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Princípio da reparação integral

2.2 FATO CONSUMADO EM AMBIENTES DE

2.2.3 Princípio da reparação integral

O princípio da reparação integral decorre de responsabilidade civil objetiva - prevista no artigo 4o VII, da Lei 6.938/8113, bem como no artigo 225, §3o da Constituição Federal pátria14-, ou seja, independe de culpa.

A legislação brasileira prevê duas formas de reparação do dano ambiental: primordialmente a reparação ou a substituição do bem ambiental, e somente de forma subsidiária, a indenização pecuniária, que é uma forma de compensação ecológica.

Por óbvio que qualquer modificação que se faça no meio ambiente causará reflexos de algum modo, uma espécie de “efeito dominó natural”, e por mais que se tente reparar o dano causado, muitas vezes não se consegue voltar exatamente ao status quo, sendo que em determinados casos essa reversão pode não mais ser possível. E é para essas situações que há previsão de indenização pecuniária.

Ocorre que a tarefa de fixar o quantun não é nada simples. Como valorar o dano causado em uma área desmatada da floresta amazônica, ou de um rio que servia como reservatório de uma cidade e foi poluído por produtos químicos?

O montante a ser fixado não poderá ficar aquém do dano sob pena de não corresponder ao prejuízo e tampouco educar o degradador,

13 Art. 4º A política nacional do meio ambiente visará.

(...)

VII - À imposição, ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

14 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. (...)

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

mas, também, não pode ficar além, sob pena de dar causa ao enriquecimento ilícito do indivíduo que sofreu o prejuízo.

Para saber se o princípio em estudo alcançou seu fim, é necessário observar o cumprimento de três requisitos: a capacidade de autorregeneração, a capacidade de autorregulamentação e a capacidade funcional.

Imperioso destacar que a responsabilidade civil afeta a área ambiental difere da aplicada ao direito civil ou administrativo, o que Jeanne Machado (2006, p. 108) destaca com propriedade:

Na responsabilidade por dano ambiental, não se perquire a culpa, pois o dano provocado não permite a liberação da sua reparação; o meio ambiente, uma vez degradado, permanecerá prejudicando injustamente a vida presente e, principalmente, a vida futura, sendo indispensável encontrar soluções atuais e adequadas para promover a justiça e a equidade.

Ao lecionar sobre a extensão da reparação integral, Mirra (2004) diz que essa não deve abarcar somente o dano causado ao bem ou recurso ambiental atingido, mas toda extensão dos danos reflexamente causados pelo fato danoso - efeitos ecológicos e ambientais -, e exemplifica com a destruição de espécimes, habitats e ecossistemas inter-relacionados com o meio atingido, e os danos interinos, quais sejam a perda na qualidade ambiental ocorrida no lapso temporal entre a ocorrência do dano e a efetiva recomposição deste, sem olvidar também dos danos futuros, dos danos irreversíveis e dos danos morais coletivos.

Nesse norte, Zanella et al. (2006, p. 68) asseveram:

Assim sendo, pouco ou nada adianta a indenização pelos prejuízos materiais quando desacompanhada da justa e cabal reparação pelos danos extrapatrimonais à subjetividade coletiva de uma comunidade inteira ou de significativa parcela desta. Pelo fato do homem, sob a ótica da moderna interpretação complexo-sistêmica, fazer parte do meio ambiente e dele depender direta e indiretamente, não se pode ficar indiferente à circunstância de que o abalo emocional ou psíquico deva ser objeto de reparação, porque também decorrente de um agir ilícito do ofensor.

O período de privação do equilíbrio ambiental, da qualidade de vida sofrido pela coletividade, ante à agressão sofrida por determinado bem ambiental, deve estar incluso na reparação. Caso esta demore demasiadamente para ocorrer por completo, a coletividade tem direito subjetivo de ser indenizada pelo lapso temporal que decorrer entre a ocorrência do dano e o retorno do status quo ante (MACHADO, 2003).

Dessa feita, é lícito ao julgador determinar que se apure a extensão dos danos sem necessitar de provocação das partes, como se colhe de trecho do voto15 da Ministra do STJ Eliana Calmon no REsp 967.375-RJ, datado de 02/09/2010:

Há ainda, para além da conformação estritamente processual que a hipótese admite que se considerar a natureza da causa em tela, a impor a adoção de modelos e paradigmas próprios do Direito Ambiental, o que se justifica a partir das diversas peculiaridades desse ramo do Direito. No contexto, encontra plena aplicação o princípio do poluidor pagador, a indicar que, fazendo-se necessária determinada medida à recuperação do meio ambiente, é lícito ao julgador determiná-la mesmo sem que tenha sido instado a tanto. Ora, vê-se aí bom exemplo de aplicação desse princípio que é de grande importância, principalmente quando aliado ao instituto da responsabilidade civil, primando sempre pela qualidade ambiental. Contudo, nem todos defendem a abrangência extrapatrimonial da reparação em sede ambiental. Há quem argumente da impossibilidade de se falar em dano moral ambiental, uma vez que o meio ambiente não é possuidor de subjetividade e direitos da personalidade, e que esta espécie de dano só ocorre quando atinge o foro íntimo do indivíduo, o que jamais poderia ocorrer a bens ambientais.

Em defesa dessa corrente está Stocco (2004), que afirma que acreditar no contrário disso é uma inverdade científica, devendo ser reparada apenas a esfera ecológica do dano. Ainda, argumenta ser ilógico que o degradador ambiental seja obrigado a reparar o meio ambiente e também arcar pecuniariamente pelo suposto abalo psicológico da coletividade, na qual o próprio degradador está inserido. E tudo por meio da mesma ação judicial.

15 Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sSeq=100181

Para o autor, falar em dano ambiental é ir contra o que rezam a Lei Maior brasileira e os princípios da responsabilidade civil, haja vista que se visa proteger o meio ambiente e não o dano individual ou coletivo.