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4.4 PRINCÍPIOS DA MEDIAÇÃO

4.4.7 Princípio da eficácia

O princípio da eficácia tem relação com o princípio da informalidade. Como não há regra rígida a ser cumprida, o processo de mediação apresenta um custo reduzido, além de celeridade no procedimento, proporcionando às partes acesso efetivo à justiça. Porém, a eficácia está mais ligada aos efeitos práticos que a solução trará aos envolvidos, já que foram esses que escolheram a forma como o procedimento seria desenvolvido (MORI, 2007).

A eficácia também é refletida no comprometimento das partes no cumprimento do acordo entabulado.

5 A RESOLUÇÃO N.º 125/2010 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA COMO FORMA DE EFETIVAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO NO INSTITUTO DA MEDIAÇÃO

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi criado pela Emenda Constitucional n.º 45, de 30 de dezembro de 2004, conhecida como emenda da reforma do judiciário, após 13 anos de tramitação no Congresso Nacional (LENZA, 2005). Foram duas as justificativas para a criação do CNJ. Uma delas foi criar um órgão capaz de exercer a função de controle do Poder Judiciário. Foi inserido o art. 103-B, § 4º na Constituição Federal, com a seguinte redação:

O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de quinze membros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e seis anos de idade, com mandato de dois anos, admitida uma recondução [...].

§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura [...] (BRASIL, 2004).

A segunda, diz respeito ao fato de que o Judiciário brasileiro é composto por diversos tribunais, sendo que todos são dotados de autonomia administrativa e financeira. Uma das missões do CNJ é organizar diretrizes para o funcionamento dos tribunais (FOLHA DE SÃO PAULO, 2012).

Dentro dessas atribuições, o CNJ editou a Resolução n.º 125, de 29 de novembro de 2010, que instituiu a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses (BRASIL, 2010). Partiu-se da premissa que cabe ao Poder Judiciário estabelecer essa política pública, já que as controvérsias são resolvidas no âmbito de suas atribuições (AZEVEDO, 2013).

De acordo com Luchiari (2010), o ministro Cezar Peluzo, no discurso de posse como presidente do Supremo Tribunal Federal, ocorrido em 23 de abril de 2010, discorreu a

cerca da “sobrecarga insuportável de processos” em as esferas do Poder Judiciário, e afirmou a necessidade de uma “política pública menos ortodoxa de Poder Judiciário em relação ao tratamento dos conflitos de interesses”. Tendo se guiado por essa diretriz, o ministro reuniu

uma comissão para elaborar uma resolução capaz de expressar esses anseios, e instaurar a política pública de tratamento adequado de conflitos (LUCHIARI, 2010).

Um programa ou quadro de ação governamental, porque consiste num conjunto de medidas articuladas (coordenadas), cujo escopo é dar impulso, isto é, movimentar a máquina do governo, no sentido de realizar algum objetivo de ordem pública ou, na ótica dos juristas, concretizar um direito (BUCCI, 2006 apud MORAIS; SPENGLER, 2012, p. 167).

A partir da Carta Magna de 1988, o Brasil revestiu-se de um caráter essencialmente socialdemocrata, que conferiu direitos sociais à população, após um período histórico de redemocratização, o que concedeu um norte constitucional para a realização dos objetivos do Estado. O interesse público em se haver uma política de tratamento adequado à solução de controvérsias legitima o Poder Judiciário enquanto órgão responsável pela jurisdição e pacificação social (KEHRIG; LOCH, 2008).

Esse aspecto foi apontado no preâmbulo da Resolução n.º 125, de 29 de novembro de 2010, do CNJ (aqui tratada como Resolução n.º 125/2010 do CNJ):

[...] CONSIDERANDO que compete ao Conselho Nacional de Justiça o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, bem como zelar pela observância do art. 37 da Constituição da República;

CONSIDERANDO que a eficiência operacional, o acesso ao sistema de Justiça e a responsabilidade social são objetivos estratégicos do Poder Judiciário, nos termos da Resolução/CNJ nº 70, de 18 de março de 2009;

CONSIDERANDO que o direito de acesso à Justiça, previsto no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal além da vertente formal perante os órgãos judiciários, implica acesso à ordem jurídica justa;

CONSIDERANDO que, por isso, cabe ao Judiciário estabelecer política pública de tratamento adequado dos problemas jurídicos e dos conflitos de interesses, que ocorrem em larga e crescente escala na sociedade, de forma a organizar, em âmbito nacional, não somente os serviços prestados nos processos judiciais, como também os que possam sê-lo mediante outros mecanismos de solução de conflitos, em especial dos consensuais, como a mediação e a conciliação;

CONSIDERANDO a necessidade de se consolidar uma política pública permanente de incentivo e aperfeiçoamento dos mecanismos consensuais de solução de litígios [...] (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2010).

Outra necessidade, também apontada no preâmbulo da Resolução n.º 125/2010 do CNJ, foi a de aprimorar e estimular as práticas que já estavam em andamento nos Tribunais de todo país desde a década de 1990. O texto do preâmbulo, e consequentemente o ordenamento jurídico, reconheceu as práticas dos Tribunais pátrios como medidas eficientes para solução de controvérsias. Vários programas-piloto com enfoque à auto composição, em diversos campos, como mediação familiar, mediação comunitária, mediação penal, mostraram resultados positivos (AZEVEDO, 2013). Pelo fato de já haverem programas nos âmbitos dos Tribunais, tornou-se juridicamente relevante implantar uma política pública para a “realização de direitos e de objetivos sociais” (MORAIS; SPENGLER, 2012, p. 168). A instauração da Política Judiciária Nacional fica estabelecida já no art. 1º da Resolução n.º 125/2010 do CNJ.

Ao passo que compete ao Poder Judiciário organizar os serviços que por ele devem ser prestados, ou seja, a solução de controvérsias, através de todos os meios possíveis e adequados, e não somente pela solução adjudicada de conflitos, predominante no sistema atual, uma política pública de tratamento adequado de conflitos era necessária. Ao se instaurar uma essa política pública, uma nova cultura tende a ser instaurada no Direito brasileiro, o que

pode trazer diversos reflexos positivos, entre eles “orientação, pacificação, prevenção e

composição amigável dos conflitos de interesses” (WATANABE, [20--?]).

Com essa premissa, busca-se, além de prestar serviços de forma efetiva, apresentar o Poder Judiciário como fonte de justiça propriamente dita, tendo como resultado a satisfação do jurisdicionado. Uma relação jurídica meramente processual é vista como distante para o cumprimento desse objetivo (AZEVEDO, 2013), que ficou estabelecido no parágrafo único do art. 1º, da resolução suso mencionada.

Ao se tratar o instituto da mediação como política pública, procura-se tratar o conflito sobre o enfoque do jurisdicionado, não mais do Poder Judiciário, e seu aparato de leis, posto que, na mediação, a participação dos conflitantes, faz-se “preservando o

relacionamento prévio [...] existente entre eles” (MORAIS; SPENGLER, 2012, p. 169). Além

disso, o conflito deixa de ser visto como mais um número pelo Poder Judiciário, passando da ótica quantitativa para ótica qualitativa (MORAIS; SPENGLER, 2012).

Através da instauração de uma política pública de tratamento adequado de conflitos, busca-se complementar o sistema processual, baseado num sistema de solução heterocompositiva de litígios, com mecanismos autocompositivos. Para Cahali (2011 apud MORAIS; SPENGLER, 2012):

A autocomposição tem por princípios a indivisibilidade e a interpretação restritiva. Seu principal efeito é fazer desaparecer o litígio. Se judicial, dá causa ao fim do processo; se preventiva, evita-os. Os escopos da auto composição são os mesmos do processo, de natureza jurídica, social e política, tanto em relação aos envolvidos quanto, indiretamente à sociedade.

Com essa pluralidade do sistema processual, podem ser consideradas as características de cada demanda na escolha do instrumento para solucionar o conflito, ocorrendo à adaptabilidade do processo, fazendo do Poder judiciário “um centro de resoluções de disputas, com distintos processos, baseado na premissa de que há vantagens e desvantagens de cada processo que devem ser consideradas em função das características específicas de cada conflito” (AZEVEDO, 2013, p. 30).

Outra questão apontada para a instauração de uma política pública de tratamento adequado de conflitos foi a necessidade de assegurar aos jurisdicionados que todos os agentes envolvidos no procedimento estivessem agindo “dentro dos limites impostos pelos princípios processuais constitucionalmente previstos” (AZEVEDO, 2013, p. 30).

O artigo 6º, da Resolução n.º 125/2010 (com redação dada pela emenda n.º 1, de 31 de janeiro de 2013), através do inciso V, traz novidades na área de ensino jurídico, posto que estabelecendo que as entidades de ensino deverão capacitar os operadores de direito, através de disciplinas voltadas aos meios adequados de solução de conflitos, para a nova realidade do Poder Judiciário, já atuando e forma a fomentar a pacificação social. Já ao estabelecer que as Escolas de Magistraturas deverão criar módulos para formar juízes capazes de lidar com conflitos de diversas formas, estarão capacitado futuros magistrados de forma a atuarem em funções gerenciais, fiscalizando e acompanhando a realização do propósito jurisdicional (AZEVEDO, 2013).

Já ao estabelecer, no inciso VII a cooperação com a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, a referida resolução efetiva o art. 2º, inciso VI, do Código de Ética e Disciplina da OAB, que determina que:

Art. 2º O advogado, indispensável à administração da Justiça, é defensor do estado democrático de direito, da cidadania, da moralidade pública, da Justiça e da paz social, subordinando a atividade do seu Ministério Privado à elevada função pública que exerce.

Parágrafo único. São deveres do advogado:

VI - estimular a conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a instauração de litígios (ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, 1995).

A Resolução estabeleceu que, para a efetivação dos novos objetivos da justiça brasileira cabe aos Tribunais, no âmbito dos Estados, o desenvolvimento da política pública. No art. 7º da Resolução foi estabelecido como o Poder Judiciário dos Estados deve realizar essa tarefa: através da criação de Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (BRASIL, 2010). Para Nogueira (2011, p. 254), “cabe ao CNJ traçar a política macro, com diretrizes e orientações gerais válidas para todo o território nacional, mas aos núcleos permanentes competirá desenvolvê-las regionalmente, no âmbito de sua atuação, adequando-as à sua realidade”.

Os Núcleos Permanentes devem ser compostos por magistrados e servidores que já tenham experiência anterior em métodos alternativos de soluções de controvérsias. O Núcleo, então, será responsável pela implantação dos Centros Judiciários de Conflitos e Cidadania nas comarcas de sua jurisdição. O Núcleo também deverá promover a capacitação,

treinamento e atualização dos membros que fizerem parte de sua composição (LUCHIARI, 2010). Disto, pode-se inferir que cabe aos Núcleos o cumprimento da Resolução n.º 125/2010 do CNJ.

Os Centros, por sua vez, estão estatuídos no art. 8º da referida resolução e lhes cabe a realização de audiências, bem como a orientação do cidadão. Assim, o judiciário deixa de ser apenas um órgão realizador do direito material e passa a auxiliar os cidadãos na resolução de questões jurídicas, que não necessariamente são conflitos (AZEVEDO, 2013). A estruturação dos centros ficou regulamentada no art. 9º da Resolução n.º 125/2010 do CNJ.

No art. 10, por sua vez, ficou determinado que os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania deverão compreender três setores: setor de solução de conflitos pré- processual, setor de conflitos processual e setor de cidadania (MORAIS; SPENGLER, 2012).

O fato de haver uma fase pré-processual faz com que a controvérsia não seja vista como lide, o que permite que seja possível sua solução sem a existência de um processo (SILVEIRA, 2012). O procedimento a ser realizado nesse setor refere-se à apresentação de uma reclamação, o que mantém o princípio da informalidade da mediação (escrito anteriormente), sendo caracterizada por uma anotação sobre a existência do caso. O serventuário da justiça reduzirá a termo e a entregará para o reclamante, enviando uma via na forma de carta-convite para o comparecimento da parte contrária à sessão de mediação - ou conciliação (MORAIS; SPENGLER, 2012).

O insucesso dessa fase poderá originar a fase de intervenção do setor processual, pois gera efeitos tais qual a revelia ou a confissão referente aos fatos descritos pela reclamante (MORAIS; SPENGLER, 2012). Conforme Silveira (2012, p. 224) “não é que se precise da fase pré-processual para se entrar na processual, pode ser que entre direto na processual; também, nem todo conflito pré-processual será processual, já que ele pode ser resolvido, muitas vezes, sem que se exista um processo a ser instaurado”.

Ao setor de cidadania cabe a orientação ao público quanto ao melhor método para resolução dos conflitos, efetivando, então, o princípio da autonomia das partes (também descrito anteriormente) quanto a participação ou não em qualquer dos métodos escolhidos. Também cabe a esse setor a realização das sessões na fase pré-processual (MORAIS; SPENGLER, 2012).

Outros aspectos foram trazidos pela Resolução n.º 125/2010 do CNJ, como a formação de parcerias entre entidades públicas e privadas, cadastro de conciliadores e mediadores, a capacitação e aperfeiçoamento desses profissionais, bem como dos

profissionais que atuarem nos Centros, garantindo qualidade dos serviços prestados, e um código de ética de forma a nortear os trabalhos dos mediadores e conciliadores.

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