a realidade do ensaio para aquecer, alongar, concentrar. É incompreensível para eu chegar ao teatro sem qualquer preparação inicial e já entrar em cena. O ensaio pode ser monótono e chato, mas vai depender dessa reunião de pessoas, do que somos capazes de produzir. É preciso ter respeito e tranquilidade, transformar nada em alguma coisa, desprover da preocupação de olhares críticos, perceber além do que se está propondo.

- Quando eu transformo uma frase em ação física, qual o detalhe dessa ação que você escolhe? Enfim, é um mecanismo de encontrar coisas, algumas espontâneas, outras não. A improvisação é mais uma saída. O objetivo é ter um trabalho orgânico, fechado. Se você conhece a história, pode sempre criar algo mais. Quantas personagens têm essa história? Pode ser um ambiente, uma tempestade, trazer imagens que façam o público visualizar, criando sua própria cena. Só tem um ator, não tem cenário. É preciso fazer mímica? Na verdade, temos sim que buscar códigos físicos de expressão. Quando eu trago algo lúdico, vira brincadeira de criança, um jogo. Perde as convenções sociais, quebra barreiras porque a criança está aprendendo, está protegida socialmente em seu universo de descobertas e perguntas. A criança brinca de verdade. Quando ela gosta, ela diz: - De novo! Com a criança, você cria códigos, pode sentir, cheirar. Então, você precisa do despojamento de uma criança.

- Você pode ter talento, mas tem que ter vocação porque é trabalho, é disciplina. Não existe essa de mexer com o teatro. A gente quer o aplauso alto, forte e sincero. Ah, mas

as pessoas querem ver comédia. E daí? O fundamental é que eu tenha consciência de minhas escolhas.

- A ação pode ser física, pode ser sonora. A assimilação do código é quando se repete, é ter consciência do que foi feito. O trabalho novo tem que sair do zero. O trabalho é criar o momento que vai amadurecer determinada cena. O tempo necessário nunca é o tempo que a gente deseja. Então, é transformar nada em alguma coisa e de que forma a observação pode ajudar. Ver pela segunda vez e ainda perceber o frescor da primeira vez e ficar feliz com uma coisa que não existe. Trazer mais detalhes, treinar o olhar. Na verdade, não existe erros e acertos, existe processo que se seleciona. Se funciona, comunica? Cria interesse no público? Se eu fosse bater uma foto, um instantâneo, qual é a ação mais representativa?

- Ação física não é só movimento. Se eu estou trabalhando, eu uso a repetição, eu faço uma variação de tamanho, eu crio expectativa... E mudo o final. Os detalhes da ação vão agregar. Por isso, o olhar é fundamental para identificar, recuperar, preservar e amadurecer.

EXERCÍCIO UM

Um ator cria uma cena com início, meio e fim. Dois repetem logo a seguir. Atenção no rigor do movimento, na noção do todo, deslocamento, olhar, ritmo, peso, barulho, sempre ligado em que propõe porque a leitura que eu tenho é a partir do que você faz.

- Quando eu jogo uma coisa, tem o tempo para o objeto cair. Isso pode ser acrescentado na ação, enriquece o movimento.

- Como o movimento reflete no meu corpo como um todo? Tenho que traduzir isso numa verdade para o público assimilar.

- Ao narrar, lembrar da cor, da voz, do som, aonde tem ação.

- Procure encontrar um ritmo (pesquisar, esgarçar o trabalho, num tempo que é meu e que leitura estou dando).

- Começar a observar, a ter intimidade com esse código, criar um fluxo narrativo, refazer a ação, não é repetição. O jogo é o seguinte: Um ou dois atores param e um terceiro conta

sua história. Após bater palma, o segundo narra. Na terceira palma, o primeiro narra e os dois observam. Então, bom divertimento e bom trabalho! Foi!

(Começa a improvisação do grupo. Júlio vai tecendo suas observações enquanto o grupo de atores se movimenta)

- Qual é o tom da minha narração? Sou um personagem? Se tem dois, como muda? Como estabeleço as diferenças? Sem pressa e respirando.

- Como está o meu corpo? Está frouxo? Tem que ter uma energia para estar em cena e perceber os ângulos que trabalho minha ação.

- Temos que ter uma educação do olhar. A ideia é ter paciência e generosidade, trabalhar com o que tem, acaba sendo um direcionamento. Não existe o dono da ideia, do diretor. O trabalho é autoral, o sotaque, a ação física que é proposta vem daquele corpo específico. Vamos ao supermercado fazer as compras e escolher o que quero e do meu jeito.