• Nenhum resultado encontrado

O artigo 3º do C.P.C. sobre a epígrafe “Necessidade do Pedido de Contradição” determina que “o tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a acção pressupõe sem que a resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja devidamente chamada a deduzir oposição (…) o Juiz deve observar e fazer cumprir, ao longo de todo o processo o princípio do contraditório, não lhe sendo lícito, salvo em casos de manifesta desnecessidade, decidir questões de direito ou de facto, mesmo que, de conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido o direito de sobre elas se pronunciarem.”73

Este princípio traduz-se numa imposição de proibição de decisão dirigida ao juiz, perante a qual nenhuma prova pode ser valorada ou nenhuma decisão pode ser tomada sem que as partes tenham tido a oportunidade de sobre estas se pronunciarem.74

O princípio do contraditório é indissociável do princípio da igualdade das partes, previsto no artigo 3º - A deste C.P.C.75. Na verdade, para que ambas as partes possam litigar

73 Abílio Neto, “C.P.C. Anotado”, 18ª Edição, Ediforum, Lisboa, 2004, pág. 37.

74

“ O direito a ser ouvido, inequivocamente consagrado no nº 3 do artigo 3º deste Código, não pode ser interpretado nem aplicado, no

sentido de permitir ou justificar que a controvérsia entre as partes se prolongue indefinidamente até à exaustão: o direito de resposta tem como limite natural a pronuncia sobre uma questão nova, inconfigurável como um mero ensejo de repetir o já alegado anteriormente.”

Abílio Neto, Op. cit. pág. 39.

75 “O direito ao contraditório – que é em si mesmo uma decorrência do princípio da igualdade das partes estabelecido no artigo 3º A possui

um conteúdo multifacetado: ele atribui à parte não só o direito ao conhecimento de que contra ela foi proposta uma acção ou requerida uma providência e, portanto, um direito de audição antes de ser tomada qualquer decisão, mas também um direito a conhecer todas as condutas

com igualdade, torna-se essencial o conhecimento por ambas de todas as provas indicadas e de todos os argumentos suscitados, com a consequente possibilidade de contra prova e contra argumentação.

2.6.2 O direito processual penal

Também no âmbito do direito Processual Penal, o princípio do contraditório tem extrema relevância. Embora não sendo um processo de partes, este princípio revela-se fundamental na valoração das provas produzidas e encontra-se especificamente previsto no nº 5, do artigo 32º da C.R.P. que, para além de estabelecer a estrutura acusatória do direito processual penal, submete ao princípio do contraditório todos os actos instrutórios e a audiência e julgamento.

O princípio do contraditório, além de estabelecer – ainda que de forma indirecta – a igualdade entre as partes (no âmbito do processo penal, a igualdade entre a acusação e defesa no que respeita à prova, sendo esta apreciada em audiência) impossibilita, ainda, a condenação do arguido com base em elementos de prova que não tenham sido discutidos.76

São vários os pedidos de apreciação da conformidade de interpretação de normas legais com este princípio do contraditório dirigidos ao T.C.. Porém, não foi possível encontrar nenhum exemplo jurisprudencial no qual fosse dado provimento ao recurso, sendo que, todos os exemplos que se passam a citar, não obtiveram provimento.

No Ac. do T.C., de 12/3/2009, nº 127/2009, processo nº 987/08, também já referido, os recorrentes alegam a inconstitucionalidade da interpretação dada aos artigos 322º, 343º, nº1, e 345º do C.P.P., quando interpretados no sentido de que: “ao arguido assistiria o direito a ser ouvido mas nunca a interromper uma qualquer testemunha e nem por isso o seu direito de contraditório fica prejudicado, pois que, findo o depoimento, o Juiz presidente constatada a utilidade da sua audição, se esta for manifestada por aquele ou mais e essencialmente manifestada pelo seu defensor, pode e deve confronta-lo com tal versão.”. Esta interpretação violaria o princípio do contraditório e as garantias de defesa a este inerentes, constitucionalmente consagradas no artigo 32º, nº 1 e 5 da C.R.P.. A decisão em causa vem afastar a violação do princípio do contraditório, ao afirmar que a decisão recorrida invoca aquele direito de audição dos arguidos, ainda que terminado o depoimento da testemunha. Posteriormente, aquela decisão vem explicar o que entende significar o invocado princípio do

assumidas pela contraparte e a tomar posição sobre elas, um direito de resposta.‖ M. Teixeira de Sousa: “ Estudos Sobre o Novo Processo

Civil”, Lex Editora, Lisboa, 1999, pág.46.

contraditório, da seguinte forma: “Conforme unanimemente notado pela doutrina (por todos, ver JORGE MIRANDA/RUI MEDEIROS ―Constituição Portuguesa Anotada‖, Tomo I, pág. 360; JJ GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA ― Constituição da República Anotada‖ Vol I, pp 522 e 523) e pela jurisprudência consolidada do T.C., a garantia constitucional do direito ao contraditório visa assegurar que o arguido não possa ser julgado e condenado sem que possa ter tido a oportunidade de se pronunciar sobre a plenitude da prova carreada para os autos e produzida em audiência de julgamento. (…) Este princípio abrange (…) a) o dever e direito de o juiz ouvir as razões das partes (da acusação e a defesa) em relação a assuntos sobre os quais tenha de proferir uma decisão; b) o direito de audiência de todos os sujeitos processuais que possam vir a ser afectados pela decisão, de forma a garantir-lhes uma influência efectiva no desenvolvimento do processo; c) em particular, o direito do arguido de intervir no processo e de se pronunciar e contraditar todos os testemunhos, depoimentos ou outros elementos de prova ou argumentos jurídicos trazidos ao processo, o que impõe designadamente que ele seja o último a intervir no processo; d) a proibição de ser condenado por crime diferente da acusação, sem o arguido ter podido contraditar os respectivos fundamentos.”. A decisão em causa afirma não se vislumbrar, da interpretação dada àqueles artigos, qualquer violação do princípio do contraditório, sendo que, ao conduzir a audiência, o juiz presidente entendeu dar a palavra aos arguidos no final do depoimento das testemunhas, o que veio a suceder em claro respeito por aquele princípio do contraditório.

2.6.3 O processo de impugnação judicial e o processo de execução fiscal

No processo judicial tributário, este princípio do contraditório assume relevância no artigo 98º da L.G.T., pois o mesmo confere às partes, iguais faculdades e meios de defesa.

No âmbito do processo de impugnação judicial, o artigo 121º, nº 2 do C.P.P.T. impõe a obrigação de audição do impugnante e do representante da Fazenda Pública. A preterição desta formalidade implica uma nulidade secundária, que deve ser arguida nos termos do artigo 205º do C.P.C..77 Na verdade, nulidades “são quaisquer desvios do formalismo processual seguido em relação ao formalismo processual prescrito na lei, e a que esta faça corresponder – embora não de modo expresso – uma invalidação mais ou menos extensa de actos processuais.”.78

77 Jorge Lopes de Sousa, “C.P.P.T. Anotado e Comentado” Op. cit., pág. 113

No Ac. do S.T.A., de 11/3/2009, processo nº 01032/08, segundo o qual a junção aos autos do processo administrativo impõe a sua notificação às partes, sob pena de violação do princípio de contraditório, pelo que está vedado ao juiz o conhecimento imediato do pedido, antes que o recorrente pudesse pronunciar-se sobre as provas constantes daquele processo administrativo. Caso contrário, estaremos perante uma nulidade secundária. Este Ac. vem ainda identificar o recurso jurisdicional, como o sendo, o momento tempestivo para aquela arguição, uma vez que os recorrentes desconheciam até à prolação da sentença aquela omissão de notificação.

No Ac. do T.C.A. Sul, de 28/4/2009, processo nº02774/08, os recorrentes entendem que, a decisão recorrida violou o princípio do contraditório, pelo facto de não lhes ter sido dada a possibilidade de se pronunciarem sobre documentos e pareceres junto aos autos, assim como sobre a decisão de extinção da instância e inutilidade superveniente da lide que recaiu sobre os mesmos. A decisão do tribunal superior, ora em análise, tem o mesmo entendimento sobre a questão e vem explicar que, a violação do princípio do contraditório se enquadra no artigo 201º, nº 1 do C.P.C., sendo evidente a sua influência no exame e decisão da causa. Por outro lado, explica ainda que, por se tratar de uma nulidade secundária, a mesma será sanada, caso não seja arguida atempadamente nos termos do disposto nos artigos 201º e 205º do C.P.C.. Porém, aquela decisão entende que, o recorrente não arguiu o vício em causa, atempadamente, tendo-o feito simultaneamente com o requerimento de interposição de recurso e no prazo para aquele efeito. Ora, “o artigo 205 nº 1 do C.P.C. conjugado com este nº 1, do artigo 153, do mesmo Código estabelece a regra de que, as nulidades secundárias não praticadas na presença dos interessados devem ser arguidas no prazo de 10 dias, a contar do seu conhecimento ou do momento em que aqueles poderiam delas conhecer se actuassem com a devida diligência (…) tratando-se de uma nulidade resultante da omissão de uma notificação que deveria ter sido efectuada antes da sentença e não uma nulidade própria da sentença, ela deveria ser arguida no prazo de 10 dias a contar da notificação da decisão, perante o Tribunal que proferiu a decisão, só podendo ser feita perante o tribunal de recurso se o processo tiver sido expedido ao Tribunal Superior antes de ter expirado o prazo de arguição perante o Tribunal recorrido.”. Com base neste entendimento, a decisão em causa não conhece a arguida nulidade.

2.7 Conclusões intermédias

A definição e aplicação do princípio do contraditório ao direito processual civil, penal e tributário é idêntica e tem como função a colocação das partes em situação igualdade. Esta situação de igualdade diz respeito ao conhecimento do processo e à oportunidade de pronúncia, pelas partes quanto às questões suscitadas.

No que respeita ao princípio do contraditório, chamamos a atenção para o facto de o mesmo não representar uma excepção às regras de tramitação impostas ao processo pelo princípio da preclusão, pois muitas vezes as partes praticam actos que a lei não prevê sob a égide deste princípio do contraditório, actos estes feridos de nulidade nos termos do artigo 201º do C.P.C.. No âmbito do processo civil e tributário (por aplicação subsidiária) o facto de a tramitação processual de alguns processos especiais não prever mais do que dois articulados, não impede as partes de exercerem de forma cabal o princípio do contraditório no início da audiência, como acontece nas acções especiais para cumprimento de obrigações pecuniárias, no processo sumaríssimo ou, na oposição à execução.

2.8 O princípio da oficiosidade e o princípio do inquisitório