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Princípio da dignidade humana: Paradigma para judicialização

2.2 Judicialização das políticas públicas para à saúde

2.2.1 Princípio da dignidade humana: Paradigma para judicialização

Não bastam as políticas sociais e políticas públicas serem implementadas pelo Poder Público, uma vez que “ações realizadas por grupos ou indivíduos, de natureza pública ou privada, as quais são direcionadas para a consecução de objetivos estabelecidos mediante decisões anteriores sobre uma determinada política pública” na maioria das vezes não alcançam todos aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade. (RUA, 2014, p. 89)

É preciso reconhecer que o paradigma que sustenta a atuação do Poder Judiciário enquanto órgão do qual emanam as decisões judiciais determinando o cumprimento pelos governos federal, estaduais e municipais, no que tange à saúde, é o princípio da dignidade humana.

Não se olvida que dignidade humana é o fundamento que oferece aos magistrados a possibilidade de proceder a “[...] ruptura política do círculo vicioso de auto reprodução histórica e psicológica dos males da saúde” e deste modo, honrar a importância da materialização e concretização do direito humano fundamental à saúde. A todos que dele necessitarem, independentemente de origem, raça, cor, sexo, idade. (SARLET, 2004, p. 100)

Sobre a dignidade humana Ingo Wolfgang Sarlet (2004, p 101) versa:

O que se pretende demonstrar, neste contexto, é que o princípio da dignidade da pessoa humana assume posição de destaque, servindo como diretriz material para a identificação de direitos implícitos (tanto de cunho defensivo como prestacional) e, de modo especial, sediados em outras partes da Constitucional. Cuida-se, em verdade, de critério basilar, mas não exclusivo, já que em diversos casos outros

referenciais podem ser utilizados (como, por exemplo, o direito à vida e à saúde na hipótese do meio ambiente, ou mesmo a ampla defesa e os recursos a ela inerentes, no caso da fundamentação das decisões judiciais e administrativas) (SARLET, 2004, p. 101).

É incontestável que o Poder Judiciário é o grande guardião e protetor da garantia essencial, que é a vida, aquele que age em defesa do viver, e se necessário, faz a sua interferência, ou seja, quando o Estado não cumpre com suas atribuições alegando que não possui dotação orçamentária2, e também alegando o princípio da reserva do possível, para não realizar o atendimento de demandas por fornecimento de medicamentos ou internações, e neste caso, o Poder Judiciário entra em ação.

A saúde deve ser preservada e garantida pelo Poder Público por ser um direito universal, fundamental e social, assegurado a todos, bem como é dever do Estado, positivado no art. 6º e 196 da Constituição federal e, por isso, exige determinadas prestações que implicam em um fazer e nas palavras de Viviane Nóbrega Maldonado (2025, p. 1940).

A alteração do paradigma decorrente da explícita positivação

representa dizer que o Estado passou a ter a obrigação positiva de criar pressupostos fáticos para a realização desses direitos, os quais, frise- se, devem estar em consonância com os tratados, pactos e convenções internacionais.

A União, os Estados, Distrito Federal ou Municípios como entes federativos são responsáveis pelas políticas públicas na área da saúde, e na ausência ou não implementação dessas, há a sua judicialização.

A judicialização, no entendimento de Figueiredo (2007, p. 87)

Trata-se de um fenômeno mundial por meio do qual importantes questões políticas, sociais e morais são resolvidas pelo Poder

Judiciário ao invés de serem solucionadas pelo poder competente, seja este o Executivo ou o Legislativo.

Assim, o fenômeno da judicialização significa levar ao conhecimento do Judiciário matéria que não foi resolvida, como deveria, pelo Poder Executivo ou pelo Poder Legislativo.

2Toda e qualquer verba prevista como despesa em orçamentos públicos e destinada a fins específicos.

Qualquer tipo de pagamento que não tenha dotação específica só pode ser realizado se for criada uma verba nova ou dotação nova para suprir a despesa. (Agência Senado, 2020)

Refere-se, em síntese, à atuação do Poder Judiciário em questões que deveriam ser resolvidas pelos poderes competentes, ou seja, por meio de legislação ou políticas públicas pertinentes a matéria que no caso dessa pesquisa é a saúde.

De outra banda, alerta-se que, na atualidade, a atuação dos tribunais superiores têm sido muito presente em questões que envolvem os direitos sociais e a interpretação aplicada aos casos concretos, ou seja, apresentam o seu posicionamento com base nos fundamentos constitucionais, com destaque para a dignidade humana.

Neste ponto, abordagem a seguir quer mostrar que mesmo com a judicialização da saúde, os Tribunais superiores, destacando-se o Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça nem sempre são favoráveis às demandas por medicamentos, cirurgias e internações e assumem uma postura voltada aos interesses da sociedade, fixando parâmetros para a sua concessão.

Nessa linha de argumentação, observa-se que a judicialização da saúde tem sido objeto de muita preocupação do Conselho Nacional de Justiça3, que,

[...] Além de promover audiências públicas, jornadas e seminários para discutir o assunto, em 2010, o Conselho editou a Resolução CNJ 107, que instituiu o Fórum Nacional do Poder Judiciário para a Saúde. (TRF, 2020).

Sobre a Resolução nº 107 do Conselho Nacional de Justiça, pode-se ressaltar que surgiu como um instrumento para a prevenção de novos conflitos na área da saúde, bem como realizar o monitoramento e resolução das demandas na área de assistência à saúde, como se verifica do art. 1º, in verbis:

Art. 1º Fica instituído, no âmbito do Conselho Nacional de Justiça, o Fórum Nacional para o monitoramento e resolução das demandas de assistência à saúde, com a atribuição de elaborar estudos e propor medidas concretas e normativas para o aperfeiçoamento de procedimentos, o reforço à efetividade dos processos judiciais e à prevenção de novos conflitos.

3O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é uma instituição pública que visa aperfeiçoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalmente no que diz respeito ao controle e à transparência administrativa e processual. Missão: desenvolver políticas judiciárias que promovam a efetividade e a unidade do Poder Judiciário, orientadas para os valores de justiça e paz social.

Cabe enfatizar que o surgimento dessa Resolução, segundo Arnaldo Hossepian (2018 s.p) teve o intuito de

Apontar possíveis caminhos para otimizar o exercício da jurisdição na matéria pelos órgãos de Justiça, bem como atender a sociedade brasileira, que ainda tem no Poder Judiciário o último refúgio de esperança de ver seu direito ser consagrado.

Desse modo, o Poder Judiciário tem atuado em várias frentes para solucionar questões referentes à saúde e os Tribunais Superiores dos Estados federados e as Cortes Superiores - Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal-, apresentam teses que sustentam as demandas por medicamentos, cirurgias e internações, fixando parâmetros para a concessão ou não dos pedidos.

2.3 Posicionamento dos Tribunais Superiores nas demandas por medicamentos,

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