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Princípio da proibição do retrocesso

2.2 FATO CONSUMADO EM AMBIENTES DE

2.2.4 Princípio da proibição do retrocesso

O meio ambiente sofre há tempos com inúmeras ameaças, principalmente advindas da ação antrópicas, e como se essas não bastassem, também há aquelas oriundas das políticas legislativas, como por exemplo o projeto de Lei para modificar o atual Código Florestal brasileiro.

São ações que têm levado não somente o direito, mas a proteção ambiental ao retrocesso. São várias as razões que dão azo a isso, como questões econômicas, políticas, entre outros, mas que não são mencionadas claramente, permanecendo “por baixo dos panos”.

Para fazer frente a essas situações, o princípio do não retrocesso ou da proibição de retrocesso tem por objetivo conceder ao meio ambiente uma certa segurança jurídica, o que beneficia não somente as presentes gerações mas igualmente as futuras.

Prieur (2010), brilhante jurista francês, quando questionado sobre a matéria em tela, assim afirmou:

Fizemos esforços, com um grupo de cientistas e pesquisadores, para demonstrar que existem bases jurídicas para esse princípio de não retrocesso que se impõe a todos os países, principalmente, considerando-se que o meio ambiente se tornou um direito humano. Portanto, trata-se de um direito de nunca voltar atrás [...] Ele cita, por exemplo, que uma das bases jurídicas para esse entendimento está inserida na Declaração do Rio de Janeiro (ECO 92) que prescreve a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre.

Tamanha é a importância desse princípio, já que ele visa a maior proteção ambiental, o máximo existencial ecológico16 o que está intimamente ligado com o princípio da dignidade humana, já que não se

16 A expressão máximo existencial ecológico é utilizada para fazer um contraponto ao princípio

do mínimo existencial ecológico, já que o princípio do não retrocesso ambiental objetiva sempre o máximo da proteção ambiental.

pode falar em dignidade humana sem falar em meio ambiente ecologicamente equilibrado e saudável.

Ayala et al. (2011) declaram que o princípio em questão possui relevância angular para corrigir distorções que possam existir na política ambiental brasileira. Segundo Canotilho (2007, p. 7-8):

[...] é razoável convocar o princípio da proibição

de retrocesso no sentido de que as políticas

ambientais - desde logo as políticas ambientais do Estado – são obrigadas a melhorar o nível de protecção já assegurado pelos vários complexos normativo-ambientais (Constituição, tratados internacionais, direito comunitário europeu, leis e directivas). A proibição de retrocesso não deve interpretar-se como proibição de qualquer retrocesso referido a medidas concretas ou como

proibição geral de retrocesso. Não se pode falar

de retrocesso quando forem adaptadas medidas compensatórias adequadas para intervenções lesivas no ambiente, sobretudo quando estas medidas contribuírem para uma clara melhoria da

situação ambiental. (sic)

Nessa esteira, comentam Ayala et al. (2011):

Proibição de retrocesso não implica, portanto, em paralisia ou mandado para que se obste o exercício das liberdades econômicas que sejam capazes de afetar ou contribuir para a perda de qualidade de vida, senão um princípio que contribui para um controle da coerência das ações públicas e privadas, perante um projeto existencial compatível com o de uma República ecologicamente sensível.

O princípio em estudo pode aparecer como cláusula de salvaguarda, determinando que o Estado poderá editar medidas mais protetivas, mas nunca menos. Ou ainda, poderá surgir como cláusula de compatibilidade entre convenções internacionais, aplicando-se a norma mais protetiva.

Sarlet e Fensterseifer (2010) alertam que, para que aja uma adequada compreensão do conceito em análise, faz-se necessário destacar que existe um déficit em termos de proteção ambiental, como

exemplificado pela questão do aquecimento global, quando se impõem não somente a aplicação de práticas para impedir a ampliação de práticas poluidoras, mas também reduzir o uso e os níveis dos poluentes. De acordo com Prieur (2010), há três princípios da não regressão. Primordialmente, a segurança jurídica - pela estabilidade legislativa; em seguida, a garantia de um meio ambiente saudável às futuras gerações; e, por último, assegurar a baixa no nível de poluição e uma maior biodiversidade, em consonância com a ética e a moral ambiental.

O princípio da proibição de retrocesso, embora implícito, objetiva preservar o bloco normativo, constitucional e infraconstitucional, já consolidado no ordenamento jurídico, principalmente no que tange assegurar a fruição dos direitos fundamentais, impedindo ou assegurando o controle de atos capazes de causar a supressão ou restrição dos níveis de efetividade vigentes dos direitos fundamentais (SARLET; FENSTERSEIFER, 2010).

Segundo Sarlet e Fensterseifer (2010), esse princípio abarca dois conteúdos normativos que se completam. Primeiro, ao Estado cabe “não piorar” as condições normativas atuais, o que vale igualmente para a estrutura organizacional-administrativa. O segundo é de caráter imperativo, especialmente no que diz respeito ao meio ambiente. Aí, há obrigação de “melhorar”, aperfeiçoar as condições normativas e fáticas existentes hoje, com o fito de:

Assegurar um contexto cada vez mais favorável ao desfrute de uma vida digna e saudável pelo indivíduo e pela coletividade como um todo. Dessa feita vê-se que há respaldo legal para impugnar qualquer medida que vá de encontro a Constituição Federal, visando aniquilar ou restringir o grau de proteção, especialmente dos direitos fundamentais - onde está incluso o meio ambiente. Em consonância com o disposto por Sarlet e Fensterseifer (2010, p. 151), o princípio em comento faz as vezes de “garantia constitucional do cidadão contra a ação do legislador (mas também em face da Administração Pública), no intuito de salvaguardar os seus direitos fundamentais consagrados pela Constituição. (SARLET e FENSTERSEIFER, 2010, p. 152-3).

Na visão de Teixeira (2006), esse princípio impõe limites à atuação dos poderes públicos, ao mesmo tempo em que também autoriza a intervenção desses, a fim de obstar o retrocesso, seja através de medidas de polícia administrativa ou de decisões judiciais. Em suma, o direito fundamental ao ambiente é passível de mudanças apenas in mellius e não in pejus.

Nesse ínterim, um ato administrativo com vistas a diminuir consideravelmente a estrutura administrativa responsável pela tutela ecológica estaria violando o princípio da proibição do retrocesso, o que na via reflexa considera-se inconstitucional17 (SARLET; FENSTERSEIFER, 2010).

2.3 OS LIMITES DA APLICAÇÃO DO INSTITUTO DO FATO