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3 A LEI PENAL NO TEMPO

3.1 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS

Os princípios visam orientar o legislador ordinário, bem como o aplicador do direito penal, no intuito de limitar o poder punitivo estatal mediante a imposição de garantias aos cidadãos. (MASSON, 2014, p. 26)

Imperioso destacar a doutrina Mello:

Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compeensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe ocnfee a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo. (220, p. 807 apud MASSON, 2014, p. 26).

Na mesma linha colige-se a lição de Espíndola:

A ideia de principio ou sua conceituação seja lá qual for o campo do saber que se tenha em mente, designa a estruturação de um sistema de idéias, pensamentos ou normas por uma idéia mestra, por um pensamento-chave, por uma baliza normativa, donde todas as demais idéias, pensamentos ou normas derivam, se reconduzem e/ou se subordinam. (2006, p. 114)

Neste diapasão, insta salientar os princípios diretamente relacionados com a problemática de sucessão das leis penais.

3.1.1 Princípio da Estrita Legalidade ou Reserva Penal

Oriundo da expressão latina “nullum crimen, nulla poena sine praevia legen” o princípio da legalidade está insculpido no artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição da República Federativa do Brasil, em forma de cláusula pétrea, nos seguintes termos: “Não há

crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”, como também no artigo 1º do Código Penal Brasileiro. (MASSON, 2014)

Na esfera penal, o princípio da legalidade importa em um meio de proteção contra a tirania e o exercício arbitrário dos detentores do poder, bem como assegura aos indivíduos o gozo de sua a liberdade, sem correr o risco de ser cerceada pelo Estado, salvo nas hipóteses estabelecidas em lei. (CAPEZ, 2017, p. 117)

Na mesma vertente, Toledo (1994, p. 21) assevera que o aludido princípio penal está relacionado à impossibilidade de fatos abstratos serem considerados crime sem previa definição e cominação legal. Logo, tanto a infração delitiva quanto a sanção devem estar previamente instituídas em lei.

Desse modo, o princípio em apreço serve como óbice à intervenção estatal nas liberdades individuais, razão pela qual está alocado na Carta Magna em conjunto com os demais direitos e garantias fundamentais.

Corroborando o exposto, Estefam (2018, p. 149 a) assevera que “a legalidade tem importância ímpar em matéria de segurança jurídica, pois salvaguarda os cidadãos contra punições criminais sem base em lei escrita, de conteúdo determinado e anterior à conduta”.

Nas palavras de Nucci, este princípio assume a seguinte definição:

Princípio da legalidade ou da reserva legal: trata-se do fixador do conteúdo das normas penais incriminadoras, ou seja, os tipos penais, mormente os incriminadores, somente podem ser criados através de lei em sentido estrito, emanada do Poder Legislativo, respeitado o processo previsto na Constituição (...). Encontra-se previsto no art. 5o, XXXIX, da CF, bem como no art. 1º do Código Penal (2017, p. 23)

Partindo de tais premissas, pode-se inferir que tudo o que não for expressamente vedado por lei será considerado lícito. Isto posto, somente haverá a caracterização do crime quando existir perfeita subsunção da conduta praticada à descrição prevista no tipo penal e nas hipóteses taxativamente previstas em lei.

À vista disso, o princípio em foco vincula o magistrado ao silogismo jurídico fato – valor – norma, afastando assim, qualquer possibilidade de interpretação do magistrado no momento da aplicação das leis, resguardando a segurança jurídica e evitando situações de arbitrariedade. (GOMES, p.7)

3.1.2 Anterioridade da lei

O princípio da anterioridade está alocado no artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal, que prevê que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem previa cominação legal”. (CAPEZ, 2017)

Assim, o princípio da anterioridade exsurge com o objetivo de reforçar o princípio da legalidade, vedando a existência de crime ou aplicação de pena, sem prévia determinação legal.

Neste sentido preconiza Estefam:

Dos aspectos acima indicados, destacamos em primeiro lugar a necessidade de que a lei seja anterior ao ato (lege praevia). Com efeito, de nada adiantaria assegurar que o direito penal se fundamenta na lei, caso esta pudesse ser elaborada ex post facto, isto é, depois do cometimento do fato. A incriminação de comportamentos anteriores à vigência da lei destrói por completo a segurança jurídica que se pretende adquirir com a legalidade. Por tal razão, não há legalidade sem a correlata anterioridade. (2018, p. 150 a)

Destarte, em virtude do princípio da anterioridade a lei penal, a lei somente surtirá efeitos a partir de comportamentos ocorridos na data de vigência, sendo que condutas praticadas anteriormente à vigência da lei não poderão ser atingidas, resguardando, assim, a segurança jurídica.

3.1.3 Irretroatividade

A sucessão de leis penais pressupõe uma sequência de normas penais e rege-se pelo princípio da irretroatividade, insculpido no artigo 2º do Código Penal dispõe que “ninguém será punido fato que a lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. (CAPEZ, 2017, p.62)

O aludido princípio também foi consagrado pela Carta Magna, no artigo 5º, inciso XL, segundo o qual, a lei penal só retroagirá para beneficiar o acusado.

Assim, o princípio da irretroatividade da lei penal serve como alicerce da garantia e segurança do ordenamento jurídico, pois sem este, não haveria condição preliminar de ordem e estabilidade nas relações sociais e tampouco de segurança dos direitos individuais. (PRADO, 2002, p. 161)

Por fim, oportuno mencionar que o princípio em apreço se estende a todas as normas de direito material, sejam normas incriminadoras, sejam normas reguladoras da imputabilidade, da dosimetria da pena, das causas de justificação, ou de outros institutos de direito penal. (TOLEDO, 1994, p. 32) Contudo, as normas de caráter processual e as medidas de segurança não se submetem ao princípio da retroatividade.

Deflui-se, portanto, que a regra geral predominante é a irretroatividade da lei penal, salvo quando a nova lei inserir, no caso concreto, algum benefício para o acusado, portanto, é vedado, em caráter absoluto, a retroatividade da norma mais severa.

3.1.4 Princípio Taxatividade

Em decorrência da necessidade de reserva legal, juntamente com o princípio da legalidade, o princípio da taxatividade dispõe que conduta perpetrada deve se subsumir perfeitamente ao tipo penal incriminador, sob pena de ilegalidade.

Sobre o princípio em análise extrai-se da doutrina:

Outra regra a ser seguida pelo princípio da legalidade é a taxatividade, esta aduz que a conduta proibida é descrita na lei por meio dos tipos. Tipo é o modelo de conduta, e os tipos incriminadores descrevem o modelo de conduta proibida. Além disso, o tipo deve descrever a conduta proibida de forma pormenorizada, sob pena de perder sua função, pois para que o cidadão conheça o espaço de sua liberdade é preciso que consiga compreender o que é ou não proibido. Se a lei não traz a descrição detalhada da conduta proibida, acaba perdendo a função de legalidade, caindo, portanto o cunho garantista do direito penal. Portanto, a taxatividade representa a legalidade orientando como as normas devem ser formuladas, como devem ser enunciadas. (CORREA, 2011)

Extrai-se, portanto, que sem o corolário da taxatividade, o princípio da legalidade não alcançaria seu objetivo, pois a lei deve ser dotada de clareza e certeza, ambas indispensáveis para que se possa mitigar o coeficiente de variabilidade subjetiva no momento da aplicação da norma. (ESTEFAM, 2018, p. 153 a)

Assim, é vedada a construção de tipos penais excessivamente genéricos, ou também denominados como tipos penais vagos, eis que a existência de lei penal vaga e indeterminada enseja tamanha insegurança jurídica e aniquila diversas garantias constitucionais. (ESTEFAM, 2018, p. 153 a)

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